Maputo (Canalmoz) – O lançamento da edição em
língua francesa do livro «Amanhecer em La Higuera – os segredos por detrás da
morte de Che Guevara» do escritor espanhol Rafael Cerrato, que estava marcado
para ter lugar amanhã na Casa da América Latina em Paris, capital da
república francesa, foi cancelado devido a ameaças de ataques bombistas,
aparentemente por simpatizantes do regime cubano.
O livro inclui depoimentos de dois cubanos
que privaram com Che Guevara nos últimos momentos da sua vida na Bolívia –
Dariel Alarcón Ramírez (Benigno) e Félix Ismael Rodríguez.
Daniel
Benigno integrou o grupo de guerrilheiros que operava na Bolívia sob o comando
de Che Guevara. Félix Rodríguez trabalhava para a CIA, tendo desempenhado papel
de relevo no cerco montado a Che Guevara e que culminou na sua captura na
Bolívia em Outubro de 1967.
O
lançamento do livro contaria com a presença de Benigno e Rodríguez.
A
escritora cubana, Zoé Valdéz, que também estaria presente, era quem iria
proceder à apresentação da obra de Rafael Cerrato.
Em
declarações ao Canalmoz/Canal de Moçambique, o autor de «Amanhecer em La
Higuera» disse “não entender como é que os franceses, que tanto prezam a
liberdade e a democracia, tenham anulado a apresentação de um livro que fala de
reconciliação entre cubanos de distantes tendências. Para mim é uma prova de
debilidade. Em qualquer país livre e democrático, perante ameaças, o lógico
seria recorrer à polícia e o dever da polícia seria garantir a segurança, mas
não cancelar um acto desse tipo”.
Canalmoz / Canal de Moçambique – O seu livro tem como protagonistas
principais dois exilados cubanos com percursos diametralmente opostos: Dariel
Alarcón Ramírez (Benigno) e Félix Ismael Rodríguez. Benigno integrou o
contingente de Che Guevara na Bolívia; Rodríguez era da CIA, tendo sido
responsável pelo planeamento das operações que culminaram na captura de Che
Guevara na Bolívia. Além disso, Benigno e Rodríguez deveriam estar presentes
durante o lançamento da edição em língua francesa do seu livro em Paris. Como
conseguiu reunir duas personagens tão diferentes?
Rafael Cerrato – Sou
amigo de Félix Rodríguez. O seu testemunho sobre Roberto Martín Pérez, para o
meu livro intitulado «Macho», no qual narro os seus 28 anos de presídio, foi um
dos que utilizei. Iniciámos uma amizade e sabia que se reunia frequentemente em
Paris com Benigno. Numa das suas viagens também fui a Paris e acabei por me
tornar amigo de Benigno. Foi assim como surgiu a ideia do livro, que ambas
aceitaram. Parecia-me um tema interessante, reunir as recordações de ambos
sobre aquele dia de Outubro de 1967. Foi assim que nasceu o livro.
Eles
nunca haviam partilhado aqueles momentos em público. Todavia, apelei à amizade
que nos une e concordaram em intervir juntos pela primeira vez. Esta
oportunidade perdida constituiu uma oportunidade única.
Canalmoz / Canal de Moçambique – Em «Shadow Warrior», Félix Rodríguez
conta como conseguiu capturar Che Guevra. Nesse livro, Rodríguez vai ao
pormenor de revelar que depois da execução de Che Guevara, ele trocou o relógio
«Rolex» que o revolucionário argentino trazia no pulso, deixando no cadáver o
relógio dele, que era idêntico. Em «Amanecer en La Higuera» o leitor ficará a
saber de mais pormenores?
Rafael Cerrato – Sim,
neste livro vêm narrados mais detalhes, não apenas o que se passou com o
relógio; também as manipulações posteriores que tem havido em torno daqueles
momentos históricos, desmascarando alguns personagens.
Canalmoz / Canal de Moçambique – Porquê o título, «Amanhecer em La
Higuera» ?
Rafael Cerrato –
Amanhecer em La Higuera... pois, foi durante o amanhecer que Félix Rodríguez
chegou à aldeia de La Higuera para ver Che e quando Benigno, escondido nuns
arbustos a 100 metros do local, presenciou a chegada de Félix Rodríguez num
helicóptero. Foi ao amanhecer daquele dia na aldeia de La Higuera quando ambos
os homens coincidiram pela primeira vez nas suas vidas.
Canalmoz / Canal de Moçambique – Para quando uma edição em língua
portuguesa de Amanecer en la Higuera?
Rafael Cerrato – É meu
desejo traduzir o livro para o português, mas as traduções são caras. De
momento, o livro, mercê de um esforço económico, já está em inglês, francês e
espanhol. Se houver uma editora interessada em publicar o livro em português,
seria coisa a considerar.
Rafael Cerrato Salas
Nasceu
em Córdoba em 1951. Há mais de 10 anos que vive em Sant Andreu de la Barca, um
pequeno povoado nos arredores de Barcelona, Espanha, numa antiga casa do século
XVII, próximo de montanha mágica de Montserrat, de onde, segundo ele, lhe vem a
inspiração. Já publicou vários livros. A temática cubana foi tema de «Macho»,
um livro editado em e que fala dos 28 anos de presídio de Roberto Martín
Pérez nas masmorras do regime castrista. (Redacção)
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