Luanda - Para a China vão livros de todas as
disciplinas leccionadas no ensino primário, que abarca da 1ª à 6ª classe, de
acordo a reforma educativa. Segundo a nossa fonte, os livros chegam a Angola de
navio, algumas vezes passando pela África do Sul, sendo desembarcados no porto
do Lobito.
Fonte: O País
Seguidamente são transportados por via terrestre até à
cidade capital. O destino e o despacho para os clientes são feitos no mercado
Asa Branca, disse.
Bela, a nossa interlocutora, que disse não poder revelar o preço que pagam
pelas cópias dos livros, mas garante que é um valor acessível e que permite
render lucros. “Todo negócio agora vem da China”, mencionou.
Acrescentou que a fiscalização não devem confiscar o material às senhoras que
zungam ou vendem nos mercados informais, mas sim fiscalizar os portos e as
alfândegas, onde entram esses materiais. “Será que eles não vêem os contentores
de livros que entram no país?” Questionou a senhora.
Os fornecedores estacionam as suas viaturas num pequeno parque junto ao
mercado, onde as antigas comerciantes do mercado do Roque Santeiro vendem. O
negócio é feito em circuito fechado, pelo que não aceitam vender a mercadoria a
pessoas desconhecidas, nem tão pouco revelar o preço. “ Já temos as nossas
clientes. Se alguém quiser livros em grande quantidade tem de comprar às senhoras
a quem vendemos; elas vendem barato ”, disse um dos fornecedores.
Asa Branca, fonte dos livros copiados
No mercado Asa Branca, os livros são comercializados por homens e mulheres, num
pequeno corredor que liga o mercado e um quintal onde as senhoras provenientes
do ‘Roque’ vendem, denominado de Asa Roque. Num espaço apertado, os vendedores
ocuparam o lado direito e o esquerdo para comercializar materiais escolares.
Na “fonte”, como é considerada pelos ambulantes, os livros da 1ª à 6ª classe
custam 100 Kwanzas. Margarida Paulo contou que vende no mesmo local onde
compra, mas muito cedo. A caixa de livros de qualquer disciplina do ensino
primário custa cinco mil ou quatro mil e 500 Kwanzas, revelou.
“As senhoras do São Paulo e outras que zungam pelas ruas de Luanda compram-os a
nós, a retalho, ao preço de 100 Kwanzas, para que elas também lucrem”, afirmou.
A comerciante tem conhecimento da proibição da venda dos livros escolares, mas
alega que não tem outra opção. “Nós dependemos simplesmente do mercado, de
acordo com a procura. Sabemos que nesta época a maior procura são os materiais
escolares, por isso, optei em negociar livros. Estamos a dar uma grande ajuda
ao governo, porque eles não têm capacidade para oferecer livros a todos os
alunos, daí que os livros são vendidos a preço acessível”, referiu.
Uns nas bancadas e outros no chão, por cima de um pano, assim é a venda no
corredor do Asa Branca. Bela Simão contou que sempre vendeu material escolar e
confessou que os livros da reforma educativa são mais facilmente copiados.
“A China faz tudo, logo, não é novidade. Chego às
cinco horas e compro o meu negócio e posteriormente começo a vender. Para Bela,
o importante é conseguir alguma coisa para sustentar a sua família. “Não
estamos a prejudicar ninguém, não matamos e não roubamos, por isso sinto-me
livre em vender o meu negócio”, salientou.
Para além dos livros do ensino primário, em algumas bancadas no Asa Branca
também são comercializados livros das disciplinas do 1º e 2º ciclo do ensino
secundário, correspondentes à 7ª e 12ª classes.
Assim como na bancada de Domingos Pedro, que diz vender livros com timbre
proibido, é crime, “mas os comerciantes vão onde há lucros”, destacou.
As senhoras que nos vendem não aceitam revelar a fonte. Não sei como vêm, nem
de onde vêm. “Limito-me a comprar e revender”, disse. Os livros da 7ª a 9 ª
classes estão marcadas em 1000 Kwanzas, mas com desconto ficam a 900. Da 10ª à
12ª podem custar 2000 a 1500 Kwanzas. Os livros mais caros são os de língua
portuguesa e matemática, explicou.
Manual do ensino primário, os mais procurados no
arreio de S. Paulo
Os livros cuja venda é proibida, são os mais procurados nos mercados informais
de Luanda. No São Paulo, os preços variam entre 350 a 400 Kwanzas. A vendedora
Maura revelou que os livros da 1ª à 4ª classe custam 300 kz, cinco livros saem
por 1500 kz.
A jovem comerciante adiantou que compra os livros em grande quantidade no
mercado Asa Branca. “Cada caixa tem 45 livros e custa 4.500 kz”.
Por outro lado, Maria Paulo, vendedora há três anos, disse que vende os livros
das primeiras classes do ensino escolar no valor de 250 Kwanzas. Maria contou
que sempre diversificou o seu negócio e como está a aproximar-se o início das
aulas, escolheu materiais escolares.
Maria Paulo afirmou que desconhece de onde provém a mercadoria que vende desde
o mês passado. “Eu compro a retalho no mercado do Kikolo, nas senhoras. De onde
vem eu não sei. Realmente a venda é proibida, mas é o negócio que encontramos
no mercado e está a render lucro, vamos fazer o quê?”.
O mercado do Panguila também tem sido fonte de mercadoria para as senhoras que
vendem material escolar. Judith contou que tem comprado os livros no mercado
mais a norte de Luanda. “Compro a retalho, cada a 150 e vendo a 300 Kwanzas,
mas com desconto. Não somos as culpadas pela venda dos livros. Fizemos sempre
alguma coisa para que os nossos filhos não passem a fome. Se o negócio que está
a dar lucro de momento é os livros, nós comercializamo-los”.
Encarregados de educação alegam insuficiência de
stocks
Os livros muitas vezes não chegam às mãos das crianças. E se a direcção da
escola os entregar, não serão todos os livros. Dos cincos livros que o aluno
precisa, a escola entrega apenas dois ou três, disse Joana Mateus, enquanto
comprava livros da 3ª classe para o seu filho. No livro está escrito que deve
ser distribuído gratuitamente, mas encontrase à venda, sem fiscalização,
salientou.
O Ministério de Educação deve rever essa situação e produzir mais livros, no
sentido de distribuir a todos os alunos. “As escolas não têm stock suficiente e
muitas direcções guardam alguns livros para os seus parentes, assim sendo temos
que nos prevenir, para que os nossos filhos não fiquem desenquadra dos na sala
de aula, caso não recebam todos os livros. Um outro encarregado de educação
considerou os preços dos livros acessível. “Cinco livros por apenas 500
Kwanzas”.
O jovem comprou livros para a 2ª, a 4ª e a 5ª classes,
para os seus irmãos. “No meu caso, a conta já é maior. Se as escolas
distribuíssem todos os livros, seria um alívio para as famílias, principalmente
as mais favorecidas”, acrescentou.
Kero comercializa livros adicionais da 1ª à 4ª classe
Ao contrário dos mercados informais, no híper mercado Kero são comercializados
alguns livros adicionais para os alunos do ensino primário. O Meu Caderno de
Actividade é um livro produzido pela Plural Editora, no âmbito da reforma
educativa. Na capa indica que o livro contém textos do manual de língua
portuguesa e matemática da 1ª à 4ª classe. Cada livro custa 1.695 kzs.