sábado, 31 de dezembro de 2011

Lançado concurso literário TDM


Maputo (Canalmoz) - Foi lançado ontem, em Maputo, o concurso literário TDM 2012, um evento cultural que tem por objectivo incentivar a produção literária e estimular o gosto pela leitura.
Em conferência de imprensa para anunciar o concurso, o administrador delegado da TDM, Zainadin Dalsuco, disse que “para o ano de 2012 teremos três modalidades, nomeadamente Romance, Conto e Poesia, e a grande novidade é que até à última edição, o Romance era premiado com o valor de 100 mil meticais e as outras duas modalidades com 75 mil meticais, pelo que na presente edição o valor do Romance passará para 150 mil meticais e as outras duas para 100 mil meticais cada”, afirmou Zainadin Dalsuco. Acrescentaria que “adicionalmente aos prémios monetários, serão oferecidos aos vencedores um computador portátil a cada e ainda um pacote de banda larga, válido por três meses”.
Para o secretário-geral da Associação dos Escritores Moçambicanos (AEMO), Jorge Oliveira, a bienal literária “já tem o seu espaço e em todas as edições a nossa expectativa é de que mais autores adiram e que hajam bons e justos vencedores, pois não estamos perante bons prémios, e que tem ajudado a encontrar bons autores – que é o objectivo deste concurso”, concluiu Jorge Oliveira.
De referir que as obras premiadas serão publicadas, em livro, pela TDM que deterá, apenas para as primeiras edições, os direitos autorais.
As publicações não deverão ultrapassar os 1.000 exemplares por cada obra premiada, sendo que 200 exemplares serão destinados ao autor, 100 à empresa TDM, enquanto os restantes 700 exemplares serão oferecidos a diferentes instituições de ensino e bibliotecas previamente seleccionadas em todas as 11 províncias do país.
(FDS)
Imagem: ... prémios do Concurso Literário TDM-2010, sendo um na modalidade de conto, ...
noticias.sapo.mz

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

China: dissidente Chen Wei condenado a 9 anos de prisão. Escritor apelou à «revolução de jasmim»


Um tribunal do sudoeste da China condenou o dissidente e escritor Chen Wei a nove anos de prisão por «incitação à subversão do poder de Estado», informou a defesa.

Chen foi interpelado pela polícia em Fevereiro, no contexto do reforço da repressão contra os opositores ao regime comunista, na sequência de uma série de apelos à «revolução de jasmim», inspirada nos movimentos pró-democracia dos países árabes.

«Ele é inocente. Criticou o Partido [Comunista Chinês], o que nenhuma lei proíbe», declarou Zheng Jianwei, um dos advogados de defesa do dissidente, citado pela AFP.
http://www.tvi24.iol.pt/internacional/china-chen-wei-dissidente-revolucao-de-jasmim-tvi24/1311295-4073.html
Imagem: Em 2008, Liu aparece em frente ao túmulo do dissidente Bao Zunxin, ..
www1.folha.uol.com.br

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Nancy Vieira já está em Maputo


Maputo (Canalmoz) - A cantora cabo-verdiana Nancy Vieira já está em Maputo, para um concerto único a ter lugar amanhã no Centro Cultural da UEM. Trata-se de um show enquadrado no programa Verão Amarelo da mcel, numa produção da Big Brother Entretenimento.
Em conferência de imprensa, que teve lugar na manhã de ontem, numa das estâncias turísticas da capital, Nancy introduziu-se ao público moçambicano, tendo referido que é primeira vez que vem a Moçambique e sentiu hospitalidade e calor humano que caracteriza o povo moçambicano, ou simplesmente “morabeza”, como ela fez questão de nos caracterizar.
Na noite de amanhã, em sessão de gala no Centro Cultural da UEM, Nancy Vieira disse que vai lançar o seu mais recente álbum, “No Amá”, expressão que em língua crioula e literalmente traduzido para português é o mesmo que “amemo-nos”.
Esta jovem cantora de dócil voz vai-se fazer acompanhar por quatro instrumentistas, com destaque para o moçambicano residente em Portugal, Costa Neto, que também já está no solo pátrio.
“O meu disco “No Amá” é composto por doze temas, todos em crioulo, todos especiais para mim, porque fala de amor e todos resultam de uma selecção que não foi fácil de fazer”, disse Nancy para depois acrescentar que “o tema “No Amá” é de Teófilo Chantre e é um apelo bonito. “Esta música fala sobre um romance, mas aproveitei para deixar um apelo ao amor no sentido mais abrangente, a todas as formas de amar”, concluiu.
Zófimo Muiuane, em representação da mcel, disse que “a operadora que põe os 128 distritos a comunicar não podia ficar alheia a esta aparição, porque é filosofia da mcel apoiar a cultura nacional e internacional”. (FDS)

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Cabo Verde de luto. Funeral de Cesária Évora é amanhã


A diva do amor cabo-verdiana Cesária Évora morreu sábado aos 70 anos na cidade de Mindelo devido a complicações respiratórias
Pretória (Canalmoz) – A cantora cabo-verdiana Cesária Évora será sepultada amanhã no Mindelo, sua terra natal. A Diva dos pés descalços vai continuar em câmara fria até às 07h00 do dia do funeral. O corpo será transladado para a residência familiar, onde permanecerá até ao meio dia.
O corpo será velado no Salão Nobre da Câmara Municipal de São Vicente. À tarde, pelas 16h00 o cortejo fúnebre parte para o cemitério.
O governo de Cabo Verde decretou dois dias de luto nacional. O dia das cerimónias fúnebres foi decretado tolerância de ponto em Mindelo.
A bandeira nacional está a meia haste em todo território cabo-verdiano, em embaixadas, consulados e outras representações de Cabo Verde no exterior.
Cesária faleceu sábado, com 70 anos, na cidade de Mindelo. Sofria de complicações respiratórias.
De acordo com a “Rádio Nacional de Cabo Verde”, citada pela VOA, a cantora sentiu-se mal por volta das 7h da manhã quando foi levada de urgência para o Hospital Batista de Sousa vindo a falecer pouco depois das 11h.
Cesária Évora nasceu a 27 de Agosto de 1941. Tem 24 discos editados, entre originais ao vivo e em parceria com outros artistas de vários países.
Cesária Évora permanece como o maior expoente da morna. Iniciou a sua carreira mundial no início dos anos 90. Era a voz de Cabo Verde. Encantou as plateias através de todo o planeta. Actuou nos palcos mais conceituados do planeta.
A 23 de Setembro deste ano, em Paris, anunciou que ia deixar os palcos para sempre por causa da sua saúde.
O seu último espectáculo em França foi em Abril no “Grand Rex”. Depois cancelou todos os concertos.
Foi sujeita a várias intervenções cirúrgicas. Em Maio de 2010, obrigaram-na a abandonar os palcos.
Cesária Évora tornou-se conhecida do grande público em 1992, com o lançamento do seu terceiro álbum, “Miss Perfumado”, e dois concertos num Teatro de Paris.
Apesar de tardio, o sucesso internacional de Cesária, cuja carreira começou há 50 anos, jamais parou. A sua célebre canção “Sodade” assegurou a sua notoriedade.
Em 1999, Portugal, agraciou Cesária Évora com a medalha da Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique.
Em 2009, o presidente francês Jacques Chirac distinguiu-a com a medalha da Legião de Honra de França.
O galardão “Les Victoires de la Musique” para melhor álbum foi-lhe atribuído por duas vezes: em 2000 pelo álbum “Café Atlântico” e em 2004 pelo álbum “Voz d’Amor”.
Em 2003 Cesária Évora foi premiada com um “Grammy” atribuido ao disco “Voz d’Amor”.
Em Dezembro de 2010, no Rio de Janeiro, o Presidente Lula da Silva condecorou Cesária Évora com a medalha de Ordem do Mérito Cultural 2010.
Cesária Évora foi distinguida também com o prémio carreira na gala do “Cabo Verde Music Awards 2011”. (Redacção/ VOA)

Noite de jazz com Judith Siphuma



Maputo (Canalmoz) - Os munícipes da cidade da Matola e não só degustaram, na sexta-feira última, uma noite de tertúlia ao sabor do jazz music & soul, servido por Judith Sephuma, acompanhada por Vusi Khumalo, num concerto inserido no programa Verão Amarelo da mcel, num cocktail musical no Parque dos Poetas, na cidade da Matola, onde o denominador comum era o jazz music.
Os espectadores tiveram ainda a ocasião de acompanhar o malabarismo musical, provindo de Valter Mabas, jovem guitarrista de créditos firmados, que abrilhantou o show em secção de abertura.
Mabas espalhou o seu talento aos quatro cantos do parque, conquistando simpatia do público amante do Jazz music que o acarinhou com aplausos.
Foi uma noite de glamour em que a chuva parou e abriu espaço para os gurus da música internacional se fizessem ao palco para apetrechar a festa.
O ponto mais alto da noite foi quando o apresentador André Manhiça convidou para o palco a jovem Judith Sephuma, para em grande estilo emprestar a sua voz a reboque de seus melhores êxitos!
Judith Sephuma fez-se acompanhar por um naipe de artistas de luxo que constituem a sua banda, onde sucessos como “Le Tshephile Mang”, entre outros, foram o denominador comum naquela noite.
Entre vários trabalhos desta cantora, Judith brindou o público com temas do CD “Change Is Here” que surge no seguimento do seu álbum de estreia, “A Cry, a Smile, and a Dance”, o mesmo que: Um Grito, Um Sorriso, Uma Dança, exaltado com euforia e vibração.
Esta cantora apresentou temas dos discos anteriores, já conhecidos pela plateia, que fez questão de se juntar a ela em coros e num passo de dança.
Com uma voz esplendorosa, Judith foi passeando a sua classe, cantando o smooth jazz, passando pelo soul music e r&b, misturados com alguns ritmos sul-africanos.(FDS/ Redacção)

sábado, 17 de dezembro de 2011

Morreu Cesária Évora. A cantora cabo-verdiana Cesária Évora morreu hoje. A "diva dos pés descalços" tinha 70 anos



