Por Rui Maartins, de Locarno
Depois de receber o premio do Festival de Locarno
por sua carreira, o ator Alain Delon deu entrevistas e fez declarações
diversas. Disse que não gosta do cinema atual, que sua vida antes do cinema
poderia ser tragédia e reafirmou ser um homem da direita.
Não sou um apaixonado pelo cinema de hoje, e
acredito que não sou o único a dizer isso, tive a chance de ter vivido um outro
cinema, dos anos 60 a 80, diferente do que se pratica hoje, um cinema que fazia
sonhar.
Algum filme recente que gostaria de ter feito ?
Há um filme que vi recentemente que gostaria de ter
feito o papel principal do filme Intocáveis (Intouchables).
De onde veio sua vontade de fazer cinema.
Um dia, no escritório do que seria o diretor do meu
primeiro filme, vi o filme de Sacha Guitry e ali senti que queria fazer o
cinema. Eu não entendia nada de cinema, tinha acabado de terminar o exército. E
quando ouvi ele dizer que ser ator de cinema era a mais bela profissão do
mundo, pelo que ela dá aos outros, me decidi – é isso que vou fazer, me disse a
mim mesmo.
Embora tenha trabalhado em Asterix, nunca fez
comédia, por que ?
Porque não é meu estilo, não é meu jeito e nem meu
gênero. O exemplo que dou sempre é o de um trem que entra na estação e numa
janela está Belmondo e na outra Delon. Quando Belmondo passa todo mundo ri,
quando Delon passa ninguem ri. Então, deixei a comédia para Belmondo. Mas é verdade,
quando as pessoas vêem a cara de Belmondo não podem deixar de rir, mas comigo é
o silêncio. Eu nunca tiver o senso da comédia. No filme Asterix, o diretor viu
que não conseguia me fazer rir e me deu, então, o papel de Julio Cesar. Fazia
tempo que eu não fazia um filme e aceitei.
Tem medo da velhice ?
Não, não tenho medo, tenho medo da doença. Em
respeito ao público que me viu, me fez e que me amou e seguiu, durante todos
esses anos, decidi que nunca me mostrarei enfraqueco, desfigurado. Seu eu viesse
assim aqui, voces não gostariam e não seria digno. O dia que isso acontecer
vocês não me verão mais. Não te nho medo da idade.
Como é o homem Delon politicamente ?
A coisa que notei na vida é que os únicos serem que
não pegam aposentadoria são os políticos e os atores.
Serei bem breve. Não sou apaixonado pela politica, mas é verdade que era amigo do ex-presidente da França. Sempre fui um homem de direita e não sou um militante socialista.
Serei bem breve. Não sou apaixonado pela politica, mas é verdade que era amigo do ex-presidente da França. Sempre fui um homem de direita e não sou um militante socialista.
Quais eram suas relações com Visconti ?
Primeiro devo dizer que não fiz filmes só com
Visconti. Minhas relações com Visconti, no início, eram atentivos, respeitusoso
e submissos porque Visconti era um mestre, mais um diretor de ópera que de
cinema. Mas para se colocar as coisas no seu lugar, fiz um filme antes de
Visconti, em 1959, Plein Soleil, de René Clement, e foi vendo esse filme que
Visconti decidiu que eu seria Rocco. Para mim essa fase foi importante e fiz
cinema na Itália com Antonioni e outros, essa fase foi muito mais imporante. E
como eu era um jovem, foi só bem mais tarde que descobri minha chance e o
privilégio que tive, E é também por isso que digo não se tratar do mesmo cinema
de hoje.
Ao contrário do que dizem, não sou o ator difícil com os grandes diretores, sou difícil com os imbecis. Com os grandes vou de olhos fechados, mas com aqueles que não sabem sequer onde colocar a câmera, sou terrível. Com esses diretores citados e com Melville, tudo tinha seu lugar marcado, fosse o chapéu, o laço, o cachecol, os sapatos, tudo estava previsto. Esses diretores, como Clement, tem tres qualidades essenciais ao diretor – primeiro dirigem como o ator deve ficar, sentado com as pernas cruzadas ou não, a seguir , diz o que o ator vai fazer, quando entra em cena. E por fim, vai atrás da câmera. A maioria dos atuais diretores têm só uma ou duas dessas qualidades nunca as três. Antes os realizadores também escreviam, agora raramente e o que fazem é mais pelo dinheiro.
O diretor é como o chefe de orquestra. Naquela época poderia nomear facilmente dez, hoje teria dificuldade.
Ao contrário do que dizem, não sou o ator difícil com os grandes diretores, sou difícil com os imbecis. Com os grandes vou de olhos fechados, mas com aqueles que não sabem sequer onde colocar a câmera, sou terrível. Com esses diretores citados e com Melville, tudo tinha seu lugar marcado, fosse o chapéu, o laço, o cachecol, os sapatos, tudo estava previsto. Esses diretores, como Clement, tem tres qualidades essenciais ao diretor – primeiro dirigem como o ator deve ficar, sentado com as pernas cruzadas ou não, a seguir , diz o que o ator vai fazer, quando entra em cena. E por fim, vai atrás da câmera. A maioria dos atuais diretores têm só uma ou duas dessas qualidades nunca as três. Antes os realizadores também escreviam, agora raramente e o que fazem é mais pelo dinheiro.
O diretor é como o chefe de orquestra. Naquela época poderia nomear facilmente dez, hoje teria dificuldade.
Tem uma preferência pela tragédia ?
É algo mais próximo de minha vida, como diria
Pascal Jardin, são as lágrimas da minha infância, pois minha vida foi bastante
trágica até o começo do cinema e depois foi transporta no cinema. Minha
infância foi difícil, mas isso é da minha conta. Em seguida, entrei bem cedo
para o exército, com 17 anos, e fui aos 18 para a Indochina. E de regresso fiz
coisas totalmente diferentes e provavelmente não estaria vivo hoje. E de duma
maneira miraculosa e rara, o cinema veio de buscar. E por que ? Pelo meu
físico, basicamente, mas que não correspondia ao que eu pensava ou tinha no meu
interior. Talvez por isso minha relação com a tragédia. Mas eu, e sou um caso
raro, não fui ao cinema foi o cinema que veio me buscar
Faz-lhe falta hoje o cinema ?
Não, porque nele tudo conheci e tudo vivi. Só pode
faltar para quem não fez tudo com esses diretores com os quais trabalhei. Hoje,
prefiro viver das minhas lembranças com eles do que fazer outra coisa.
Por que não fez cinema nos EUA ?
Sou apaixonado pelo cinema e diante da câmera não
há diferença. Fiz dois filmes nos EUA e me disseram para eu ficar lá que me
tornara um grande star. Mas eu não queria ficar nos EUA e não gostava de viver
lá, embora gostasse do cinema americano. A França e Paris me faziam um falta
enorme e eu lhes disse, quando quiserem fazer algum filme comigo me chamem. E
retornei à França e fiz minha carreira na Itália e depois na França. Meu filho
Anthony nasceu nos EUA.
Como foi trabalhar com Burt Lancaster ?
Foi como trabalhar com Jean Gabin, dois mestres.
Lancaster era um dos meus ídolos. Outro grande foi John Garfield. Certa vez
disse a Marlon Brando que gostaria de fazer um filme com ele, nem que fosse
para ser numa cena de camareiro. Mas não tivemos a chance de fazer isso.
Rui Martins>/b>, de Locarno, convidado
pelo Festival .
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