segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

O suicídio de Stefan Zweig









Stefan Zweig (Viena, 28 de novembro de 1881Petrópolis, 23 de fevereiro de 1942) foi um escritor, romancista, poeta, dramaturgo, jornalista e biógrafo austríaco de origem judaica. A partir da década de 1920 e até sua morte foi um dos escritores mais famosos e vendidos do mundo. Suicidou-se durante seu exílio no Brasil, deprimido com a expansão da barbárie nazista pela Europa, durante a Segunda Guerra Mundial.

http://pt.wikipedia.org/wiki/Stefan_Zweig

Stefan Zweig era o segundo filho do industrial Moritz Zweig (1845-1926), originário da Boêmia, e de Ida Brettauer (1854-1938), oriunda de uma família de banqueiros. Seu avô materno, Joseph Brettauer viveu em Ancona, Itália, onde sua segunda filha Ida nasceu e cresceu. Seu irmão mais velho, Alfred, foi educado desde sempre para ser o sucessor do pai em seus negócios, e ambos tiveram uma infância e uma educação privilegiadas, graças à boa situação financeira de seus familiares.
Stefan Zweig estudou Filosofia na Universidade de Viena, e em 1904 obteve seu doutorado com uma tese sobre "A Filosofia de Hippolyte Taine". A religião jamais desempenhou papel central na sua formação: "Minha mãe e meu pai eram judeus apenas por acidente de nascimento", declarou Zweig em uma entrevista. No entanto, ele nunca renegou o judaísmo e escreveu várias vezes sobre temas e personalidades judaicos, como em "Buchmendel" 1 .
Sua primeira coletânea de poemas, Silberne Saiten ("Cordas de Prata"), foi publicada em 1902.
Apaixonado pelas literaturas inglesa e francesa, o escritor traduziu para o alemão obras de Keats, Morris, Yeats, Verlaine e Baudelaire. Seu círculo de amizades incluía Rimbaud, Romain Rolland, Rainer Maria Rilke, Thomas Mann e Sigmund Freud, com o qual se correspondeu entre 1908 e 1939.
Seu sucesso como autor dramático foi confirmado em 1912, quando suas peças "A Metamorfose da Comédia" e "A Mansão à Beira-mar" foram apresentadas em Viena. Durante a Primeira Guerra Mundial, em 1915, casou com a escritora Friderike von Winsternitz e comprou uma casa em Salzburgo, onde viveu por quinze anos. Foi uma das fases mais ricas de sua produção literária. Escreveu as biografias de Dostoievski, Dickens, Balzac, Nietzsche, Tolstoi e Stendhal. Anos mais tarde, lançou as biografias de Maria Antonieta, Fouché, Rilke e Romain Rolland.
Conseguiu o reconhecimento como narrador, poeta e ensaísta durante os anos de 1920 e 1930. Desse período, destacam-se os romances "Amok" (1922), "Angústia" (1925) e "Confusão de Sentimentos" (1927), baseados na psicanálise.
No início da Primeira Guerra Mundial, o sentimento patriótico se disseminou com força entre os cidadãos da Alemanha e da Áustra, assim como entre suas populações judaicas. Zweig, bem como outros intelectuais judeus como Martin Buber e Hermann Cohen, aderiram à causa germânica. No entanto, ele jamais se alistou nas forças combatentes e trabalhou no arquivo do Ministério da Guerra. Porém, com o desenrolar do conflito e o banho de sangue subsequente, Zweig se tornou pacifista, assim como seu amigo Romain Rolland. Até o final da guerra e pelos anos seguintes, Zweig se manteve fiel ao pensamento pacifista, defendendo a unificação da Europa como solução para os problemas do continente.
