terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Fotógrafo moçambicano expõe na Holanda





Maputo (Canalmoz) - A Galerie 23, no coração de Amesterdão, apresenta desde 22 de Janeiro “Grooves of my Soul”, uma exposição fotográfica da autoria do fotógrafo moçambicano Emídio Josine. A exposição comporta 20 fotografias a cores e a preto e branco, que traçam o percurso deste jovem artista.
A mostra fotográfica, uma homenagem a Ricardo Rangel, falecido ícone do fotojornalismo moçambicano, tem por objectivo principal mostrar Moçambique no mundo, mas também fazer uma comparação do contexto sócio cultural entre África e Europa no que se refere ao estilo de vida, às liberdades individuais, ao trabalho e às diversas formas de expressão.
Josine mostrou-se bastante satisfeito em mostrar o seu país além fronteiras e encontra-se optimista em relação a projectos futuros, visto que o seu trabalho foi bem recebido e teve uma nota positiva do público holandês, mas também de vários moçambicanos que residem em Amesterdão.
“Espero continuar a difundir a nossa arte, cultura e a maneira de ser e dentro dos possíveis viajar por vários países de modo a colher várias experiências”, afirma o artista que se encontra em Amesterdão a estudar Cinema na ‘Rietveld Academie’.
“Emídio regista o que lhe chama atenção no seu quotidiano de uma forma espectacular. Ele junta nas suas imagens a arte e o modo de vida dos povos, descobrindo detalhes de várias sociedades. Com o seu olhar, junta vários saberes e conhecimentos. Numa primeira fase apenas em Moçambique e numa fase posterior na Europa. As suas fotos conseguem chamar à atenção para as diferenças socio-culturais. É como se estivesse introduzindo um elemento de ficção nas suas fotos”, referiu Rob Perrée, crítico na Imprensa holandesa.
Ainda segundo Perrée, estamos perante um belo documentário em que se nota claramente a relação entre o fotógrafo e o meio que o rodeia. “Embora Emídio não esteja ciente, vejo também semelhanças com dois fotógrafos americanos Robert Frank e Eugene W.Smith”, sublinha o jornalista holandês.
As fotografias captadas em Chibuto, Maciene e Marracuene (Moçambique), Colónia e Munique (Alemanha) e Amesterdão (Holanda) mostram o género fotográfico documentário uma marca da grande influência de Ricardo Rangel (1924-2009) e do fotojornalismo de reportagem clássica das décadas de 60 e 70. (Ismael Miquidade/ Redacção)

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Adelino Timóteo vence Prémio BCI de Literatura 2011



Maputo (Canalmoz) - O escritor e jornalista do Canal de Moçambique, Adelino Timóteo, venceu o prémio literário BCI, com uma compensação monetária de 200 mil meticais. Timóteo concorreu com a obra poética “Dos Frutos do Amor e Desamores até à Partida” que foi distinguindo como a melhor obra editada em Moçambique por um autor moçambicano em 2011.
“Dos Frutos do Amor e Desamores até à Partida” é uma obra poética de 48 páginas com um valor estético-literário pautado por um lirismo grego-latino, um lirismo clássico de Luis Vaz de Camões.
O Presidente do Júri, Ungulani Ba ka Khosa justificou a distinção da obra dizendo que nela “o autor manter acesa a prosa poética no meio literário nacional, não muito explorado no país. A obra vencedora sustenta de forma particularmente sublime na fértil imaginação que vem guiando a escrita do autor, e espera-se que esta obra sirva de catalisador da escrita (imaginativa e crítica) e leitura do género, cuja afirmação, outrora exuberante, tende a “apagar-se” no espaço literário moçambicano.
O Prémio BCI de Literatura 2011, no valor de 200.000 Meticais, foi entregue pelo Administrador do BCI, José Rodrigues, ao representante do escritor Adelino Timóteo que se encontra neste momento fora do País. A cerimónia decorreu na Mediateca BCI e foi dirigida pelo Secretário-Geral da AEMO, Jorge Oliveira. Assistiram ao acto muitos dos mais conceituados escritores moçambicanos, assim como responsáveis pelas maiores editoras do País. (Redacção)

domingo, 29 de janeiro de 2012

Leila Lopes pede 50 mil dólares para desfilar no carnaval carioca


Brasil - A escola de Samba Unidos de Vila Isabel descartou a presença da Miss Universo, a angolana Leila Lopes, do desfile de Carnaval do Rio de Janeiro de 2012 por esta ter exigido o pagamento de 50 mil dólares, viagem e hospedagem em hotel de cinco estrelas para ela, dois seguranças, um assessor e o empresário.

