sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Degradação da Carteira de Crédito da Banca Angolana


A carteira de crédito da maior parte da banca angolana “tem vindo a degradar-se”, afirmou quarta-feira em Luanda um administrador executivo do Banco Angolano de Investimentos (BAI).
Ao comentar a primeira notação de risco atribuída pela Moody’s ao banco, anunciada terça-feira, Luís Filipe Lélis disse que no caso do BAI a carteira de crédito mal parado é actualmente de 7%.
Citado pela agência noticiosa Lusa, Luís Filipe Lélis reconheceu que o crédito malparado é um dos problemas com que se debate a banca angolana, sobretudo nos últimos dois anos, mas salientou não concordar com a notação da Moody´s.
“Não concordamos porque é preciso entender como a notação é feita (…) A carteira de crédito da maior parte dos bancos, nos últimos dois anos, tem-se vindo a degradar, resultado do contexto macroeconómico, mas nós estamos muito optimistas em relação àquilo que acontecerá em 2014 e nos anos vindouros”, disse.
O administrador executivo do BAI destacou que o banco conta actualmente com mais de meio milhão de clientes e 130 agências e que entre as metas para 2014 figura a manutenção da média de crescimento anual alcançada nos últimos dois anos, ou seja captar 24 mil novos clientes.
Na terça-feira, o Banco Angolano de Investimentos recebeu uma nota de “B1” por parte da agência Moody’s, tornando-se a primeira instituição bancária de Angola a ser avaliada por uma agência de notação de risco.
A Moody’s referiu que a notação atribuída reflecte a boa implantação do banco em Angola, a existência de provisões adequadas para absorver perdas e a alta probabilidade de apoio sistémico por parte do governo em caso de necessidade, mas também a má qualidade do crédito e os seus elevados custos.
(macauhub)
http://www.angolabelazebelo.com/2014/01/degradacao-da-carteira-de-credito-da-banca-angolana/

Luanda. Suicídio: Jovem atira-se do prédio


Luanda - Uma jovem de aproximadamente 25 anos de idade, de nome Solange Borges, moradora do distrito urbano da Samba, pôs fim à sua vida na rua 1º Congresso, distrito urbano da Ingombota, esta terça-feira (14), por volta das doze horas, depois de ter-se ausentado do seu local de serviço.

Fonte: SA (João Silva)

Solange, ao volante da sua viatura, dirigiu-se a um prédio próximo do seu local de trabalho, subiu ao terraço do mesmo e atirou-se para baixo, pondo desta forma fim à sua vida. Quando a reportagem do Semanário Angolense (SA) chegou ao local do sinistro minutos depois, o cadáver encontrava-se coberto por um pano.
A falecida, que era funcionária do Tribunal de Policia, antes de suicidar-se escreveu na sua viatura «Deus me ama». O corpo permaneceu no local até a chegada dos investigadores da Direcção Nacional de Investigação Criminal (DNIC) que, por motivos de engarrafamento, chegou um tanto atrasado.
Enquanto isso, viveu-se momentos de intensa dor, não só por parte de familiares, principalmente da mãe que não se continha ao ver o corpo da filha estendido no chão debaixo de um sol ardente, mas também de amigos e colegas de trabalho.
Era grande a multidão que rodeava o cadáver, entre curiosos, polícias e bombeiros. Toda a gente especulava à volta da verdadeira razão que levara uma jovem que tinha tudo para vencer na vida à suicidar-se de forma tão bárbara. Para alguns, o motivo foi ciúmes do namorado que a traíra com uma amiga. Para outros, foram dívidas contraídas com algumas pessoas que a pressionavam o que a levou a matar-se.
Uma «kinguila» afirmou que a falecida era sua cliente e até comprava sapatos na sua bancada. A verdadeira razão, porém, não se soube. Se algum presente sabia de algo, nada disse. Familiares e polícia não deixavam os elementos da comunicação social aproximar-se da vítima.
O repórter do SA conseguiu falar com uma irmã e um primo de Solange. Mas ambos, entre lágrimas, disseram desconhecer os motivos que levaram a sua parente a suicidar-se. Até ao fecho da presente edição, o caso encontrava-se ainda sob investigação.


terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Contra o roubo do Millennium


