Gostamos de pensar que a justiça tarda, mas não
falha, apesar de acompanharmos casos em que ela falha, mas não tarda. Além
disso, esperamos que haja todo um alto padrão de provas e evidências exigidas
antes que um cara seja atirado na prisão. Afinal de contas, hoje em dia temos
toda essa nova tecnologia para discernir culpados de inocentes e realmente
desejamos nunca acabar na cadeia por nos parecermos com um serial killer. No
entanto, infelizmente, já houve casos em que o sistema legal errou feio nesse
sentido. Confira a lista de 5 casos alucinantes de erro de identidade pela polícia:
5. O
homem falsamente condenado duas vezes pelo mesmo crime
Adolph Beck era um norueguês
que vivia na Inglaterra do século 19. Sua vida era típica de um pacato
imigrante nórdico até o ano de 1895, quando teve a má sorte de se parecer
exatamente com um famoso ladrão de joias. Ele descobriu esse curioso fato um
dia, durante um encontro casual com uma mulher, que o encurralou e o acusou de
ter roubado suas joias. Quando a polícia chegou, Beck foi preso, sob a acusação
de parecer muito com o cara que tinha assaltado a moça. O que o pobre norueguês
não sabia é que ele iria gastar boa parte de sua vida sendo repetidamente preso
por causa dos crimes que o bandido de verdade cometia, simplesmente porque eles
poderiam (quase) ser gêmeos.
Uma vez no tribunal, a sorte de Beck foi de mal a
pior. Apesar de o homem que roubou a mulher parecer cada vez menos ser Beck, o
júri decidiu, porém, que ele não apenas era culpado pelo tal crime, mas também
que ele seduzia mulheres nas ruas para por as mãos em suas joias repetidas
vezes desde 1877, sob o nome falso (lamentavelmente sem imaginação) de John
Smith. Pelos crimes cometidos por esse cara, Beck foi jogado na prisão e lá
permaneceu durante cinco anos. Imagine as condições dos presídios ingleses do
século 19.
A onda de azar de Beck finalmente deu uma trégua
quando foi constatado que “John Smith” era circuncidado, enquanto Beck não. Embora
ninguém de nós deseja imaginar como ele provou isso em um tribunal de justiça,
ele estava finalmente livre. Pelo menos durante três anos, até que outra mulher
novamente o acusou de furto, e ele foi mais uma vez preso e acusado de outra
série de roubos de joias – “Smith” ainda estava nas ruas, criminalizando geral.
E o pior de tudo é que ele ainda se parecia com Beck e o sistema judicial não
tinha aprendido nadinha com o incidente anterior. Beck foi considerado culpado
de novo e condenado a mais cinco anos atrás das grades.
Sua sorte só virou definitivamente quando o real
John Smith – que na verdade era um médico austríaco chamado Wilhelm Meyer –
cometeu outro crime, dessa vez enquanto Beck estava na prisão. Apesar de
provavelmente terem tentado de tudo para provar que Beck havia realizado o
roubo de dentro do xilindró, os policiais finalmente pegaram Meyer. No final
das contas, sobrou para o rei, que concedeu a Beck o perdão real e lhe deu um
caminhão de dinheiro de indenização.
4. O
homem enviado para a mesma prisão que seu sósia
A história acima pode levantar uma questão
que você provavelmente nunca tenha se perguntado antes: na época anterior a
identificações por foto e impressões digitais, como a polícia sabia com certeza
se eles haviam prendido o cara certo? Se um suspeito fosse direto ao ponto e
dissesse: “Claro, o William fez isso, mas eu não sou William, eu só pareço com
ele”, como eles sabiam se ele estava mentindo?
Bem, por um tempo eles usaram algo chamado de
“método Bertillion”, que consistia basicamente em um monte de medidas que os
policiais tomavam do tamanho e da forma de diferentes partes do corpo e do
rosto dos criminosos. Embora fosse uma humilhação adicional se você tivesse um
corpanzil avantajado, essa técnica até era bastante confiável – isso até 1903,
quando esses dois caras apareceram.
