29-SET-2009
Na ressaca do último despedimento colectivo dos trabalhadores da Siderurgia Nacional protagonizado pela anterior direcção da empresa gestora da Siderurgia Nacional, o representante em Angola da Chung Fong Holding, Limited, Lam Pak Man, decidiu partir para o Uíge com o propósito de recrutar cerca de 70 jovens para o quadro de pessoal da fábrica, em substituição dos dispensados.
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Segundo os recém recrutados, quando foram contactados, os chineses terão prometido um salário correspondente a 12 mil Kwanzas mensais, além de alguns direitos complementares, como alimentação e alojamento.
A verdade, porém, é que não lhes fora dito em como viveriam praticamente encarcerados no perímetro da fábrica, tal como está a acontecer desde que estão em Luanda, após serem transportados em camiões como se fossem bois. Contam que, desde que entraram para o «quintalão» da fábrica, que não os deixam sair, como se estivessem presos.
Em conversa com o Semanário Angolense, um dos «encarcerados», visivelmente aflito, disse que ele e os seus colegas viram as suas vidas a transformarem-se num verdadeiro inferno: «Aqui ninguém sai. Comer, é aqui. Dormir, é aqui. Tudo, é aqui. Não nos deixam sequer passear. Dizem que é responsabilidade para eles se nos deixarem sair, uma vez que alguém se pode perder...». Diz ainda que muitos deles já têm vontade de regressar ao Uíje, porque não sabiam o sofrimento que haveriam de passar. «Assim, não dá!», acrescentou, revoltado.
Um outro jovem que falou à nossa reportagem identificou-se simplesmente por Dinis e disse estar muito decepcionado com o comportamento dos angolanos que estão na administração da Siderurgia Nacional, porque não defendem os outros. «Estamos aqui como presos. E já conversámos: se no final deste mês não pagarem o que prometeram, vamos embora», sublinhou, também completamente revoltado.
Uma fonte da direcção da empresa, que preferiu não ser identificada, disse ao nosso jornal que a fábrica se encontra nestas condições devido a falhas do ministro da Indústria que não quer saber do empreendimento, mas simplesmente do dinheiro que de lá sai.
Assegurou, por outro lado, que o encarceramento dos trabalhadores vindos do Uíje se deve a uma estratégia dos chineses, que consiste na necessidade deles não terem contactos com o mundo exterior à fábrica para não ficarem com os «olhos abertos». «Eles dizem que se os trabalhadores saírem para passear ao fim de semana vão ficar muito espertos, a tal ponto que passarão a incomodar a direcção reivindicando direitos laborais», explicou a nossa fonte.
Em face disso, uma pergunta se impõe: se isto não é escravidão, o que é então?
Imagem: http://sites.google.com/site/missangaorg/projriosuíje
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