A cantora cabo-verdiana Cesária Évora morreu hoje, aos 70 anos, no Hospital Baptista de Sousa, na ilha de São Vicente, Cabo Verde, disse à Lusa fonte hospitalar.
A "diva dos pés descalços", como a imprensa se referiu muitas fez a Cesária Évora, nasceu há 70 anos na cidade do Mindelo, na ilha cabo-verdiana de S. Vicente no seio de uma família de músicos.
Numa das muitas entrevistas que deu, certa vez, afirmou: "tudo à minha volta era música". O pai, Justiniano da Cruz, tocava cavaquinho, violão e violino, instrumentos que se tornaram característicos daquelas ilhas, o irmão, Lela, saxofone, e entre os amigos contava-se o mais emblemático compositor cabo-verdiano, B. Leza.
Nome mais internacional de Cabo Verde

"Cize" como era carinhosamente tratada pelos amigos, tornou-se no nome mais internacional de Cabo Verde, país de onde o mundo conhecia já grandes músicos como Luís Moraes e Bana.
Desde cedo que Cesária Évora se lembrava de cantar, como referiu numa das muitas entrevistas que deu: "Cantava ao ar livre nas praças da cidade para afastar coisas tristes". Aos 16 anos canta nos bares das cidade e nos hotéis começando a ganhar uma legião de fãs que a aclamavam já como
"rainha da morna".
A independência da nação africana, em 1975, coincide com o início de um "período negro" da cantora que deixa de cantar, tem problemas com o alcoolismo e trabalha noutra área.
Em 1985 a convite de Bana, proprietário de um restaurante e uma discoteca com música ao vivo em Lisboa, Cize vem a Lisboa e grava um disco que passou despercebido à crítica, seguindo para Paris onde é "descoberta" e daqui, como aconteceu com outros cantores, partiu para os palcos do mundo.
Em 1988 grava "La diva aux pied nus", álbum aclamado pela crítica. Nesta fase da sua carreira tem um papel fundamental, que se manteve até ao final, o empresário francês José da Silva.
Grammy para Melhor Álbum
Em 1992 Cesária Évora gravou "Miss Perfumado" e aos 47 anos torna-se uma "estrela" internacional no mundo da world music, fazendo parcerias com importantes músicos e pisando os mais prestigiados palcos.
Uma carreira internacional que passou várias vezes por palcos portugueses cujas salas esgotavam para ouvir, entre outros êxitos, "Sôdade".
Em 2004 recebeu um Grammy para o Melhor Álbum, de world music contemporânea pelo disco "Voz d'Amor". "Cise" não pára e continua em sucessivas digressões, regressando de quando em vez à sua terra natal.
"Eu preciso de quando vez da minha da terra, do povo que sou e desde marulhar das ondas", confidenciou certa vez à Lusa.
A cantora começa a enfrentar vários problemas de saúde e alguns "sustos" como afirmava, mas regressava sempre aos palcos e aos estúdios com alegria.
Em 2009 o Presidente francês Nicolas Sarkozy entrega-lhe a medalha da Legião de Honra, depois de uma intervenção cirúrgico que a levou a temer pela vida.
Carreira termina por conselho médico
Cesária voltou aos estúdios e anunciou não só uma digressão como a gravação de um novo que deveria sair no próximo ano.
No dia 24 de setembro numa entrevista ao Le Monde a cantora afirma que tem de terminar a carreira por conselho médico. A sua promotora, Tumbao, emite um comunicado confirmando as declarações da "diva dos pés descalços", e dando conta da tristeza que sentia por ter de o fazer. Nesse mesmo dia ao princípio da tarde a cantora é internada no hospital parisiense de Pitie-Salpetriere, por ter sofrido "mais um acidente vascular cerebral (AVC)". A Tumbao emitiu nesse mesmo dia um comunicado dando conta que o diagnóstico clínico da mais internacional artista cabo-verdiana era "reservado".
Hoje Cize, aos 70 anos, completados no passado 27 de agosto, e após uma curta visita a Lisboa onde pediu para passear a pé pelo bairro de São Bento.
Ao longo da carreira, além das inúmeras digressões e atuações em televisões, gravou 24 álbuns, um DVD, "Live in Paris", e registou dezenas de colaborações em discos.

Ler mais: http://aeiou.expresso.pt/morreu-cesaria-evora=f694993#ixzz1gnx7uqrN

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Filipe Mukenga já está em Maputo


Maputo (Canalmoz) - O músico e compositor angolano, Filipe Mukenga, já está em Maputo para um concerto enquadrado no programa Verão Amarelo, da mcel, a ter lugar hoje, sexta-feira, na capital moçambicana.
Considerado precursor da nova música de Angola (NMA), Filipe Mukenga trocou um dedo de prosa com jornalistas, numa conferência de Imprensa que teve lugar no edifício-sede da mcel, onde falou sobre o seu concerto.
“Para o show desta sexta-feira, vou fazer uma incursão pelos meus quatro álbuns, portanto aquilo que me identifica – o NMA – que é uma música aberta ao mundo e caracterizada por uma grande riqueza de conteúdo e harmonia”, disse Filipe Mukenga, quando convidado a falar da sua performance neste show a ter lugar no Centro Cultural Universitário.
Mais adiante, o autor de “Mimbu Iami” disse que “irei buscar no jazz as dissonâncias, os acordes invertidos e pouco comuns na música africana com efeito na arte Mukenga para agradar o público que se fará presente no concerto”.
Para Sérgio Inglês, chefe de Marketing da mcel, o apoio a este concerto – produzido pela Destinos – é mais uma contribuição desta empresa de telefonia móvel na promoção da cultura moçambicana e não só. “Sempre apoiamos a cultura nacional e internacional e este nosso gesto tem sido extensivo ao desporto, pelo que reiteramos o nosso compromisso em galvanizar e impulsionar as artes no nosso País”, disse Sérgio Inglês. (Redacção)

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Ruínas de Mbanza Kongo podem ser apresentadas à UNESCO


Candidatura a património da humanidade é sustentáve
A coordenadora da candidatura das ruínas de Mbanza Kongo, Angola, a património da humanidade afirmou hoje que o Governo tem até Julho de 2012 para apresentar o dossiê à UNESCO e considerou que já existem indícios para sustentar a inscrição.

Segundo a arqueóloga Sónia da Silva António, coordenadora do projecto «Mbanza Kongo, cidade a desenterrar para preservar», do Ministério da Cultura angolano, decorrem actualmente os trabalhos de escavação na área classificada daquela cidade para procurar as provas arqueológicas de que a antiga capital do reino do Kongo tem um valor universal excepcional.
Formado no século XIII, o reino do Kongo tinha seis províncias e ocupava parte dos atuais territórios de República Democrática do Congo (RDC), Congo Brazzaville, Gabão e Angola. Mbanza Kongo ainda hoje preserva as ruínas daquela que pode ter sido a primeira Sé Catedral erguida ao sul do Saara, denominada Kulumbimbi e construída no século XVI, testemunha da presença portuguesa na região.

Sónia António, que desde segunda-feira se encontra em Mbanza Kongo acompanhada de dois arqueólogos da Universidade de Yaoundé, Camarões, para mais uma missão científica, reconheceu que ainda há muito por pesquisar, mas que existem já indícios que podem sustentar a inscrição das ruínas na agência das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO).

Prospecção geofísica

Admitindo que os trabalhos arqueológicos possam levar anos, Sónia António afirmou que enquanto decorrem as escavações se podem ir canalizando as provas já obtidas ao comité do património mundial.
Entretanto, para acelerar os trabalhos, será necessária a utilização do método de prospecção geofísica e não pedestre, que está ser empregue até agora: “Vamos contar dentro de sete dias com uma empresa especializada em prospecção geofísica para identificar com radares onde estão situadas as estruturas soterradas da cidade de Mbanza Kongo”.

Segundo a especialista, a técnica permite identificar com rapidez e maior precisão as estruturas existentes debaixo da terra. Segundo fontes bibliográficas de que dispõe a equipa, a cidade tinha 12 igrejas, conventos, escolas, palácios e residências que deverão ser facilmente identificados com o sistema de radares.

Os 50 hectares da área de protecção das ruínas deverão sendo progressivamente alargados em consequência das escavações arqueológicas, já que até agora se desconhece até onde se estende a parte histórica da cidade.

Sónia António manifestou-se preocupada com a falta de quadros especializados, já que em Angola há apenas dois arqueólogos, o que tem levado a equipa a recorrer a especialistas de universidades europeias, africanas e americanas.

