Por Marilza de Melo Foucher - de Paris
CORREIO DO
BRASIL
Estamos vivendo uma situação política no
Brasil extremamente grave, onde o germe do ódio se propaga e a xenofobia
se espalha impunemente. A maneira como os nordestinos, negros, índios, gay,
lésbicas e pobres vêm sendo tratados nesta campanha presidencial comprova a
existência de um tipo de neo-fascismo e neo-nazismo em plena expansão no Brasil
e mais especificamente em São Paulo, na região sudeste e sul do Brasil.
Todavia, infelizmente, esses comportamentos estão presentes também em outras
regiões brasileiras. Não perceber este perigo é banalizar esta situação. Existe
um terreno fértil para a implantação dessas ideologias nefastas no Brasil.
Vejam os resultados em termos de votos
que teve o Pastor Feliciano, o Celso Russomanno em São Paulo, o Jair Bolsonaro,
o Luis Carlos Heinze. Ao dar votos a esses candidatos os eleitores legitimaram
a presença da extrema direita no parlamento brasileiro. Além desses nauseabundos
eleitos de modo espetacular, existem muitos jornalistas de canais de televisão
no Brasil e das revistas do grupo Abril que propagam mentiras, que instigam o
ódio ao PT, incitam o racismo, a violência e, descaradamente e sem complexo,
assumem as idéias da extrema direita. Outro perigo é o crescimento do
fundamentalismo religioso, o nível de fanatismo é assustador. Todos esses
grupos apóiam incondicionalmente o candidato Aécio Neves. Existe neste caso uma
afinidade ideológica com o programa neoliberal do candidato.
Se o conjunto da esquerda brasileira não
consegue se unir neste segundo turno, não coloca seus militantes nas ruas para
dialogar com a população sobre este perigo, a direita brasileira reacionária
que já vem há alguns anos se reestruturando, e conta com uma avançada
estratégia de comunicação junto à opinião publica, na certa voltará ao poder.
Não quero exagerar, mas as armadilhas estão montadas para derrubar a Dilma e
não devemos ignorar o risco de perder as eleições!
O pior é que muitos segmentos da
esquerda brasileira, ainda não entenderam que a sociedade brasileira na sua
maioria é conservadora.
Daí, o momento não é de divisão e sim de
resistência republicana.
Pensem antes de agir! Se vocês comentem
a burrice de votar em branco ou nulo, vocês serão responsáveis pela volta da
direita, e, também pela destruição de todas as conquistas sociais dos governos
de Lula e Dilma. Não votando em Dilma vocês irão contribuir para que a direita
e seus aliados fascistas e nazistas ganhem as eleições e na certa permanecerão
por muito tempo no poder no Brasil. Reflitam antes de decidir, pois depois será
tarde demais para voltar atrás. A direita conservadora não tem nenhum complexo
em compactuar com as ideologias da extrema direita. Além disso, ela tem em suas
mãos, talvez a maioria dos membros do poder judiciário, o poder econômico e o
quarto poder (os meios de comunicações), isto quer dizer que eles são
suficientes fortes para provocar um golpe, não do tipo militar, mas com o apoio
desses aparatos. A hipótese de uma derrota de Dilma repercutirá em toda a
América Latina e fragilizará a correlação de força dos governos de esquerda e
centro-esquerda.
Sabe-se que a direita brasileira tem
aliados fortes no plano internacional, exemplo o capital especulativo responsável
pela crise da economia real aposta na derrota de Dilma. Eles recebem apoio dos
governos neoliberais que estão no comando da governança mundial. Vale ressaltar
que para os adeptos do neoliberalismo, o mundo global tem somente dois atores
principais: as empresas e os consumidores, para eles não existe cidadãos. Para
os teóricos da governança mundial a concepção do Estado deveria ser enterrada,
o Estado passa a ser visto como intruso, no lugar do Estado protetor do
Bem-Estar Social surge o Estado Empreendedor, um bom acionário. Esse novo
imperialismo é operado em forma de consórcio internacional, que dita normas
diretivas para regulamentar a doutrina econômica neoliberal.
O candidato Aécio Neves defende
exatamente esta concepção neoliberal de Estado.
Os governos petistas e outros governos
de esquerda e centro-esquerda na América Latina romperam com a globalização da
exclusão e optaram por um «desenvolvimento inclusivo« onde o Estado tem um
papel importante e isto atrapalha este novo imperialismo. Sem contar que o
Brasil ao participar da criação do Brics, passou a representar uma ameaça para
as grandes potências que pensavam continuar no comando desta governança mundial
ditando suas regras para o resto do mundo. O Brasil e outros países
considerados de emergentes quebraram esta regra e hoje são atores importantes
de um mundo multipolar.
