segunda-feira, 29 de março de 2010

Cecília Meireles. Poeta: 1901 – 1964. livros, considerados perigosos à educação infantil, entre eles, (pasmem!) As aventuras de Tom Sawyer, de Mark Tw


E A VIDA PESSOAL, COMO VAI?
Jovem, elegante e muito bonita, causa frisson quando entra na Livraria São José, no Centro do Rio, à procura de algum livro. Na roda de escritores que freqüentam a tradicional casa de livros, olhos compridos seguem-na. Perguntam entre si o que faz a linda mulher com um livro tão pesado - o Corão.

Lúcia Helena Vianna
http://www.vidaslusofonas.pt/cecilia_meireles.htm

Entre 1919 e 1920 Cecília conhece na redação da Revista da Semana um jovem artista plástico português – Fernando Correia Dias – capista de primeira, ceramista, ilustrador e artista gráfico, reconhecido em Portugal e já amigo de personalidades literárias e artísticas no Brasil, como Álvaro Moreyra, Olegário Mariano, Menoti Del Picchia e Guilherme de Almeida..

Uma poeta, jovem e bela; um artista culto, viajado e sedutor. Bons personagens para uma história de amor.

Casam-se em 24 de outubro de 1922. Ela, com 20 anos, ele com 29. De novo a presença lusa na vida de Cecília. Ele faz belas ilustrações para os livros dela. Ela o presenteia com três filhas: Maria Elvira, Maria Matilde e Maria Fernanda (esta virá a ser uma famosa atriz do teatro brasileiro).

Em casa Cecília é uma mãe como as outras. Ralha, disciplina, e faz bolo coberto com calda de laranja. À noite, depois do jantar, reunidas na sala de visitas, lê histórias para as meninas (ah, ainda não havia a televisão nas nossas vidas!), pega do violão e dedilha cantigas, canta algumas, ou descreve os detalhes deste ou daquele objeto que ornamenta a casa.

O SONHO VIOLENTADO
Em 1934 a mulher brasileira conquista o direito ao voto. Cecília não se encontra entre aquelas que lutaram nas praças públicas por esse direito. Por quê? Porque é outro o seu campo de ação social. Ela está nos jornais e nas escolas. Nesse mesmo ano é chamada para dirigir o Centro Infantil, a ser instalado no Pavilhão Mourisco, em Botafogo. Vê no convite a possibilidade de pôr em prática as idéias sobre o novo modelo de educação que tanto tem defendido na imprensa. Constrói aí a primeira Biblioteca Infantil da cidade do Rio de Janeiro. Correia Dias transforma o porão numa cidade encantada. Ali as crianças podem afinal exercer livremente a sua imaginação em atividades criativas várias: pintura, leitura, música, desenho.

O sonho, porém, como todo sonho, não dura muito. Intrigas políticas levam ao fechamento da biblioteca. Violenta devassa, promovida pela Polícia Política do governo de Getúlio Vargas, destrói inclusive cerâmicas de inspiração marajoara criadas por Correia Dias. A explicação para tal vandalismo: livros, considerados perigosos à educação infantil, entre eles, (pasmem!) As aventuras de Tom Sawyer, de Mark Twain.

Uma ironia, um contra-senso, acontecer isso logo com ela. Apesar de progressista, sempre fora cética demais para aderir a qualquer partido político e bastante espiritualista para deixar-se seduzir pelo marxismo. Coisas da ditadura.

NAVEGAR É PRECISO...
“- Houve um tempo em que a minha janela dava para um canal. No canal oscilava um barco. Um barco carregado de flores. Para onde iam aquelas flores? Quem as comprava? Em que jarra, em que sala, diante de quem brilhariam, na sua breve existência? E que mãos as tinham criado? E que pessoas iam sorrir de alegria ao recebê-las? Eu não era mais criança, porém minha alma ficava completamente feliz.”

De 1934 até sua morte, Cecília Meireles faz inúmeras viagens. Nesse ano visita Portugal pela primeira vez, a convite da Secretaria de Propaganda desse país. Em 1940, conhece os Estados Unidos: dá curso de Literatura Brasileira na Universidade do Texas. Fala sobre folclore e educação no México. Em 1944 visita Uruguai e Argentina. Em 1951 volta à Europa: França, Bélgica, Holanda, Portugal.1952: Chile. 1953: Índia, Goa, Itália. 1954: Europa e, afinal, conhece os Açores. 1957: Porto Rico. 1958: Conferência em Israel.

Na Índia, recebe o título Doutor Honoris Causa da Universidade de Deli. Sua “Elegia a Gandhi” é traduzida para várias línguas:

(...)
Tua fogueira está ardendo. O Ganges te levará para longe,
Punhado de cinza que as águas beijarão infinitamente.
Que o sol levantará das águas até as infinitas mãos de Deus.
(...)

O vento está dispersando as falas de Deus entre as mil línguas de fogo.
Entre as mil rosas de cinza dos teus velhos ossos, Mahatma.


Volta das viagens com a mala repleta de versos: Poemas escritos na Índia, Poemas italianos, Oratórios de Santa Clara...

MAR PORTUGUÊS
Na agenda de viagens Portugal ocupa um lugar de relevo.

12 de outubro de 1934. O Diário de Lisboa estampa foto de Cecília e Fernando ainda a bordo do Cuyabá. Cais de Alcântara.

quinta-feira, 25 de março de 2010

António Setas. Biografia. Podemos começar a escrever uma espécie de novela


Vou falar da nascença. Tenho dois pais e três mães: o pai biológico, que me deu o seu nome (Setas) e um pai adoptivo, que me recebeu em sua casa quando eu tinha 28 meses de vida e me educou até ao dia em que fugi de casa e da tropa portuguesa, com 18 anos.
Como mães, tenho a biológica, que eu nunca vi na vida, a que me deu o seu nome (de Lacerda), esposa do pai adoptivo, e a que me deu amor durante toda a minha infância e juventude, na realidade a irmã do meu pai biológico, esposa do meu pai adoptivo, a minha "Mamã".

Podemos começar a escrever uma espécie de novela, que deixará para trás todas as corriqueiras brasileiras. Sou judeu, tenho quatro pátrias, quer dizer, não tenho nenhuma. E sinto-me muito feliz assim. Mulheres, também tenho 3 ou 4 e não tenho nenhuma. São desarrumadoras de lençóis, lavadeiras impenitentes, de roupa, louça, sentimentos e amarguras, são companheiras de passagem, que me enchem o fim da vida; são jovens e bonitas e eu penso que não mereço tanto, mas tenho-as sempre perto de mim, mesmo quando estão longe de mim. E vice-versa.

Nasceu no Lobito em 1942; fez os estudos secundários no Porto, em Portugal. Estudos na Université Libre de Bruxelles (ULB).

1967
Licenciatura em Ciências Políticas e Administrativas.

1968
Licenciatura em Ciências Sociais, secção países em vias de desenvolvimento.

1969
Candidato a Docteur en Droit (não concluído).

De 1970 a 1993, data em que regressou a Angola, não exerceu nenhuma profissão relacionada com os seus estudos. Foi sócio em Bruxelas duma empresa de média importância do ramo da hotelaria (14 empregados).
Em Luanda, depois de ter desistido de fazer negócios em virtude da complexidade do mercado e da peculiar mentalidade reinante nos meios comerciais locais, dedicou-se à escrita e obteve até à data alguns galardões:

2001
Menção honrosa do Prémio Literário Sagrada Esperança.

2002
Prémio Literário Sagrada Esperança.

2004
Prémio Cidade de Luanda de Literatura.
Menção Especial do Júri do Prémio Sagrada Esperança.

2005
Prémio Cidade de Luanda de literatura.

Imagem: blog.antesdeparis.com.br/category/frases





terça-feira, 23 de março de 2010

CECÍLIA MEIRELES. Poeta: 1901 – 1964. Adora música, especialmente canções medievais


Nome: Cecília Meireles - Nasceu no Distrito Federal (hoje cidade do Rio de Janeiro)
Casada, três filhas e dois netos.
Altura, 1,64 - Peso 59 quilos e calça sapatos número 37.
É quase vegetariana.
Não fuma, não bebe, não joga.
Não pratica nenhum esporte, mas gosta muito de caminhar e acha que seria capaz de dar a volta ao mundo a pé.
Não gosta de futebol e raramente vai ao cinema. - Gosta de bom teatro.

Lúcia Helena Vianna
http://www.vidaslusofonas.pt/cecilia_meireles.htm

Responde pontualmente todas as cartas que recebe, mas atrasa-se às vezes, em agradecer livros, porque só agradece depois de os ler.
Adora música, especialmente canções medievais, espanholas e orientais. - Poetas preferidos: todos os bons poetas.
Prefere pintores flamengos.
Dorme e acorda cedo.
Leu Eça de Queirós antes dos 13 anos.
Escreveu o seu primeiro verso aos 9 anos. Estudou canto, violão, violino e, às vezes, desenha.
Se pudesse recomeçar a vida gostaria de ser a mesma coisa, porém melhor.