Separou-se de sua primeira esposa, Friderike von Winsternitz, e uniu-se com sua secretária, Charlotte Elizabeth Altmann (mais conhecida como "Lotte"). Em 1932, Adolf Hitler chegou ao poder na Alemanha e instalou a ditadura nazista. Com suas políticas antissemitas se disseminando até além das fronteiras, não demoraria para Zweig se sentir afetado na Áustria. Em 1934 deixou o país e passou a viver na Inglaterra, entre Londres e Bath, onde se naturalizou cidadão britânico.
Com a eclosão da Segunda Guerra Mundial e o avanço das tropas de Hitler pela França e em toda a Europa Ocidental, o casal atravessou o Oceano Atlântico em 1940 e se estabeleceu inicialmente nos Estados Unidos, em Nova York. Em 22 de agosto do mesmo ano, fez sua primeira viagem para o Brasil2 .
O exílio no Brasil e o suicídio
Zweig e Lotte empreenderam três viagens ao Brasil. Na primeira, entre 1940 e 1941, para uma série de palestras pelo país, escreveu da Bahia para Manfred e Hannah Altmann, seus cunhados:
"Você não pode imaginar o que significa ver este país que ainda não foi estragado por turistas e tão interessante - hoje estive nas cabanas dos pobres que vivem aqui com praticamente nada (as bananas e mandiocas estão crescendo em volta) e as crianças se desenvolvem como se estivessem no Paraíso -, a casa inteira, desde o chão, lhes custou seis dólares e, por isso, são proprietários para sempre. É uma boa lição ver como se pode viver simplesmente e, comparativamente, feliz - uma lição para todos nós que perdemos tudo e não somos felizes o bastante agora, ao pensar como viver então"3 .
Foi nesta primeira viagem que Zweig, com a ajuda de Lotte, reuniu suas anotações pessoais e finalizou o ensaio "Brasil, país do futuro"4 .. A alcunha de "País do Futuro", criada por Zweig, se tornaria um apelido para o Brasil5 6 7 . De fato, apesar da depressão que já sentia por conta do desenrolar da guerra na Europa, o escritor tentava encontrar no Brasil as condições não apenas de recriar sua vida particular, mas também da antiga atmosfera de seu continente natal. Segundo Alberto Dines, autor de uma biografia do escritor, Zweig seria um dos últimos remanescentes da cultura e do modo de vida europeus do século 19. Seu desânimo com o avanço do Nacional-Socialismo, na verdade, viria de muito tempo antes, desde a Primeira Guerra Mundial, quando os primeiros sinais de rompimento com a velha ordem imperial européia se mostraram.
Zweig foi recebido com entusiasmo tanto pela comunidade intelectual local quanto pelas autoridades políticas. Para os intelectuais brasileiros, a presença de tão renomado escritor em terras nacionais trazia prestígio e oportunidades de um intercâmbio com outros escritores estrangeiros. Mas para as autoridades políticas, a chegada de Zweig, com sua bagagem liberal e antinazista, era contraditória. O governo de Getúlio Vargas se mantinha no poder graças à políticas francamente autoritárias e muitos de seus ministros e assessores militares eram francamente simpatizantes do nazifascismo. Isso não impediu que os elementos menos autoritários do estado brasileiro usassem Stefan Zweig para atingirem seus objetivos.
"Considerando que o nosso velho mundo é, mais do que nunca, governado pela tentativa insana de criar pessoas racialmente puras, como cavalos e cães de corrida, ao longo dos séculos a nação brasileira tem sido construida sobre o princípio de uma miscigenação livre e não filtrada, a equalização completa do preto e branco, marrom e amarelo"8 .
A partir da terceira viagem ao Brasil, Lotte e Zweig se estabeleceram em Petrópolis, cidade na serra do Rio de Janeiro, onde finalizou sua autobiografia, "O Mundo que Eu Vi"; escreveu a novela "O Jogador de Xadrez" e deu início à obra "O Mundo de Ontem", um trabalho autobiográfico com uma descrição da Europa de antes de 1914.
