terça-feira, 21 de outubro de 2014

A sombra do fascismo e nazismo ronda o Brasil




Por Marilza de Melo Foucher - de Paris
CORREIO DO BRASIL

Estamos vivendo uma situação política no Brasil extremamente grave, onde o germe do ódio se propaga e a xenofobia se espalha impunemente. A maneira como os nordestinos, negros, índios, gay, lésbicas e pobres vêm sendo tratados nesta campanha presidencial comprova a existência de um tipo de neo-fascismo e neo-nazismo em plena expansão no Brasil e mais especificamente em São Paulo, na região sudeste e sul do Brasil. Todavia, infelizmente, esses comportamentos estão presentes também em outras regiões brasileiras. Não perceber este perigo é banalizar esta situação. Existe um terreno fértil para a implantação dessas ideologias nefastas no Brasil.
Vejam os resultados em termos de votos que teve o Pastor Feliciano, o Celso Russomanno em São Paulo, o Jair Bolsonaro, o Luis Carlos Heinze. Ao dar votos a esses candidatos os eleitores legitimaram a presença da extrema direita no parlamento brasileiro.  Além desses nauseabundos eleitos de modo espetacular, existem muitos jornalistas de canais de televisão no Brasil e das revistas do grupo Abril que propagam mentiras, que instigam o ódio ao PT, incitam o racismo, a violência e, descaradamente e sem complexo, assumem as idéias da extrema direita. Outro perigo é o crescimento do fundamentalismo religioso, o nível de fanatismo é assustador. Todos esses grupos apóiam incondicionalmente o candidato Aécio Neves. Existe neste caso uma afinidade ideológica com o programa neoliberal do candidato.
Se o conjunto da esquerda brasileira não consegue se unir neste segundo turno, não coloca seus militantes nas ruas para dialogar com a população sobre este perigo, a direita brasileira reacionária que já vem há alguns anos se reestruturando, e conta com uma avançada estratégia de comunicação junto à opinião publica, na certa voltará ao poder. Não quero exagerar, mas as armadilhas estão montadas para derrubar a Dilma e não devemos ignorar o risco de perder as eleições!
O pior é que muitos segmentos da esquerda brasileira, ainda não entenderam que a sociedade brasileira na sua maioria é conservadora.
Daí, o momento não é de divisão e sim de resistência republicana.
Pensem antes de agir! Se vocês comentem a burrice de votar em branco ou nulo, vocês serão responsáveis pela volta da direita, e, também pela destruição de todas as conquistas sociais dos governos de Lula e Dilma. Não votando em Dilma vocês irão contribuir para que a direita e seus aliados fascistas e nazistas ganhem as eleições e na certa permanecerão por muito tempo no poder no Brasil. Reflitam antes de decidir, pois depois será tarde demais para voltar atrás. A direita conservadora não tem nenhum complexo em compactuar com as ideologias da extrema direita. Além disso, ela tem em suas mãos, talvez a maioria dos membros do poder judiciário, o poder econômico e o quarto poder (os meios de comunicações), isto quer dizer que eles são suficientes fortes para provocar um golpe, não do tipo militar, mas com o apoio desses aparatos. A hipótese de uma derrota de Dilma repercutirá em toda a América Latina e fragilizará a correlação de força dos governos de esquerda e centro-esquerda.
Sabe-se que a direita brasileira tem aliados fortes no plano internacional, exemplo o capital especulativo responsável pela crise da economia real aposta na derrota de Dilma. Eles recebem apoio dos governos neoliberais que estão no comando da governança mundial. Vale ressaltar que para os adeptos do neoliberalismo, o mundo global tem somente dois atores principais: as empresas e os consumidores, para eles não existe cidadãos. Para os teóricos da governança mundial a concepção do Estado deveria ser enterrada, o Estado passa a ser visto como intruso, no lugar do Estado protetor do Bem-Estar Social surge o Estado Empreendedor, um bom acionário. Esse novo imperialismo é operado em forma de consórcio internacional, que dita normas diretivas para regulamentar a doutrina econômica neoliberal.
O candidato Aécio Neves defende exatamente esta concepção neoliberal de Estado.
Os governos petistas e outros governos de esquerda e centro-esquerda na América Latina romperam com a globalização da exclusão e optaram por um «desenvolvimento inclusivo« onde o Estado tem um papel importante e isto atrapalha este novo imperialismo. Sem contar que o Brasil ao participar da criação do Brics, passou a representar uma ameaça para as grandes potências que pensavam continuar no comando desta governança mundial ditando suas regras para o resto do mundo. O Brasil e outros países considerados de emergentes quebraram esta regra e hoje são atores importantes de um mundo multipolar.