Seu primeiro livro publicado foi Espectros, tinha 16 anos.
Principal defeito: uma certa ausência do mundo.
Seu tormento: desejar fazer o bem a pessoas que precisam de auxílio e não o aceitam.
Nunca viu assombração, mas gostaria de ver.
Livros, livros, livros, noite com estrelas e nuvens ao mesmo tempo, acha que não tem medo da morte. Gostaria de morrer em paz.”

TRAJECTÓRIA POÉTICA
1919. Publica o primeiro livro, Espectros. Recebe críticas elogiosas. O respeitável João Ribeiro antevê futuro promissor para a jovem escritora: “em breve, e sem grande esforço, poderá lograr a reputação de poetisa que de justiça lhe cabe.”

CECÍLIA E O MODERNISMO
Como se situa Cecília no movimento renovador na literatura e nas artes que eclode com a Semana de Arte Moderna de 1922? Que lugar ocupa junto aos poetas revolucionários dessa década, Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Menotti Del Picchia, Manuel Bandeira, Cassiano Ricardo - os poetas paulistas, alinhados em torno da Revista Klaxon?

Não, Cecília Meireles não está com eles nessa primeira hora. Não participa diretamente do movimento de ruptura e vanguardismo deflagrado pelos paulistas. Seus primeiros livros merecem a atenção de um outro grupo . O dos poetas da Revista Festa, do Rio de Janeiro, Andrade Murici, Tasso da Silveira, Murilo Araújo. Poetas que defendem uma poesia imbuída de elementos espirituais, de preocupações transcendentes, filosóficas e religiosas.

Nos livros da década de 20 - Nunca mais... e Poema dos poemas (1923), assim como Balada para El-Rei (1925) - ainda ressoam os tons simbolistas e algum formalismo parnasiano. Fiel a si mesma, sua intuição lírica não se prende a correntes literárias:

Teus olhos tristes, d’ Agnus Dei,
São minha glória e minha benção,
Depois de tudo que passei...
(...)

Sobre a minha alma, toda a vi
Teus olhos tristes; d’ Agnus Dei!

(Oferenda , Balada para El-Rei)

Com o livro Viagem, de 1938, Cecília encontra seu estilo definitivo.O verso melódico sustenta os motivos fundadores de sua poética – sonho, solidão, mar, canção, melancolia, nuvens, céu, morte... Recebe o Prêmio Poesia da Academia Brasileira de Letras. No julgamento, Cassiano Ricardo argumenta em favor dessa obra e salienta a modernidade de sua fatura.

Em 1939 Mário de Andrade escreve um artigo conclusivo sobre a poeta:.
(...) Jamais a poesia nacional alcançou tamanha evanescência tanto verbal como psíquica. (...)

Cecília está construindo sua trajetória pública. Firma-se entre os maiores poetas nacionais.

Para Eliane Zagury, a poeta representa “a mais pura tradição lírica voltada sobre si mesma, autotematizada.” •


sexta-feira, 19 de março de 2010

«Diário De Savimbi Em Posse Das FAA»



Lisboa - O malogrado líder da antiga rebelião armada, Jonas Malheiros Savimbi terá deixado as suas memórias concluídas e que terão sido apanhadas na esfrega do choque militar que envolveu a sua coluna e a unidade de elite do vigésimo batalhão das forças armadas angolanas (FAA), a 22 de Fevereiro de 2002, soube o Club-k.net de fonte familiarizada ao assunto.
Fonte: Club-k.net
Líder rebelde deixou dois volumes das suas memórias
De acordo com a fonte, as memórias encontravam-se em forma de manuscrito tendo o autor iniciado a escrever, a partir do Andulo, ao tempo em que o seu partido tinha transformado aquele município em bastião da UNITA. Até ao momento da sua morte, o líder da guerrilha trasia nos seus pertences pessoais “dois manuscritos consigo” e que cujo paradeiro “somente os soldados das FAA, envolvidos naquela operação militar poderão dar-vos a resposta”, segundo disse a fonte que vimos fazer referencia.

A mesma conta que a primeira vez que o velho deu a conhecer que estava a escrever as suas memórias aconteceu no, Andulo, no decorrer de uma palestra em 1998 tendo revelado que o primeiro volume retrataria o inicio da luta armada até o ano de 1991 e a segunda parte faria uma incursão desde 1992 até os últimos dias.

Referendiado como tendo possuído, na Jamba, uma biblioteca pessoal com cerca de 3000 livros, Jonas Malheiro Savimbi é autor de diversas obras, como “a cartilha do guerrilheiro”, editado em 1977, “ A resistência em busca de uma nova nação”, publicada em 1979, “Angola: por um futuro melhor” editado em 86, e o “guia pratico do quadro” que é uma síntese de lições elaboradas pelo mesmo e que serviram de livro de apoio no Centro de Estudos Kapesse Kafundanga, no seu antigo bastião.

Há também diversos livros sobre a sua vida, sendo o mais popular, “Savimbi: uma chave para África” escrito pelo jornalista e biografo Fred Bridland. Quando ambos se zangaram, Bridland tornou a escrever outro livro “mortes em África” retratando os episódios que levaram a tragédia do “caso Tito Chingunji”.

Na década de 80 um escritor togolês Abodoli editou, em frances, um livro sobre Jonas Savimbi que é uma entrevista em que o falecido presidente da UNITA fala da sua trajetória e aborda a perspectiva do futuro. Recentemente o seu partido editou igualmente um livro em sua homenagem contendo entrevistas e discursos feitos entre 1976 a 91 por aquele que foi o fundador do movimento do “galo negro”.

De realçar que está a ser preparada uma tese de doutoramento, sobre Jonas Savimbi e a UNITA, numa universidade britânica. O autor desta obra acadêmica é Justin Pierce, um connhecido jornalista da BBC que mora na África do Sul e que recentemente ficou largos meses no interior de Angola a desenvolver a sua pesquisa nas áreas onde terá passado Jonas Savimbi.

Ainda na senda de livros sobre a UNITA de Jonas Savimbi, apurou-se que o veterano Samuel Chiwale deste partido tem prontas o segundo volume das suas memórias e um outro dirigente Chipindo Bonga anuncio recentemente aos jovens da JURA que também esta a escrever a sua obra histórica.

quinta-feira, 18 de março de 2010

CECÍLIA MEIRELES. Poeta: 1901 – 1964. A educação (...) é uma causa que abraço com paixão assim como a poesia.



Exalava-se de ti o mesmo frio do orvalho; a mesma claridade da lua.
Vi aquele dia levantar-se inutilmente para as tuas pálpebras,
E a voz dos pássaros e a das águas correr,
- sem que a recolhessem teus ouvidos inertes.

Lúcia Helena Vianna
http://www.vidaslusofonas.pt/cecilia_meireles.htm

Onde ficou teu outro corpo? Na parede? Nos móveis? No teto?
Inclinei-me sobre o teu rosto, absoluta, como um espelho,
E tristemente te procurava.
Mas também isso foi inútil, como tudo mais.

(OC,465)

Das perdas tão precoces fica-lhe a consciência do efêmero...:

Sei que canto. E a canção é tudo,
Tem sangue eterno e asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
mais nada.

(Motivo ,Viagem)

... e o desejo de buscar algo irrevelado e distante: o sonho.
Pus o meu sonho num navio
E o navio em cima do mar;
- depois, abri o mar com as mãos
Para o meu sonho naufragar.

(Canção, Viagem)

Em 1910 conclui o curso primário na Escola Estácio de Sá com distinção e louvor. Recebe das mãos do poeta Olavo Bilac medalha de ouro, com o nome gravado. Sete anos depois termina a Escola Normal, no Instituto de Educação do Rio de Janeiro. Segue estudando sempre: música, no Conservatório Nacional, canto, violino, estuda línguas e pesquisa sobre o Oriente – história, línguas, filosofia.

É PROFESSORA COMO A MÃE
“(...) Houve um tempo em que minha janela se abria para um terreiro, onde uma vasta mangueira alargava sua copa redonda. À sombra da árvore, numa esteira, passava quase todo o dia sentada uma mulher, cercada de crianças. E contava histórias. Eu não a podia ouvir (...) foi muito longe, num idioma difícil. Mas as crianças tinham tal expressão no rosto, e às vezes faziam com as mãos arabescos tão compreensíveis, que eu participava do auditório, (...) - e me sentia completamente feliz.(...)”

- Minha mãe tinha sido professora primária (a primeira professora a formar-se no Brasil) e eu gostava de estudar nos seus livros. Velhos livros de família que me seduziam muito. Assim como as partituras e livros de música.

A educação (...) é uma causa que abraço com paixão assim como a poesia.

A criança é eterno motivo de ternura e para ela escreve Criança, meu amor (1927) e Ou isto ou aquilo (1964, post mortem):

Ou se tem chuva e não se tem sol,
Ou se tem sol e não se tem chuva!
Ou se calça a luva e não se põe o anel;
Ou se põe o anel e não se calça a luva!

Quem sobe nos ares não fica no chão,
Quem fica no chão não sobe nos ares.