Em 1942, deprimido com o crescimento da intolerância e do autoritarismo na Europa e sem esperanças no futuro da humanidade, Zweig escreveu uma carta de despedida e suicidou-se com a mulher, Lotte, com uma dose fatal de barbitúricos, na cidade de Petrópolis, no Brasil. A notícia chocou tanto os brasileiros quanto seus admiradores de todo mundo. O casal foi sepultado no Cemitério Municipal de Petrópolis, de acordo com as tradições fúnebres judaicas, no perpétuo 47.417, quadra 119 .
A casa onde o casal cometeu suicídio é, hoje, um centro cultural dedicado à vida e à obra de Stefan Zweig4 10 4 10 .
A carta de suicida
DECLARAÇÃO
Antes de deixar a vida por vontade própria e livre, com minha mente lúcida, imponho-me última obrigação; dar um carinhoso agradecimento a este maravilhoso país que é o Brasil, que me propiciou, a mim e a meu trabalho, tão gentil e hospitaleira guarida. A cada dia aprendi a amar este país mais e mais e em parte alguma poderia eu reconstruir minha vida, agora que o mundo de minha língua está perdido e o meu lar espiritual, a Europa, autodestruído. Depois de 60 anos são necessárias forças incomuns para começar tudo de novo. Aquelas que possuo foram exauridas nestes longos anos de desamparadas peregrinações. Assim, em boa hora e conduta ereta, achei melhor concluir uma vida na qual o labor intelectual foi a mais pura alegria e a liberdade pessoal o mais precioso bem sobre a Terra. Saúdo todos os meus amigos. Que lhes seja dado ver a aurora desta longa noite.
Eu, demasiadamente impaciente, vou-me antes.
Stefan Zweig
Obra literária

Nota do jornal francês Le Petit Parisien sobre a morte do escritor
“Cordas de prata” (Poemas) 1901
“A filosofia de Hippolyte Taine” (Tese de Doutorado) 1904
“O Amor de Erika Ewald” (Contos) 1904
“As Primeiras Grinaldas” (Poemas) 1906
“Tersites” (drama teatral em três atos) 1907
“Emile Verhaeren” 1910
“Segredo Queimado” 1911
“Primeira experiência. Quatro histórias de mundo infantil” 1911
“A casa junto ao mar. Um drama em duas partes” (Em três atos) 1912
“O comediante se virou. Um jogo do rococó alemão” 1913
“Jeremias - Poema dramático em nove cenas” 1917
“Memórias de Emile Verhaeren” 1917
“O Coração da Europa - Uma visita à Cruz Vermelha de Genebra” 1918
“Lenda de uma vida (Drama teatral em três atos) 1919
“Viagens - Paisagens e cidades” 1919
”Três mestres: Balzac - Dickens – Dostoiévski” 1920
“Marceline Desbordes-Valmore, A imagem de um poeta vivo” 1920
“Romain Rolland. O homem ea obra” 1921
“Carta de uma desconhecida” 1922
”Amok. Histórias de paixão” 1922
“Os olhos do irmão eterno. Uma lenda” 1922
“Frans Masereel" (com Arthur Holitscher) 1923
“Os poemas reunidos” 1924
“A monotonia do mundo” (Ensaio)1925
“Ansiedade” 1925
“A batalha com o demônio, Hölderlin - Kleist – Nietzsche” 1925
“Ben Johnson ‘Volpone’. Uma comédia sem amor em três atos” (Livremente editado por Stefan Zweig. Com seis pinturas de Aubrey Beardsley) 1926
“O fugitivo. Episódio do Lago Genebra” 1927
“Adeus a Rilke. Um discurso” 1927
“A confusão de emoções. Três novelas” (“Vinte e Quatro Horas na Vida de Uma Mulher”, “O Naufrágio de um Coração” e “Sentimentos de Confusão”) 1927
“Grandes momentos da humanidade. Cinco miniaturas históricas” 1927
“Três poetas de sua vida. Casanova - Stendhal – Tolstoi” 1928
