Pedro Cifuentes Rio de
Janeiro
http://brasil.elpais.com
Segundo o
Tribunal de Contas da União, as irregularidades encontradas nas investigações
sobre a petroleira somam 3 bilhões de reais. Dilma minimiza a investigação da
Justiça norte-americana
Raro é o dia em que a Petrobras, a maior empresa do
Brasil e da América Latina, gestora pública do ativo (petróleo) visto pelo
Governo de Dilma Rousseff como “o passaporte do futuro” do gigante
sul-americano, não se vê implicada no panorama judicial. O presidente do
Tribunal de Contas da União, o ministro Augusto Nardes, afirmou nesta
quarta-feira que as irregularidades encontradas até o momento em obras da
Petrobras somam 3 bilhões de reais, o que o transforma no “maior escândalo da
história do Tribunal”, informa a EFE. A Polícia Federal do Brasil estima que a
toda a trama pode ter desviado ilegalmente mais de 10,8 bilhões de reais.
Após protagonizar
involuntariamente a recente campanha eleitoral por uma série de detenções,
demissões e depoimentos judiciais sobre os atos de corrupção e um sistema bem
organizado de financiamento irregular dos partidos políticos brasileiros
(especialmente o PT), a Justiça norte-americana iniciou uma investigação contra
a empresa petrolífera estatal por suposta corrupção, segundo informações da
edição do último domingo do jornal britânico Financial Times. A
presidenta Dilma Rousseff minimizou
a notícia na quarta-feira em Doha e se limitou a afirmar que “a Petrobras
está cotada na bolsa de Nova York e faz parte das regras do jogo ser
investigada [...] os Estados Unidos devem investigar se existem cidadãos
norte-americanos envolvidos em alguma irregularidade”.
De acordo com o publicado, o
Departamento de Justiça analisa supostas violações do Ato de Práticas
Estrangeiras Corruptas (FCPA, na sigla em inglês), que “proíbe oferecer, pagar,
prometer pagar ou autorizar o pagamento de dinheiro ou qualquer coisa de valor
para um funcionário estrangeiro”: nesse caso concreto, subornos de cidadãos e
empresas norte-americanos para funcionários brasileiros para conseguir
vantagens comerciais com a Petrobras. Por seu lado, a Comissão de Segurança e
Câmbio (SEC, na sigla em inglês), que regula o mercado de valores
norte-americano, também teria aberto uma investigação sobre os recebimentos de
ações (ADR) da Petrobras, que são negociadas em Wall Street. Fontes consultadas
no Departamento de Justiça norte-americano evitaram entrar em detalhes na
terça-feira: “Por uma questão de política, geralmente não confirmamos nem
desmentimos se um assunto está sendo investigado”, disse um porta-voz para esse
jornal, segundo informações de Joan Faus. Por seu lado, um porta-voz da
Embaixada Brasileira em Washington assegurou não ter informações sobre uma
investigação.
Questionada pelo EL PAÍS sobre a
questão, a Petrobras esclareceu, por meio de nota, que “desconhece qualquer
investigação que esteja sendo feita no âmbito do Departamento de Justiça dos
Estados Unidos (DoJ) ou da Securities and Exchange Comission (SEC)”. Segundo o
texto divulgado pela estatal, “a companhia não recebeu notificação de nenhum
dos dois órgãos acerca de abertura de investigações para identificar eventual
violação à legislação americana, tendo em vista as denúncias efetuadas no
âmbito da ‘Operação Lava Jato’”. A nota segue, dizendo que “a Petrobras,
através do escritório americano contratado para conduzir as investigações
independentes, Gibson, Dunn & Crutcher LLP, já fez contato com os referidos
órgãos americanos, informando sobre o início dos trabalhos para apurar tais
denúncias na companhia”.
Perguntado na segunda-feira sobre o
assunto, o vice-presidente brasileiro, Michel Temer, não negou as informações
sobre investigação nos EUA e frisou que as responsabilidades devem ser
apontadas, “doa a quem doer”, a mesma frase usada por Dilma ao longo da
campanha. “A Constituição brasileira determina a autodeterminação dos povos. Se
os Estados Unidos iniciaram uma investigação, devem continuar, como o Brasil
está fazendo”, afirmou durante uma reunião com prefeitos.
Os tribunais do país norte-americano podem
investigar qualquer empresa estrangeira cotada na Bolsa de Nova York, como é o
caso da petrolífera brasileira, cujas ações na segunda-feira caíram 3,5%. O Financial
Times destaca que alguns dos supostos delitos começaram quando a empresa
tinha Dilma Rousseff como presidenta do Conselho de Administração entre 2003 e
2010, que está agora em seu segundo mandato como presidenta da nação. Sob seu
mandato, ocorreu a polêmica compra e venda de uma refinaria em Pasadena, Texas,
uma das operações que estariam por trás da abertura do expediente nos Estados
Unidos (entre 2006 e 1012, a Petrobras pagou 3 bilhões de reais pelo controle
total da citada refinaria, uma quantidade 27 vezes superior à desembolsada anos
antes pela belga Astra Oil).
A Petrobras, que emprega
mais de 86.000 pessoas e produz dois milhões e oitocentos mil barris de
petróleo por dia, vive imersa desde março na ‘Operação Lava-Jato’, iniciada
pela Polícia Federal brasileira, que teve uma reviravolta espetacular nas
últimas semanas com os depoimentos de três delatores (seu ex-diretor de
Abastecimento, Paulo Roberto Costa; o doleiro e especialista em lavagem de
dinheiro Alberto Youssef; e Julio Camargo, representante de uma construtora com
contratos de mais de 3,83 bilhões de reais com a Petrobras) que revelaram o
funcionamento de um complexo esquema de propinas e lavagem de dinheiro em troca
de uma sensível redução de sua pena e a devolução de 175 milhões de reais.
Costa afirmou diante do juiz que existia um sistema de subornos
institucionalizado e que o PT embolsou entre 1% e 3% de todos os contratos
feitos de 2004 a 2012.
Imagem: Posto de
gasolina com combustível da estatal brasileira. / EFE
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