Fonte: A Bola Club.k-net

Leila Lopes foi pessoalmente convidada pelo padrinho da escola, o famoso cantor brasileiro Martinho da Vila, pelo facto do tema ser, este ano, Angola. «Você semba lá... que eu sambo cá. O canto livre de Angola» é o tema do desfile, que foi acordado com o Ministério da Cultura de Angola.

Mas a organização do concursso Miss Universo, que gerencia a carreira de Leila, mandou avisar que ela só vem mediante pagamento de 50 mil dólares. Ou melhor, pagamento, mais hospedagem em hotel cinco estrelas, mais passagem aérea para ela, dois seguranças, um assessor e o seu empresário.

Segundo a Ego, publicação brasileira de celebridades, a exigencia foi comunicada pela Organização Miss Universo, o que desagradou à escola e levou a que descartassem de imediato a presença da angolana.

«Aqui na Vila Isabel só se desfila por amor. Não pagamos nem recebemos de ninguém. Com 50 mil dólares fazemos uma ala inteira para a comunidade. Logo, deixou de ser uma situação que nos interesse», disse Wilson da Silva Alves, presidente da escola, revelando ainda que está já à procura de uma outra diva.

O caso está a levantar alguma polémica porque todos se lembram que Leila Lopes já desfilou no Carnaval do Rio de Janeiro pela Escola Unidos da Tijuca quando era ainda apenas uma modelo. E, segundo a Ego, desfilou de graça. Por outro lado, todos esperavam um sim incondicional e voluntário da angolana por ser o seu País o tema do desfile da escola, na provavelmente mais mediática campanha de sempre de promoção do País a nível mundial, com o desfile a ser acompanhado por muitos milhões de pessoas.

Há também quem defenda Leila Lopes, dizendo que a angolana tem de se sujeitar às regras e à máquina da Organização Miss Universo e que os dias de hoje não se compadecem com voluntarismos.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

O aniversário do rei Eusébio


Maputo (Canalmoz) - A nação portuguesa curva-se hoje para celebrar os setenta anos do rei Eusébio. “Pantera Negra” ou Eusébio da Silva Ferreira, completa hoje 70 anos de idade e já lá vão boas dezenas de anos que não entra num relvado para jogar à bola como profissional, mas ninguém o esquece por aquilo que fez enquanto atleta do desporto rei.
O menino nascido no pobre bairro de Mafalala, na cidade de Lourenço Marques (hoje Maputo) a 25 de Janeiro de 1942, atingiu o topo de futebol mundial. Por ter nascido e jogado no período colonial, Eusébio nunca representou a selecção moçambicana, sendo por isso considerado futebolista português, a ex-potência colonizadora de Moçambique.
Hoje é considerado um dos melhores jogadores de sempre da história pela IFFHS (Federação Internacional de História e Estatísticas do Futebol), por especialistas e fãs.
Eusébio ajudou a Selecção Nacional Portuguesa a alcançar o terceiro lugar no Campeonato do Mundo de 1966, tendo sido o maior marcador da competição (recebeu a Bota de Ouro), com nove golos (seis dos quais foram marcados em Goodison Park)
Ganhou a Bola de Ouro em 1965 e ficou em segundo lugar na atribuição da mesma em 1962 e 1966.
Eusébio começou por ser jogador do Sporting de Lourenço Marques. Jogou pelo Benfica 15 dos seus 22 anos como jogador de futebol, sendo associado principalmente ao clube português. É o melhor marcador de sempre do Benfica, com 638 golos em 614 jogos oficiais.
No Benfica ganhou 11 Campeonatos Nacionais (1960-1961, 1962-1963, 1963-1964, 1964-1965, 1966-1967, 1967-1968, 1968-1969, 1970-1971, 1971-1972, 1972-1973 e 1974-1975), 5 Taças de Portugal (1961-1962, 1963-1964, 1968-1969, 1969-1970 e 1971-1972), 1 Taça dos Campeões Europeus (1961-1962) e ajudou a alcançar mais três finais da Taça dos Campeões Europeus (1962-1963, 1964-1965 e 1967-1968). Foi o maior marcador da Taça dos Campeões Europeus em 1965, 1966 e 1968. Ganhou ainda a Bola de Prata sete vezes (recorde nacional) em 1964, 1965, 1966, 1967, 1968, 1970 e 1973.
Foi o primeiro jogador a ganhar a Bota de Ouro, em 1968, façanha que mais tarde repetiu em 1973.
Apelidado de “O Pantera Negra”, “A Pérola Negra” ou “O Rei” em Portugal, Eusébio marcou nos jogos todos que efectuou pelo Benfica e pela selecção portuguesa, 733 golos em 745 jogos oficiais na sua carreira.
Era conhecido pela sua velocidade e pelo seu poderoso remate preciso de pé direito, tornando-o num excelente goleador prolífico.
É considerado o melhor futebolista de sempre do Benfica e de Portugal e um dos primeiros avançados de classe mundial africanos.
Hoje Portugal e um pouco por todo o mundo lusófono vão prestar homenagem ao rei… da bola. Faz 70 anos. (Redacção)