Eles não são o mesmo homem. William West, o da
esquerda, depois de ser preso, foi perguntado se ele já tinha tido problemas
com a lei antes. Ele respondeu que não, mas um exame de suas medidas contou uma
história diferente. E ele acabou sendo condenado a mais tempo de prisão por ter
mentido, tudo isso devido a uma grande confusão. O que deixa tudo ainda mais
surreal é que o real culpado pelo crime também se chamava William West, possuía
as mesmas medidas corporais do inocente e já estava preso – na mesma
penitenciária do William West inocente!
Depois de uma análise aprofundada para se
certificar de que nenhum deles era a encarnação do mal que pode adquirir
diversas formas, as autoridades foram forçadas a concluir que esta foi apenas
coincidência de um em um bilhão. Isso causou um problema novo para os
funcionários da prisão, que tinham dificuldade em distinguir os dois Williams,
o que poderia ter sido desastroso para um deles: o real culpado estava cumprindo
uma sentença de prisão perpétua por assassinato, enquanto o inocente havia sido
condenado por um crime menor.
Felizmente, o diretor da prisão, o major Robert
McClaughry, começou a se interessar por um método ultramoderno de identificação
que usava as impressões digitais em vez de medidas faciais. Depois de mudar
para o novo sistema, a prisão foi finalmente capaz de dizer a diferença entre
William West e William West, e o exemplo serviu como prova de que o novo método
dos dedos era muito superior do que o tamanho da cabeça dos suspeitos.
Não que não haja mais confusão hoje em dia, como
por exemplo…
3. O
problema que a Lei tem com gêmeos idênticos
Então na era moderna do teste de DNA e da
manutenção de registros meticulosos, como podem os promotores ainda serem
enganados por suspeitos semelhantes? Quando eles são gêmeos idênticos.
Por exemplo, na Alemanha, a polícia local
investigava um roubo de ouro e joias no valor de 6,5 milhões de dólares (cerca
de R$ 14,48 mi) quando encontrou traços de DNA em um par de luvas de borracha
deixadas na cena do crime. Infelizmente para eles, o DNA bateu com o de dois
gêmeos idênticos chamados Hassan e Abbas. Ambos possuíam o DNA no banco de
dados da polícia, mas como o material genético dos irmãos é 99,99% igual, era
impossível identificar de quem era o DNA na luva. A tática usada pelos gêmeos
para se livrarem do crime foi manter a boca fechada. Dessa forma, os policiais
tiveram que deixá-los em liberdade.
Nos Estados Unidos, outro caso semelhante aconteceu
no estado do Arizona. Orlando Nembhard – ou seu irmão gêmeo Brandon, um dos
dois – matou uma pessoa na porta de uma balada. Ambos estavam na cena do crime;
porém, por serem gêmeos idênticos, as testemunhas não conseguiram identificar
qual dos dois puxou o gatilho. E os policiais foram obrigados a retirar as
acusações, pelo menos até que novas evidências fossem encontradas.
No entanto, se você é um gêmeo idêntico, não comece
a planejar sua onda de crimes ainda. Acontece que há uma maneira infalível de
reconhecer qual é qual, mesmo se vocês forem inteligentes o suficiente para não
deixar impressões digitais. Experimentos feitos pela polícia da República
Tcheca mostrou que cães treinados podem diferenciar os aromas de gêmeos
idênticos com 100% de acerto. Portanto, tudo que precisamos é de mais cães
farejando cenas de crimes envolvendo delitos cometidos por foras da lei que
tenham irmãos gêmeos.
Mas, mesmo se você não tiver um irmão gêmeo, o DNA
ainda assim pode erroneamente te acusar de um crime como no caso em que…
2. O
homem cujo DNA o acusou de ter cometido um crime num país onde ele jamais
estivera
A identificação do autor de um crime baseada no
material genético, como se vê, ainda está longe de ser um sistema perfeito e
sem falhas. O barman britânico Peter Hamkin aprendeu isso da pior maneira
possível: quando a polícia italiana o mandou para a prisão por suspeita de
assassinato. Depois de uma pesquisa no banco de dados de DNA britânico, eles
descobriram que o material genético de Hamkin coincidia com as evidências
encontradas na cena do crime. Um fato no mínimo desconcertante, tendo em vista
que Hamkin estava em Liverpool no momento do assassinato, e, na realidade,
nunca tinha estado na Itália.