Caso Mbanza Kongo venha a ser declarada “património mundial”, a cidade vai contar com um centro de pesquisa e interpretação sobre o Reino do Kongo. O projecto foi lançado em 2007 e visa a preservação do património e, em última instância, o reconhecimento de Mbanza Kongo como património mundial. Estas ruínas são um dos onze sítios inseridos na lista indicativa de bens angolanos a património mundial da UNESCO.
http://www.cienciahoje.pt/index.php?oid=52112&op=all

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

O Mito Solongo de Diogo Cão e o seu contexto. Breve história antiga do Soyo e do Kongo


"Breve história mítica antiga do Soyo e do Kongo !..."

Debatem-se ainda hoje várias opiniões (às vezes opções...) sobre as origens remotas e a "fundação" do Reino do Kongo, sem se fazer sequer muita atenção à extensão ou validade dos conceitos "fundação" e "Reino" e introduzindo no respectivo estudo terminologias discutíveis que, infelizmente, vamos uma vez mais ser obrigados a utilizar por falta de melhor solução.

Entretanto, e independentemente dessa indecisão terminológica, não parece ainda possível descrever o processo de formação destes Estados da África Central com um mínimo de precisão.

Correm vários mitos que a ele se referem, e sobre esses mitos chocam-se várias leituras. O panorama dos resultados é vasto, é rico, e é vago.

A documentação que nos chega não se refere a estas épocas senão como reflexo duma tradição oral muito posterior e tem-se visto mais do que uma vez, os velhos e outros informantes de trabalhos de campo recitarem o que vem escrito nos livros que estiveram ao seu alcance.

Por vezes os relatores dessa documentação não tinham discernimento suficiente para entrar em subtilezas semânticas dos conceitos que usavam e que eram os que definiam a sua própria sociedade, como os conceitos de "pai", "tio", "sobrinho", "filho", etc.

O termo "Mani" muito usado nessa documentação para distinguir os mais altos aristocratas, tais como o "Mani Sonho", o "Mani Kongo", o "Mani Bata", etc. que se saiba, nunca foi confirmado no terreno por pesquisadores mais modernos e logo mais completos
.
Tudo parece indicar que se trate de uma corruptela de "mwana" significando, "filho" no sentido hierárquico e não genealógico.

Para António Gonçalves, o acto de conceder uma terra ou um território a um visitante ou a qualquer pessoa, é um acto de paternidade.

O "Mani Soyo" da época de Diogo Cão falava do rei do Kongo como "seu sobrinho", não porque fosse necessariamente seu "tio" mas sim porque eram ambos do mesmo clã e ele, o do Soyo, era o mais-velho do clã, o Nkunkulu, título que sempre preferiram e respeitaram os chefes solongo originários de Mbanza Kongo.

Mas apesar destas dificuldades vale a pena passar uma rápida vista de olhos pela mitologia destes povos quanto mais não seja para ganhar outra e tremenda dúvida:

Quem eram afinal os basolongo?

Os basolongo são eminentemente patrilineares.

Os muxikongo (de Mbanza Kongo) e todos os outros bakongo que se conhecem, identificam-se pela filiação matrilinear. Donde vem essa diferença tão significativa? Corresponde às diferenças entre dois povos de origens diversas que se encontraram e aliaram de várias maneiras, ou à diferenciação operada durante um processo comum?

Os basolongo falam um dialecto, o kisolongo, bem distinto do kikongo clássico de Mbanza Kongo. Porquê?

Isso é mais uma vez o resultado do encontro de dois povos diferentes que se aproximaram ou de um só povo que se diferencia em partes?
O Mito de Lukeni

Há portanto mais do que um mito referindo-se ao processo de formação do Estado do Kongo, dito geralmente Reino do Kongo.

Todos eles têm a mesma linha narrativa, isto é, falam da primeira migração de um grupo de linhagens associadas, simbolizadas pelo nome de um herói mítico, um "herói fundador" como Ntinu Wene, como Nimi a Lukeni, falam também de um contexto centro-africano onde se insere o itinerário percorrido, este último fixando um território que virá a consagrar fronteiras míticas do referido Estado.

Para o efeito que se pretende neste breve estudo, todos esses complicados enredos não são muito relevantes.

Mas não poderíamos compreender o "mito de Diogo Cão", o navegador português que atingiu as praias do Soyo pela primeira vez, sem compreender também o que eram e como se desenvolviam os basolongo, isto é os habitantes do Soyo, assim como, qual o ponto da situação, na altura, em relação ao Estado do Kongo.

Tomamos aqui uma síntese das versões conhecidas do mito talvez mais representativo referido à formação do Estado do Kongo, o mito de Nimi a Lukeni.

Segundo a documentação dos séculos XV e XVI, e segundo a interpretação mais corrente, a "fundação" do reino do Kongo parte de uma formação Yombe vinda de Vungu, na margem direita do Zaire, provavelmente no Mayombe, que teria emigrado no Século XIV que se encaminhou para a margem esquerda do rio onde acabou por fundar Mbanza Kongo.

Diz-nos esta tradição que vivia no ponto de partida um chefe chamado Nimi a Nzinga. Nzinga é um nome atribuído a um grupo de linhagens aliadas que se pretendiam descendentes do mesmo antepassado.

Um determinado ramo do grupo Nimi a Nzinga, chamado Nimi a Lukeni, é o que está na origem da fundação da capital do Kongo, na margem Sul.

Neste conjunto, Nimi a Nzinga, nome dominante, é o de uma aliança patrilinear. Lukeni é um nome da linha matrilinear. Assim, Nimi a Lukeni é "filho" de Nimi a Nzinga e de uma certa Nzanza que pertence a outro subgrupo chamado Nsaku Lau.

O herói "Lukeni" partiu, pois da aldeia do seu "pai" e, em Mpemba, a região de Mbanza Kongo, derrotou o chefe local Mbunlulu Mwana Mpangala.

A história posterior revela uma aliança importante do poder com uma série de senhores que a documentação mais antiga designa por "Mani Pangala" que representa as linhagens locais com importância determinante nos assuntos religiosos e na gestão da "propriedade linhageira".

Uma outra lenda sobre a "fundação" do reino do Kongo que não vamos tratar nestas páginas, relatada por A.Cordeiro em 1624, diz que Mbanza Kongo foi fundada por Ntinu Wene (ou Motino- Bene), "um filho mais novo do Rei de Vungu" o qual teria conquistado e unificado as numerosas chefaturas em que estava dividida a formação local Kongo.

A narração deste mito está ornada com os parâmetros habituais da linguagem mítica. Nela se destaca um personagem que vem de longe com uma intenção reformadora (ou conquistadora) e com uma comitiva ou "a sua gente", um itinerário muito bem definido, o encontro com mandatários locais, e a instituição de uma aliança que assume formas diversas, desde o casamento com uma mulher aborígene a uma guerra seguida de vitória total mas sempre generosa.

Seja como for todas as lendas estão de acordo com um ponto de origem em Vungu, donde rompeu uma migração cujo nome designa não a pessoa nem sequer o conteúdo étnico do grupo mas apenas a linhagem dominante, que chegou a Mpemba, onde fundou a cidade de Mbanza Kongo.

Importa referir que o missionário A. Cordeiro, Duarte Lopes/Pigafetta e todos os cronistas que se referiram à expedição de Diogo Cão, fixaram para a posteridade o nome de Nzinga a Nkuwo, como sendo o rei do Kongo que os portugueses encontraram e que veio a chamar-se D. João I.

Nzinga e Nkuwo são, uma vez mais, nomes clâmicos que se repercutem por toda a história do Kongo e, principalmente o primeiro, é uma chave para a história do Soyo e dos seus conflitos internos.

Diz também a tradição Kongo que este rei teve um filho (entre outros) chamado Mvemba a Nzinga (D. Afonso I) e Cordeiro acrescenta que a (linhagem central) Mvemba Nzinga deu "os grandes reis até Henrique I" e ocupou os territórios de Mpemba e Soyo, o que significaria que se estendeu nesse território pelo menos desde Lukeni até ao "príncipe Nezinga" que incluiu o Soyo no território do reino.

Com efeito, a partir de Mbanza Kongo teve lugar um processo de expansão por todo o território que acabou também por chegar ao Soyo e assim, é o sangue Mvemba a Nzinga que entra no Soyo através de um outro personagem ou herói que pertence já à mitologia local e que se chama Nzinga a Mvemba (designado na tradição soyo como "o príncipe Nezinga").onde encontra os basolongo e organiza um estado sujeito à coroa central.

Nas linhas que se seguem vamos ter ocasião de ver como as linhagens reais em Mbanza Kongo tendo vindo de fora, ficam ligadas ao poder local Mpemba Nkazi assim como no Soyo a linhagem estrangeira (Mvemba Nzinga, vinda de Mbanza Kongo) sediada no Pinda, se liga ao chefes da terra (do Pângala).

Os Mitos de Fundação no Soyo

Todos os velhos do Soyo, tanto os das linhagens "da terra" como os das linhagens "de fora" (de Mbanza Kongo) estão de acordo que Nezinga, o "príncipe Nezinga", é o verdadeiro fundador do Estado do Soyo embora absorvido pela soberania Kongo.

Mas, em 1980, os velhos ligados ao poder de então que estava nas mãos das linhagens "da terra" - em que um regente (na falta de um rei coroado) utilizava o título de Soyo dya Nsi- afirmavam que a gente que Nezinga encontrou no Soyo, era um povo organizado e evoluído, produto duma migração muito mais antiga dirigida pelo herói Nentombe. A origem de Nentombe não porém muito clara.
A sua função ideológica sim: a de criar uma formação dona da terra antes de Nezinga. Algumas das versões recolhidas dizem: " Nentombe foi colocado por Deus aqui na terra do Soyo...".