É uma grande pena que não se possa
Estar ao mesmo tempo nos dois lugares!

A Educação é uma causa e um compromisso. É a sua militância. Exerce o magistério até 1951 (aposenta-se como Diretora de Escola). Defende os ideais da Nova Escola, propostos por Fernando Azevedo e Anísio Teixeira: desejam uma escola que proporcione o desenvolvimento integral da criança. De 1930 a 1934 dirige seção diária sobre Educação no jornal Diário de Notícias, do Rio de Janeiro .O seu entusiasmo leva-a a criar uma Biblioteca Infantil, no Pavilhão Mourisco, em Botafogo. É a primeira no gênero, germe para inúmeras outras que se espalham pelo Brasil.

MAS COMO DESCREVER CECÍLIA?
Eis como ela nos responde:
- Acho que não saberia fazer isso fora da poesia. Mais me agrada e diverte um flash que o João Condé, publicou nos Arquivos Implacáveis, na revista O Cruzeiro, Rio de Janeiro, em 31 de dezembro de 1955:

“Não tem medo de viajar de avião em viagens longas.
Gostaria de tornar a visitar o oriente e chegar até a China.(...).

quarta-feira, 17 de março de 2010

«Filomeno Manaças , Director Adjunto Do Jornal De Angola»



Lisboa – Filomeno Jorge Manaças é um quadro da comunicação social em Angola que goza de alguma reputação interna por ser um profissional antigo e bastante equilibrado. É figura de confiança de sectores de informação do MPLA cuja “fidelidade canina” lhe é conhecida.

Fonte: Club-k.net

No tempo do partido único tinha protagonismo próximo a um “repórter presidencial”. Em Maio de 1982 foi escolhido para integrar um grupo de jornalistas que as autoridades angolanas enviaram “em missão de serviço” ao Gabão. No decurso da missão fez uma entrevista com o Presidente daquele país, Omar Bongo que até aos dias de hoje, as autoridades daquele país conserva nos seus arquivos.

Passados setes anos, isto é em 1989 o regime indicar-lhe-ia adido de imprensa junto a Embaixada de Angola em Libreville. Nunca chegou a exercer as funções diplomáticas. Um incidente, por se explicar, provocou a sua retirada do avião no dia em que embarcaria para Libreville. O embaraço pertubou-lhe tendo sido, em simultâneo remetido ao desemprego. Victor Aleixo figura de referencia do jornalismo angolano estendeu-lhe a mão dando-lhe emprego na revista Comércio Externo.

Foi recuperado para voltar a trabalhar no Jornal de Angola, ao tempo do consulado do então director-geral, Victor Silva que fez dele chefe de departamento de informação. Com a saída de Victor Silva em substituição de Luis Fernando, Filomeno Jorge Manaças foi mantido no posto mas via- se hostilizado pela nova direcção. Teria perdido importância para um quadro “inferior” a si, Caetano Júnior, favorito do então DG, Luis Fernando. Terá entrado em desespero e passou a ser ser visto com certa freqüência num bar localicado nas redondezas do edifício do Jornal de Angola.

Em meios em cuja admiração gozava era visto como alguém que estava a ser injustiçado por terem passado por ele vários directores sem que lhe fosse dado algum protagonismo. Manuel Rabelais, então Ministro da Comunicação Social teria se solidarizado com o mesmo fazendo-o director geral adjunto para informação.

Antes de a nova nomeação lhe encontrar, Filomeno Manaças decidira aprofundar os seus conhecimentos acadêmicos tendo concluido uma licenciatura em direito pela Universidade Lusíada de Angola.

Nas relações humanas é descrito como um quadro “de educação cortez ”. Nos últimos tempos desentendeu-se com o seu superior hierárquico José Ribeiro devido a divergências com Arthur Queiros, um assessor do DG cuja reputação em Portugal e Angola realça o seu lado de difícil convivência.

Em resultado destas divergências terá adoptado uma nova postura de convivência. Hoje os seus atributos têm sido prejudicados tendo ganhado a fama de ser um chefe de informações e punições “por tudo e por nada”.

Os seus adversários internos receiam que venha ascender a director geral das edições Novembro/Jornal de Angola. Apresenta-lhe como responsável pela saída de quadros do Jornal de Angola dentre os quais, Pandi Santana, Teixeira Cândido, Jorge Airosa e Sebastião Quinza, estes últimos dois já falecidos. O caso mais recente, citado pelos adversários esta relacionado com um jornalista, José Meireles, que diz-se ter sido perseguido por F Manaças. Meireles acabou por se transferir para o Semanário “O Pais”, com o patrocino de Luis Fernando, antigo director do único diário angolano.

Filomeno Manaças é identificado em círculos “de analises e informação” como o “cérebro” da linha partidária do Jornal de Angola. (O DG J Ribeiro inclina-se na gestão da empresa). Chega a escrever editorias sobre a diplomacia que em alguns casos embaraçam a acção externa de Angola. Nas vésperas das eleições de 2008 foi criticado em círculos internacionais (P.P do Brasil) por usar as paginas do Jornal de Angola para escrever artigos que pouco dignificava a democracia em Angola. Repórteres do jornal que eram enviados para fazer cobertura da campanha de partidos políticos da oposição queixavam-se porque os seus textos eram alterados por ele pondo-o pela negativa.

Ainda na altura das eleições teria mantido contacto, com um elemento da diáspora angolana no Brasil a fim de convencê-lo a escrever textos de opinião contra a UNITA no Jornal de Angola. O elemento chegou a enviar um texto e ao mesmo tempo teria escrito no portal do Club-K, um artigo em que criticava o Presidente da Republica. Manaças dispensaria o seu interlocutor da “missão”.

Nos anos 80, cumpriu 90 dias de prisão na Comarca de Luanda por alegadas divergências com um vizinho. Ao tempo morava na Alameda Manuel Van Duném. Mais tarde passou a viver em casa da sogra no Mártires de Kifangondo. O regime através das Edições Novembro atendeu um pedido seu em arranjar-lhe em tempo recorde um apartamento. O facto em si, deixa-lhe endividado ao regime, razão pela qual não aceita criticas ao MPLA.

terça-feira, 16 de março de 2010

«Desgraça De Rabelais Na Versão Dos Seus Antigos Colaboradores»



Lisboa - Na versão de altos funcionários da Comunicação Social em Angola, a desgraça que Manuel Rabelais enfrenta esta associada ao repartimento de 30 milhões de dólares aprovados que seriam para a compra, em França de carros de apoio técnico para cobertura do CAN 2010.

Fonte: Club-k.net

Manuel Rabelais segundo esta versão terá usado “apenas” seis milhões de USD que usou para alugar os carros a uma empresa portuguesa. (O Preço real do aluguer terá sido três milhões de USD e o mesmo terá persuadido a empresa portuguesa a apresentar uma factura de seis milhões em beneficio de uma comissão 50% dos valores).

De acordo com os seus antigos colaboradores, o seu problema esta em como justificar os restantes USD 24 milhões que terão sobrado do dinheiro que seria para a compra do material.

Os mesmos entendem que as autoridades angolanas não irão sacrificar o antigo Ministro perante a justiça pelas seguintes razões que apresentam:

- Ao ser julgado como “ex Ministro”, e numa processo ligado a corrupação o seu processo afetará a imagem do governo.
- Rabelais pode defender-se apresentando, diante das instancias judiciais, uma lista contendo supostos nomes de elementos de confiança do PR (partido e Presidência) que segundo dizem recebiam periódicas ofertas ou presentes do antigo ministro.

Relativamente a sua exoneração, os mesmo dizem que ele já pressentia que iria sair por isso suspeitam que algumas medidas de apropriação de fundos do estado para seu beneficio pessoal esteja associada a isto.

Entendem igualmente de que “muito” que se circula em Luanda a respeito do mesmo é reflexo de um cenario irreal destinado a abalá-lo ou a criar a imagem que o regime esteja a sacrificá-lo apenas para “alegrar”, a comunidade da comunicação social que se mostra farta do antigo Ministro.

Hélder Barber criticado por imaturismo

Por outro lado estes antigo colaborador tem reprovado a atitude de Hélder Barber, da comissão de gestão da TPA a quem chamam de “miúdo” face ao suposto procedimento adoptado. Helder Barber foi chamado recentemente para apresentar contas sobre a gestão da TPA e no momento atribuiu responsabilidades da “sua mà gestão”, a antiga direção liderada pelo economista Fernando Cunha. Este foi chamado e soube justificar-se. Hélder Barber é desencontrado para integrar a futura direcção da TPA que poderá ser dirigida por Rui Cunha próximo a Rui Falcão, Secretario para informação do MPLA.