“Rachel pede a Deus” 1928
“Joseph Fouché. Retrato de uma pessoa política” 1929
“O cordeiro do pobre. Tragicomédia em três atos” 1929
“A cura através do Espírito. Mesmer - Mary Baker Eddy e Freud” 1931
“Maria Antonieta. Retrato de um personagem central” 1932
“Triunfo e Tragédia de Erasmo de Rotterdam” 1934
“A Mulher Silenciosa. Ópera cômica em três atos 1935
“Mary Stuart” 1935
“Pequenas Histórias Selecionadas – ‘A cadeia’ e ‘Caleidoscópio’” 1936
“Castellio ou Contra Calvino. Uma consciência contra a violência” 1936
“O candelabro enterrado” 1937
“Encontros com pessoas, livros e cidades” 1937
“Fernão de Magalhães. O homem e sua ação” (Biografia) 1938
“Cuidado da Piedade” 1939
“Brasil, País do Futuro” (Ensaio) 1941
“Histórias de Xadrez” 1942
“Tempo e lugar. Ensaios e Palestras selecionados - 1904-1940” 1943
“O Mundo que Eu Vi - Memórias de um Europeu” 1942
“Amerigo. A história de um erro histórico” 1944
“Lendas de Estocolmo” 1945
“Balzac. Romance de sua vida” 1946
“Fragmentos de um romance” 1961
“Ruído da transformação” 1982
Zweig escreveu também uma espécie de autobiografia, intitulada O Mundo Que Eu Vi (Die Welt von Gestern), na qual relata episódios de sua vida tendo como base os contextos históricos do período em que viveu (como, por exemplo, a Monarquia Austro-Húngara e a Primeira e a Segunda Guerras Mundiais).


quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

A sublime interpretação de Carmen Cardin


Conheci Carmem Cardin durante a solenidade do terceiro concurso de poesia Jaime Roldon realizado no dia 05/11/2011 na biblioteca popular do Cocota-Ilha do Governador-RJ.Não fui apresentado a ela mas, naquela tarde tão impregnada de poesia pude me surpreender com sublime e tão encantadora apresentação desta poetisa que não sei o porquê me fez imaginar Cecília Meireles.
Talvez tenha sido a forma tão brilhante de interpretar um de seus trabalhos é que tenha me feito deixar os olhos ficarem fixos e impregnados da beleza que surgia em cada gesto quando as palavras de sua poesia pareciam voar ao vento e preencher todo o ambiente.Vi Carmen Cardin interpretando com maestria e talvez tenha sido esse o motivo que me fez tornar mais um de seus fãs porque sendo alguém que lida com teatro o tempo todo, penso que a poesia bem interpretada ganha notoriedade pois é como se fosse uma apresentação da  alma que inspira o corpo a escrever alguma coisa.O jeito simplório e delicado de trazer em evidência a alma que geme,sofre,sorri,grita, se exaspera…é algo tão mágico em Carmen que nos deixa tão sensível e ao mesmo tempo ansioso pela próxima frase que certamente dará o desfecho de alguma coisa.Depois que vi Carmen Cardin,passei a vasculhar seus trabalhos e encontrei “Angústia”.Não preciso dizer o quanto fico embevecido não só pela apresentação mas também pela  profundo lirismo  que esse vídeo nos traz onde o sentimento é discernido de forma tão esplendorosa.
http://www.literarteletras.com.br/2012/10/a-sublime-interpretacao-de-carmem-cardin.html

Carmen Cardin – entrevista nº 387



SELMO VASCONCELLOS – Quais as suas outras atividades, além de escrever ?
CARMEN CARDIN – Além de escrever, sou professora e assessora administrativa.
SELMO VASCONCELLOS – Como surgiu seu interesse literário ?