Azagaia a caminho da Noruega


Maputo (Canalmoz) – O rapper Azagaia tem sido o orador, participante ou convidado para actuar em sessões que englobem discussões à volta da arte de cantar, questões sociais e políticas. Azagaia tem sido um exemplo vivo de uma voz que não se cala diante de injustiças. Depois de muitas viagens por si feitas pelo mundo, agora Azagaia vai a Noruega na primeira semana de Fevereiro a convite da organização “The Norwegian Council for Africa”, por lá o músico vai realizar um concerto e participar num seminário sobre África e políticas. O concerto terá a participação da campeã nacional norueguesa de declamação de poesia, Sarah Osmundsen, e o seminário contará com a presença de professores de media, comunicação, jornalistas e pesquisadores daquele país.
Em estúdio já a preparar seu novo trabalho discográfico “Cubaliwa”, que será lançado ainda este ano Azagaia tem sempre o que partilhar, tem sempre o que dizer quando o assunto é para falar pelos oprimidos. (Linda José)
Imagem: "A Marcha" faz parte do primeiro registo musical de Azagaia, ...
kafekultura.blogspot.com


segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

As 10 profissões mais estressantes


Muitas pessoas devem pensam que o seu próprio emprego é o mais estressante que existe. Mas uma nova pesquisa mostra quais realmente são os 10 empregos que geram mais estresse, indo de serviços militares até bombeiros.
A lista foi feita este ano pelo site CareerCast.com. Não é nenhuma surpresa que os cinco postos de trabalho mais estressantes são os que envolvem grandes perigos.
Confira a lista abaixo com as 10 profissões mais estressantes:
1. Soldados;
2. Bombeiros;
3. Pilotos de avião;
4. Generais militares;
5. Policiais;
6. Coordenadores de eventos;
7. Relações públicas executivas;
8. Executivos em empresas;
9. Fotojornalistas;
10. Motoristas de táxi.
No extremo oposto, os trabalhos que são muito pouco estressantes incluem joalheiros, cabeleireiros, costureiros, alfaiates e técnicos em laboratórios médicos.
Se você está buscando evitar o estresse no local de trabalho, Tony Lee, do CareerCast.com, lembra que há uma abundância de opções atraentes.
“O trabalho mais estressante de 2012 paga quase o mesmo que o trabalho menos estressante, e os empregos de baixa tensão são os que acontecem em ambientes confortáveis”, Lee disse. “Os empregos de alta tensão não compartilham desse benefício.”
A pesquisa anual com 200 profissões diferentes leva em consideração o ambiente de trabalho, emprego, competitividade e risco. [LiveScience, Foto]
http://hypescience.com/as-10-profissoes-mais-estressantes/
Hypescience

domingo, 22 de janeiro de 2012

Entrevista com professora literária Simone Schimidt


Luanda - “ANGOLA TEM UMA LITERATURA MUITO PRÓDIGA EM MATÉRIA DE AUTORES”, Segundo à professora Simone Schimidt, do departamento de línguas e literaturas vernáculas, nos cursos de pós graduação em literaturas, da Universidade Federal de Santa Catariana, na República Federativa do Brasil.