Chamo atenção dos companheiros e
companheiras da esquerda não petista, que tentam justificar suas escolhas com
argumentos de que o PT já esta há muitos anos no governo e deve ir para a
oposição; ou que o PT traiu a esquerda e que aceitou o apoio de Color, Sarney,
e até de Maluf. Ninguém questiona o tempo que a direita governou no Brasil e
ainda governa na maioria dos Estados brasileiros. Também é difícil imaginar
quem teve um passado ligado às lutas sociais declarando apoio a Aécio que é o
candidato dos segmentos mais reacionários e neofascistas do Brasil.
Vale ressaltar que a esquerda sempre foi
uma minoria, e poucos partidos são representados no parlamento brasileiro.
Infelizmente, uma parte da esquerda brasileira na sua diversidade, ainda não
entendeu que sem uma verdadeira reforma política é impossível governar uma
republica federativa, compondo somente com os partidos de esquerda.
Infelizmente, a despolitização da população brasileira é cada vez maior, daí,
faz-se necessária muita pedagogia para explicar a importância da política no
quotidiano. Ampliar um dialogo mais permanente com a população e sua base
popular é urgente e necessário.
Desde
a época da ditadura que a direita no Brasil participa ativamente na
despolitização de massa. Hoje se trata de uma estratégia política para
reconquistar o poder sem muitos questionamentos. Eles pregam a individualização
da sociedade e alimentam o desencanto ideológico sem nenhuma analise critica.
Existem também correntes ambientalistas que hoje negam o papel dos partidos.
Muitos acham que a causa ecológica não é política. Cresce o numero de pessoas
que se envolvem localmente por causas específicas sem ver a realidade global.
Essas pessoas estão se mobilizando para suas necessidades próprias e aspirações
do momento, mas essa mobilização não necessariamente defendera uma causa de
interesse coletivo. Existe também um déficit de formação política dos
militantes, principalmente, sobre questões ligadas à cidadania política. Um dos
grandes desafios de hoje diante da despolitização e abuso de poder, é investir
na educação para o exercício da cidadania e do poder.
A despolitização pode dar elementos
explicativos sobre porque a Casa do Povo continua com um numero considerável de
representantes da Casa Grande e Senzala. E nessas ultimas eleições os mais
votados representam a asquerosa extrema direita.
O pensamento dialético existe para que
possamos entender as contradições de nossa sociedade e agir em conseqüência.
Eu acho que o PT, enquanto partido e
governo, cometeu alguns erros, entretanto, não podemos negar os benefícios que
os governos do PT trouxeram para as populações miseráveis e pobres. Este
projeto de sociedade não pode ser interrompido.
As alianças que o PT estabeleceu não são
de ordem ideológica, não existe compromissos com a extrema direita, as
coligações são circunstanciais, tendo em vista as características do sistema
eleitoral no Brasil que é perverso, e não corresponde aos avanços realizados
pela democracia. Mesmo que o PMDB, PTB sejam partidos de tradição histórica no
Brasil, existem no seu interior certas personalidades que não são comprometidas
com as causas nobre da política que é de estar a serviços dos interesses
nacionais e não aos interesses pessoais. Os senadores Sarney e Collor fazem
parte das personalidades questionáveis, mas, não podemos acusar estes políticos
de fascistas ou próximos da ideologia nazista.
A declaração da Presidente Dilma ao
receber os movimentos sociais, organizações da sociedade civil que realizaram
com sucesso a consulta popular sobre o Plebiscito pela Reforma Política, foi
bastante clara e ela assumiu mais uma vez seu compromisso com a reforma
política ao dizer: “Tenho a convicção de que o Brasil precisa da Reforma
Política. É uma das pautas mais importantes, que é a mãe de todas as reformas.
O Brasil precisa, tanto para poder avançar institucionalmente, quanto para
combater a corrupção. “
O resto vai depender de capacidade dos
grupos organizados em criar uma correlação de força para pressionar para que as
reformas estruturais desta vez sejam realizadas, pois o governo não pode governar
sem o povo, do contrario, a democracia perde o sabor do desafio.
Marilza de Melo Foucher é
economista, jornalista e correspondente do Correio do Brasil em
Paris.
Sem comentários:
Enviar um comentário