RNA alvo de inspecção

O problema de gestão estende-se para a RNA que esta em vias de ser alvo de uma inspeção. Foi notada a existência de duas folhas de salários. Uma irreal em que apresenta funcionários X a ganharem 200 mil kwanzas e outra original em que os mesmos são apresentados como vencendo um valor inferior ao da folha que vai ao orçamento geral do estado. No seguimento da inspecção serão observados atrasos de salários do presente mês.

domingo, 14 de março de 2010

Biografia de Emílio Salgari, 21 de Agosto de 1862, 25 de Abril de 1911


Emílio Salgari (que em Italiano é pronunciado Sálgari, mas deveria pronunciar-se Salgári visto derivar de "salgár", o nosso "salgueiro") nasceu em Verona a 21 de Agosto de 1862 no seio de uma família de pequenos comerciantes.

http://salgari.com.sapo.pt/Biografia.html

Em 1879 entrou no Regio Istituto Tecnico e Nautico P. Sarpi, em Veneza, mas não chegou a obter o título de capitão de marinha como era seu desejo. (Este desejo levou-o a estimar que o tratassem por Capitano durante toda a sua vida.) Durante a sua estadia no Istituto navegou três meses no mar Adriático a bordo do navio Italia Una. Esta foi a sua experiência marítima mais significativa que, juntamente com os seus estudos no Instituto, lhe deram muitos dos conhecimentos náuticos que utiliza na sua obra.

O seu primeiro trabalho como escritor foi uma curta novela intitulada I selvaggi della Papuasia, que escreveu em 1882 (tinha então vinte anos) e foi publicada num semanário milanês em Julho de 1883. Nesse ano escreve a novela Tay-See para o periódico veronês La Nuova Arena, mais tarde publicada com o título de La Rosa del Dong-Giang. Em Outubro do mesmo ano inicia a publicação de La Tigre della Malesia que abre o ciclo Sandokan e conhece um notável sucesso. Apesar disso, o retorno económico que recebe é pouco significativo. Em 1884 viu publicado o seu primeiro romance, La favorita del Mahdi, que tinha escrito em 1877.

Graças ao êxito destas obras consegue a posição de redactor permanente no La Nuova Arena, posição que mantém até 1893. Neste ano ocorre um incidente infeliz: ofendido por ter sido chamado de mozo num artigo do periodista Giuseppe Biasioli, desafiou-o para um duelo. Como resultado Biasioli teve de ser hospitalizado e Salgari esteve preso durante seis meses.
Em 1889 suicidou-se o pai de Salgari, iniciando uma cadeia impressionante de suicídios familiares que inclui o próprio escritor (1911) e os seus filhos Romero (1931) e Omar (1963).

Depois de uma paixoneta por uma jovem inglesa de família nobre, que lhe haveria de servir de modelo de heroína dos seus romances, casa em 1892 com a actriz de teatro Ida Peruzzi (a quem sempre chamou carinhosamente Aida como na ópera de Verdi). Nesse mesmo ano nasce a sua filha Fatima; mais tarde os seus filhos Nadir (1894), Romero (1898) e Omar (1900). Em 1892 ocorre também a sua mudança para Turim a fim de trabalhar para a editorial Speirani onde se mantém até à sua morte, exceptuando uma curta permanência em Génova.

Em 1897 o rei Humberto confere-lhe o título honorífico de Cavaliere della Corona d’Italia.
Em 1907 passou a trabalhar para a editorial Bemporad para a qual escreveu dezanove novelas. O seu êxito entre o público juvenil seguiu crescendo, atingindo algumas das suas novelas tiragens de 100.000 exemplares.

Apesar do trabalho incansável de Salgari e a sua preocupação em proporcionar um mínimo de condições à sua família, as suas dificuldades económicas não abrandaram, o que é atribuído a uma certa atitude ingénua do escritor nas suas relações com os editores. As dificuldades económicas, agravadas entretanto com a doença mental da esposa que teve de ser internada, acabaram por conduzi-lo ao suicídio em 25 de Abril de 1911, praticado à maneira samurai (abriu o ventre com uma faca). Tinha então 48 anos de idade. Deixou escritas três cartas, dirigidas respectivamente aos seus filhos, aos seus editores e aos directores dos periódicos de Turim. A carta dirigida aos editores é bastante eloquente:

"Aos meus editores: A vós que haveis enriquecido com a minha pele, mantendo-me a mim e à minha família numa contínua semi-miséria ou ainda pior, só vos peço que em compensação dos lucros que vos proporcionei tomeis a cargo o meu funeral. Saúdo-vos quebrando a pena. Emilio Salgari"

Imagem: http://img2.pict.com/86/6d/e0/1695156/0/y305u.jpg

CECÍLIA MEIRELES. Poeta: 1901 – 1964. silêncio e solidão. Preciso deles para escrever.”


HISTÓRIA DA VIDA
“A vida só é possível reinventada”
“- Houve um tempo em que a minha janela se abria para um chalé. Na ponta do chalé brilhava um grande ovo de louça azul. Nesse ovo costumava pousar um pombo branco. Ora, nos dias límpidos, quando o céu ficava da mesma cor do ovo de louça, o pombo parecia pousado no ar. Eu era criança, achava essa ilusão maravilhosa, e sentia-me completamente feliz. (...)”

Lúcia Helena Vianna
http://www.vidaslusofonas.pt/cecilia_meireles.htm

(Arte de ser feliz, Escolha seu sonho)

Lá está ela. Janela aberta ao sol. Observo seu vulto à distância . Percebo a respiração profunda que sorve lentamente o ar fresco e puro da manhã. Debruça-se sobre o parapeito e fica a contemplar o jardim. Parece estar completamente feliz. Respeito este momento de sua intimidade, espero um tanto para me aproximar e provocar esta conversa imaginária, mas perfeitamente possível. Ouço o chamado em voz quase imperceptível: Vinde ouvir a história da vida ...

INFÂNCIA
A avó açoriana marca a sensibilidade de Cecília. Entretanto, o que está a acontecer no resto do mundo? Consulta a Tábua Cronológica.

Dia 7 de novembro de 1901. Cecília Meireles nasce na Rua da Colina, Tijuca, Rio de Janeiro. Signo: Escorpião. Signo de Água, regido por Marte e Plutão. Marte impulsiona a luta, as ações e realizações; Plutão traz perdas, transformações profundas e capacidade de se reerguer frente às intempéries.

Fica órfã muito cedo. Não chega a conhecer o pai - Carlos Alberto de Carvalho Meireles - falecido aos 26 anos, três meses antes de ela nascer. Não conheceu os irmãozinhos, Vítor, Carlos e Carmem:

“- Todos morreram antes de meu nascimento. E minha mãe (Matilde Benevides Meirelles) se foi quando eu tinha apenas três anos. Fui criada por minha avó materna, Jacinta Garcia Benevides, nascida nos Açores, Ilha de São Miguel”.

Essas e outras perdas ocorridas na família dão à pequena Cecília intimidade com a morte e a certeza de que nada é para sempre. Atributos para sua reserva lírica:

“- Minha infância de menina sozinha deu-me duas coisas que parecem negativas, e foram sempre positivas para mim: silêncio e solidão. Preciso deles para escrever.”

Enquanto borda, D. Jacinta canta cantigas antigas da Ilha de São Miguel. No imaginário infantil começa a tecer-se o tapete feito de lirismo popular: a voz da avó vai lhe ensinando os enigmas da vida cifrados nos ditos populares:

- Nem por muito madrugar amanhece mais cedo,
- Duro com duro não faz bom muro,
- Uma andorinha só não faz verão.

“- Tudo quanto recebi, naquele tempo, vi, ouvi, toquei, senti, - perdura em mim com uma intensidade poética inextinguível ...”.

À memória desta avó mítica, falecida em 1932, Cecília dedica uma “Elegia”:
“Minha primeira lágrima caiu dentro de teus olhos”.

Tive medo de a enxugar: para não saberes que havia caído.

No dia seguinte, estavas imóvel, na tua forma definitiva,

Modelada pela noite, pelas estrelas, pelas minhas mãos.

sexta-feira, 12 de março de 2010

«Demolições No Lubango Provocam Sete Mortes»


Sexta, 12 Março 2010 21:05
Lubango - As demolições de casas ao longo da linha férrea no perímetro de 50 metros que iniciaram Domingo passado, 7 de Março, continuaram até hoje. Fontes seguras disseram que praticamente o eixo urbano da linha já foi todo limpo – casas demolidas. As últimas demolições feitas ontem toleraram a demolição de casas que estão no perímetro de 20 a 30 metros, ao contrário dos primeiros dias.


A Emissora Provincial da Huíla e a TPA ao nível local continuam a não divulgar informações sobre o que está ocorrer nas demolições, que é totalmente de interesse público. Também, nenhum correspondente da rede nacional pública de rádio difusão passou esta notícia. Hoje pela manhã, passou uma peça na EPH duma entrevista de uma mulher desalojada que dizia ter sido desalojada e ter recebido condições para reerguer a sua casa noutro lugar.

