Em um anúncio que tem tudo para ser controverso, a
respeitada historiadora da Universidade Harvard (EUA) Karen King revelou um
antigo papiro que parece referir-se a esposa de Jesus.
O documento, apelidado de “Evangelho da Esposa de
Jesus”, apresenta um diálogo entre Jesus e os seus discípulos. Porém, ele só
possui 33 palavras e frases incompletas. Entre elas, os fragmentos “Jesus
disse-lhes: ‘Minha esposa…’”, e “…ela será capaz de ser minha discípula”.
Legítimo?
O fragmento é do século IV. Mas a origem do papiro
ainda é desconhecida. “Nada se sabe sobre as circunstâncias de sua descoberta”,
disse King. Isso com certeza levantou bandeiras vermelhas para outros
estudiosos, que duvidam de sua legitimidade.
King especula que o fragmento pode ter sido jogado
no lixo por alguém que se opõe à ideia de Jesus ser casado. O papiro agora
pertence a um colecionador anônimo que pediu a King para analisá-lo. Três
estudiosos determinaram que o fragmento não é uma falsificação, no entanto,
mais testes serão realizados sobre a tinta.
Verdadeiro
ou não, não prova nada
Mesmo que o papiro seja antigo e verdadeiro, isso
não prova que Jesus foi casado, segundo King.
A especialista explica que, nos primeiros séculos
após a morte de Cristo, os cristãos debateram ferozmente o celibato e o
casamento.
O fragmento é uma tradução do século IV de um texto
grego do século II. Isso não é velho o suficiente para provar que Jesus era
casado, apenas que os primeiros cristãos discutiram isso.
“A evidência mais antiga e mais historicamente
confiável é totalmente silenciosa sobre o estado civil de Jesus”, diz King.
Ela se refere à Bíblia, que claramente não diz nada a respeito de Jesus se casar, embora escritores do Novo Testamento, ocasionalmente, usem a metáfora da igreja e do povo de Deus como a “noiva de Cristo”.
Ela se refere à Bíblia, que claramente não diz nada a respeito de Jesus se casar, embora escritores do Novo Testamento, ocasionalmente, usem a metáfora da igreja e do povo de Deus como a “noiva de Cristo”.
Até por isso King reconhece que Jesus poderia ter
falado figurativamente quando se referiu a “minha esposa”. Afinal, o fragmento
não está completo, e está fora de contexto.
Alguns dos evangelhos gnósticos – textos antigos
descobertos no século 20 que não estão incluídos no cânone cristão – sugerem
que Jesus tinha uma relação íntima com Maria Madalena. O Evangelho apócrifo de
Filipe, por exemplo, diz que Jesus beijou Maria, e amava-a mais do que os
apóstolos.
King argumenta que os gnósticos eram frequentemente
íntimos de formas não sexuais. No Evangelho de Filipe, por exemplo, os cristãos
se cumprimentam com beijos para transmitir a sensação de que eles são uma
família espiritual.
De resto, as únicas discussões sobre uma “esposa”
de Jesus só existem em livros e fantasias, como as de Dan Brown.
Jesus
casou. O que muda para a Igreja Católica?
Como é improvável que a descoberta venha a afirmar
que Jesus era, de fato, casado, King acredita que a Igreja Católica vai
permanecer em silêncio sobre o assunto.
Apesar disso, ela acredita que o papiro pode fazer
com que os crentes repensem as suas suposições sobre os primeiros debates
cristãos sobre o celibato, casamento e família.
Estes debates iniciais, explica ela, levaram a
práticas contemporâneas, como os homens da Igreja Católica Romana do sacerdócio
serem solteiros. Muita coisa hoje em dia está aberta para debate no
cristianismo, como a homossexualidade, o papel das mulheres no ministério e se
os padres devem casar.
Mas isso tem mais a ver com mudanças de pensamento
no mundo influenciadas pelo conhecimento humano, e não descobertas
arqueológicas, que muitas vezes acabam se revelando falsas (como
os milhões de pregos que alegadamente eram os que Jesus usou em seus momentos
finais, o que certamente é impossível).
Sendo assim, mesmo que esse papiro se provar
verdadeiro, isso só “significaria que há um novo texto apócrifo” que não deve
“reabrir o debate” sobre o casamento de Jesus, disse a historiadora.
Segundo King, o Vaticano insiste que não há nada
novo para debater sobre o sexo e os requisitos de celibato para o seu
sacerdócio, e é improvável que um papiro de origem duvidosa mude isso.[HuffingtonPost]
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