Ainda
garoto, Beto Gourgel palmilhava a areia avermelhada das ruelas do Bairro Marçal
e ouvia, encantado, os coros da Igreja Metodista, instituição religiosa na qual
o pai foi pastor. À época fervilhavam os bailes no espaço cultural do Club
Botafogo, e pairava no ar a vibração dos "Kimbandas do Ritmo",
formação musical que integrava, nos anos 60, os compositores e intérpretes
Catarino Bárber, Manuel Faria de Assis e Tonito.
Jomo Fortunato
http://jornaldeangola.sapo.ao
Em Novembro
de 1961, Beto Gourgel começa a estudar na Casa Pia de Lisboa e é aí começa o
seu verdadeiro contacto com a música. A Casa Pia, enquanto instituição de
benemerência, foi uma das grandes referências culturais do passado de Beto
Gourgel. De lá, inicia o processo de aprendizagem musical por "necessidade
espiritual", recordava, referindo os professores Livramento e Jaime Silva
Barcarena como sendo os seus principais impulsionadores, numa altura em que
dava os primeiros passos no contacto com a guitarra.
Nessa época, Beto Gourgel interpretava, nostálgico, as músicas do Duo Ouro Negro e canções da sua infância, facto que o ajudou a contornar o enclausuramento e a solidão dos duros tempos da Casa Pia de Lisboa, uma adaptação que não foi, de modo algum, fácil.
Roberto do Amaral Gourgel, filho de Roberto Pio do Amaral Gourgel e de Luísa Gaspar Domingos Gourgel, nasceu no Caxito, a 11 de Maio de 1948, e apresentou-se pela primeira vez em público, em 1964, numa festa de estudantes da Casa Pia de Lisboa. A festa fora organizada com o objectivo de angariar fundos para os finalistas, proventos que os ajudariam a enfrentar os primeiros tempos de vida activa.
O passado em Portugal
Nessa época, Beto Gourgel interpretava, nostálgico, as músicas do Duo Ouro Negro e canções da sua infância, facto que o ajudou a contornar o enclausuramento e a solidão dos duros tempos da Casa Pia de Lisboa, uma adaptação que não foi, de modo algum, fácil.
Roberto do Amaral Gourgel, filho de Roberto Pio do Amaral Gourgel e de Luísa Gaspar Domingos Gourgel, nasceu no Caxito, a 11 de Maio de 1948, e apresentou-se pela primeira vez em público, em 1964, numa festa de estudantes da Casa Pia de Lisboa. A festa fora organizada com o objectivo de angariar fundos para os finalistas, proventos que os ajudariam a enfrentar os primeiros tempos de vida activa.
O passado em Portugal
Em Portugal,
Beto Gourgel ajuda a fundar, em 1967, os "The Fools" – uma formação
pop-rock de Saldanha, como vocalista, que integrava o Zequinha (viola baixo),
Rui Jorge (guitarra solo), Nuno (bateria) e Narciso (guitarra ritmo). Na
sequência de ligeiras metamorfoses estruturais dos “The Fools”, o grupo passa a
designar-se "The Milk Baby's Group" e depois "Filhos da
Pauta". Ainda no mesmo ano, Beto Gourgel integra o "Alerta Está"
– um grupo musical ligado ao exército que fazia apresentações, essencialmente,
nos aquartelamentos militares.
No "Alerta Está", Beto Gourgel encontrou alguns músicos que hoje são importantes referências da Música Popular Portuguesa: Fernando Tordo, Carlos Mendes, Tony Amor, vocalista dos "Seis Latinos", Rui Pato, entre outros. Beto Gourgel chega a fazer, com o "Alerta Está", um espectáculo no Cine Monumental de Lisboa, concerto que chegou a ser gravado pela televisão, e canta, pela primeira vez, em público, a canção, "Tata ku matadi", em kimbundu. O referido espectáculo foi acompanhado por uma orquestra, dirigida pelo maestro Sílvio Pleno.
Em 1968, Beto Gourgel, ainda no "Alerta Está", faz apresentações, durante seis meses, nos aquartelamentos dos militares destacados na Guiné e em Moçambique, e volta para Angola, em 1969.Nos finais de 1969 é convidado a participar no ZipZip – um famoso programa da RTP- que tinha como apresentadores Raúl Solnado, Carlos Cruz e Fialho Gouveia, que eram também os autores. Nesse programa participaram os cantores Rui Mingas e Fausto, e Beto Gourgel não compareceu por falta de autorização militar.