Outros porém afirmavam que "Nentombe é originário de Mbanza Kongo.
Os espíritos arrastaram-no para o Soyo... ".

Em todo o caso o herói permanece um personagem misterioso que simboliza uma migração muito remota, cujo itinerário, passando pelo Ambriz no Sul até Noki na margem do Zaire, estabelece um território que se pode considerar mesmo ainda hoje, o território solongo.

Além disso, de certo modo o mito é confirmado pela tradição Nezinga onde se diz que este príncipe encontrou no Soyo uma sociedade rica, evoluída mas fragmentada, vagamente dirigida por um chefe designado Soyo dya Nsi, sediado no Pângala.

De tudo isto ressalta com bastante evidência um conflito de poder -- e de posse de terras -- no Soyo, entre os descendentes de Nentombe e os descendentes de Nezinga, que vem até hoje.
A lenda de Nezinga tem também um itinerário significante, como todas as outras, que sai de Mbanza Kongo, vai ao Nzetu (zona do Ambriz) desce para a foz do Zaire e chega ao Pângala onde está o Soyo dya Nsi , estabelece uma aliança em que fica claro que Nezinga segura o poder mas o Chefe local continua o dono da terra.

Depois prossegue na sua viagem através da qual foi espalhando o sangue Mvemba a Nzinga com casamentos dos quais resultam mais de trinta filhos.

Um dos mitemas principais da tradição Nezinga é o conflito surgido entre os seus próprios filhos e dos filhos com o pai, por ocasião de uma doença deste, por via das misturas de sangue de que eram portadores e dos diferentes compromissos que elas implicavam.

Num outro mitema diz-se que Nezinga, depois de firmado o acordo com Soyo dya Nsi, voltou a Mbanza Kongo exibindo esse excelente trunfo assim como duas cabaças, uma com água do mar (a riqueza) e outra com areia do solo ( a numerosa população local), faz-se perdoar e é acreditado pelo rei como governador das terras donde viera.

Algumas versões recolhidas informam que Nezinga recebe autoridade sobre o Soyo por parte do rei do Kongo seu tio, para resolver "os casos simples" deixando para ele, Ntotila, "os casos complicados".

Este mitema vem a repercutir-se, como veremos, no mito de Diogo Cão.

Finalmente, e para não alongarmos muito este texto fora do assunto principal, resta acrescentar que, depois do conflito de Nezinga com os seus filhos, estes foram deserdados excepto as duas filhas, Ndilu e Mfutila que se haviam mostrado obedientes por amor filial.

O mito prossegue, depois da morte de Nzinga através dos seus sucessores.
O herdeiro do trono solongo foi o filho de Ndilu, a filha mais velha, que se chamou Mvemba a Ndilu.

Mas quando cresceu o filha de Mfutila, a mais nova, a mãe exigiu uma parte da herança segundo as orientações do falecido pai.

Gerou-se um conflito que resultou na partilha do Soyo em dois Estados: o Soyo de Cima (Mfutila Nentandu) e o Soyo de Baixo (Mfutila Neanda) situado na margem do Zaire, aliás o centro do conjunto político. Enfim, este mitema da partilha do Soyo explica o estado actual da sociedade e do poder solongo que de facto apresentam uma divisão em duas partes, hoje bastante diluída.

O panorama político-social do Soyo à chegada da expedição de Diogo Cão, é pois o de um Estado solongo, dividido em dois, o Soyo-de-Cima ao Sul e o Soyo-de-Baixo, ao Norte. o todo é contudo uma dependência do trono Kongo em Mbanza Kongo, onde reina provavelmente a linhagem Mvemba Nzinga.

A comunidade solongo, além de dividida por dois Estados entre os quais o Soyo-de-Baixo, sediado no Pinda (mais exactamente no Kitxitxi, segundo a tradição Nezinga) detém o poder central de etnia, contem igualmente um certa diferenciação classista onde se destaca uma camada social aristocrática, ela própria dividida também em duas camadas aliadas mas contraditórias vindas de fontes diferentes:
a dos chefes das linhagens locais e a dos chefes das linhagens Mvemba Nzinga originárias de Mbanza Kongo.
Resta acrescentar que, tendo sido possível em 1990, recolher várias listas genealógicas do trono solongo "desde a sua fundação" mais ou menos desiguais mas semelhantes pareceu-nos interessante apresentar aqui aquela que se revela mais sólida, embora apenas até à época do navegador português:

Mvemba a Ndilu - neto de Nezinga e primeiro soberano, portanto depois da fundação do Estado através do herói Nezinga.
Nkinvi kya Mvemba
Nkulumba dya Ngolowolo - que aparece em outras listas com o nome de NKUKULUMBA NEKOKANLOKO
Nekyanvu Kya IkwaNdom Malele kya Nsi - o soberano do Soyo à chegada de Diogo Cão.

Pretenderam sempre os nossos informantes que todos estes nomes pertencem à camada Mvemba Nzinga.
Contudo o nome Kya Nsi, de Dom Malele, que significa "da terra", parece desmenti-lo. Somente estudos mais detalhados poderão esclarecer este assunto.
O Cisma Antonino do Século XVIII e suas consequências

A cosmogonia tradicional solongo não difere muito da dos outros povos desta parte de África.

Ela é simplesmente, como tudo o que pertenceu ao antigo reino do Kongo, muito mais agitada.

De uma maneira geral e breve, é próprio dessa cosmogonia o culta da água (implicando o da chuva com o seu sacerdócio específico e seu sistema de pensamento), da árvore (principalmente o da mulembeira ou mulemba ("ensendeira" na documentação que a ela se refere) e o da pedra.

Os espíritos são os Nkisi Nsi e habitam preferencialmente em certas lagoas como a nascente que abastecia a Missão Católica do Pinda e que se chamava Malu ma Madiya ("Água de Maria"), mas eles também costumam roçar-se pela folhagem da grande mulembeira da casa do chefe, o que é visível quando a copa da árvore se agita chamando a atenção dos velhos que conversam à sua sombra.

Os gémeos, essas criaturas controversas enviadas ao casal para o pôr à prova, habitam igualmente as camadas superficiais da água depositada. Mas sob essa camada há outra, a dos albinos, os adversários dos gémeos.

A pedra e a árvore são também habitáculos de cargas mágicas e geradoras de mitologia.

Da pedra surgiram um dia os homens brancos, ao passo que os negros tinham nascido das árvores.

O culto dos antepassados (de certo modo, o dos gémeos também) é talvez o mais formal da religião tradicional do Soyo.

Ele é praticado em todas as aldeias num altar constituído por um pequeno telheiro com não mais de um metro de altura, que esconde uns orifícios no solo através dos quais se comunica com os antepassados.

Chama-se Mvela e há entre estes altares uma hierarquia estabelecida que apresenta no Pângala, o mais importante dentre eles: o Mvela kya Soyo, que cobre o povo de todo o território, tanto para o Soyo-de-Cima como para o seu vizinho do Norte, onde se encontra.

Mas é, provavelmente o culto da chuva o mais determinante, porque se relaciona com a sobrevivência material das pessoas, com a fertilidade e com a mulher. O seu sacerdote é designado Kintumba e a sua importância é tão grande que a coroação de um novo soberano no Soyo tem de ser presidida e ministrada por ele.

É também o Kintumba que faz vir a chuva através de um culto hoje sincrético, onde se reza um padre-nosso em kisolongo, apenas parecido com o original cristão em português.

Sobre este contexto vem justapor-se a ideologia cristã desde o século XVI. Como afirma Thorton.
Porém, essa cristianidade "... era aceite, não como uma nova religião mas como um culto sincrético, integralmente conservado com outros cultos do Kongo e derivando do Kongo e não da cosmologia cristã ou europeia".

Hoje a atitude religiosa dos basolongo é, de certo, predominantemente cristã. Mas atrás dessa atitude que devia implicar um sistema ideológico igualmente cristão desenham-se todas as correntes místicas que a atravessaram e reconfiguraram num composto bem difícil de interpretar.

Ressalta porém de tudo isso que da cosmogonia tradicional à ideologia oficial de hoje mais ou menos cristã, intromete-se com uma força afinal determinante, o culto antonino que nasce no fim do Século XVII na região de Mbridje (alto Ambriz) e se difunde a partir do Soyo absorvendo de forma avassaladora a consciência dos basolongo e não só, espalhando-se por todo o território Kongo, e novamente não só.

As raízes desse culto podem ser reportadas a uma velha do Ambriz, Apolónia Mfumaria, conhecida igualmente por Mfuta Mfumaria (Mfumadiya) que afirmava, entre outras, coisas ter encontrado no rio a cabeça de Cristo (uma pedra arredondada e vulgar) com sinais do seu descontentamento em relação aos pecados dos homens.

Daí surgiram os primeiros mandamentos do antonismo, condenando os antigos feitiços, o trabalho aos domingos, e sobretudo criticando o Senhor D. Pedro IV de Água Rosada, candidato ao trono central do Kongo, que se refugiava no Kimpango, temendo os seus rivais na posse da coroa até então abandonada.

Para a apóstola do antonismo, D. Pedro devia marchar sobre S. Salvador e proclamar-se rei do Kongo.