CARMEN CARDIN - Escrevo desde os nove anos de idade. Desde que me entendo por gente, amo poesia! Entretinha-me nas horas vagas, nas tardes ensolaradas, debaixo de uma amendoeira, lendo Fernando Pessoa, Gonçalves Dias, Fagundes Varela e Augusto dos Anjos. Adoçava-me o espírito perceber a beleza incutida na nuvem perfumada dos seus versos. Essa aragem refrescava-me a alma e revigorava-me os sonhos nas tórridas tardes de um subúrbio carioca.
SELMO VASCONCELLOS – Quantos e quais os seus livros publicados ?
CARMEN CARDIN - Em antologias e coletâneas poéticas, além de sites e blogs há diversas publicações ilustrando a poesia de Carmen Cardin, que possui um acervo que ultrapassa os seiscentos poemas. Ultimamente, na XV Bienal Internacional do Livro do Rio de Janeiro lancei “Atalho Para O Banquete” – Poesia – 80 páginas – Oficina Editores.
SELMO VASCONCELLOS – Qual (is) o(s) impacto(s) que propicia(m) atmosfera(s) capaz(es) de produzir poesias ?
CARMEN CARDIN - A aspiração – diuturna – de sonhar e idealizar, o “ser, enquanto poeta” e o “poeta enquanto ser” são a evocação natural que norteia minha existência. As pessoas costumam dizer que isso ou aquilo são a sua segunda natureza… A Poesia é a minha única natureza, portanto, ela é o meu espírito incorporado em palavras, lampejos efetivamente reais do meu ser! Não há uma necessidade de se escrever: há uma naturalidade. Penso, logo versifico!
SELMO VASCONCELLOS – Quais os escritores que você admira ?
CARMEN CARDIN – Além dos poetas acima citados, nutro profunda e absoluta admiração por Victor Hugo que, na minha opinião, é único. Aprecio, asseveradamente, Sthendall, Flaubert, Baudelaire, Schoppenhauer, Gibran Kalil Gibran, Saramago, Neruda, Borges, Shakespeare, Voltaire, Goethe, García Marques.
SELMO VASCONCELLOS – Qual mensagem de incentivo você daria para os novos poetas ?
CARMEN CARDIN – Ler, acima e antes de tudo, para tentar entender a si mesmo, isso é pontual. Se pretende obter lucros com a literatura, pode esquecer. Deve ser um ideal e não um objetivo comercial. Mas, eu acredito, se você escrever, efetivamente bem, o sucesso será uma consequência natural desse sacerdócio. Ame primeiro, escreva depois.Mas, não desista jamais!
Messenger: carmencardin@live.com
Facebook: Carmen Cardin
Canto do Coração
Confesso que adoro um Serafim, O Amado!
Versos serão eficazes ao tentar descrevê-lo?
Suplício do meu ser, arroubo extremado…
Martírio: A Paixão e o seu pesadelo.
Que mescla fanática é esta que fazem
os deuses lascivos às leis da Fantasia
que só desejos aos espíritos trazem
castigando-os com o Amor, covardia!
Revelai-me que fórmula misteriosa e secreta
ingrata, invencível, é esta, oh Imortais!?
Como amortecer, do furor do Amor, a seta?
Como livre viver sem sofrê-lo mais?
O veneno condenou a alma da minh’alma
Que antídoto livrar-me-ia de tal ferida ?
Se é o Amor que me aflige, mas me acalma;
Se é este Amor, o grande amor, da minha vida?
Carmen Cardin
Em Preto e Branco
Eu aposto nas emoções praticadas
Da Ternura, ela atravessa fronteiras!
Amo o sabor das coisas delicadas,
Amo o valor das coisas verdadeiras.
Em cada muito, do pouco que faço,
Em cada tudo, do nada que sinto,
A surpresa do viver trái o meu traço:
Dizendo a verdade, eu minto!
No rubor da minha face me afugento
(Às vezes tem-se o nada e este é tanto!)
O carmim dos meus lábios é sedento
A maquiagem dos meus olhos é o pranto.
Não faço planos, desconheço o que é promessa.
Nada tenho. Nada sou. Nada sei.
Nada peço, tudo quero, tenho pressa!