As canções revolucionárias
Beto Gourgel tem o mérito de ter sido uma figura que se destacou na época de eclosão do fervor revolucionário, fase que conduziu à independência de Angola, em 1975. A singularidade comunicativa dos seus textos musicais, a sátira e o humor linguístico – que lhe é peculiar – fizeram de temas como "Ngingila iá Nvunda" (caminhos da luta), "Gienda iá mamã" (saudade materna) e "Metamorfose", canções modelo do período revolucionário.
Depois de uma passagem de dois anos por Angola, de 1970 a 1972, Beto Gourgel acaba a comissão militar, regressa a Portugal e reencontra os velhos amigos das velhas bandas de Saldanha: "The Fools", "The Milk Baby's Group" e "Filhos da Pauta". No Tareco, um café de Vila Franca de Xira, encontra o cantor Zeca Afonso, Adriano Correia de Oliveira e José Jorge Letria – figuras cimeiras da canção política portuguesa – facto que o conduziu à militância no domínio da então chamada música de protesto ou contestatária. É a época em que começa a cantar baladas de cunho político no "Candeeiro", um espaço improvisado situado na cave de uma igreja em Lisboa, fase em que Beto Gourgel se emancipa do rock e das incipientes experiências na soul music.
Depois do 25 de Abril de 1974, Beto Gourgel participa no Festival Canto Livre – uma emanação do "Canto Libre" do Chile. Nesse Festival, representa a freguesia da Amadora, conquistando o primeiro lugar, ex-aequo com Carlos Paulo e Duo Tojal. Daí foram-se multiplicando as actuações em território português e forma o "Duo Chatear a Direita", com Carlos Paulo. Beto Gourgel conhece, nessa altura, o cantor moçambicano Virgílio Massingue, a finlandesa Eila Hellevi Lehtinen e a Micas – igualmente moçambicana – e formam o "Quinteto a mesma luta".
O Quinteto dura até 1977, altura em que Beto Gourgel decide vir para Angola e revive a música, de forma involuntária, num reencontro musical com André Mingas, Carlos Pimentel e Filipe Zau. Daí foi o grande sucesso num grande espectáculo realizado no Cine Karl Marx, com o Duo Beto e Eila.
Beto Gourgel trabalhou com os Irmãos Kafala, Duo Canhoto, Mito Gaspar, Semba Muxima e Kituxe e seus Acompanhantes, para além de importantes incursões na Televisão Pública de Angola. Beto Gourgel afirmava convicto: "o que fiz valeu a pena. Só lamento o facto de não ter cometido mais asneiras... às vezes por comedimento evitei coisas boas", brincava no seu tom humorístico. O sentido de humor sempre acompanhou Beto Gourgel, uma característica temperamental que o ajudava a equilibrar o sentido e o vivido.
O adeus de Beto Gourgel
Beto Gourgel faleceu, por doença, no dia 25 de Janeiro de 2006, e foi a enterrar às 14h45, do dia 28 de Janeiro, ao som do clássico "Muxima". Nos últimos anos da sua carreira, além de cantor, compositor e trovador, Beto Gourgel experimentou, com reconhecida notabilidade, a representação, tendo contracenado, como Nganjeta, com o cantor Dionísio Rocha, no início do programa "Conversas no Quintal ", uma animada série humorística da grelha da Televisão Pública de Angola.
Consta ainda da sua biografia, a frequência de um curso industrial de Tipografia e Fotografia, em 1981, tendo coordenado a comissão instaladora da UNAC (União Nacional dos Artistas e Compositores), da qual foi eleito presidente de direcção, de 1984 a 1986. Beto Gourgel foi ainda funcionário do Ministério da Cultura, cronista do Jornal de Angola e animador, com Manuel Dionísio, do programa !Bom dia, bom dia" da rádio, Luanda Antena Comercial.
No "Alerta Está", Beto Gourgel encontrou alguns músicos que hoje são importantes referências da Música Popular Portuguesa: Fernando Tordo, Carlos Mendes, Tony Amor, vocalista dos "Seis Latinos", Rui Pato, entre outros. Beto Gourgel chega a fazer, com o "Alerta Está", um espectáculo no Cine Monumental de Lisboa, concerto que chegou a ser gravado pela televisão, e canta, pela primeira vez, em público, a canção, "Tata ku matadi", em kimbundu. O referido espectáculo foi acompanhado por uma orquestra, dirigida pelo maestro Sílvio Pleno.