Os trabalhadores do Millennium BCP não têm de aceitar o roubo de salários e direitos que a administração do banco acordou com as organizações da UGT, alertou anteontem o Sintaf/CGTP-IN, contestando vivamente um «ajuste salarial temporário» que, afinal, não evita a liquidação de mais de um milhar de postos de trabalho.
Bancos salvos com dinheiro público devem ser nacionalizados


http://www.avante.pt/pt/2094/emfoco/128657/

O Sindicato dos Trabalhadores da Actividade Financeira rejeita o acordo que a Febase/UGT firmou, no último dia de 2013, com a administração do Millennium BCP, e vai promover a oposição individual e colectiva à aplicação das graves medidas nele inscritas.
Num comunicado que está a distribuir desde anteontem, o Sintaf alerta os trabalhadores do banco para o facto de que podem recusar tais medidas e impedir que lhes sejam aplicadas, mesmo que venham a ser introduzidas nas convenções colectivas assinadas pelas organizações da UGT. Para tal, cada trabalhador deverá declarar à administração, por escrito, que se opõe à aplicação dessas normas, nos termos legais (Código do Trabalho, artigo 104, n.º 2), no prazo máximo de 21 dias, «a contar do início da execução do contrato ou da divulgação do regulamento».
O Sintaf adianta já que vai disponibilizar a minuta de um texto, com esse objectivo, que os trabalhadores poderão subscrever e enviar.
Mas é destacada a importância da organização e mobilização dos bancários do BCP. Com o objectivo de «esclarecer, organizar e dinamizar a resistência contra este atentado aos salários e direitos dos trabalhadores», o Sintaf anunciou, para os próximos dias, reuniões de trabalhadores e reformados do Millennium BCP:
– dia 22, quarta-feira, em Lisboa, às 18 horas, na sede da CGTP-IN (Rua Vítor Cordon, 1);
– dia 23, quinta-feira, no Porto, às 18 horas, na Casa Sindical da USP/CGTP-IN (Rua Padre António Vieira, 195);
– dia 28, terça-feira, em Lisboa, às 18 horas, na sede do Sintaf (Av. Almirante Reis, 74G, 7.º).
Acordo para perder
O «memorando de entendimento» subscrito a 31 de Dezembro foi divulgado como a troca de postos de trabalho por cortes salariais. A redução de pessoal e dos respectivos custos é um compromisso que o BCP assumiu com a direcção-geral de Concorrência (DGComp) da União Europeia e com o Estado português, quando foi aprovada a injecção pública de três mil milhões de euros para a recapitalização do banco. Em Setembro, o banco anunciara que iria reduzir 1244 trabalhadores (dos 8744 que tinha, em Junho, para 7500 que pretende ter em 2017) e encerrar 97 balcões, para obter neste quadriénio uma «redução de custos com o pessoal superior a 30 por cento, face à média de 2008 a 2011.
A Febase destacou que o acordo permitirá «garantir a salvaguarda de cerca de 400 postos de trabalho e a reposição das actuais condições remuneratórias, após o reembolso pelo Millennium BCP do investimento realizado pelo Estado». No mesmo comunicado, a federação-base da UGT explica que «a falta de um acordo com os sindicatos colocava na mira do despedimento colectivo cerca de 1600 trabalhadores». As contas só batem certas quando se lê mais adiante, na «explicação sindical», que o banco terá que reduzir para 7100 trabalhadores, se não cumprir os cortes definidos até Dezembro de 2017.
Para o Sintaf, mesmo sem conhecer o teor oficial completo do «memorando de entendimento», mas avaliando a informação que as partes subscritoras tornaram pública, sobressaem quatro consequências:
– a redução de salários;
– a possibilidade de, futuramente, o banco proceder a despedimentos;
– o período entre 2014 e 2017 não ser considerado para contagem de diuturnidades;
– a suspensão, durante estes quatro anos, das promoções por mérito, sem prejuízo de a administração poder promover amigos e correligionários.
O sindicato da CGTP-IN assinala ainda que «este processo também está a confirmar o que afirmamos desde o seu início: colocar a questão de aceitar cortes nos salários em troca de uma declaração de que não haverá despedimentos é, afinal, aceitar os cortes e os despedimentos».
Reiterando as posições que assumiu, o Sintaf declara que:
– não aceita despedimentos ou reduções de salários ou pensões e vai apoiar os trabalhadores na luta contra tais objectivos;
– vai dinamizar todas as formas de luta (sindicais ou judiciais), que os trabalhadores do Millennium venham a desenvolver contra os despedimentos e a diminuição dos salários e pensões;
– o Millennium BCP e os bancos, em geral, salvos à custa do erário público, devem ser inseridos na esfera pública, nacionalizando-os e colocando-os ao serviço da economia nacional, e não dos interesses especulativos dos banqueiros.