* Cláudio Fortuna
Fonte: Semanário Angolense Club.k-net

SA - Professora sei que tem estado muito ocupada à trabalhar na recolha de alguns estudos sobre a nossa literatura, gostaríamos que nos fizesse uma apresentação dos objectivos e o que está a trabalhar em concreto?
Simone Schimidt - Estou trabalhando com as representações de gênero e raça nas literaturas africanas de língua portuguesa, particularmente nas literaturas angolana, moçambicana e caboverdiana. Meu enfoque, em primeiro lugar, incide sobre os modos de construção, nessas literaturas, de um pensamento acerca do problemático conceito de “raça”, buscando compreender de que modo os discursos e percepções sobre essa questão atuaram na formação de um pensamento anticolonial, e também como ele se manifesta hoje, em sociedades pós-coloniais que (re)elaboram constantemente suas respostas aos problemas de identidade (nacional, cultural, subjetiva, etc.). Num segundo momento, interessa-me particularmente investigar como as mulheres, como sujeitos e objetos de representação, tomaram parte desse debate sobre o que chamo de 'elaboração de um discurso sobre as questões raciais' nos países africanos. Nesse sentido, interessa-me a intersecção das categorias de gênero e raça, buscando examinar os modos como se traduziram tais categorias, em termos de experiência representada na literatura, em textos de autoria feminina e/ou em textos onde as relações de gênero e raça têm relevância na economia narrativa.
Além dessa pesquisa que venho desenvolvendo, dedico-me, no momento, a ministrar, juntamente com a supervisora de meu pós-doutorado na Universidade Federal Fluminense, Professora Laura Cavalcante Padilha, um curso sobre memórias de guerras por vozes femininas, que dá continuidade a um trabalho que há tempo vem sendo desenvolvido por um grupo de pesquisadores (dentre os quais se inclui a professora Laura) sobre o motivo da guerra nas literaturas africanas. Trata-se de um momento muito especial em minha carreira, pois desfruto do privilégio de compartilhar pesquisa e docência com uma figura admirável, em todos os sentidos, como é a professora Laura Padilha. O curso que estamos ministrando aborda o tema da guerra, no âmbito do colonialismo português e de seus desdobramentos históricos, a partir do ponto de vista das mulheres. Através da leitura de textos portugueses e africanos de autoria feminina, propomos um jogo de espelhamentos entre estas diferentes representações, discutindo temas como memória, violência e trauma.

Enquanto professor(a), como é que avalia as literaturas africanas neste momento?
As literaturas africanas vêm conquistando atenção e prestígio crescentes no sistema literário de língua portuguesa. Até muito recentemente, apenas os especialistas conheciam e admiravam a produção literária de países como Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe. Hoje essas literaturas começam a ganhar mais relevância, a se difundir para fora do círculo restrito da academia, e a conquistar um público leitor efetivo. O que mais cativa esse novo público, creio, é a vitalidade, a força, a profunda vinculação com a experiência humana que essas literaturas trazem para seus leitores. Quando apresento os autores africanos aos meus alunos no Brasil, eles costumam se emocionar, e afirmam ter encontrado uma literatura capaz de lhes falar mais de perto, estabelecendo importantes laços de identidade com sua vivência pessoal. E a isso se acrescenta um apurado trabalho de criação na linguagem, que instiga o leitor mais exigente.

Todo esse processo de ampliação do público leitor das literaturas africanas no universo da língua portuguesa produz um efeito muito positivo, que é o de dar a conhecer aos seus contemporâneos, dos mais diversos lugares, um pouco das culturas dos países africanos, o registro literário de suas vivências e de sua experiência histórica, além, é claro, de oferecer aos leitores a fruição de textos de grande qualidade estética.

Qual o lugar da literatura angolana no âmbito das literaturas produzidas nos países africanos onde se fala a língua portuguesa?
Um lugar de destaque, sem dúvida. Desde os tempos da luta de libertação (tomando este importante momento da história angolana como um marco significativo no impulso à produção literária), autores da importância de António Jacinto, Viriato da Cruz, Luandino Vieira, Pepetela, Manuel Rui, Boaventura Cardoso, e tantos outros, chamaram a atenção de leitores de vários países para o drama então vivido pelos angolanos, através de uma literatura pujante e de altíssima qualidade, que em muito ultrapassava o mero relato da experiência política, embora também fossem, é evidente, relatos movidos pela vontade política de mudança e de liberdade. Mas como disse, ultrapassavam a contingência do momento vivido, e serviram como uma espécie de modelo para as demais literaturas africanas; é comum vermos, por exemplo, o relato de um autor como Mia Couto, que declara a influência que Luandino Vieira teve sobre sua escrita literária. Hoje, num outro momento histórico, encontramos em autores mais recentes uma literatura que é sem dúvida herdeira dessa tradição de bons narradores e poetas angolanos, tradição essa que remonta, como sabemos, a períodos muito anteriores à independência.