Com efeito o retrato político dessa época que resultava da desastrosa batalha de Ambwila contra o Governo colonial de Angola (1666), onde teriam perecido "mais de cem mil homens", era o de um Kongo desmembrado, dividido em ducados, e marquesados mais ou menos independentes a fazerem guerras uns aos outros e a recolherem escravos, com dois candidatos ao trono, de clãs rivais, respectivamente D. Pedro de Água Rosada, um Kimpangu, da estirpe dya Nlaza, e D. João II Nsimba a Ntando, um Kimpanzu, da estirpe dya Nlemba, refugiado em Bula ( mais ou menos Kinshasa actual) a evitarem enfrentar-se pela posse da coroa e pela reunificação do reino.

Depois da velha Apolónia surgiram outros apóstolos igualmente reformadores que aprofundavam mais um pouco o novo credo, até que do Tubi, uma aldeia solongo onde era a chefe (mfumu), surgia a figura impressionante de Beatriz Kimpa Mvita, a Santa Beatriz, ou Beatriz do Kongo como ficou conhecida pelos historiadores.

Beatriz, uma jovem muito bela segundo um relatório do capuchinho Bernardo da Gallo ao papa Clemente XI datado de 1717, relança o movimento que pela primeira vez se constitui em "cisma antonino".

Ela afirma ter estado no céu com S. António o qual lhe propôs um programa reformador que limpava o culto cristão de suas impurezas feiticistas e outras, como o crucifixo que não era mais que um amuleto, definia uma moralidade de tipo novo, e fixava como objectivo central a reunificação do Reino do Kongo, único meio de racionalizar o tráfico de escravos que andava ao sabor dos apetites dos grandes senhores, de criar uma sociedade crente, justa e sem preconceitos, de fugir também à influência terrível dos capuchinhos italianos que missionavam a coberto do Governo de Angola, do Papa e daqueles senhores da guerra.

Este movimento conheceu uma amplitude inesperada, e face à atitude irresoluta de D. Pedro de Água Rosada, dividiu mais o poder ainda em suspenso com um novo candidato ao trono, o General "Chibenga", ou seja, D. Pedro Constantino de Almada, então Capitão General de D. Pedro de Água Rosada.

A força do movimento era muito grande na primeira década do Século XVIII.

Os escravos bakongo abandonavam seus amos e apresentavam-se ao antonismo que se estruturava à maneira duma seita activa e contestatária.

Uma oração nova, a Salve Antoniana, substituía a Salve Reginae da liturgia católica e constituía o verdadeiro manifesto do antonismo.

Para os antonistas, Jesus Cristo era natural de S. Salvador (Bethelem), e mesmo a Virgem Maria e S. José eram bakongo de nascimento, naturais do Ducado do Nsundi (Nazaré).

Mas o fim do decénio pôs um termo a este sonho dourado e piedoso.

Beatriz, sob impulsão do P. Bernardo da Gallo (que evoca o Santo Ofício para se justificar) e a conivência da autoridade de D. Pedro (o Água Rosada), foi queimada na fogueira com o seu principal oficial, o "Anjo da Guarda" S. João, em 1708.

No ano seguinte o Chibenga, com o seu enorme exército meio antonino meio católico, foi derrotado na tremenda batalha do Monte Evululu e D. Pedro ocupou finalmente S. Salvador fazendo-se coroar rei do Kongo, como D. Pedro IV.

O antonismo refugiou-se no seu estrato cosmológico misturado com os "espíritos da terra", mas o ponto principal do seu programa, a restauração do reino do Kongo, fora cumprido.

Aparentemente a seita dissolveu-se após os desaires sofridos. Mas o culto e a fé nos dois principais protagonistas da ideologia antonina mantiveram-se e existem ainda hoje. St. António continua a ser em todo o Kongo um pólo essencial da mitologia e a santa, agora chamada Stª. Maria é, no Soyo, objecto de um culto discreto de fertilidade e de propiciação da chuva.

Um novo mito surge no Soyo em data incerta (após a queda do antonismo), que converte "D. Beatriz Kimpa Vita ou D. Beatriz do Kongo, mulher ligada à política e à história do reino, na Stª. Maria do Soyo, "espírito da terra" que habita nas águas da sua própria nascente e que se ocupa dos problemas dos basolongo"
O Mito de Diogo Cão

Diogo Cão, navegador português e figura histórica do Século XV, entra finalmente na história tradicional do Soyo como personagem mítica, embora aí apareça de uma maneira um tanto vaga, e contudo com a missão muito precisa de reiterar a eclosão de uma nova cultura entre os basolongo, de uma nova religião e de uma nova civilização técnica que faz surgir bens materiais de tipo novo.

Ora a maneira como o seu mito se desenvolve é a maneira clássica dos "heróis reformadores" da mitologia savânica desta parte de África.

A sua estrutura narrativa é semelhante à de toda essa mitologia.

O protagonista surge de algures, de longe, com uma comitiva; tem encontros com os mandatários dos soberanos locais mas não chega a encontrar o "rei" (ou "rainha") do Soyo.

A sua entrada em cena tem aspectos espectaculares que valorizam o personagem e que o definem como "estrangeiro".

Depois percorre um itinerário bem definido onde a via fluvial -- a principal via comercial: o rio Zaire -- se desenha como dominante, e acaba em Mbanza Kongo, junto do Ntotila.
Por uma das versões recolhidas desta lenda, sabe-se que Diogo Cão desembarcou numa praia do Soyo onde encontrou uma "pedra alta", sobre a qual havia dois santos: St. António e St. Maria.

O visitante queria levá-los para Portugal, mas St. Maria negou-se e veio a ser deixada na praia, criando uma derivação da lenda destinada a dar conteúdo ao culto de St. Maria que, como vimos atrás, ainda hoje se pratica no Soyo
.
Uma segunda versão diz que Diogo Cão chegou num barco à vela (Nkumbi ya Nkutuktu) a uma praia do Soyo em Mbanza Malele.

Aí encontrou um pescador, Ndom Lwolo, um súbdito da rainha Malele kya Nsi, nome que figura entre os primeiros da lista de soberanos do Mfutila Neanda ( o "Soyo de baixo").

Quando o navegador perguntou o nome da terra, o pescador respondeu: "Kinzadiko" ("não sei").

E ao interrogá-lo sobre o nome do grande rio, Ndom Lwolo respondeu: "Nzadi" ("Rio").

O visitante concluiu assim que o rio se chamava "Zaire".

Então Diogo Cão manifestou o desejo de ser apresentado à rainha.

A soberana foi informada deste acontecimento e desta solicitação, mas lembrou-se que o seu antepassado Nezinga recebera ordens do Tio, o Ntotila, que a impediam de, como seu suserano, estabelecer relações com povos estrangeiros.

Por isso a rainha recusou qualquer contacto com os visitantes mas mandou-os conduzir a Mbanza Kongo.

Um guia acompanhou, pois, a expedição portuguesa rio acima, até Noki, onde desembarcaram.
O navio ficou fundeado no sítio chamado Nsuku a Nsambi a Nzombo, onde havia uma grande pedra com uma mulembeira que lhe crescera no topo.

Desse modo evitava-se subir até Matadi, "por causa dos ventos violentos da região, originados pelas montanhas".

Prosseguiram a viagem por terra ao encontro do Nekongoe da sua corte, que lhe ofereceram um grande banquete.

Note-se que o Nekongo, avisado por mensageiros, já sabia da chegada dos portugueses e já os esperava.

O visitante deu ao Ntotila como presente um rico pano que se chamou Nkampa.

O mito de Diogo Cão parece, enfim, pôr em relevo algumas particularidades da consciência solongo.

Nele se recorda com especial vigor a dependência do rei do Soyo para com o rei do Kongo, seu soberano.

Este aspecto não tem porém uma intenção didáctica pura, mas ele é, muito mais, o resultado do movimento de aproximação com Mbanza Kongo e portanto com o poder central por tradição, que crescia no Soyo à data da recolha do mito (1990).

Contudo sabe-se pertinentemente pela documentação existente , que os contactos de Diogo Cão com o dito "Mani Soyo", foram numerosos e até frutuosos, pois inclusive o chefe solongo fez-se baptizar.

Além disso a narração pretende mostrar através dum contorno simbólico que o culto actual (e bastante antigo) de St. Maria, surge da igreja católica (vem com Diogo Cão), mas em oposição a ela.

Recordemos que a santa, devendo ter "regressado" com o navegador como sucedeu a St. António, preferiu ficar no Soyo.

Enfim, para o historiador, há neste mito numerosos elementos significativos inspirando um mínimo de segurança que lhes permita serem tratados como factos históricos, quer pelo número muito elevado de informantes que os reconheceram -- o que dá fixidez a uma cultura histórica envolvente -- quer pela sua semelhança com a realidade concreta conhecida.

No episódio histórico de Diogo Cão fala-se de uma "pedra" (na ocorrência, o Padrão); essa "pedra", de que, no mito, o Navegador é miticamente (e não explicitamente) portador (ou criador) contém dois santos da religião católica:
St. António e St. Maria, o primeiro, tanto na versão antonina do Soyo como na do Kongo desaparece, abstratiza-se e só se manifesta indirectamente através da sua eleita, a santa; o itinerário mítico da expedição pelo rio Zaire conduzindo a uma "pedra" que evoca a descoberta de Yelala, facto histórico e por fim um Senhor do Soyo, um "Mani Soyo" que na narração mítica se chama Ndom Malele Kya Nsi e na narração histórica toma o nome de D. Manuel da Silva.
O que é pois o dito "Mito de Diogo Cão", senão a representação que o povo solongo se faz do facto histórico, modelado pela linguagem mítica local e pela ideologia dominante?