A UGT faz o seu papel
O Sintaf confia que «todos os trabalhadores conscientes sabem qual é o papel das organizações da UGT: levar os trabalhadores a aceitarem, o mais pacificamente possível, a retirada de direitos pretendida pelo patronato e os seus governos, apresentando esse caminho como inevitável e considerando como vitória os ligeiros recuos (em aspectos de pormenor) que o patronato tem já equacionados aquando da elaboração das medidas que quer impor».
Num sector «onde as organizações da UGT têm o papel de direcção-geral dos banqueiros para a actividade sindical», este caso «é particularmente exemplificativo». As estruturas da UGT «identificam-se com o acordo banco/Governo/UE (DGComp) e assumem como bons os argumentos de que a “salvação” do BCP está dependente de tais medidas».
«É falso! » - protesta o Sintaf, notando que «as despesas com pessoal são diminutas e não foi por sua causa que o banco apresentou resultados negativos e imparidades que, no terceiro trimestre de 2013, atingiram em conjunto o montante de 1600 milhões de euros», enquanto os custos com pessoal foram de 511,3 milhões (aqui se incluindo as milionárias pensões de altos responsáveis, como Jardim Gonçalves).
«Mesmo que despedissem todos os trabalhadores, o BCP continuava a ter prejuízo», como comentava José Cabrita, coordenador do Sintaf, à agência Lusa, durante um protesto realizado a 26 de Novembro, junto ao edifício do Millennium na Rua Augusta, em Lisboa.
O banco, o Governo e UE pretendem «utilizar a crise de sobreprodução para a procura solvente e sobreacumulação de capital e para embaratecer a mão-de-obra, quer directamente, com a diminuição dos salários, quer indirectamente, com os despedimentos e a criação de um exército de reserva de desempregados».
O Sintaf sublinha que «é isto que a UGT aceita» e acrescenta que esta não contestou também a possibilidade de recurso ao despedimento colectivo, «cujos requisitos legais não se verificam neste caso».
Nuno Amado, presidente executivo do Millennium BCP, «congratulou-se pela transparência, empenho e razoabilidade que sempre caracterizaram estas negociações», escreve o banco, no comunicado que publicou dia 31 de Dezembro.

Accionistas só recebem
«Deviam ser os accionistas do banco a assumir integralmente a recapitalização do BCP, já que ao longo dos anos receberam milhares de milhões de euros», defendeu o PCP, numa nota emitida a 13 de Novembro, considerando que a recapitalização do Millennium BCP representou «um escândalo». O Partido lembrava, então, que «só entre 2004 e 2009 os lucros do BCP atingiram cerca de 3500 milhões de euros» e salientava que o fundo de recapitalização da banca, «não foi criado para proteger os clientes, mas sim os banqueiros». 


Clientes acusam BCP de burla



por Margarida Davim

Clientes do Private Banking do BCP investiram milhões num produto financeiro que pensavam ser seguro. Perderam tudo. E acusam o banco de os ter enganado e falsificado assinaturas.
Há dezenas de clientes do departamento de Private Banking do BCP que dizem ter sido burlados pelo banco. Cada um deles investiu em média um a dois milhões de euros, num produto financeiro que lhes foi apresentado nos anos de 2005 e 2006 como não tendo qualquer risco – mas todos perderam as economias de uma vida.

O investimento era, muitas vezes, apresentado em jantares com clientes seleccionados ou através dos gestores de conta, que explicavam tratar-se de um produto que dava até 7% de juros ao ano, com capital garantido. «Em Paris, chegaram a ir porta-a-porta, falar com os emigrantes», conta ao SOL Alexandre Guedes, um dos clientes que acusa o banco de o ter enganado.

Depois disso, era apresentado um contrato entre o BCP e uma offshore – numas vezes a Beyla, noutras a Merci –, que o cliente devia assinar. Esse documento servia para abrir uma conta de crédito sob a forma de conta corrente caucionada. O crédito era usado para financiar a compra de títulos, que o banco geria, havendo ainda contratos de penhor de valor mobiliário, que garantiam que sempre que houvesse uma determinada desvalorização das acções e obrigações da carteira de investimento, a offshore (titular da carteira) devia reforçar a conta existente, injectando mais dinheiro.