Em 1968, Beto Gourgel, ainda no "Alerta Está", faz apresentações, durante seis meses, nos aquartelamentos dos militares destacados na Guiné e em Moçambique, e volta para Angola, em 1969.Nos finais de 1969 é convidado a participar no ZipZip – um famoso programa da RTP- que tinha como apresentadores Raúl Solnado, Carlos Cruz e Fialho Gouveia, que eram também os autores. Nesse programa participaram os cantores Rui Mingas e Fausto, e Beto Gourgel não compareceu por falta de autorização militar.
As canções revolucionárias
Beto Gourgel tem o mérito de ter sido uma figura que se destacou na época de eclosão do fervor revolucionário, fase que conduziu à independência de Angola, em 1975. A singularidade comunicativa dos seus textos musicais, a sátira e o humor linguístico – que lhe é peculiar – fizeram de temas como "Ngingila iá Nvunda" (caminhos da luta), "Gienda iá mamã" (saudade materna) e "Metamorfose", canções modelo do período revolucionário.
Depois de uma passagem de dois anos por Angola, de 1970 a 1972, Beto Gourgel acaba a comissão militar, regressa a Portugal e reencontra os velhos amigos das velhas bandas de Saldanha: "The Fools", "The Milk Baby's Group" e "Filhos da Pauta". No Tareco, um café de Vila Franca de Xira, encontra o cantor Zeca Afonso, Adriano Correia de Oliveira e José Jorge Letria – figuras cimeiras da canção política portuguesa – facto que o conduziu à militância no domínio da então chamada música de protesto ou contestatária. É a época em que começa a cantar baladas de cunho político no "Candeeiro", um espaço improvisado situado na cave de uma igreja em Lisboa, fase em que Beto Gourgel se emancipa do rock e das incipientes experiências na soul music.
Depois do 25 de Abril de 1974, Beto Gourgel participa no Festival Canto Livre – uma emanação do "Canto Libre" do Chile. Nesse Festival, representa a freguesia da Amadora, conquistando o primeiro lugar, ex-aequo com Carlos Paulo e Duo Tojal. Daí foram-se multiplicando as actuações em território português e forma o "Duo Chatear a Direita", com Carlos Paulo. Beto Gourgel conhece, nessa altura, o cantor moçambicano Virgílio Massingue, a finlandesa Eila Hellevi Lehtinen e a Micas – igualmente moçambicana – e formam o "Quinteto a mesma luta".
O Quinteto dura até 1977, altura em que Beto Gourgel decide vir para Angola e revive a música, de forma involuntária, num reencontro musical com André Mingas, Carlos Pimentel e Filipe Zau. Daí foi o grande sucesso num grande espectáculo realizado no Cine Karl Marx, com o Duo Beto e Eila.
Beto Gourgel trabalhou com os Irmãos Kafala, Duo Canhoto, Mito Gaspar, Semba Muxima e Kituxe e seus Acompanhantes, para além de importantes incursões na Televisão Pública de Angola. Beto Gourgel afirmava convicto: "o que fiz valeu a pena. Só lamento o facto de não ter cometido mais asneiras... às vezes por comedimento evitei coisas boas", brincava no seu tom humorístico. O sentido de humor sempre acompanhou Beto Gourgel, uma característica temperamental que o ajudava a equilibrar o sentido e o vivido.
O adeus de Beto Gourgel
Beto Gourgel faleceu, por doença, no dia 25 de Janeiro de 2006, e foi a enterrar às 14h45, do dia 28 de Janeiro, ao som do clássico "Muxima". Nos últimos anos da sua carreira, além de cantor, compositor e trovador, Beto Gourgel experimentou, com reconhecida notabilidade, a representação, tendo contracenado, como Nganjeta, com o cantor Dionísio Rocha, no início do programa "Conversas no Quintal ", uma animada série humorística da grelha da Televisão Pública de Angola.
Consta ainda da sua biografia, a frequência de um curso industrial de Tipografia e Fotografia, em 1981, tendo coordenado a comissão instaladora da UNAC (União Nacional dos Artistas e Compositores), da qual foi eleito presidente de direcção, de 1984 a 1986. Beto Gourgel foi ainda funcionário do Ministério da Cultura, cronista do Jornal de Angola e animador, com Manuel Dionísio, do programa !Bom dia, bom dia" da rádio, Luanda Antena Comercial.
Beto Gourgel experimentou com reconhecida
notabilidade representar o humor
Fotografia: JA
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