Não é novidade que a raça humana está degradando os
oceanos. Mas temos como medir essa degradação? Uma maneira de avaliar o grau de
degradação é estabelecer alguns critérios e fazer uma avaliação honesta dos
oceanos.
É exatamente isto que foi publicado em um artigo na
revista científica Nature. Depois de dois anos de estudos, uma equipe mista de
pesquisadores, envolvendo gente dos Estados Unidos e Canadá, e liderada por
Benjamin Halpern, no Centro Nacional de Análise e Síntese Ecológica na
Califórnia, chegou a um relatório sobre o estado das águas nos mares
territoriais do mundo.
O novo índice oferece uma visão dos oceanos que
combina aspectos humanos e ecológicos, e pretende servir como termômetro da
efetividade de ações e políticas dos países que tem regiões costeiras.
Os
critérios
As notas foram dadas segundo 10 critérios:
1.
provisão de alimentos, ou seja, quanto alimento é
retirado do oceano, de forma sustentável, por cada país;
2.
pescaria artesanal, a oportunidade para a pesca em
baixa escala que é crucial em nações em desenvolvimento;
3.
produtos naturais, ou seja, a coleta de produtos
vivos mas não alimentares, como corais, conchas, algas e peixes de
aquariofilia, feita de forma sustentável. Estão fora a prospecção de óleo, gás,
ou produtos de mineração;
4.
armazenamento de carbono, que é representado pela
proteção de três habitats principais, os manguezais, gramíneas marinhas e
restingas, que armazenam carbono;
5.
proteção da região costeira, a presença de habitats
naturais e barreiras, incluindo manguezais, recifes de coral, sargaços, salinas
e gelo marinho, que protegem fisicamente estruturas costeiras, como casas, e
locais desabitados, como parques;
6.
os meios de subsistência e economias costeiras, o
emprego e renda produzidos a partir da indústria relacionados aos produtos
marinhos, além dos benefícios indiretos de uma economia costeira estável;
7.
o turismo e recreação, o valor que as pessoas dão
ao prazer proporcionado pelas áreas costeiras, não o benefício econômico que
está incluído nas economias costeiras;
8.
águas limpas, ou seja, se a água é livre de
vazamentos de óleos, químicos, crescimentos anormais de algas, patógenos,
incluindo os resultantes de descarga de esgoto, lixo flutuante, mortes em massa
de organismos e a concentração de oxigênio;
9.
biodiversidade, ou o risco de extinção enfrentado
pelas espécies locais, bem como a saúde de seus habitats;
10.
sentido de lugar, aspectos de como as pessoas
consideram o local como parte de sua identidade, incluindo espécies de animais
famosos e lugares com valores culturais especiais.
O índice se aplica apenas às águas territoriais
porque é a parte dos oceanos para as quais há mais informações, e que,
portanto, permite este tipo de avaliação.
As notas
Curioso para saber as notas? Globalmente, as águas
dos mares territoriais receberam uma nota 60, de zero a 100. O índice é uma
média das notas das águas territoriais de todos os países. E, não de todo
surpreendentemente, países em desenvolvimento tiveram desempenho pior que os
países desenvolvidos.
60 é uma nota boa? É importante não tomar esta nota
da mesma forma que uma nota escolar. Segundo o pesquisador Bud Ris, presidente
e CEO do Aquário da Nova Inglaterra, a nota global 60 é um aviso que os oceanos
não estão sendo administrados de forma ótima, e de que há muita oportunidade
para aperfeiçoamento.
A pior nota foi para Serra Leoa, um país na África
banhado pelo Atlântico, que teve nota 36. As águas mais saudáveis foram da ilha desabitada
de Jarvis, uma reserva de vida selvagem dos Estados Unidos, no Pacífico
Sul, com nota 86. Estados Unidos, Canadá e Reino Unido tiveram as notas 63, 70
e 61, respectivamente. A Índia teve nota 52, pouco melhor que a China, com nota
51.
Algumas surpresas também apareceram, como a
Polônia, considerada um país desenvolvido, com a nota 42, e Singapura, também
desenvolvida, com nota 48. No lado das surpresas agradáveis, tem o Suriname com
nota 69, e as Seicheles,
com nota 73, ambos considerados países em desenvolvimento.
E o
Brasil?
O Brasil
teve um escore médio de 62, ficando em 35° lugar na colocação global. As notas
por objetivo foram as seguintes:
1.
provisão de alimentos: 36
2.
oportunidades para a pescaria artesanal: 88
3.
produtos naturais: 29
4.
armazenamento de carbono: 93
5.
proteção da região costeira: 86
6.
meios de subsistência e economias costeiras: 51
7.
turismo e recreação: 0
8.
sentido de lugar: 81
9.
águas limpas: 76
10.
biodiversidade: 84
Se você achou estranho o valor zero para turismo e
recreação, você não está sozinho. Aparentemente, este objetivo é de difícil avaliação. Ou os pesquisadores
já foram assaltados aqui.[LiveScience, New York Times, Nature, NCEAS,
Ocean Health Index]
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