Não houve até agora nenhum balanço do Governo sobre estas demolições. Várias fontes falam de 7 mortes no total, sendo uma criança que caiu do camião que transportava pessoas desalojadas, uma criança que foi atropelada por carros do Governo que fugiam o apedrejamento de populares no bairro Canguinda, no Domingo, dia 7, um adulto que desmaiou aquando da demolição da sua casa e acabou por morrer hoje no hospital Central. Entretanto, a família do finado já está na Tchavola, lugar onde está a ser depositada a população desalojada, mas não tem lugar para fazer o óbito. Outras pessoas que morreram incluem crianças que teriam ficado numa das casas demolidas . Estão a ser distribuídas parcelas de terras aos desalojados e até hoje já tinham sido entregues cerca de 500 parcelas. Nem todos tiveram acesso as tendas que não chegaram para todos. Certamente que deve haver gente que não foi para Tchavola, mas sim reinstalou-se na cidade pelos seus próprios meios, embora tendo direito e acesso ao terreno.

Há informações de tensões e conflitos entre os habitantes locais da Tchavola e os novos inquilinos que estão a ser depositados lá, por causa da terra. Ou seja, as lavras dos habitantes locais estão a ser cedidas aos desalojados e isso está criar problemas entre eles. Diz-se que é o soba local que está a liderar a insatisfação e rejeição popular.

Hoje de manha a Emissora Provincial da Huíla passou uma noticia do corresponde do município de Quipungo dizendo que as demolições de casas que estão no mesmo perímetro não permitido ao longo da linha férrea e as casas que foram construídas por debaixo da Linha de alta tensão que conduz energia eléctrica da barragem da Matala para o Lubango e Namibe, também vão ser demolidas em breve.

Ainda hoje de manha, o Consórcio Terras da Huíla, uma Rede Social de Organizações da Sociedade Civil que inclui Igrejas na Huíla, fez uma reunião para analisar o contexto e a situação concreta das demolições e vai emitir um comunicado que expressa a sua posição sobre a situação.

Fala-se em surdina que as ordens de demolição de casas partem do Governo Central, nomeadamente do Gabinete Nacional de Reconstrução. Para além da limpeza ao longo da linha férrea fala-se da previsão de projectos turísticos ao longo da cordilheira montanhosa onde se situa a estátua do Cristo Rei. Portanto, estas demolições fazem parte dum processo faseado, isto é, a segunda fase inclui as casas que estão supostamente em zonas de risco como o bairro suburbano do Ferrovia, que já receberam notificação do governo para saírem em 15 dias.

Lubango, 11 de Março de 2010

quarta-feira, 10 de março de 2010

A minha modesta homenagem a Alda do Espírito Santo




Biografia
Alda Espirito Santo, também conhecida por Alda Graça, nasceu em São Tomé em 1926 e teve a sua educação em Portugal. Ainda freqüentou a Universidade, mas teve que abandonar, em parte devido às suas atividades políticas, mas também por motivos econômicos.

http://betogomes.sites.uol.com.br/AldaEspiritoSanto.htm

Sendo uma das mais conhecidas poetizas africanas de língua portuguesa, ocupou alguns cargos de relevo nos governos de São Tome e Príncipe, nomeadamente foi Ministra da Educação e Cultura, Ministra da Informação e Cultura e Deputada. Os seus poemas aparecem nas mais variadas antologias lusófonas, bem como em jornais e revistas de São Tomé e Príncipe, Angola e Moçambique. Depois de publicar "O Jogral das Ilhas, em 1976, publicou em 1978 "É nosso o solo sagrada da terra", o qual é até ao momento o seu trabalho mais importante.

Obra poética:
O Jogral das Ilhas, 1976, São Tomé, e. a.;
É Nosso o Solo Sagrada da Terra, 1978, Lisboa, Ulmeiro.

Angolares1
Canoa frágil, à beira da praia,
panos preso na cintura,
uma vela a flutuar...
Caleima2, mar em fora
canoa flutuando por sobre as procelas das águas,
lá vai o barquinho da fome.
Rostos duros de angolares1
na luta com o gandu3
por sobre a procela das ondas
remando, remando
no mar dos tubarões
p'la fome de cada dia.

Lá longe, na praia,
na orla dos coqueiros
quissandas4 em fila,
abrigando cubatas,
izaquente5 cozido
em panela de barro.

Hoje, amanhã e todos os dias
espreita a canoa andante
por sobre a procela das águas.
A canoa é vida
a praia é extensa
areal, areal sem fim.
Nas canoas amarradas
aos coqueiros da praia.
O mar é vida.
P'ra além as terras do cacau
nada dizem ao angolar1
"Terras tem seu dono".

E o angolar1 na faina do mar,
tem a orla da praia
as cubatas de quissandas4
as gibas pestilentas
mas não tem terras.

P'ra ele, a luta das ondas,
a luta com o gandu3,
as canoas balouçando no mar
e a orla imensa da praia.

(É nosso o solo sagrado da terra)
1 - Angolar: grupo étnico são-tomense. Segundo a tradição portuguesa, sem confirmação científica, teria naufragado, em frente ao extremo sul da Ilha de São Tomé, um barco transportando cativos (1550). Estes, logrando alcançar a costa, teriam dado origem ao Povo Angolar. Admite-se, todavia, que os angolares tenham alcançados a Ilha por seus próprios meios, provenientes do Continente Africano;

2 - Caleima: ondulação forte do mar;
3 - Gandu: tubarão;
4 - Quissanda: tapumes feitos com folhas de palmeira;
5 - Izaquente: frutos cujas sementes são caracterizadas por um alto poder energético.

Avó Mariana
Avó Mariana, lavadeira
dos brancos lá da Fazenda
chegou um dia de terras distantes
com seu pedaço de pano na cintura
e ficou.
Ficou a Avó Mariana
lavando, lavando, lá na roça
pitando seu jessu1
à porta da sanzala
lembrando a viagem dos seus campos de sisal.

Num dia sinistro
p'ra ilha distante
onde a faina de trabalho
apagou a lembrança
dos bois, nos óbitos
lá no Cubal distante.

Avó Mariana chegou
e sentou-se à porta da sanzala2
e pitou seu jessu1
lavando, lavando
numa barreira de silêncio.

Os anos escoaram
lá na terra calcinante.

- "Avó Mariana, Avó Mariana
é a hora de partir.
Vai rever teus campos extensos
de plantações sem fim".

- "Onde é terra di gente?
Velha vem, não volta mais...
Cheguei de muito longe,
anos e mais anos aqui no terreiro...
Velha tonta, já não tem terra
Vou ficar aqui, minino tonto".

Avó Mariana, pitando seu jessu1
na soleira do seu beco escuro,
conta Avó Velhinha
teu fado inglório.
Viver, vegetar
à sombra dum terreiro
tu mesmo Avó minha
não contarás a tua história.

Avó Mariana, velhinha minha,
pitando seu jessu1
na soleira da senzala
nada dirás do teu destino...
Porque cruzaste mares, avó velhinha,
e te quedaste sozinha
pitando teu jessu1?

(É nosso o solo sagrado da terra)

1 - Jessu: cachimbo de barro;
2 - Sanzala: aldeia.
Descendo o meu bairro

(É nosso o solo sagrado da terra)

Em torno da minha baía
Aqui, na areia,
Sentada à beira do cais da minha baía
do cais simbólico, dos fardos,
das malas e da chuva
caindo em torrentes
obre o cais desmantelado,
caindo em ruínas
eu queria ver à volta de mim,
nesta hora morna do entardecer
no mormaço tropical
desta terra de África
à beira do cais a desfazer-se em ruínas,
abrigados por um toldo movediço
uma legião de cabecinhas pequenas,
à roda de mim,
num vôo magistral em torno do mundo
desenhando na areia
a senda de todos os destinos
pintando na grande tela da vida
uma história bela
para os homens de todas as terras
ciciando em coro, canções melodiosas
numa toada universal
num cortejo gigante de humana poesia
na mais bela de todas as lições:

HUMANIDADE

(É nosso o solo sagrado da terra)

Ilha nua
Coqueiros e palmares da Terra Natal
Mar azul das ilhas perdidas na conjuntura dos séculos
Vegetação densa no horizonte imenso dos nossos sonhos.
Verdura, oceano, calor tropical
Gritando a sede imensa do salgado mar
No deserto paradoxal das praias humanas
Sedentas de espaço e de vida
Nos cantos amargos do ossobô1
Anunciando o cair das chuvas
Varrendo de rijo a terra calcinada
Saturada do calor ardente
Mas faminta da irradiação humana
Ilhas paradoxais do Sul do Sará
Os desertos humanos clamam
Na floresta virgem
Dos teus destinos sem planuras...

(É nosso o solo sagrado da terra)

1 - 0ssobô: ave de belas cores, cujo canto, segundo a tradição, anuncia chuva. Tem ainda a força mítica que o associa a regiões paradisíacas.

Lá no água grande
Lá no "Água Grande" a caminho da roça
negritas batem que batem co'a roupa na pedra.
Batem e cantam modinhas da terra.

Cantam e riem em riso de mofa
histórias contadas, arrastadas pelo vento.

Riem alto de rijo, com a roupa na pedra
e põem de branco a roupa lavada.

As crianças brincam e a água canta.
Brincam na água felizes...
Velam no capim um negrito pequenino.

