quinta-feira, 15 de outubro de 2009

António de Oliveira Salazar. Orgulhosamente só


Fernando Correia da Silva

Torno a levantar-me. Não vejo o barquinho, não sei o que é feito dele.
ORGULHOSAMENTE SÓ

http://www.vidaslusofonas.pt/salazar.htm

Ingleses, franceses e belgas abandonaram a África e agora exigem que façamos como eles fizeram? Estão enganados, somos diferentes, não viramos costas à Pátria que dilatámos, soprados somos pelos ventos da História. Não querem ouvir-me e fico só, orgulhosamente só.

Porventura em Portugal estarei mais só. Mas não me entrego, já disse que sou osso duro de roer. Hei-de vedar as brechas da União Nacional, ela tornará a ser o que foi no início, aglutinação de todas as direitas, a Direita, a única. Faço como sempre fiz, alivio o secundário, atarraxo o principal. Em 1958 dei aumento aos funcionários públicos mas, ao mesmo tempo, promovi a caça aos comunistas, o escultor Dias Coelho foi abatido na rua como um cão raivoso e a PIDE destroçou quase que por completo o aparelho clandestino dos lesa-Pátria. Em 1959 consenti que Portugal aderisse à EFTA, lancei o Plano de Fomento, abri linhas de crédito para as indústrias mas, ao mesmo tempo, dei caça ao Delgado e aos delgadistas.

No meu tempo era a Direita que fascinava os estudantes universitários. Hoje parece que é a Esquerda, consequências da famigerada instrução que alastrou sem rei nem roque... Para esse perigo alertei os doutores que me cercam. Não me quiseram ouvir e aí está o resultado: em 1962 rebenta a crise académica de Lisboa. A um grupo de estudantes católicos chego mesmo a dizer:

- Não estraguem as vossas vidas, não se metam em políticas, façam como eu, a minha política é o trabalho!

Ouço que abafam risos. Só há um remédio, safanão a tempo, estudantes para o calabouço!

Mais preocupado me deixa o Ultramar. Em 1963 os terroristas do Amílcar Cabral, traidor de segunda financiado pelos russos, abrem uma segunda frente na Guiné. Espicaço, vamos também em força para a Guiné! Para aliviar a pressão em Angola apoio a secessão catanguesa do ex-Congo Belga e o comunista Lumumba é justiçado. Mas em 1964 os terroristas do Eduardo Mondlane, outro traidor de segunda também financiado pelos russos, abrem uma terceira frente em Moçambique. Espicaço, vamos também em força para Moçambique! A Grã-Bretanha, os Estados Unidos, a Rússia, a ONU, exigem referendos para a autodeterminação das nossas Províncias Ultramarinas. Estão iludidos, não vou à fala, não converso com terroristas. Orgulhosamente sós, a Pátria não se discute!

É-me já difícil manter o equilíbrio orçamental: três guerras no Ultramar e o consequente sorvedouro financeiro, também a expansão económica da Metrópole que já não consigo domar... Paliativos? As remessas dos emigrantes, o turismo (com a consequente infecção da nossa moral e costumes), também o investimento estrangeiro. Assim começa a ser ofuscada a nossa forma de estar no mundo... É preocupante, mas pior que tudo são as traições. Em 1964 o Papa visita a Índia e, no ano seguinte, visita as Nações Unidas que tanto me atanazam. Não lhe perdoo, nem sequer quando vem a Fátima a 13 de Maio de 1967.

Imagem: http://abrupto.blogspot.com/salazar1.jpg

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