«Levavam-nos a jantares e ofereciam-nos presentes. Diziam-nos que o dinheiro estava seguro», recorda Alexandre Guedes, que assegura não ter assinado os contratos para fazer o negócio. «Assinei alguns papéis, mas há documentos onde aparece uma assinatura que não é sequer parecida com a minha», acusa.

O empresário, que vive em Paris, estava «convencido de que o dinheiro estava a salvo», quando em 2008 abriu uma conta para onde foram transferidas todas as suas poupanças, num valor que não quer revelar publicamente.

De investidores a devedores

Alexandre só se apercebeu de que tinha ficado sem nada, quando há dois anos recebeu uma carta «a dizer que devia dinheiro ao banco». As acções em que investira tinham desvalorizado, o capital estava perdido e o banco exigia o pagamento relativo ao empréstimo concedido. A dívida ultrapassava os três milhões de euros.

«O meu pai descobriu que estava sem nada porque ligou para o banco a pedir 30 mil euros, uma quantia normal para ele, e disseram-lhe que ele não tinha esse dinheiro» – conta Alejandro Suárez, filho de um empresário das Canárias que tinha conta aberta no BCP na Madeira desde os anos 90 e que afirma ter sido alvo do mesmo «esquema», mas também não dá números sobre em quanto terá sido lesado.

O telefonema serviu só para descobrir a ponta do icebergue. «Fui à agência do Funchal, tentar perceber o que se tinha passado. Mas só para ter acesso aos extractos tive de esperar quinze dias», conta o espanhol, que não conseguiu ainda ver os papéis que terão sido assinados pelo seu pai para adquirir o produto de investimento. «Não há papéis com nada. Não há assinaturas. O dinheiro simplesmente desapareceu».

Queixas da Suíça à África do Sul

Desde 2010 que Alejandro tenta perceber o que aconteceu ao dinheiro que o seu pai levou toda uma vida a amealhar. «Mas do banco não há explicações. Nem me atendem o telefone».

Relatos como o seu vêm de vários cantos do mundo onde há comunidades de portugueses e têm chegado aos escritórios dos advogados José Carlos Augusto e Raquel Faísca. «Com dois ou três telefonemas, descobrimos que havia dezenas de casos semelhantes aos nossos», assegura Alejandro Suárez. Até agora, os dois advogados já encontraram casos semelhantes em França, na Suíça, no Brasil, na África do Sul e em Madrid.

«Em Paris, há centenas de portugueses que estão na mesma situação que eu. Muitos não sabem é a quem se dirigir para reclamar», diz Alexandre Soares, que pensa mesmo constituir uma associação para dar apoio a clientes do BCP que estejam na mesma situação.

Para já, tanto Alejandro Suárez como Alexandre Guedes vão avançar com queixas para a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), para o Banco de Portugal e para os tribunais. «Vamos interpor uma queixa-crime por burla e vamos aos tribunais cíveis pedir para anular os contratos por má-fé e cláusulas leoninas, porque toda a gestão das carteiras era feita pelo banco», avança Alejandro Suárez, que ficou indignado com a informação que descobriu nos extractos da conta do pai. «Fizeram investimentos em acções de bancos irlandeses e gregos, numa altura em que já era óbvio que era um investimento tóxico. O meu pai é economista e nunca teria permitido isso», garante. Na sua opinião, este produto financeiro foi «um esquema montado pelo banco para equilibrar a contabilidade e tapar os maus investimentos feitos em activos tóxicos».

Alejandre Suárez diz ainda estar consciente de que esta «é uma luta de um David contra um Golias», mas afirma estar disposto a ir até ao fim para recuperar as poupanças do pai. «Não tenho nada a perder. A minha família já está a passar dificuldades. Se me acusarem de difamação, então que provem que estou a mentir».

Banco culpa crise financeira

Contactado pelo SOL, o Millennium BCP explica que «o sigilo profissional» a que obedece a actividade bancária impede a instituição de «fornecer quaisquer informações ou tecer quaisquer comentários sobre o relacionamento do banco com os seus clientes, ou as actividades e negócios destes, nem sobre qualquer processo judicial que eventualmente esteja em curso».

O banco assegura, porém, não ter conhecimento «de operações comerciais efectuadas com clientes que não estejam devidamente contratualizadas». E afirma que «em nenhum momento é recusado qualquer contacto de clientes, nem o banco recusa prestar informação».

De resto, o BCP lembra que «a crise financeira global dos últimos anos resultou na perda de valor de muitos activos». E diz compreender «o desagrado dos clientes afectados por esta evolução dos mercados internacionais».

margarida.davim@sol.pt