Gostaríamos, que estabelecesse uma relação entre as literaturas africanas produzidas em língua portuguesa e as outras veiculadas em francês e inglês.
É sabido que as literaturas africanas de línguas francesa e inglesa possuem uma tradição mais consolidada, se comparadas às literaturas de língua portuguesa, em termos de produção e recepção de seus textos, e possuem uma quantidade muito grande de autores, muitos deles consagrados junto ao público europeu e norte-americano. Contudo, é difícil estabelecer a comparação que me pede. Para tanto, seria preciso um domínio do corpus literário de cada uma dessas literaturas que eu, francamente, não possuo. Meu território, vamos dizer assim, tem sido o da língua portuguesa, e é dentro dele que me sinto razoavelmente confortável para emitir algumas opiniões, com base nas leituras e reflexões que tenho feito ao longo desses anos em que venho lecionando e pesquisando sobre essas literaturas.

Pode-se falar de angolanidade na literatura de Angola? Em que medida se pode falar desta matriz e o que é isto de angolanidade?
Respondo às duas questões em conjunto. Creio que a reivindicação de uma 'angolanidade' à literatura angolana esteve muito ligada ao programa político de independência nacional. Não se pode discutir esse tema sem vinculá-lo estreitamente ao contexto histórico pós-independência, quando a construção de uma identidade nacional mobilizava todos os sujeitos da nação, especialmente os escritores, que haviam tomado parte ativa na luta anticolonial e ocupavam posições de destaque no novo governo. Hoje, contudo, percebo um certo anacronismo nesta discussão, já que o momento histórico é outro. Vivemos, em termos gerais, um momento de blocos internacionais, de redes transnacionais, onde se indagam identidades, pertencimentos e os muitos deslocamentos que a conjuntura globalizada nos impõe. Além disso, considero que a ênfase na afirmação de uma identidade nacional pode ser bastante nefasta para uma literatura; há muito mais para se compreender nas admiráveis experiências humanas registradas na literatura angolana do que se elas são “autenticamente” angolanas ou não. Embora a ideia de nação exerça ainda um forte apelo sobre todos nós, e em grande parte de nossas vidas precisamos nos sentir 'pertencendo' a um lugar, a uma comunidade, a uma nação, creio que, em alguns momentos da cultura de um país, o nacionalismo pode ser bastante problemático. O grande pensador palestino Edward Said identificava, no imperialismo europeu e nos nacionalismos do então chamado 'terceiro mundo', duas forças conservadoras que se alimentavam reciprocamente.

Quais são os escritores angolanos com projeção internacional e por quê?
Há basicamente dois tipos de reconhecimento internacional. O primeiro deles é de natureza acadêmica, que atua na formação de leitores, na consolidação de uma crítica literária, na definição do que seria, digamos, o corpus de autores angolanos a conhecer, ler e estudar. No âmbito deste tipo de reconhecimento, encontram-se escritores angolanos que têm sido fortemente prestigiados por círculos cada vez maiores de leitores, como é o caso, por exemplo, de Luandino Vieira, Pepetela, Manuel Rui, Boaventura Cardoso, Ana Paula Tavares, Arlindo Barbeitos, Ruy Duarte de Carvalho. Outra modalidade de projeção internacional se deve mais à atuação do mercado editorial, com suas estratégias de grande alcance midiático, que ampliam o público leitor, alargando suas fronteiras. É o caso de autores mais recentes, que têm se beneficiado grandemente dessas formas de contato com o público, movendo-se com desenvoltura na mídia e em outras formas de diálogo direto com os leitores, tais como debates, eventos literários, espaço virtual, etc. São autores que vêm conquistando um público leitor mais amplo, e não necessariamente especializado. Dentre esses autores, eu destacaria, por exemplo, Ondjaki, José Eduardo Agualusa, João Melo. É importante enfatizar que não há nesta divisão 'didática' que traço, nenhum julgamento de valor: o fato de um autor ser mais divulgado pelo mercado editorial, ou de outro ser mais restrito ao ambiente acadêmico, não implica maior ou menor qualidade do trabalho artístico de um ou de outro. Não sou, absolutamente, uma purista neste aspecto. Acredito firmemente que há excelentes textos literários com boa circulação editorial e divulgação na mídia, assim como pode ocorrer a 'canonização', via academia e a crítica literária especializada, de textos e autores nem sempre relevantes. Cabe ainda destacar que a divisão que apontei sinaliza apenas uma tendência, mas não se trata de uma divisão estanque. Na verdade, pelo menos no Brasil, hoje, se verifica uma forte tendência a 'misturar' esses dois lados da divulgação dos autores; felizmente (pois quem ganha com isso sem dúvida é o leitor), os escritores consagrados pela academia circulam cada vez mais no meio editorial e na mídia, assim como os autores que já surgiram sob os auspícios das estratégias mercadológicas de divulgação de suas obras, têm sido lidos de forma crescente pela academia, o que considero extremamente saudável do ponto de vista cultural.