E os gemidos cantados das negritas lá do rio
ficam mudos lá na hora do regresso...
Jazem quedos no regresso para a roça.

(É nosso o solo sagrado da terra)

No mesmo lado da canoa
As palavras do nosso dia
são palavras simples
claras como a água do regato,
jorrando das encostas ferruginosas
na manhã clara do dia-a-dia.

É assim que eu te falo,
meu irmão contratado numa roça de café
meu irmão que deixas teu sangue numa ponte
ou navegas no mar, num pedaço de ti mesmo em luta
[com o gandu1
Minha irmã, lavando, lavando
p'lo pão dos seus filhos,
minha irmã vendendo caroço
na loja mais próxima
p'lo luto dos seus mortos,
minha irmã conformada
vendendo-se por uma vida mais serena,
aumentando afinal as suas penas...
É para vós, irmãos, companheiros da estrada
o meu grito de esperança
convosco eu me sinto dançando
nas noites de tuna
em qualquer fundão, onde a gente se junta,
convosco, irmãos, na safra do cacau,
convosco ainda na feira,
onde o izaquente2 e a galinha vão render dinheiro.
Convosco, impelindo a canoa p'la praia
juntando-me convosco
em redor do voador panhá3
juntando-me na gamela
vadô tlebessá4
a dez tostões.

Mas as nossas mãos milenárias
separam-se na areia imensa
desta praia de S. João
porque eu sei, irmão meu, tisnado como eu p'la vida,
tu pensas irmão da canoa
que nós os dois, carne da mesma carne
batidos p'los vendavais do tornado
não estamos do mesmo lado da canoa.

Escureceu de repente.
Lá longe no outro lado da Praia
na ponta de S. Marçal
há luzes, muitas luzes
nos quixipás5 sombrios...
O pito dóxi6 arrepiante, em sinais misteriosos
convida à unção desta noite feiticeira...
Aqui só os iniciados
no ritmo frenético dum batuque de encomendação
aqui os irmão do Santu
requebrando loucamente suas cadeiras
soltando gritos desgarrados,
palavras, gestos,
na loucura dum rito secular.

Neste lado da canoa, eu também estou irmão,
na tua voz agonizante, encomendando preces, juras,
[ Maldições.

Estou aqui, sim, irmão
nos nozados7 sem tréguas
onde a gente joga
a vida dos nossos filhos.
Estou aqui, sim, meu irmão
no mesmo lado da canoa.

Mas nós queremos ainda uma coisa mais bela.
Queremos unir as nossas mãos milenárias,
das docas dos guindastes
das roças, das praias
numa liga grande, comprida
dum pólo a outro da terra
p'los sonhos dos nossos filhos
para nos situarmos todos do mesmo lado da canoa.

E a tarde desce...
A canoa desliza serena,
rumo à Praia Maravilhosa
onde se juntam os nossos braços
e nos sentamos todos, lado a lado,
na canoa das nossas praias.

(É nosso o solo sagrado da terra)

1 - Gandu: tubarão;
2 - Izaquente: frutos cujas sementes são caracterizadas por um alto poder energético;
3 - Vadô Panhá: espécie de peixe voador que no tempo seco se apanha na praia;
4 - Vadô tlebessá: peixe voador que se distingue do vadô panhá por apenas se pescar em alto mar;
5 - Quixipás: barracas feitas com folhas de palmeira;
6 - Pitu dóxi: "apito doce", literalmente. Flautista virtuoso;
7 - Nozado: velório.

Onde estão os homens caçados neste vento de loucura
O sangue caindo em gotas na terra
homens morrendo no mato
e o sangue caindo, caindo...
Fernão Dias para sempre na história
da Ilha Verde, rubra de sangue,
dos homens tombados
na arena imensa do cais.
Ai o cais, o sangue, os homens,
os grilhões, os golpes das pancadas
a soarem, a soarem, a soarem
caindo no silêncio das vidas tombadas
dos gritos, dos uivos de dor
dos homens que não são homens,
na mão dos verdugos sem nome.
Zé Mulato, na história do cais
baleando homens no silêncio
do tombar dos corpos.
Ai, Zé Mulato, Zé Mulato.
As vítimas clamam vingança
O mar, o mar de Fernão Dias
engolindo vidas humanas
está rubro de sangue.
- Nós estamos de pé -
nossos olhos se viram para ti.
Nossas vidas enterradas
nos campos da morte,
os homens do cinco de Fevereiro
os homens caídos na estufa da morte
clamando piedade
gritando pela vida,
mortos sem ar e sem água
levantam-se todos
da vala comum
e de pé no coro de justiça
clamam vingança...
... Os corpos tombados no mato,
as casas, as casas dos homens
destruídas na voragem
do fogo incendiário,
as vias queimadas,
erguem o coro insólito de justiça
clamando vingança.
E vós todos carrascos
e vós todos algozes
sentados nos bancos dos réus:
- Que fizeste do meu povo?...
- Que respondeis?
- Onde está o meu povo?
...E eu respondo no silêncio
das vozes erguidas
clamando justiça...
Um a um, todos em fila...
Para vós, carrascos,
o perdão não tem nome.
A justiça vai soar,
E o sangue das vidas caídas
nos matos da morte
ensopando a terra
num silêncio de arrepios
vai fecundar a terra,
clamando justiça.
É a chamada da humanidade
cantando a esperança
num mundo sem peias
onde a liberdade
é a pátria dos homens...

(É nosso o solo sagrado da terra)

Para lá da praia
Baía morena da nossa terra
vem beijar os pezinhos agrestes
das nossas praias sedentas,
e canta, baía minha
os ventres inchados
da minha infância,
sonhos meus, ardentes
da minha gente pequena
lançada na areia
da praia morena
gemendo na areia
da Praia Gamboa.

Canta, criança minha
teu sonho gritante
na areia distante
da praia morena.

Teu teto de andala1
à berma da praia
teu ninho deserto
em dias de feira,
mamã tua, menino
na luta da vida.

Gamã pixi2 à cabeça
na faina do dia
maninho pequeno, no dorso ambulante
e tu, sonho meu, na areia morena
camisa rasgada,
no lote da vida,
na longa espera, duma perna inchada

Mamã caminhando p'ra venda do peixe
e tu, na canoa das águas marinhas
- Ai peixe à tardinha
na minha baía
mamã minha serena
na venda do peixe
pela luta da fome
da gente pequena.

(É nosso o solo sagrado da terra)

1 - Andala: folha de palmeira;

2 - Gamã pixi: gamela com peixe.

CECÍLIA MEIRELES. Poeta: 1901 – 1964. Eu canto porque o instante existe e a minha vida está completa


Quando tudo aconteceu...
1901: 7 de novembro, Rio de Janeiro: nasce Cecília Meireles. Seus pais: Carlos Alberto de Carvalho Meireles e Matilde Benevides. Ambos morreram cedo: o pai, três meses antes do nascimento da filha; a mãe faleceu quando Cecília tinha 3 anos de idade. Os avós paternos: João Correia Meireles, português, funcionário da Alfândega do Rio de Janeiro, e D. Amélia Meireles, ambos falecidos.

Lúcia Helena Vianna
http://www.vidaslusofonas.pt/cecilia_meireles.htm

A avó materna, D.Jacinta Garcia Benevides, açoriana, cuidou da menina, como tutora. – 1910: Termina o Curso Primário, na Escola Estácio de Sá. Recebe medalha de ouro das mãos do poeta Olavo Bilac, então Inspetor Escolar do Distrito Federal. Na adolescência: paixão pelos livros. Estuda história, línguas, filosofia, estudos orientais, que continuaram sempre. Nasce o entusiasmo pelo Oriente. – 1917: Diploma-se na Escola Normal (Instituto de Educação). Desde então exerce o Magistério. Segue os estudos no Conservatório Nacional de Música. – 1919: O primeiro livro de versos, Espectros, recebe elogios da crítica. – 1922: Casa-se com o artista plástico português, Fernando Correia Dias.

Desse casamento nascem três filhas: Maria Elvira, Maria Matilde e Maria Fernanda (esta virá a ser uma famosa atriz do teatro brasileiro). – 1924: Escreve Criança meu amor, adotado pelas escolas municipais. – 1929: Edita a conferência O espírito vitorioso, apresentada no Concurso para vaga na cátedra de Literatura Brasileira, no Instituto de Educação. – 1930/1934: Atividade jornalística intensa: dirige uma página diária sobre Educação no jornal Diário de Notícias. Faz críticas ao Governo de Getúlio Vargas em defesa de uma nova escola. – 1934: Passa a dirigir o Instituto Infantil, no Pavilhão Mourisco. Cria uma Biblioteca Infantil. Neste mesmo ano faz a primeira viagem ao exterior.Visita Portugal acompanhada do marido, a convite da Secretaria de Propaganda desse país. Intensa atividade cultural em Lisboa e Coimbra. Nascem grandes amizades. – 1935: Leciona Literatura Brasileira na recém fundada Universidade do Distrito Federal (hoje Universidade Federal do Rio de Janeiro). Suicídio do marido. – 1936/1938: Dificuldades econômicas lhe exigem muito trabalho: ministra cursos de Técnica e Crítica Literária; sobre Literatura Comparada e Literatura Oriental. Escreve regularmente em vários jornais (A Manhã, Correio Paulistano, A Nação).Trabalha no departamento de Imprensa e Propaganda como responsável pela revista Travel in Brazil. – 1938: Seu livro Viagem recebe o Prêmio Poesia da Academia Brasileira de Letras.