Assim sendo é também uma das fontes da história do Soyo cuja leitura implica a descodificação de um mito.

Bibliografia Sumária

ABRANCHES, Henrique - Comentário à tradição Nezinga, in Revista Internacional de Estudos Africanos, nº. 1, 1981, Lisboa.Sobre os basolongo - arqueologia da tradição oral, Ed. Fina Petróleos de Angola, Luanda. 1991
BONCTINK, F. - Les Panzelungos, ancêtres des solongo - Annales Equatoria, T.I, V.I, 1980.
BRASIO, António - O problema da eleição e coroação dos Reis do Kongo, Fac. Letras, Coimbra, 1969.
CALLEWART, R.P.E. - Les moussorongos - in Bulletin de la Societé Royale Belge de Geographie, T.29, Bruxelles, 1905
CAVAZZI DE MONTECUCCOLO, J. A. - Descrição histórica dos três reinos, Congo, Matambe e Angola - (2volumes), Junta de Investigação do Ultramar, Lisboa, 1965
COSTA, José da (informante de terreno) - Mambu mampa. Mvila a Nezinga - (manuscrito), Pinda, 1963
MVEMBA, André (informante de terreno) - Lutoma vina e Mvila a Nezinga (manuscrito), Ngande Soyo.
FELGAS, Helio E. - História do Congo português - Carmona 1958
GALLO, Bernardo da - Relations (1694-1718) - in Jadin, 1961
GONÇALVES, António Custódio - Kongo, le lignage contre l'Etat - I.I.C.T., Univ. Évora, Évora, 1985
HILTON, Anne - The Kingdom of Kongo - Clarendon Press, Oxford, 1987
JADIN, L. - Le Congo et la scecte des Antoniens - Restauration du Royaume sous Pedro IV et la "Sant Antoine" congolaise (1694-1718) - Bulletin de L'Institut Historique Belge de Rome, T. XXXIII, pgs 411 a 614, Bruxelles, 1961.
LUCCA, Lourenzo da - Relations sur le Congo, 1700-1717- in Jadin, 1961
MARCHAL, P. Gilles, s.sp. - Sur l'origine des basolongo - in "Equatoria", Revue des sciences congolaises, n-4 ano 11, 1948, pgs 121 e ss.
RAVENSTEIN, e.g. - The strange adventures os Andrew Battell of leight, in Angola and adjoining regions, 1950.
THORTON, J. - The development of un african catholic churc in the kingdam os Kongo, 1491- 1750 - in JOURNAL OF AFRICAN HISTORY, 25, n.2 (1984) pgs 147-167, Cambridge
http://afmata-tropicalia.blogspot.com/2010/06/breve-historia-antiga-do-soyo-e-do.html
Imagem: Photo of Soyo, Angola: By a Facebook Member on Aug 2009. tripadvisor.com

sábado, 3 de dezembro de 2011

Regresso



E contudo perdendo-te encontraste.
E nem deuses nem monstros nem tiranos
te puderam deter. A mim os oceanos.
E foste. E aproximaste.

Antes de ti o mar era mistério.
Tu mostraste que o mar era só mar.
Maior do que qualquer império
foi a aventura de partir e de chegar.

Mas já no mar quem fomos é estrangeiro
e já em Portugal estrangeiros somos.
Se em cada um de nós há ainda um marinheiro
vamos achar em Portugal quem nunca fomos.

De Calicute até Lisboa sobre o sal
e o Tempo. Porque é tempo de voltar
e de voltando achar em Portugal
esse país que se perdeu de mar em mar.

Manuel Alegre

Imagem: título, História Trágico-Marítima. editor, Livraria Sá da Costa
pedroalmeidavieira.com

Por Aquele Caminho. Adriano Correia de Oliveira (1942-1982). Letra de José Afonso



Por aquele caminho
De alegria escrava
Vai um caminheiro
Com sol nas espáduas.

Ganha o seu sustento
De plantar o milho.
Aquece-o a chama
Dum poder antigo.

Leva o solitário
Sob os pés marcado
Um rasto de sangue
De sangue lavado.

Levanta-se o vento
Levanta-se a mágoa
Soltam-se as esporas
Duma antiga chaga.

Mas tudo no rosto
De negro nascido
Indica que o negro
É um espectro vivo.

Quem lhe dá guarida
Mostra-lhe a pintura
Duma cor que valha
Para a sepultura.

Não de mão beijada
Para que não viva
Nele toda a raiva
Dessa dor antiga.

Falta ao caminheiro
Dentro da algibeira
Um grão de semente
Doutra sementeira.

O sol vem primeiro
Grande como um sino.
Pensa o caminheiro
Que já foi menino.

Ganha o seu sustento
De plantar o milho.
Aquece-o a chama
Dum poder antigo.

Falta ao caminheiro
Dentro da algibeira
Um grão de semente
Doutra sementeira.

Imagem: do Ventre Livre-1871). Quem faz a oferta é um tal de Manoel Dias Pereira ...
picaretasdatavola.blogspot.com

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Trova do Vento que Passa


Trova do vento que passa

Pergunto ao vento que passa
notícias do meu país
e o vento cala a desgraça
o vento nada me diz.

Pergunto aos rios que levam
tanto sonho à flor das águas
e os rios não me sossegam
levam sonhos deixam mágoas.

Levam sonhos deixam mágoas
ai rios do meu país
minha pátria à flor das águas
para onde vais? Ninguém diz.

Se o verde trevo desfolhas
pede notícias e diz
ao trevo de quatro folhas
que morro por meu país.

Pergunto à gente que passa
por que vai de olhos no chão.
Silêncio -- é tudo o que tem
quem vive na servidão.

Vi florir os verdes ramos
direitos e ao céu voltados.
E a quem gosta de ter amos
vi sempre os ombros curvados.

E o vento não me diz nada
ninguém diz nada de novo.
Vi minha pátria pregada
nos braços em cruz do povo.

Vi minha pátria na margem
dos rios que vão pró mar
como quem ama a viagem
mas tem sempre de ficar.

Vi navios a partir
(minha pátria à flor das águas)
vi minha pátria florir
(verdes folhas verdes mágoas).

Há quem te queira ignorada
e fale pátria em teu nome.
Eu vi-te crucificada
nos braços negros da fome.

E o vento não me diz nada
só o silêncio persiste.
Vi minha pátria parada
à beira de um rio triste.

Ninguém diz nada de novo
se notícias vou pedindo
nas mãos vazias do povo
vi minha pátria florindo.

E a noite cresce por dentro
dos homens do meu país.
Peço notícias ao vento
e o vento nada me diz.

Quatro folhas tem o trevo
liberdade quatro sílabas.
Não sabem ler é verdade
aqueles pra quem eu escrevo.

Mas há sempre uma candeia
dentro da própria desgraça
há sempre alguém que semeia
canções no vento que passa.

Mesmo na noite mais triste
em tempo de sevidão
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não.

Manuel Alegre

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Qualquer dia


No inverno bato o queixo
sem mantas na manhã fria
No inverno bato o queixo
Qualquer dia
Qualquer dia

No Inverno aperto o cinto
Enquanto o vento assobia.
No inverno aperto o cinto
Qualquer dia
Qualquer dia
No Inverno vou pôr lume
Lenha verde não ardia.
No inverno vou pôr lume
Qualquer dia
Qualquer dia

No Inverno penso muito
Oh que coisas eu já via
No inverno penso muito
Qualquer dia
Qualquer dia

No Inverno ganhei ódio
E juro que o não queria
No inverno ganhei ódio
Qualquer dia
Qualquer dia

sábado, 26 de novembro de 2011

A Lenda da origem dos Nkises – Angola


Conta-se que na antiguidade o povo bantu prestava certo culto e que, neste tipo de culto, um determinado chefe bantu tinha o costume de se dirigir a uma montanha e lá fazer suas preces diretamente à Zambi, sendo sempre atendido. Ocorre que este chefe vem a falecer e seu filho o sucede em suas funções, só que o filho não sabe como desempenhar as atividades do pai, teme estar diretamente em contato com Zambi, como fazia seu pai. Ele fica desesperado, não sabe como agir e seu povo precisa de ajuda. É aí que lhe ocorre: apenas meu pai tinha coragem de estar diretamente com Zambi, porque então não chamar de volta o espírito de meu pai para que ele possa interceder por mim e meu povo perante Zambi?
E assim foi feito. O filho traz de volta o espírito de seu pai, que torna a fazer suas preces perante Zambi. A aldeia volta a receber bençãos com suas preces, até que gradualmente, cada chefe de família passa a utilizar este método, e assim, com um período de tempo maior, cada família acaba tendo seus próprios espíritos ancestrais, que a princípio eram tratados como simples intercessores perante Zambi, e posteriormente como objetos de adoração. Por fim, Zambi acaba sendo posto de lado, para serem invocados os Nkises, ou seja, os ancestrais divinizados.
http://contosdeadormecer.wordpress.com/category/lendas/lendas-de-angola/
Imagem: Os Nkises. Os Inkices na Africa Minkisi / Mukixi
flogao.com.br

