quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Justiça investiga malas de dinheiro vindas de Angola




Lígia Simões
ligia.simoes@economico.pt

Escritórios e casas de angolanos foram alvos de buscas. Sobrinho de José Eduardo dos Santos será suspeito de branqueamento.
Inspectores da Polícia Judiciária (PJ) e procuradores do Ministério Público realizaram ontem várias buscas por todo o País. As suspeitas estão ligadas a alegados branqueamento de capitais que envolverão malas de dinheiro vindas de Angola. O Económico sabe que a justiça portuguesa está a investigar o rasto do dinheiro que terá sido transportado para Portugal, nomeadamente quais os bancos por onde terá passado através de depósitos. Na mira dos investigadores estará um sobrinho por afinidade do presidente José Eduardo dos Santos, numa lista de mais de uma dezena de nomes ligados a Angola.

Fonte oficial da PGR confirmou ao Económico que as buscas realizaram-se no âmbito de investigações do Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP), garantindo que "estas investigações não estão relacionadas com o denominado universo Espírito Santo".

Em causa está um inquérito que averigua suspeitas de branqueamento de capital de dinheiro que alegadamente terá entrado em Portugal através de transporte de malas vindas de Angola. Outras das possíveis origens da proveniência ilícita de dinheiro vindo de Angola passará pela utilização de empresas com ligações a Angola ou mesmo detidas por empresários angolanos. Os investigadores procuram agora documentação que suporte as suspeitas. Um dos alvos das buscas de ontem terá sido o empresário e sobrinho por afinidade do presidente angolano, José Eduardo dos Santos, o general ‘Kangamba'. Bento dos Santos é casado com uma sobrinha de José Eduardo dos Santos, filha de Avelino dos Santos, irmão mais velho do chefe do Estado angolano, e é patrocinador do clube português Vitória de Guimarães. As alegadas suspeitas de branqueamento recaem sobre o general Kangamba que terá usado o ex-BES (Novo Banco) para movimentar dinheiro. Mas não existem suspeitas, para já, de que o então BES tivesse conhecimento da proveniência alegadamente ilícita dos montantes, cujos valores não são ainda conhecidos.

Desde as primeiras horas da manhã de ontem que inspectores da Unidade Nacional Contra a Corrupção (UNCC) da PJ e procuradores do DCIAP realizaram dezenas de buscas em Lisboa e noutros pontos do País no âmbito de um processo que investiga a actividade em Portugal de cidadãos angolanos, nomeadamente empresários. A acção terá abrangido dependências do Novo Banco e propriedades de Bento Kangamba e dos seus familiares em Portugal. Objectivo: recolha de documentação sobre as suas movimentações financeiras.
Quem é o general Kangamba?
O sobrinho de Eduardo dos Santos é dirigente do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), o partido que está no poder naquele país africano. E é tido também como próximo do general Manuel Hélder Vieira Dias "Kopelipa". Bentos dos Santos foi dado como interessado em entrar no capital do Belenenses para comprar 9%, mas o negócio não chegou a concretizar-se. Em Angola investe em áreas como a construção e imobiliário.

Recentemente, o nome de Kangamba esteve associado a outra polémica. A Polícia Federal Brasileira acusava o empresário de financiamento de uma alegada rede de tráfico de mulheres, que enviava as vítimas para prostituição em países como Angola e Portugal em troca de pagamentos que podiam chegar até os 100 mil dólares (cerca de 78 mil euros). Contudo, em Julho, a justiça brasileira ordenou a suspensão do mandado de captura da Interpol.

O caso foi conhecido no final do ano passado, quando as autoridades brasileiras desmantelaram uma rede de tráfico de mulheres para a África do Sul, Portugal, Angola e Áustria alegadamente liderada por Bento dos Santos, Kangamba, mas que acabou por ser ilibado. Um porta-voz do general Kangamba, não identificado pela agência Angola Press, desmentiu, na altura, o seu envolvimento numa rede de tráfico de mulheres, noticiada pela imprensa brasileira em Outubro de 2013.


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