sábado, 6 de outubro de 2012

Tortura e violência assombraram internatos católicos suíços


Milhares de crianças foram vítimas de violência e abuso em colégios internos católicos no cantão suíço de Lucerna até a década de 1970, revela um estudo em que os autores denunciam práticas "sádicas" similares à "tortura", como simular um afogamento.
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"Havia sempre este medo incrível, medo, medo, medo", contou, sob a condição do anonimato, o ex-aluno de um internato católico do cantão de Lucerna, região central da Suíça.
O estudo, encomendado pelo cantão, se concentra na situação em 15 internatos católicos entre 1930 e 1970, e principalmente em 50 ex-alunos, e deixa em evidência as práticas exercidas durante 40 anos atrás dos muros destas instituições.
"Durante um longo período, muitas crianças dos internatos se sentiram culpadas pelo que viveram. Algumas conseguiram superar, outras fracassaram e algumas chegaram a se suicidar", contou Markus Furrer, professor da Alta Escola Pedagógica de Lucerna (PHZ), que durante um ano e meio investigou junto com outros dois colegas o obscuro passado destes estabelecimentos.
Sabia-se que havia casos de violência, sobretudo sexual, mas "não se esperava que fossem de tal amplitude", admitiu Furrer. Entre as práticas empregadas pelas freiras, um castigo consistia em "manter a cabeça das crianças debaixo d'água" para puni-las por terem feito muito barulho ou urinado na cama, afirmou Furrer, evocando o "waterboarding", aplicado nos Estados Unidos contra acusados de terrorismo ou pelas ditaduras latino-americanas contra opositores políticos.
O relatório de cerca de cem páginas, ao qual a AFP teve acesso, resume as privações e as humilhações a que eram submetidos os jovens - com frequência de origem humilde - nestes internatos. A privação de comida era uma das práticas. "Não me lembro de ninguém que não tenha sentido fome. Praticamente todo mundo tinha fome", relatou um ex-aluno.
Os castigos também eram aplicados em alunos que queriam beber entre as refeições. "Se alguém se inclinava em um bebedouro, recebia um tapa na nuca de forma que atingia o bebedouro com o rosto", relatou outra testemunha. As crianças e os adolescentes também sofriam violência sexual. Para evitar que falassem, as freiras advertiam aqueles que queriam denunciar as agressões, ameaçando-os com a "ira de Deus".
Segundo os autores do estudo, "o nível de castigos e maus-tratos superou claramente o que era admitido na época". Alguns educadores apresentavam tendências "sádicas", aplicando práticas "próximas da tortura", com socos e golpes com sapatos no rosto. Os pesquisadores destacaram também vários casos de agressões sexuais contra os alunos. Tanto meninos quanto meninas eram vítimas desses ataques praticados por religiosos de ambos os sexos.
"Ninguém dava crédito, sobretudo quando (a pessoa acusada) era um jovem sacerdote", declarou uma vítima. Segundo os autores do estudo, mais da metade dos testemunhos dão conta de agressões sexuais. Em março de 2011, o cantão de Lucerna apresentou suas desculpas, tal como havia feito a Igreja Católica em 2008. Esta última, que fez um estudo sobre o mesmo tema, reconhece os erros do passado.
"Na época, os castigos eram habituais no meio religioso", afirmou Valentin Beck, outro autor do estudo, acrescentando que os educadores diziam agir "em nome de Deus". As agressões cometidas até o final dos anos 1960 já prescreveram e os autores dos abusos, em geral, já faleceram. As vítimas não têm qualquer direito a indenização.
Imagem: betomenezeshq.blogspot.com

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