Se alguma pessoa vê a imagem conhecida como
“Homem Vitruviano”, é praticamente impossível dizer que nunca viu esse desenho
antes. Ele foi feito por Leonardo da Vinci e ilustra o que ele acreditava ser
uma conexão divina entre a forma humana e o universo.
Amada por sua beleza e seu poder simbólico, a
imagem é uma das obras mais famosas do mundo. No entanto, novas pesquisas
sugerem que o desenho de 1490 pode ter sido uma cópia de um desenho feito
anteriormente por um amigo de Leonardo. Outra ilustração de um homem
divinamente proporcionado – parecido com Jesus, mas em um cenário muito
semelhante ao do desenho de Leonardo – foi descoberto esquecido em Ferrara, na
Itália.
Os dois desenhos são representações de uma
passagem escrita em 1500 a.C. por Vitruvius, um arquiteto romano, no qual ele
descreve um corpo de um homem perfeitamente dentro de um círculo (o símbolo
divino) e dentro de um quadrado (o símbolo terrestre). Essa foi uma
interpretação geométrica da antiga crença de que o homem é um “microcosmo”: a
personificação em miniatura de todo o universo. Leonardo e outros estudiosos reviveram
essa noção ufanista durante o Renascimento italiano.
Depois de décadas de estudo, o historiador
arquitetônico italiano Claudio Sgarbi descobriu a ilustração menos conhecida do
homem vitruviano, em 1986, e acredita que a obra seja de Giacomo Andrea de
Ferrara, um arquiteto renascentista especialista em Vitruvius e amigo íntimo de
Leonardo.
Sgarbi acredita que Giacomo Andrea desenhou
seu homem vitruviano primeiro, o que não impede, entretanto, que os dois
artistas tenham discutido seus esforços em conjunto para realizar as obras.
Sgarbi vai expor seus argumentos em trabalhos acadêmicos que serão publicados
neste ano.
Os argumentos principais do pesquisador são
os seguintes: nos escritos de Leonardo, ele menciona o homem vitruviano de seu
amigo Giacomo Andrea – aparentemente uma referência direta ao manuscrito
ilustrado encontrado em Ferrara. Em segundo lugar, Leonardo se encontrou com
Giacomo Andrea em julho de 1490, ano em acredita-se que ambos os homens
desenharam seus homens vitruvianos.
Especialistas acreditam que Leonardo teria
sondado o conhecimento vitrúvio de Giacomo Andrea quando eles se conheceram.
Ambos os desenhos interpretam as palavras de Vitruvius de maneira semelhante. E
enquanto a ilustração de Leonardo é perfeitamente executada, a de Giacomo
Andrea está cheia de falsos começos e mudanças, o que não teria acontecido se
ele tivesse simplesmente copiado a representação de Leonardo.
Embora estudiosos tenham acreditado na versão
de Sgarbi, não é certo que Leonardo teria baseado seu desenho no de Andrea. Ao
invés disso, eles podem ter trabalhado em conjunto para trazer uma ideia bela e
antiga de volta à vida. Além disso, independentemente da sua cronologia, o
trabalho de Leonardo tem várias melhorias em relação ao de Andrea, mostrando
inclusive maior compreensão da anatomia humana. De acordo com pesquisadores,
Leonardo também foi mais fiel ao texto de Vitruvius.
Uma coisa é certa. O melhor homem vitruviano
ganhou fama internacional, enquanto o mais simples, mas possivelmente o
original, foi deixado às moscas numa biblioteca durante cinco séculos. Leonardo
e Andrea tiveram destinos bem diferentes também. Quando os franceses invadiram
Milão em 1499, Leonardo fugiu com segurança e atingiu fama eterna. Mas Andrea
não teve um final feliz: ficou em Milão, foi enforcado, esquartejado e
arrastado pelos franceses e ainda foi, em parte, esquecido pela história – até
agora, pelo menos. [MSN]
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