Conhece o médico Heitor Grilo. Casam-se no ano seguinte. Viagem aos Estados Unidos e México. Ministra cursos de Literatura Brasileira na Universidade do Texas. – 1939: Viagem é editado em Lisboa. – 1940: Nos Estados Unidos leciona Literatura e Cultura Brasileira na Universidade do Texas. Faz conferências sobre literatura, folclore e educação no México. – 1942/1944: Publica Vaga Música. No jornal A Manhã, escreve importantes estudos sobre folclore infantil. – 1944: Visita Uruguai e Argentina. – 1945: Publica Mar Absoluto. A família muda-se para o Cosme Velho. – 1948: Instalação da Comissão Nacional de Folclore. É tratada como autoridade no assunto. – 1949: Mais um livro: Retrato Natural. – 1951:

Secretaria o Primeiro Congresso Nacional de Folclore (Rio Grande do Sul). Viagem à Europa (França, Bélgica, Holanda e Portugal). Publica Amor em Leonoreta. – 1952: Recebe o Grau de Oficial da Ordem do Mérito, do Chile. Sócia honorária do Gabinete Português de Leitura, do Instituto Vasco da Gama, de Goa, na Índia. Lança: Doze noturnos de Holanda & O Aeronauta. – 1953: Afinal sai O Romanceiro da Inconfidência, a obra prima. A convite do primeiro ministro Nehru, participa de Simpósio sobre a obra de Gandhi, na Índia. Recebe título Doutor Honoris Causa pela Universidade de Deli. Compõe Poemas escritos na Índia. Passagem pela Itália: nascem os Poemas Italianos. Índia, Goa e Europa... Pequeno Oratório de Santa Clara. – 1954: Novas viagens: Europa e, agora, Açores. – 1956: Publica Canções. – 1957: Viaja a Porto Rico. – 1958: Faz conferência em Israel. Visita aos lugares santos. Publicação da Obra Completa pela editora José Aguilar. – 1960: Publica Metal Rosicler. – 1963: O último livro publicado em vida, Solombra. – 1964: Morre em 9 de novembro. Repousa no Cemitério São João Batista (Botafogo, Rio de Janeiro) túmulo n.8951, quadra 14. Uma lápide simples contém apenas nome e data, 1901-1964. – 1965: A Academia Brasileira de Letras confere-lhe o Prêmio Machado de Assis, post mortem, pelo conjunto de sua obra.

Seus livros
Espectros, 1919 l Nunca mais... e Poema dos Poemas, 1923 l Baladas para El-Rei, 1925 l Criança, meu amor, 1927 l Viagem, 1939 l Vaga música, 1942 l Mar Absoluto e Outros Poemas, 1945 l Retrato natural, 1949 l Amor em Leonoreta, 1951 l Dez noturnos de Holanda & O aeronauta, 1952 l Romanceiro da Inconfidência, 1953 l Pequeno Oratório de Santa Clara, 1955 l Pistóia, Cemitério Militar Brasileiro, 1955 l Canções, 1956 l Romance de Santa Cecília, 1957 l Obra poética, 1958 l Metal Rosicler, 1960 l Poemas escritos na Índia, 1961 l Solombra, 1963 l Ou isto ou aquilo, 1964 l Crônica trovada da cidade de Sam Sebastiam, 1965 l Poemas italianos, 1968 l Ou isto ou aquilo & Inéditos, 1969 l Cânticos, 1981 l Oratório de Santa Maria Egipcíaca, 1986 .

Desde 1998 vem sendo desenvolvido projeto de publicação de toda a obra em prosa da poeta, coordenado pelo camonista Leodegário de Azevedo Filho.
Em 2001, em comemoração ao centenário de nascimento, a Editora Nova Fronteia, do Rio de Janeiro, publica Poesia Completa, em dois volumes. Edição organizada por Antonio Carlos Secchin.

terça-feira, 9 de março de 2010

Enid Blyton


Enid Mary Blyton, nasceu a 11 de Agosto de 1897, num pequeno andar sobre uma loja em Lordship Lane, zona Este de Dulwich em Londres. Com alguns meses de idade a sua família mudou-se para Beckenham em Kent. Local onde Enid e os seus irmãos, Hanly e Carcey passaram a sua infância. Hoje Beckenham é uma cidade activa, mas no século passado foi uma localidade calma e rural.

http://www.misteriojuvenil.com/BlytonBiografia.htm

Enid foi uma apreciadora da história natural e sempre recordava os passeios que fazia com o seu pai Thomas Blyton. Ele ensinou-a tudo sobre a natureza, animais, insectos, aves e plantas, que viviam nos campos em volta da sua casa. O seu entusiasmo pelo estudo da natureza foi muito importante para o resto da sua vida, onde aplicou os conhecimentos em muitos livros, histórias poemas e artigos.

Também gostava muito de ler. Lia tudo o que lhe caia nas mãos, até enciclopédias difíceis. Com o incentivo do pai começou a inventar a suas próprias histórias e poemas.
Tal como gostava de escrever, também detestava ajudar em casa e cuidar dos seus irmãos mais pequenos. A sua mãe Theresa não compartilhava nenhum interesse de Enid ou do seu pai. Com o tempo Thomas e Theresa concluíram que já não tinhamnada em comum, separando-se quando Enid tinha 13 ou 14 anos, tendo ficado com a sua mãe. Enid sofreu muito com a saídado pai. Thomas foi um bom pianista e sempre tinha planeado uma carreira musical para a sua filha, mas em 1916 Enid decidiu que a única coisa que queria era estudar para professora. Telefonou ao pai e convenceu--o a assinar os papeis necessários e um ano depois começou a estudar para professora primária, em Ipswich High Scholl.
Tempos depois, nas suas horas vagas começou a escrever seriamente.
No início Enid Blyton teve dificuldade em encontrar um editor para publicar as suas histórias e durante alguns anos o seu trabalho foi negado constantemente.
Como uma pessoa determinadaEnid não desistiu e continuou a escrever em cada minuto que tinha livre. Finalmente publicou um pequeno poema numa revista editada por Arthur Mee e um outro na “Nash’s Magazine”. Até hoje não se sabe qual dos poemas foram, pois na altura foram publicados sem o nome do autor. O primeiro poema com o titulo “Have You...!” (”Tu tens...”) apareceu em Março de 1917 no “Nash’s Magazine”. Uns meses depois na mesma revista publicou outro, chamado “My Summer Prayer” (O Meu Desejo de Verão).
Também quando terminou os seus estudos e começou a trabalhar como professora, Enid continuou a escrever. Em Fevereiro de 1922 começou a escrever artigos para a revista “Teachers World”. No início os seus trabalhos eram publicados com pouca regularidade, mas a partir de 1929 teve uma página semanal com o título “ Enid Blyton’s Children Page”. Normalmente continha uma carta, um poema e uma história. Escreveu regularmente para a “Teacher’s World” até 1945.
No Verão de 1922 Enid publica o seu primeiro livro, intitulado “Child Whispers”, que continha uma colecção dos seus poemas.
A capa de cartão foi desenhada com pouca qualidade por um amigo da escola, Phyllis Chase. Mas dado o êxito obtido, o editor publicou outra colecção no ano seguinte, chamado “Real Fairies”.
E assim Enid Blyton começou a sua carreira como autora.

