A
engenharia civil, que acaba
por afirmar-se nos tempos actuais, tem registado notáveis avanços no domínio
das edificações e imobiliária. A nova geração de edifícios como que desafiando
a gravidade, o Bujhai Kalif nos Emiratos Árabes Unidos, com 163 andares e quase
um quilómetro de altura é um desses casos; o Taipeiem Taiwan, com mais de meio
quilómetro de altura e projectado para suportar terrramotos e tufões; as
torres Pretonas - «irmãs gémeas» que são um verdadeiro orgulho para Kuala
Lumpur e os mais de 100 andares da Shangai Word Financial Center, na China, são
obras que podem exemplificar o estado da engenharia, no actual contexto das
ciências técnicas mais ousadas.
SEMANÁRIO ANGOLENSE
Todavia, o tema em análise, pode também dar lugar a
algumas inquietações. Não exactamente pela natureza arrojada das soluções
desafiadoras –como o prédio mais alto do mundo com os seus impressionantes 828
metros e elevador mais rápido da terra -, mas sim porque também os edifícios
desabam pelas mais diversificadas razões. Em consequência disso, enlutaram
famílias ou deixaram atrás de si muitos mutilados que ainda lamentam a sua má
sorte. Só para exemplo, citemos Pernambuco, no Brasil, onde nos últimos anos
desabaram mais de 12 edifícios com um balanço funesto de mais de 30 mortos e
inúmeros feridos. No município de Olinda, vários prédios foram interditados por
risco de desabamento.
Luanda, conheceu há pouco tempo o desabamento de um
edifício pertencente à DNIC, que causou a morte a vários cidadãos. Após aquele
trágico acontecimento foram tomadas medidas preventivas que culminaram na
demolição de alguns prédios em Luanda. As autoridades criaram um corpo de
especialistas envolvendo instituições que se ocuparam da verificação e
inventariação dos edifícios em estado crítico pelo seu mau estado de conservação
e manutenção.
Mas por que razão desabam os edifícios?
Podem ser arroladas várias situações para explicar a
queda de um edifício. Contudo, as mais recorrentes são resultantes da
negligência. Os edifícios, principalmente aqueles com estrutura de betão
armado, só desabam por desatenção humana que geralmente se arrasta por tempo
prolongado.
Recorde-se, o betão é mais resistente com o andar do
tempo e nunca se rompe «sem prévio aviso». Antes de um desabamento, é
frequente ouvirem-se estalos no interior do prédio, e isto pode ocorrer com 15
ou muito mais dias de antecedência. As fissuras ou rachaduras nunca são espontâneas.
Elas se manifestam lenta e decisivamente.
Antes de um desabamento, podem ser observados sinais
de iminência, facilmente identificáveis por engenheiros, e, se fossem
devidamente instruídos os seus habitantes, poder-se-ão evitar desastres,
bastando para o efeito:
- nunca derrubar paredes interiores sem o
acompanhamento do autor do projecto (existem paredes que fazem parte
integrante da estrutura por suportarem cargas estruturais e não devem ser removidas);
- proibir decididamente novas construções no coroamento dos
edifícios para acrescentar mais andares (as cargas adicionais colocadas
abusivamente são depois transmitidas às fundações que não estão calculadas
para o efeito, provocando perigosas sobrecargas);
- evitar a colocação de geradores que emitem vibrações (vibrar
insistentemente um elemento de betão armado já curado é extremamente perigoso,
pois provoca a sua fadiga prematura);
- comunicar às autoridades pequenos sinais estranhos no comportamento
do edifício, como, por exemplo, a dificuldade em fechar as portas, porque
estas paulatinamente vão cada vez mais prendendo no chão e não fecham
correctamente (sinal evidente da deformação do edifício);
- evitar a construção de piscinas nos terraços sem consentimento
do autor do projecto (cada mil litros de água pesa uma tonelada e num só metro
quadrado de área com 1.70m de altura de água pesará 1.700 Kg, contra os cerca
de 150 Kg para os quais as lages de cobertura estão preparadas a suportar).
Para sobrecarrregar um edifício, é importante conhecer antes a
solução adoptada para as fundações, e assim perceber com que cargas contou o
projectista na sua decisão matemática. Aumentar anarquicamente as cargas num
prédio é caminho certo para rachaduras e preparação lógica para a catástrofe
do desabamento.
Em certas ocasiões ouvem-se justificações do tipo: «o engenheiro
sempre concede uma margem de segurança para o edifício...» Se é certo que os
engenheiros salvaguardam a segurança com a introdução de um coeficiente de segurança
que geralmente ronda a margem dos 30% ou até mais, isto não significa que se
pode acrescentar mais andares ao edifício. Em realidade, o coeficiente de segurança
em betão, cuida de situações como, por exemplo, falhas de betonagem, estribos
desviados do lugar durante a vibração do betão, dosagens de betão incorrectas,
etc. Esta margem de segurança, não é destinada aos caprichos, pelo contrário,
os cálculos por excesso ou a minoração das capacidades dos materiais, são
lançados para prevenir falhas construtivas e nunca para receber novas cargas
que possam ser introduzidas a bel-prazer dos inquilinos.
Evitar a modificação dos layouts das salas de escritórios tentando
adaptar à actividade comercial, sobrecarregando a estrutura ou, ainda, abrindo
roços cortando vigas e pilares para fazer passar canalizações de ar condicionado,
ou tubagens diversas fragiliza o elemento, colocando-o fora de serviço
perigando assim toda estrutura.
Combater a acumulação de entulhos nos andares vizinhos em obras;
eliminar as infiltrações de água no interior do edifício, pois estas aumentam
bastante o risco de desabamento;exigir que o prédio seja inspeccionado, de 5
em 5 anos, por engenheiros patologistas da construção ou especialista
experiente, bem como solicitar a revisão das instalações eléctricas, de gás e
sanitárias, são medidas preventivas que podem evitar desabamentos. Esta tarefa
deve ser assumida por organizações em condomínios ou mesmo por voluntariosos
cidadãos que pretendam participar nesta missão de alerta e prevenção de
catástrofes totalmente evitáveis nos edifícios onde moram.
A
experiência mostra que vale a pena lançar, para reflexão dos moradores de
edifícios urbanos, o conceito de «Segurança predial». O termo não é muito
conhecido, mas só se podem evitar desabamentos com uma consciência cívica de
prevenção. Os cuidados a ter com as obras de engenharia, tal como se cuida da
saúde humana, passam pela compreensão do princípio segundo o qual para cada doença
um remédio, mas que este não surja demasiado tarde. E que, quando o edifício
«adoece» - por mais insignificante que seja a patologia –o seu diagnóstico e
cura não devem ser adiados, sob risco de ocorrer um inesperado desabamento. E
nisso, a população (organizada em comissões de moradores) é chamada a respeitar
mais os edifícios onde habitam, devendo mantê-los saudáveis para que cumpram devidamente
a sua função de acolhimento e conforto.
Semanário
Angolense, número 568, de 07 de Junho de 2014
Imagem:
derrocada do prédio da DNIC em Luanda. http://cangue.blogspot.com/
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