Depois de 20 dias na prisão, um segundo e mais
específico teste de DNA mostrou que o inglês era, de fato, inocente. O problema
é que os testes de DNA, ao contrário do que se poderia pensar, não comparam uma
cadeia inteira de DNA com o material no banco de dados (porque o DNA é algo
deveras complicado). Em vez disso, os investigadores procuram apenas por um
determinado número de pares de genes, ou “loci” (“locus” é a localização
específica de um gene ou sequência de DNA em um cromossomo. “Loci” é o plural.
A lista organizada de loci conhecidos para um cromossomo é chamada de mapa
genético).
Nos Estados Unidos e no Reino Unido, a
compatibilidade de DNA é definida com 13 loci coincidentes. Em outros países, o
número é 10. Porém, devido a incompatibilidades na forma como os diferentes
departamentos de polícia fazem o teste, o banco de dados europeu utilizado para
acusar Hamkin considerou apenas 6 loci. Com essas probabilidades, você pode
acabar acusando falsamente um gorila.
O FBI afirma que o padrão de 13 loci dos EUA possui
1 chance em 113 bilhões de acusar algum inocente. Mas antes que você se acalme
e pare de pensar que isso jamais aconteceria com você, leia o que a perita
criminal de laboratório do estado do Arizona, Kathryn Troyer, tem a dizer sobre
o assunto. Ao fazer uma pesquisa, ela se deparou com dois criminosos de perfis
muito semelhantes. Normalmente, é de se supor que os criminosos eram parentes
próximos. Entretanto, eles não possuíam nada a ver um com o outro, tanto que
eram de etnias diferentes. Isso a levou a procurar quantas outras pessoas sem
relação alguma pudessem ter o DNA coincidente, e, prepare-se, ela encontrou
dezenas.
A propósito, a correspondência de impressões
digitais funciona de forma semelhante: não se compara a impressão inteira do
dedos, apenas um certo número pequeno de pontos em comum. Com que frequência o
teste de impressão digital falha? Ninguém sabe ao certo, mas alguns
especialistas acham que o índice pode chegar a 0,8% de todos os testes
realizados – o que daria cerca de 1.900 pessoas a cada ano.
Mas mesmo quando não há uma correspondência exata
de DNA, você ainda pode se dar mal como no caso do…
1.
Transplante de medula óssea que deu a um homem o DNA de um estuprador
Um homem habitante do estado do Alasca foi
acusado de estupro, uma vez mais com base na evidência de DNA extraído da cena
do crime. Esse seria mais um típico caso policial se não fosse por um detalhe
técnico – o homem acusado já estava na prisão naquela época. Esse é
provavelmente o melhor álibi que se pode ter.
Depois de um cuidadoso trabalho de detetive
para descobrir como esse cara estava molestando pessoas a quilômetros de
distância, eles finalmente encontraram a resposta – ele havia recebido um
transplante de medula óssea de seu irmão, e o irmão, sim, tinha cometido o
crime. Após o transplante de medula, o DNA de seu irmão estava flutuando em seu
sangue.
É claro que o teste de sangue não é a única
maneira de combinar o seu DNA em uma cena de crime e toda essa confusão não
teria acontecido se os investigadores tivessem usado o método mais comum de
colocar um cotonete na boca do suspeito. No entanto, os cientistas também
descobriram que, logo depois de beijar alguém, o seu DNA vai parar na boca da
outra pessoa e lá permanece por um bom tempo – tenha isso em mente na próxima
vez que você decidir dar uns amassos em algum assassino em potencial.
Felizmente, doar a medula óssea na tentativa
de escapar de um crime é, provavelmente, um esquema muito doloroso e complexo
para se tentar na vida real. [Cracked]
http://hypescience.com/