Em 1924, casou com Hugh Pollock, um editor do departamento de livros da George Newnes. Por esta altura o seu nome começou a ser conhecido e alguns editores consagrados mostravam interesse nos seus livros.
Em 1926 Enid e Hug mudaram-se para Elfin Cottage em Beckenham. Passado algum tempo Blyton comprou o seu primeiro animal doméstico, um cão chamado Bobs. “Um Fox-Terrier de pelo macio”, como descreveu na sua autobiografia. Bobs aprendeu muitos truques: como sentar-se, balancear um biscoito no nariz e deitar-se de costas quando Enid lhe dizia “Morre para o Rei”. Estava treinado para fechar portas e esperar pelo “clic” da fechadura para se certificar que realmente a porta ficou fechada. Quando Enid começou a escrever a sua página semanal no “Teacher’s World”, incluía uma carta de Bobs “Letter from Bobs”, onde escrevia, no ponto de vista do Bobs, tudo o que se passava na família durante essa semana. Estas cartas eram muito divertidas e Bobs quase foi tão popular entre os leitores, como a sua dona! Bobs foi o primeiro animal que Blyton apresentou aos seus milhares de jovens nas suas histórias e nas cartas da revista.
No mesmo ano Enid, começou a escrever na gazeta “Sunny Stories for Litle Folks”, que era publicada quinzenalmente para jovens mais pequenos. Muitos dos seus leitores escreviam-lhe e Blyton começou a ter uma ideia do tipo de histórias que eles mais gostavam de ler.
Pouco depois de ter começado a escrever para a “Sunny Stories” Enid editou um livro de aventuras chamado “The Wonderful Adventure”, que relatava a busca de um tesouro perdido por um grupo de seis crianças. Este livro foi a primeira novela de aventura que Enid publicou, mas como a editora era muito pequena, foram feitas poucas cópias. Tristemente esta história foi esquecida em pouco tempo, mas Blyton continuou a escrever contos que foram muito populares entre os leitores da “Sunny Stories”. Algumas delas foram compiladas e editadas em livros.
Em 1929 Enid e Hugh voltaram a mudar-se, foram para uma vila típica do século XVI em Burn End, Buckingshire, chamada Old Thatch. Esta tinha um jardim maior que Elfin Cottage e dava mais espaço para Enid ter as suas flores e animais. Foi nesta vila que teve as suas duas filhas, Gillian em 1931 e Imogen em 1935.
Durante muitos anos Enid continuou a escrever pequenas histórias para a revista “Sunny Stories”, mas quando o titulo da revista mudou para “Enid Blyton’s Sunny Stories”em 1937, Enid decidiu escrever uma história em série. Chamava-se “Aventurer of the Wishing Chair”. Foi tão popular que continuou a publicar outras histórias. Decidiu escrever uma história de aventura para a edição 37 com o primeiro episódio da “The Secret Island” (Ilha Secreta). Esta teve tal sucesso, que pela primeira vez foi editada num livro completo. Logo os leitores reclamaram mais aventuras com o João, Miguel, Margarida e a Nora. A Ilha Secreta foi editada em livro em 1938 e em Portugal teve a primeira edição em finais dos anos 60 pela Clássica Editora. Em 1939 Blyton escreveu na “Sunny Stories” outra história desta série, “The Secret of Spiggy Holes” - (O Segredo das Grutas de Spiggy).
Enid sabia que as crianças gostavam das suas pequenas histórias, mas constatou que escrever livros de grande enredo, também teriam bastante aceitação e assim continuou.
Em 1938, começou por escrever livros inteiros de aventura. Nesta altura mudou de casa com toda a família. As suas filhas cresceram, Enid e Hugh decidiram que precisavam de mais espaço e escolheram uma casa grande em Beaconsfield.
Nas suas cartas em “Teachers World” Enid descreveu a vivenda e os seus jardins. Perguntou aos seus leitores qual o nome mais apropriado para a nova casa. Anos depois Enid escreveu na sua autobiografia como centenas de crianças lhe mandavam sugestões e muitas delas decidiram o mesmo nome “Green Hedges”. Enid viveu em Green Hedges para o resto da sua vida, e durante estes anos a sua direcção foi tão popular como o palácio de Buckingham ou o número 10 de Downing Street. Ao mudar-se para Green Hedges, viu o início da sua época bastante positiva, para além das suas histórias semanais no “Sunny Stories” e na página do “Teacher’s World” , Enid concentrou-se nos seus livros completos.
Escreveu histórias sobre a escola e o Circo. Mas o seu êxito mais popular foi nas suas séries de aventura e mistério. Paralelamente a este sucesso, Enid separa-se de Hugh Pollock em 1942, meses depois do seu primeiro livro de “Os Cinco” - “Os Cinco na Ilha do Tesouro”.
Em 1943 casou novamente, com Kenneth Waters e continuou a escrever ainda mais.
Os livros “Segredo” e “Os Cinco” foram tão populares que Enid escreveu outras séries. Uma delas foi “Aventura” e o primeiro livro, “Uma Aventura na Ilha”, foi publicado em 1944. Outros sete livros completam esta série. Tambem com grande sucesso foi a colecção “Mistério” que contava com a interpretação dos “Cinco Descobridores e o seu Cão”, apareceram na sua primeira aventura em “O Mistério da Casa Queimada” em 1943. Os “Cinco descobridores” resolviam mistérios na sua vila de “Peterswood”, um lugar parecido a Bourne End, uma localidade perto de Old Tatch.
Em 1949, escreve o seu primeiro livro para jovens mais crescidos, intitulado “The Rockingdown Mystery” - (O Mistério de Rockingdown). Um ano depois escreve o primeiro livro do “Clube dos Sete”. Os Sete apareceram inícialmente no livro “The Secret of the Old Mill” em 1948, mas “O Clube dos Sete” foi a primeira aventura oficial. Em pouco tempo, grupos de crianças em toda a Inglaterra, imitavam “Os Sete”, organizando reuniões, criaram símbolos dos seus grupos e utilizavam linguagens secretas.
Mas o momento mais decisivo foi em 1949, quando Blyton publicou “Noddy Goes to Toyland”- (”Nodi no País dos Brinquedos”). Nodi foi a personagem mais triunfante para crianças muito pequenas e até hoje é tão popular como no início. As suas aventuras apareceram em livros, banda desenhada, televisão e num filme completo. Com os anos muitos jogos foram editados com e sobre Nodi, muito mais que qualquer outra personagem Inglesa.
Enid Blyton nunca foi tão feliz como quando escrevia as suas histórias. Ela foi uma autora de nascimento e dai lhe ter sido fácil a criação de novos personagens e histórias. Na sua autobiografia, escreveu como criava uma nova história. Nunca a planeava antes de a escrever na máquina. Somente a colocava nos seus joelhos, fechava os olhos e imaginava a história: “É como espreitar por uma janela, ou um filme na minha cabeça, vêr os meus personagens e escrever tudo no papel”. Foi uma prenda divina que lhe deu a força para escrever muitos livros e histórias. Entre Janeiro de 1940 e Dezembro de 1949, Enid Blyton tinha publicado mais de 200 livros, e nos anos 50 foram mais de 300! E não foi tudo, também respondia a centenas de cartas dos seus pequenos leitores, autografava livros, lia em público e sobretudo ajudava a angariar fundos para fins de caridade. Também tinha alguns passatempos, como jogar golfe e bridge.
No início de 1950, Blyton deixou de escrever no Sunny Stories, para poder empenhar-se na sua nova revista “Enid Blyton’s Magazine”. Esta revista - como os seus livros e histórias que criou como Mr. Pink-Whistle e Nodi, deu origem à criação de vários clubes que ajudavam a recolher fundos para organizações criativas e sem fins lucrativos.
Por exemplo a “Busy Bee Club” angariou dinheiro para a “People’s Dispensary for Sick Animals (P.D.S.A.)” uma organização para animais doentes. A “Sunbeams Club” ajudou uma fundação para bebés cegos. Também a “Magazine Club” apoiou uma caridade antes de acabar nos finais de 1959. Este Clube chegou a ter mais de 129 mil associados.
Nos últimos dias da sua vida, Enid Blyton padecia enferma. A morte do seu segundo marido Kenneth em 1967 foi um grande golpe e um ano depois morreu, em 28 de Novembro de 1968, vitima do que é hoje conhecida por doença de Alzheimer, deixando mais de 700 livros escritos e perto de 5000 contos.
Em toda a sua vida Blyton foi uma pessoa muito privada. Na sua autobiografia “The Story of my life”, que escreveu em 1952, contém muitas fotografias suas, da casa e da família, mas não dava muitos pormenores da sua vida, para os que iam além de quando escrevia.
Em 1974 Barbara Stoney escreveu a “Enid Blyton the Biography”, que revela a história verdadeira da sua vida.
Passados 37 anos desde a sua morte, os livros de Enid continuam tão populares e a serem vendidos como edições anteriores, tanto em Inglaterra como em todo o Mundo, incluindo Portugal. Quantos de vocês não conhece ou não tem em casa um livro da Enid Blyton? Como “Os Cinco”, “Aventura”, “Clube dos Sete”, “Colecção Mistério”, “As Gémeas”, “4 Torres”, etc.
As suas histórias e personagens foram reproduzidas em: jogos, séries de televisão, revistas, banda desenhada, filmes e teatro. Mas onde está o segredo de todo este êxito? Qual a razão de as suas histórias terem sido tão famosas? Em primeiro, foi uma autora de nascença, sabia exactamente o que as crianças e jovens gostariam de ler, nas suas histórias o Mundo é novo e verde, os dias, grandes e com sol, os adultos não chateavam muito e as crianças poderiam fazer tudo o que desejassem: explorar túneis secretos, acampar em ilhas com árvores e toda a natureza á volta, descobrir mistérios, procurar tesouros e até “vagabundear” no meio ambiente com carroças puxadas a cavalos. É um mundo mágico onde os bons ganham e a comida é em abundância e sempre há um final feliz. Pode haver melhor coisa que se queira ter? Todos os anos é prestado um tributo a esta autora, o chamado “Enid Blyton Day”, organizado pela Enid Blyton Society. As últimas edições tiveram lugar em Twyford a 30 km de Londres. Neste dia reúnem-se entusiastas que compram, trocam e vendem livros e outros coleccionáveis. São realizadas palestras e convidados falam de variados assuntos.

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