Alguns estudiosos das literaturas africanas, dizem que a literatura angolana ocupa um espaço privilegiado no conjunto das outras literaturas dos PALOP, concorda?
Sim, acredito que a literatura angolana ocupa um lugar de bastante destaque dentre as literaturas de língua portuguesa. Isso se deve, ao meu ver, a uma tradição literária que já se pode considerar bastante implantada em Angola, e também a uma quantidade expressiva de bons autores, que circulam internacionalmente. Eu não ousaria fazer comparações do tipo “este país tem muito maior destaque em sua literatura do que aquele”, mas acredito, sim, no caráter referencial que a literatura angolana assume contemporaneamente perante os demais países de língua portuguesa.

Em seu entender, como é que é possível ocupar esse lugar, quando há uma critica literária angolana bastante incipiente?
Trata-se de uma literatura muito pródiga em autores, e isso faz com que dialogue vivamente com a crítica de outros países, como é o caso do Brasil. As redes de contato e as constantes trocas culturais que se dão entre os escritores angolanos e os críticos e estudiosos brasileiros são, como se sabe, intensas e muito ricas. Além disso, a crítica literária voltada para as literaturas africanas de língua portuguesa não tem cessado de crescer em muitos outros países, o que permite que o diálogo da literatura angolana com seus estudiosos tenha um caráter transnacional muito interessante.

Para terminar, gostaríamos de ouvir que conselho daria aos estudantes angolanos que pretendem aderir à crítica e aos estudos das literaturas africanas?
Que se dediquem a ler seus autores com atenção e respeito por seu admirável trabalho. Que desfrutem do privilégio de possuírem uma literatura de grande qualidade, mantendo, contudo, um diálogo permanente com aquilo que está sendo produzido e discutido fora de seu país. Este parece ser um bom conselho: que não percam de vista os valores e a riqueza daquilo que pertence ao seu país, à sua cultura, mas que também não se restrinjam a isso, ou seja, que não se deixem jamais enclausurar dentro de sua própria experiência cultural e histórica.

sábado, 21 de janeiro de 2012

O que foi a revolta das cem flores? como que aconteceu e por quê?


Introdução
O movimento das Cem Flores (minfang yundong) refere-se ao período do início de 1956 até meado de 1957, quando o Partido Comunista Chinês (PCC) permitiu a liberdade de expressão, deixando “as Cem Flores desabrocharem e as Cem Escolas rivalizarem”.
O movimento é considerado como um período chave na história da República Popular. No início de 1956, para consolidar as conquistas socialistas, Mao iniciou um período de “relaxamento” para os intelectuais. E em fevereiro de 1956, no XX Congresso do PCUS, Khrushchev denunciou os atos tirânicos de Stalin, o que obrigou os dirigentes comunistas a reconhecerem os erros do stalinismo, alimentando assim, a esperança dos intelectuais de que o regime retificaria o seu “estilo de trabalho” e reformaria o sistema socialista. Sem dúvida, as crises políticas e ideológicas do bloco soviético, sobretudo as revoltas populares na Polônia e Hungria serviram como elemento catalizador para as manifestações intelectuais na China.

Joao de Deus. http://br.answers.yahoo.com/activity?show=ixwHlSl8aa

O Partido resolveu lançar, no fim de abril de 1957, a Campanha de Retificação (zhengfeng yundong), convidando os intelectuais a criticarem livremente o governo. Os manifestantes, sobretudo, os estudantes não se limitaram aos discursos oficiais, mobilizaram-se para reivindicar a “liberdade” e a “democracia”, desafiando assim, os projetos autoritários e paternalistas do Partido. Em conseqüência, a Campanha de Retificação transformou-se numa Campanha Anti-direitista (fanyou yundong)— uma grande repressão aos manifestantes. O efêmero desabrochar das Cem Flores deixou marcas profundas na futura relação Estado-intelectual.