Chamo atenção dos companheiros e companheiras da esquerda não petista, que tentam justificar suas escolhas com argumentos de que o PT já esta há muitos anos no governo e deve ir para a oposição; ou que o PT traiu a esquerda e que aceitou o apoio de Color, Sarney, e até de Maluf. Ninguém questiona o tempo que a direita governou no Brasil e ainda governa na maioria dos Estados brasileiros. Também é difícil imaginar quem teve um passado ligado às lutas sociais declarando apoio a Aécio que é o candidato dos segmentos mais reacionários e neofascistas do Brasil.
Vale ressaltar que a esquerda sempre foi uma minoria, e poucos partidos são representados no parlamento brasileiro. Infelizmente, uma parte da esquerda brasileira na sua diversidade, ainda não entendeu que sem uma verdadeira reforma política é impossível governar uma republica federativa, compondo somente com os partidos de esquerda. Infelizmente, a despolitização da população brasileira é cada vez maior, daí, faz-se necessária muita pedagogia para explicar a importância da política no quotidiano. Ampliar um dialogo mais permanente com a população e sua base popular é urgente e necessário.
Desde a época da ditadura que a direita no Brasil participa ativamente na despolitização de massa. Hoje se trata de uma estratégia política para reconquistar o poder sem muitos questionamentos. Eles pregam a individualização da sociedade e alimentam o desencanto ideológico sem nenhuma analise critica. Existem também correntes ambientalistas que hoje negam o papel dos partidos. Muitos acham que a causa ecológica não é política. Cresce o numero de pessoas que se envolvem localmente por causas específicas sem ver a realidade global. Essas pessoas estão se mobilizando para suas necessidades próprias e aspirações do momento, mas essa mobilização não necessariamente defendera uma causa de interesse coletivo. Existe também um déficit de formação política dos militantes, principalmente, sobre questões ligadas à cidadania política. Um dos grandes desafios de hoje diante da despolitização e abuso de poder, é investir na educação para o exercício da cidadania e do poder.
A despolitização pode dar elementos explicativos sobre porque a Casa do Povo continua com um numero considerável de representantes da Casa Grande e Senzala. E nessas ultimas eleições os mais votados representam a asquerosa extrema direita.
O pensamento dialético existe para que possamos entender as contradições de nossa sociedade e agir em conseqüência.
Eu acho que o PT, enquanto partido e governo, cometeu alguns erros, entretanto, não podemos negar os benefícios que os governos do PT trouxeram para as populações miseráveis e pobres. Este projeto de sociedade não pode ser interrompido.
As alianças que o PT estabeleceu não são de ordem ideológica, não existe compromissos com a extrema direita, as coligações são circunstanciais, tendo em vista as características do sistema eleitoral no Brasil que é perverso, e não corresponde aos avanços realizados pela democracia. Mesmo que o PMDB, PTB sejam partidos de tradição histórica no Brasil, existem no seu interior certas personalidades que não são comprometidas com as causas nobre da política que é de estar a serviços dos interesses nacionais e não aos interesses pessoais. Os senadores Sarney e Collor fazem parte das personalidades questionáveis, mas, não podemos acusar estes políticos de fascistas ou próximos da ideologia nazista.
A declaração da Presidente Dilma ao receber os movimentos sociais, organizações da sociedade civil que realizaram com sucesso a consulta popular sobre o Plebiscito pela Reforma Política, foi bastante clara e ela assumiu mais uma vez seu compromisso com a reforma política ao dizer: “Tenho a convicção de que o Brasil precisa da Reforma Política. É uma das pautas mais importantes, que é a mãe de todas as reformas. O Brasil precisa, tanto para poder avançar institucionalmente, quanto para combater a corrupção. “
O resto vai depender de capacidade dos grupos organizados em criar uma correlação de força para pressionar para que as reformas estruturais desta vez sejam realizadas, pois o governo não pode governar sem o povo, do contrario, a democracia perde o sabor do desafio.
Marilza de Melo Foucher é economista, jornalista e correspondente do Correio do Brasil em Paris.


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