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

A Lenda da origem do povo Huambo (versão 1) – Angola


POR CONTOSDEADORMECER
Um dia, tendo o filho do Soba Huambo Kalunda saído para caçar, enquanto estavam ausente da aldeia, esta foi atacada por uma família enorme de leões famintos, que comeram todas as pessoas da tribo.
Quando Sobeta retornou ao Kimbo, apenas encontrou os restos do seu povo que os leões tinham desperdiçado, e de vivo, apenas uma jovem leoa que presa e ferida numa armadilha de caça, não tivera condições de acompanhar o grupo de carnívoros, quando após o lauto repasto, se foram embora.
Triste com tudo o que acontecera, e sem vontade de vingança, o Sobeta soltou e tratou a leoa que agradecida pelo que o homem lhe fizera de bem, e revoltada por ter sido abandonada pelos outros leões, nunca mais se separou do solitário chefe, e com ele viveu muitos anos, servindo-lhe inclusive de mulher.
Desta ligação de um chefe e de uma leoa, nasceu um povo forte e corajoso, além de inteligente, a quem o Sobeta deu o nome do pai, Huambo, nome que o planalto que habitava, também adquiriu

A Lenda da origem do povo Huambo (versão 2) – Angola
POR CONTOSDEADORMECER
Durante o movimento migratório dos N’Gola-Luandos para o Sudoeste, um guerreiro, de nome Huambo, tentou com alguns acompanhantes, um movimento de revolta, em relação ao resto do seu povo.
Como os revoltosos eram poucos, foram facilmente batidos e fugiram para a região do Planalto Central de Angola, onde, achando a terra fértil e o clima bom, enfim as condições propícias, se estabeleceram.
Este pequeno grupo de guerreiros, segundo esta lenda, é que terá dado origem ao povo Huambo, de cujo chefe tiraram o nome, e pelo qual, também a região passou a ser conhecida

http://contosdeadormecer.wordpress.com/category/lendas/lendas-de-angola/
Imagem: ... é que terá dado origem ao povo Huambo, de cujo chefe tiraram o nome, ...
esoterismo-kiber.blogs.sapo.pt

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

CULTURA TRADICIONAL BANTU. Assim, o feiticeiro destrói a própria família.



Daí pensarem os Bantus que o feiticeiro tem de ser procurado quase sempre entre os seus familiares ou vizinhos mais próximos. Assim, o feiticeiro destrói a própria família.

Cultura Tradicional Bantu. Pe. Raul Ruiz de Asúa Altuna. Edições Paulinas

Segundo lendas populares, nas noites de plenilúnio, vêem-se nos descampados das grandes florestas, círculos de feiticeiros dançando e girando com majestosa lentidão à volta do cadáver de alguma vítima. Ao fim, comem-no, cortando-o em pequenos pedaços e levando-os à boca com gestos rituais, lentos e suaves.

É muito frequente acusar mulheres, sobretudo as anciãs e esposas. É uma prova do antagonismo sexual e reacção à hipotética preponderância feminina nos grupos matrilineares. Além disso, como muitas mortes têm a sua origem em comidas e bebidas, é natural que acusem as mulheres que as prepararam.
«A mulher, considerada como a criatura mais misteriosa e insondável, está mais intimamente relacionada com a “escuridão” e a “noite”. Está, portanto, estreitamente relacionada com a feitiçaria». A mulher é enigmática devido à sua constituição física e psíquica. Os seus órgãos sexuais, o sangue menstrual, a capacidade de concepção e o poder alimentício dos seios levaram estes povos, apoiados na causalidade mística e nas leis e dinamismo da magia, a rodear a mulher de uma auréola misteriosa e ambivalente. É estimada e querida, receada e perigosa. Confirma-o o seu comportamento psíquico: uma intuição com reacções tão surpreendentes que transcendem a visão do homem, uma versatilidade incontrolável e uma capacidade de sedução até dobrar o próprio homem.

Para quem está alheio a esta cultura, não passa de uma pseudociência que se dissipará como o fumo, quando o bantu tiver conhecimento das leis da causalidade ou abraçar o cristianismo libertador e salvador.

Zumbi era descendente dos guerreiros imbangalas ou jagas de Angola e nasceu por volta de 1655 em um mocambo do quilombo. A palavra Zumbi significa "Deus negro de alma branca".
"É admirável que, sem partitura, eles consigam manter os seus rituais e composições desde épocas imemoráveis" J. A. Peret
Descobre-se assim, nitidamente, o ponto mais sensível da alma virgem. O indígena deixa-se vencer facilmente pela música e ela foi utilizada como meio prodigioso pelos jesuítas para a catequese. Realmente, foi a música a grande arma do missionário.
Entre os dogões da África, cujo sistema simbólico é lunar e aquático, "a avestruz substitui às vezes as linhas onduladas ou as sucessões dos bastões que simbolizam os caminhos da água". Nestas representações, o corpo da avestruz é pintado na forma de círculos concêntricos e de bastões.

Este mito não é exclusivamente aborígene, porque há nas lendas cosmogônicas dos Fans da África a imagem de Mboya, representando na floresta um acham errante à procura de Bingo, o filho a quem Nzamé atirara ao precipício. Existe também no Maranhão, um mito mais aproximado do da tribo dos Fans do que do Boitatá. É o que se conhece pelo nome de kuracanga. Quando uma mulher tem sete filhas, a última vira kuracanga, isto é, a cabeça sai do corpo, à noite e, em forma de bola de fogo, gira à toa pelos campos, apavorando a quem encontrar nessa estranha vagabundeação. Há, porém, meio infalível de sustar-se esse horrível fadário, é fazer com que a filha mais velha seja madrinha desta caçula.

Na África a serpente é o arco-íris para sudaneses e bantos, a N’Tyama, cavalo de Nz’ambi, a Mu-kyama, etc. (Pe. Tastevin, Les idées religieuses des africains, 8, 10).

domingo, 23 de outubro de 2011

(Literatura angolana?) Maria Eugénia Neto Prémio de Literatura


A escritora Maria Eugénia Neto é a grande vencedora do Prémio Nacional de Cultura e Arte, edição 2011, na categoria de Literatura, anunciou ontem no Centro de Imprensa, em Luanda, o presidente do júri, Zavoni Ntondo, em cerimónia presidida pela ministra da Cultura, Rosa Cruz e Silva.
Maria Eugénia Neto foi galardoada pela sua contribuição e persistência na valorização da literatura infanto-juvenil, numa altura em que se procura, cada vez mais, promover o gosto pela leitura, pela reflexão e espírito crítico, no seio das gerações mais novas.
Segundo o presidente do júri, a escritora também cultiva o género lírico e a sua poesia, além de constituir uma saudosa e angustiante evocação da imagem do seu marido, mantém um forte vínculo de intertextualidade com a obra “Sagrada Esperança”, problematizando aquilo que o social busca problematizar.
O investigador Vladimiro Fortuna venceu na categoria de Investigação em Ciências Humanas e Sociais, pela obra “Angolanos na Formação dos Estados Unidos”, considerando a relevância, a pertinência e o interesse deste trabalho para o estudo científico da historiografia angolana sobre o quotidiano da diáspora nos Estados Unidos da América.
Zavoni Ntondo realçou que este estudo, embora não seja o primeiro com esta temática, contribui para, por um lado, enriquecer o conhecimento da trajectória do tráfico de escravos e, por outro, colmatar o défice de informação desta temática no caso de Angola.
Pelo elevado valor artístico do conjunto da sua obra, desenvolvido ao longo de 37 anos de carreira, dando um forte contributo ao desenvolvimento das artes em Angola, o pintor Mendes Ribeiro ficou com o galardão da disciplina de Artes Plásticas. Mendes Ribeiro é um ícone que marca, do ponto de vista académico, uma geração desde os primórdios da independência de Angola.
Na disciplina de Teatro, o prémio foi atribuído ao grupo Vozes D’África, da província do Huambo, pelo esforço que tem vindo a desenvolver para manter vivo o teatro naquela região.

O realizador Tomás Ferreira ficou com o troféu, na disciplina de Cinema e Audiovisuais, pelo trabalho, responsabilidade, abnegação, rigor, seriedade e determinação, sobretudo nos programas televisivos “Stop Sida” e “Angola Chama-te”.
Na disciplina da Música, o prémio foi atribuído a João Morgado “Joãozinho dos Tambores”, um músico percussionista com mais de 50 anos de carreira activa, ininterrupta, imitado e respeitado por várias gerações.
A título excepcional, pelo conjunto da sua obra, o prémio na categoria de dança foi atribuído ao Ballet Tradicional Kilandukilu, um grupo com uma trajectória de 27 anos ininterruptos, de persistência artística no domínio da dança tradicional e popular recreativa.

Ministra satisfeita

A ministra da Cultura afirmou ontem estar satisfeita com o trabalho do júri do prémios, por todos os laureados serem ícones da cultura nacional. “Felicito os vencedores pelo empenho e dedicação. O génio criador foi posto em destaque. Qualquer das personalidades que ganharam são ícones da cultura angolana, são responsáveis pela passagem de testemunho das novas gerações.”
Disse que o Ministério que dirige vai continuar com o seu trabalho de incentivo e promoção do génio criador no domínio da cultura e das artes, promovendo e orientando acções, no sentido de que possam ocorrer com regularidade em todo o país.
“O facto de termos conseguido que os membro do júri se deslocassem a algumas províncias para identificar o talento e o génio criador nesses locais, ainda não correspondeu às expectativas de alguns criadores, porque nas nossas deslocações sentimos isso, mas é preciso dizer que a excelência é um ponto que se atinge com muito esforço e dedicação.”
A ministra disse que os exemplos que o Ministério da Cultura tem visto nas outras edições permite afirmar que é de facto a excelência um factor determinante para a escolha dos vencedores.
JORNAL DE ANGOLA

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

CULTURA TRADICIONAL BANTU. julgam-se profetas escolhidos por Deus para salvar o seu povo


Daí, a necessidade imperiosa do adivinho, agente legalizado e consagrado nestas sociedades, para quem é o recurso supremo, nalguns casos, a última esperança. A ele devem a constante reconstrução da vida comunitária. Com os chefes, é, pois, o factor social mais contrário a qualquer evolução cultural. Com o seu poder coactivo e mágico protege a vida tradicional e opõe-se energicamente à acção missionária e às ideias novas.