As críticas dos intelectuais e dos democratas foram: a dominação e o comando arbitrário do partido; a falta de proteção aos direitos individuais; a opressão da polícia política; as “três pragas” (o burocratismo, o dogmatismo e o sectarismo); a megalomania; a busca do sucesso rápido; o desprezo pela história e pela tradição; o culto à personalidade; a imitação cega da União Soviética; a falta da democracia; a falta da liberdade de expressão; a proibição das ciências sociais; a censura; o servilismo.
As reivindicações foram: o Estado de direito; a liberdade de informação; o equilíbrio do poder; o multipartidarismo; a indenização para os empresários; a autonomia dos intelectuais; a liberação dos cursos “burgueses” (como a sociologia, a ciência política, o direito, antropologia, entre outros); a tolerância ideológica; a liberdade de expressão e a emancipação do indivíduo.
As principais reivindicações dos estudantes também foram a democracia e Estado de direito. Os alunos argumentavam que o espírito do socialismo era igualdade, democracia e liberdade, sem as quais não haveria socialismo; reivindicavam a eleição direta; defendiam o sistema socialista porém queriam melhorar a vida política e cultural do país; Elogiavam a decisão do presidente Mao por lançar a Campanha de Retificação, como esforço para evitar que o “fogo húngaro” incendiasse a China; criticavam o culto à personalidade e o “obscurantismo”; combatiam a nova classe, isto é, uma camada dos quadros burocratas que abusava do poder e agia contra os verdadeiros princípios do socialismo; lutavam pela emancipação do indivíduo e pela liberdade do pensamento.
Em geral, as críticas e as reivindicações ainda são pertinentes nos dias de hoje, na media em que a questão do socialismo, do Estado de direito e da democracia ainda desafia o governo chinês.

Conclusão
Como um movimento social, as Cem Flores foram marcadas pela precocidade. Em primeiro lugar, o regime comunista ainda era jovem e as vitorias heróicas da revolução e da Guerra da Coréia proporcionaram grande prestígio ao Partido Comunista. Apesar das crises internacionais e das dificuldades econômicas internas, na época, o projeto socialista ainda não tinha perdido seu apelo, e a população depositava grandes esperanças nos comunistas.
Em segundo lugar, embora numerosos, os protestos eram fenômenos essencialmente do meio intelectual. Os manifestantes, sobretudo, estudantes, professores, democratas, profissionais, funcionários, até alguns quadros do Partido, apontaram os problemas do regime e reivindicaram a democracia e a emancipação do indivíduo. Mas esses conceitos abstratos tinham pouca relevância para a grande massa iletrada. A maioria da população não participou das manifestações, e os protestos democráticos não conquistaram as simpatias dos operários e camponeses.
O próprio Partido também pagou um alto preço por ter ignorado as advertências precursoras. A irônica deusa da história freqüentemente coloca os opressores no lugar dos reprimidos. Muitos dirigentes do Partido, por sua vez, seriam queimados mais tarde pelo fogo da Revolução Cultural (1966-1969). Através dessas vicissitudes, a “velha guarda” finalmente aprendeu as lições, e começou a corrigir os erros e a reformar o sistema.
Podemos descrever o relacionamento entre o partido e os intelectuais como um ciclo da “repressão e relaxamento”. Mesmo cada ciclo s
Fonte(s):
www.rj.anpuh.org/
Imagem: Ilustração, retirada de um livro deensino primário, mostrando três membros da Guarda Vermelha. Wikipedia.




sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Lin Zhao


Lin Zhao ( Simplificado / Chinês Tradicional :林昭), nascida como Peng Lingzhao ( Simplificado / Chinês Tradicional :彭令昭) em Suzhou , 16 de dezembro de 1932 morreu em 29 de abril de 1968.
Foi uma francodissidentes durante o Movimento das Cem Flores, de 1957. Durante esse tempo, os intelectuais, como se foram encorajados a criticar o Partido Comunista da China , mas acabaram por ser punidos por isso.
Em outubro de 1960, Lin Zhao foi presa pela primeira vez em Suzhou por ser uma contra-revolucionária. Ela foi mais tarde condenada a 20 anos de prisão. Enquanto estava na prisão, ela já famosa escreveu centenas de páginas de comentários críticos sobre Mao Zedong usando seu próprio sangue. Ela foi executada em 1968.
A vida de Lin Zhao foi trazida à luz pelo documentarista Hu Jie, cujo documentário纪录片寻找林昭的灵魂(In Search Of Soul Lin Zhao) ganhou inúmeros prêmios e também apareceu em vários capítulos de Philip Pan 's livro de 2008, Out of Shadow Mao .
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Quem é Quem: Aline Frazão, cantora angolana


