MARTIN WOLF
"DO FINANCIAL TIMES"
http://www1.folha.uol.com.br
O significado do
declínio do petróleo para a economia mundial depende da razão para ele ter
ocorrido e do tempo que durará. Mas, em termos gerais, a queda será útil.
Especialmente
importante será o impacto nos países que são exportadores de petróleo em termos
líquidos (exportam mais do que importam).
Entre o fim de
junho e o começo deste mês, o preço do petróleo cru caiu em 38%.
Esses preços
baixos durarão? Ou poderão baixar mais?
Não sou
insensato de tentar prever; as elasticidades de preço são tão pequenas (e as
margens entre oferta e procura tão finas) que é fácil errar.
Nesse estágio,
parece incerto que a queda nos preços seja estrutural duradoura. Mas presumamos
que ela dure. Quais seriam as consequências? Aqui estão seis:
Primeiro, uma
queda de US$ 40 no preço do petróleo significa uma virada de US$ 1,2 trilhão
(ou perto de 2% do PIB mundial) dos países produtores para os consumidores.
Isso importa, pois os consumidores tendem a gastar mais rápido do que os
produtores, o que pode gerar algum estímulo à demanda.
Segundo, a queda
nos preços da energia reduzirá ainda mais a inflação, já baixa. Isso cria dois
riscos contrapostos: um é o de que a tendência possa ajudar as expectativas de
inflação ultrabaixa a fincar raízes; o risco oposto é que isso incentive os
bancos centrais a ignorarem ameaças de alta na inflação subjacente. No momento,
o primeiro risco é maior.
Terceiro, a queda
nos preços da energia elevará a lucratividade da produção que requer uso
intensivo de energia. Ao mesmo tempo, reduzirá lucros e investimentos de
capital dos produtores de petróleo. A tendência pode criar riscos de falências
no setor de energia, sobretudo entre produtores de petróleo endividados. Até
que ponto isso poderia prejudicar os credores ainda não está definido.
Quarto, a queda
nos preços redistribuirá renda dos países que exportam para os que importam
petróleo --o que inclui a zona do euro, o Japão, a China e a Índia.
Os EUA, hoje,
são exportadores líquidos (por causa do gás e do petróleo de xisto).
Mas os países
exportadores importantes dependem da receita do petróleo. Entre eles estão Irã,
Rússia e Venezuela. O problema não poderia vir para regimes melhores! Mas
déspotas encurralados também são um risco.
Quinto, a queda
nos preços da energia mudará os preços dos ativos. As taxas de câmbio dos
países produtores de energia sofrerão pressão de baixa, o que já pode ser visto
no rublo russo. As ações das empresas que se beneficiam de preços mais baixos
para o petróleo subirão. Isso pode criar novas bolhas nos mercados de ações.
Por fim, preços
do petróleo em queda ameaçam tornar mais intenso o uso do carbono pelas
economias, e a reduzir a eficiência energética.
Mas também
oferece uma oportunidade de elevar impostos sobre o petróleo ou cortar
perdulários subsídios ao consumo em caráter permanente. É uma oportunidade que
qualquer governo sensato deveria aproveitar.
Resta muita
incerteza sobre a que ponto os preços cairão, e quanto durará a queda.
Mas, na medida
em que eles refletem força na oferta e não redução na demanda, os preços em
queda representam um estímulo bem vindo para a economia mundial. Também
representam uma transferência de renda bem vinda, tirando dinheiro de
despotismos petroleiros. É difícil não celebrar esse fato.
Imagem: www.paisagensromanticas.com
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