Cultura Tradicional Bantu. Pe. Raul Ruiz de Asúa Altuna. Edições Paulinas

Por vezes, degenera e torna-se uma pessoa temida, perversa e autora de toda a espécie de vinganças e extorsões. É fácil compreender que a posse de uma arma tão temida e certeira como a magia, dê azo a ambições, orgulhos e violências. Esta prepotência é caminho livre para a malícia, venalidade, inveja e cobiça. Como nas consultas tem de acusar algum malvado, como causa da desordem, pode muito bem castigar inocentes ou aniquilar quem lhe agrade. Basta acusá-los de feitiçaria. Deste modo, pode ocasionar mortos inocentes, que a sociedade julga justas. Tem o costume de fazer alarde das sentenças executadas, ostentando, num feitiço, tantos trapos dependurados quantas as mortes causadas.
Exige somas avultadas e, na sombra, elimina os inimigos dos seus clientes. Também extorque com ameaças, para satisfazer os seus interesses e ambições. Tem uma influência que se estende a todo o grupo. Conta com colaboradores submissos. Alguns vivem clandestinos, outros (os aprendizes e discípulos) são conhecidos de todos. São estes que habitualmente efectuam as mortes, à base de veneno, com perfeita discrição e total impunidade. É tão grande o sigilo que ninguém duvida da acção punitiva de um ser do mundo invisível, realizada directamente ou por intermédio de um feitiço. Estes discípulos recolhem informações de cada cliente e dos conflitos sociais e, assim, facilitam os diagnósticos do adivinho e confirmam a veracidade dos seus oráculos.

A crença na terrível feitiçaria e nos feiticeiros, apesar de enraizada na magia bantu, ganhou tais proporções e tornou-se tão obcecante, por causa das constantes acusações do adivinho que, se por um lado alivia, soluciona e inspira confiança, por outro, aumenta o terror da magia e mantém a sociedade em permanente insegurança. Basta recordar os frequentes e arbitrários ordálios.

Na África negra está muito generalizada a ideia de profetismo. O profeta negro sente que comunga com algumas das forças da pirâmide vital. Este contacto permite-lhe transmitir mensagens que podem esclarecer situações críticas. Assim se explica, de certo modo, o pulular por quase toda a África negra do profetismo-messianismo, origem dos Movimentos Profético-Salvíficos.
Os fundadores, a partir de uma visão ou êxtase em que lhes foi comunicada a sua eleição, mensagem e missão, julgam-se profetas escolhidos por Deus para salvar o seu povo, oprimido por qualquer tipo de violência.

Por exemplo, os habitantes de uma aldeia baconga têm de participar na preparação de «armas» contra os feiticeiros. Assim, ficam protegidos pelo feitiço e são controlados pelo adivinho, sempre atento à observância ritual que lhe é devida.

Nalgumas partes de Angola, destroem feiticeiros com a «arma de fogo da noite». Esta arma consiste num fémur humano, forrado ou cheio de terra do cemitério e de carne de algum cadáver. Quando o atiram ao feiticeiro, ele morre. Também se servem de armas de metal que disparam ossos de dedos humanos e bocados de metal. «Os homens das armas… não supõem, pelo menos alguns, que cometem um autêntico assassínio físico. Ao fazerem fogo contra a vítima, dizem: “Se és bruxo tens de morrer esta noite. Se não és, não deves morrer”… Acreditam misticamente que a pessoa, contra a qual dispararam, não sofrerá mal algum se não for culpada».
Também costumam apunhalar a imagem da pessoa acusada, reflectida num espelho ou na água de uma caçarola ou cabaça.

Têm, como os curandeiros, poderes parapsicológicos, às vezes notáveis e até dignos de admiração. Pessoas de confiança e testemunhas fidedignas contaram-me que alguns adivinhos colocam um boneco de madeira no chão e, depois de pronunciarem umas palavras esotéricas, o boneco começa a correr velozmente pela aldeia e só pára quando o mandam repousar a seus pés.
É quase certo que alguns praticam o hipnotismo praticam o hipnotismo, estão dotados para a telepatia, são ventríloquos e conhecem muitas aneiras de sugestionar e levar assembleias inteiras ao histerismo.
Usam truques, por vezes engenhosos, e uma prestidigitação eficacíssima. Como, às vezes, a consulta é feita na sua própria casa, um ajudante (ou aprendiz) ou mesmo o adivinho responde ao oráculo dentro de um subterrâneo aberto no chão. Também se esconde em troncos de árvore.

No entanto, há que distingui-lo do adivinho-feiticeiro, personagem real, conhecida e activa. Este actua livre e conscientemente. Fabrica feitiços malignos e serve-se deles nas suas actuações. Mistura veneno na comida e na bebida e assim vitima muitas pessoas. É movido por desejos de vingança e colabora na supressão dos inimigos dos seus clientes.

Acreditam que vive na comunidade, mas ninguém o conhece. Espalha um permanente medo que só o adivinho e o curandeiro podem enfrentar. O feiticeiro bantu é mito, lenda, suposição, figura, imaginação, símbolo, solução e necessidade psicológica, social e religiosa.

Nunca viram um feiticeiro, não assistiram ás suas reuniões, nunca presenciaram o seu desdobramento e metamorfoses nocturnas, mas a sua presença é uma exigência dos princípios fundamentais da cultura bantu.

Na sociedade bantu ninguém é feiticeiro, mas todos podem sê-lo. A explicação e a necessidade do feiticeiro estão no conhecimento e consciência que o bantu tem de si mesmo e da sociedade.

As palavras bantus mais comuns para o denominar são: «ndoki», «amulozi», «muloji», mloji», «moio», «ulogo», «bulozi», «buloji», «ulozi», «ndotshi», «moloi», provenientes do radical verbal «loa». Estes termos significam «malefício», «enfeitiçar». Noutras línguas dão-lhe o nome de «nganga» ou «onganga».

Este desdobramento de personalidade permite ao feiticeiro o dom da bilocação e até da multilocação. Uma parte do seu ser (o corpo) está fisicamente na cama, enquanto o seu doble (ou seu poder) actual em lugares distantes.
É este o fundamento da dura realidade, a razão que leva qualquer bantu a aceitar com resignação e passividade a acusação de ser feiticeiro, feita pelo adivinho e, então, submete-se docilmente aos ordálios. Quando estes indivíduos, inconscientes da sua maldade, são castigados, a justiça bantu subjectivamente considera-se, mas objectivamente é causa de lamentáveis injustiças, o acusado assume a responsabilidade, apesar de não ter consciência da sua maldade.

Entre ao Ambos, «aquele que quer receber esta faculdade encontra-se casual ou voluntariamente com quem a possui. Este, em determinado dia, dá-lhe “algo a comer”. Durante dois dias, o “mestre nada diz do que fez ao seu amigo noviço. Na terceira, depois de deitados, desperta-o repentinamente e confia-lhe a grande novidade:”Levanta-te, dei-te a ouwanga e quero que sejas meu amigo.” Em seguida, dá-lhe esta ordem formal: “Vai comer alguém da tua família.” E tem de cumprir esta ordem. Caso contrário, o “ouwanga” comeria o recalcitrante.

Trompa Himba (instrumento limitado à área dos pastores himbas, do grupo Herero, do Sudoeste de Angola)

O bantu vive em permanente terror e entre o jogo defensivo e ofensivo da poderosa magia. Se morre uma pessoa, ao bantu não satisfaz a explicação de que um vírus ou uns micróbios o mataram. Ele tem de averiguar como, porquê e quem os introduziu no defunto. E isto só pode ser obra de um feiticeiro que utilizou práticas mágicas.

«Lançam moscas, morcegos, pássaros, animais, espíritos e objectos mágicos; o “mau-olhado” também lhes serve para lançar o mal; enterram remédios malignos por onde a vítima costuma passar; depositam objectos mágicos nas casas ou nos campos das suas vítimas».
O feiticeiro é propenso à dissolução sexual, pode mesmo atingir a perversão. De facto, as feiticeiras comportam-se como ninfomaníacas, e os feiticeiros praticam o incesto e a antropofagia.

O feiticeiro é necrófago, desenterra os cadáveres e, como os vampiros, chupa o sangue humano. Pode também tornar-se invisível para realizar impunemente as suas acções. Abandona o seu corpo e vai até junto da vítima. Veloz como o pensamento, vence distâncias enormes
Acreditam que ele se metamorfoseia em bolas de fogo, torvelinhos, fogos-fátuos e, sobretudo, em insectos, pássaros (corvos, abutres e mochos), em leopardos, hienas, serpentes, antílopes, sapos e pirilampos. Também cavalga sobre animais ou envia-os contra as suas vítimas. Consegue esconder-se debaixo da terra, transforma-se em pedras e introduz-se nas árvores.