O artifício do amor é a minha lei!
Carmen Cardin
“ Loucura “
Acariciei, suavemente, os teus cabelos
Beijei os teus pés, oh criatura!
Teus gemidos? Passei a tê-los
Iludi-me com a tua jura!
Da tua imagem tão amada
Fiz uma obra, uma escultura.
De ouro, de brilhantes, dourada
A arte heróica da minha bravura.
Para satisfazer os desejos teus
Percorri toda senda escura:
Fui ao céu falar com Deus:
Fui ao inferno, quanta loucura!
Eu te desejei de toda a minh’alma
Eu te amei com a maior ternura!
Teu ser até perturbou-me a calma
Eu que tinha a mente segura!
Mas agora( maldição!)tudo se acabou
Foi tempestade forte, que não dura
A doença do amor que me vitimou
Será, no mundo, minha única cura!
Carmen Cardin
“Perfeição”
Que mistérios o envolve?
Que forças o detém ?
Se a minha energia se dissolve
No magnetismo que ele tem?
Se a todo e qualquer momento
Seu fascínio me convém?
Se o meu pensamento
Com a sua imagem se entretém?
Quais os ventos que o conduz
Brisa suave ou rude tormenta?
Sombras, negrumes ou raios de luz
Que poderes o movimenta?
Brilhante é o seu olhar, profundo!
Miríade de beleza que seduz…
Nenhum outro ser no mundo
Com a mesma grandeza reluz!
Seus pés são dois alicerces
Firmados na base do vigor.
Os olhos, alcandoradas preces
Que poeta algum pode compor!
Suas pernas são colunas vitais
Sustentando um corpo robusto
Seu peito, sede de arsenais
Que abriga um homem augusto!
Suas mãos são ágeis, criativas
Arquitetas de mágicas carícias.
Seus lábios são nascentes vivas
De um melífluo mar de delícias!
Seu pensar paralisa o universo,
Seu sorriso ameniza minhas dores,
Seu falar revela-me o verso,
Seu caminhar fertiliza as flores!
O cântico da sua boca é sagrado,
Os gestos do seu corpo são ciência.
Seu meditar é barco ancorado,
No grande porto da inteligência!
Seu espírito é essência divina,
(Formosos são os detalhes seus)
Dele, monarca, é que se origina
Os fervorosos anseios meus.
Na esperança, meu ser se anima:
A Fé é escudo até para os ateus!
Eu e Ele unidos, esta é a sina
Um tálamo eterno nos dará Deus!
Carmen Cardin
O Atalho Para O Banquete
Quem sobreviveu
a um amor desfeito
Pode resistir
a um espelho quebrado
Consegue engolir
outra angústia qualquer…
Eu fiz do sonho
o meu vício perfeito
Diariamente
dele sorvo um bocado
E mastigo a vida:
sem antiácido sequer.
Quem quis colocar
suas mãos no fogo
Jamais se entregará
ao medo da nevasca
Jamais padecerá
no que chamam de deserto…
Provoquei a vida
e ela me fez seus toques
E toda solidão que engulo,
secamente, “on the rocks”,
Não me imuniza
do errado ou certo.
Quem divisará
as fronteiras do seu eu?
Só consegui achar a sorte
quando ela se perdeu
No escuro desespero
de quem crê na esperança.
Andei por um atalho
procurando Felicidade
Então escorreguei
no abismo da Saudade
No profundo precipício
precipitado da Lembrança.
E a audácia de querer
Rascunha-me um sorriso;
A teimosia de sentir
Penhora o meu descanso.
Vou descascando a tristeza
Cozinhando-a com o pranto…
A alquimia dos temperos
Antecipa-me o sabor
Saberei o ponto da calda
Provando, outra vez, do amor
Desse acre-doce tão exótico
A especiaria do encanto!
Carmen Cardin
http://www.selmovasconcellos.com.br/colunas/entrevistas/carmen-cardin-entrevista-no-387/