Lisboa - Aline Frazão nasceu e cresceu em Luanda (Angola) e vive actualmente em Santiago de Compostela, na Galiza. Pisou o palco pela primeira vez com 9 anos e desde essa altura teve a oportunidade de cantar vários estilos de música como fado, MPB, Jazz e música tradicional de Angola e Cabo-Verde.

Fonte: Facebook Club.k-net
Com 15 anos começou a escrever as primeiras canções, tocando a guitarra com influências que vinham do Brasil, em especial da bossa nova. Entre 2006 e 2009 conjugou a universidade em Lisboa com pequenas colaborações em diversos projectos de música e teatro. Na sua rota de viagem seguiu-se Barcelona, onde nasce o projecto “A minha embala”, cujo único álbum seria lançado dois anos mais tarde, em Junho de 2011. Mas foi em Madrid, cidade onde morou durante cerca de dois anos, que começou a fazer concertos acústicos a solo em bares e salas, interpretando versões de clássicos da música angolana, cabo-verdiana e brasileira, e também temas autorais.

Procurando unir duas paixões - viajar e cantar - Aline actuou em diversas cidades como Paris, Dublin, Lisboa, Luanda, Bruxelas, Londres e Buenos Aires. Depois de participar na edição de 2010 do Cantos na Maré, festival galego dedicado à lusofonia, a angolana decidiu mudar-se desta vez para a Santiago de Compostela e dedicar-se exclusivamente à música. Aí formou a banda que a acompanha actualmente: o contrabaixista cubano Jose Manuel Díaz e o percussionista galego Carlos Freire. Em Setembro de 2011, entrou em estúdio para gravar o seu primeiro disco.


“Clave Bantu” é uma produção independente que reúne um selecção de onze temas originais compostos pela angolana durante esses últimos quatro anos de viagens. Inclui ainda duas parcerias inéditas com dois escritores angolanos, José Eduardo Agualusa e Ondjaki. O disco, com arranjos de Aline e Jose Manuel Díaz, conta ainda com as participações especiais do multi-instrumentista brasileiro Sérgio Tannus e do trombonista português Rúben da Luz.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

A Ilha do Conde de Monte Cristo


Exército de ratos invade a ilha de Montecristo, na Itália

Ilha, que tem apenas 10 km², é uma área protegida e considerada uma reserva natural biogenética

Um exército de ratos invadiu a ilha italiana de Montecristo, no arquipélago toscano, num ataque que nem mesmo o escritor francês Alexandre Dumas poderia ter imaginado na sua famosa obra "O conde de Monte Cristo", informou nesta sexta-feira o jornal Corriere della Sera. A ilha, que tem apenas 10 km², é uma área protegida e considerada uma reserva natural biogenética.

Os roedores chegaram ao local a bordo de navios e se reproduziram de maneira muito rápida. Segundo o jornal, existe um rato por metro quadrado na ilha que inspirou Dumas, o que pode ameaçar o ecossistema do local. Para solucionar o problema, as autoridades usarão um avião para jogar 27 toneladas de alimentos envenenados em Montecristo.

O método escolhido foi duramente criticado por associações a favor dos animais e pelo campeão de pesca submarina Carlo Gasparri, quem escreveu uma carta à Promotoria da capital da Toscana, Florença, na qual afirma que o veneno utilizado é contraproducente. "O produto é altamente tóxico para os organismos marinhos e pode provocar efeitos negativos no ambiente a longo prazo. Além disso, é uma substância que demora muito para desaparecer do ambiente", afirmou Gasparri.

O praticante de pesca submarina também disse que o veneno é um risco para os milhares de turistas que desembarcam em Montecristo no verão para uma visita guiada. Ele propõe que seja usado um veneno mais leve. Na ilha, onde vive um vigia com sua família, há uma vila do século XVIII, as ruínas de um antigo mosteiro e a gruta onde viveu no século V o Bispo de Palermo, São Maximiliano.

Terra
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