terça-feira, 13 de outubro de 2009

António de Oliveira Salazar. 1961: O pior ano da minha vida


Fernando Correia da Silva

Deixo que amorteça a onda de choque e em 1959 demito o Delgado de todos as suas funções militares. Nas vésperas de ser preso corre a asilar-se na Embaixada do Brasil e depois segue para o exílio naquele país.

http://www.vidaslusofonas.pt/salazar.htm

A Nação está devastada. Não sei se terei forças para reconstruí-la. Ainda faço uma alteração constitucional: a eleição para a Presidência da República não será mais por sufrágio directo, mas por sufrágio orgânico. Casa arrombada, trancas à porta...

Em 1960 um comunista louco desvia um avião da linha Casablanca - Lisboa e espalha panfletos subversivos sobre a capital. Também o Álvaro Cunhal e outros cães raivosos conseguem fugir do Forte de Peniche, tudo me falha.

Não gosto da minha vida. Em vez de governar, gostaria de estar em Santa Comba, entre os campos e as vinhas. Mas não encontro quem possa substituir-me.

1961: O PIOR ANO DA MINHA VIDA

A 22 de Janeiro, na América Central, o Henrique Galvão assalta o paquete Sta. Maria (Santa Liberdade, berram eles...). É pirataria das antigas, mas as outras Nações assim não o entendem. O Brasil dá asilo político aos piratas.

A 4 de Fevereiro um bando de selvagens assalta as prisões de Luanda, querem libertar os presos políticos. Espicaçados, a reacção dos portugueses é heróica: de muceque em muceque, partem à caça dos terroristas.

11 de Março... O General Botelho Moniz é um militar "craveirista", eu bem sabia disso. Mas quis neutralizá-los, convidei-o para meu Ministro da Guerra e muito me custou pôr de lado o Santos Costa. Enganei-me, isto já não funciona como dantes. A 11 de Março o Américo Tomás telefona-me a avisar que o Botelho Moniz e outros generais têm um golpe armado para me apear. Neste preciso momento os golpistas estão a assistir a um jogo de futebol entre as selecções militares de Portugal e Marrocos. Rapidamente vou de quartel em quartel, altero os comandos, esvazio o golpe. Depois do jogo, o Botelho Moniz ainda vem ao meu gabinete tentar uma solução pacífica, que eu trate de acabar com a Censura e outras parvoíces... Ele a falar e eu a lembrar-me de um outro Botelho Moniz fundador da Legião Portuguesa e comandante dos nossos Viriatos na guerra de Espanha. Este aqui degenerou, não saiu aos seus... Corto rente:

- Senhor General, está demitido, queira retirar-se!

Em Angola dão-me uma facada pelas costas. E agora, na minha própria casa, outra facada me queriam dar?
A 13 de Março vou à Emissora Nacional e proclamo, espicaço:
- Para Angola e em força!

Mobilização, flores, fanfarras, a Pátria não se discute!

Mas a 15 de Março a quadrilha do Holden Roberto começa a chacina no norte de Angola. Ele, que nem português sabe falar, é traidor de segunda financiado pelos americanos.

A PIDE avisa-me que outros, dos que estudaram na Metrópole, como o médico Agostinho Neto e o engenheiro agrónomo Amílcar Cabral, também andam lá por fora a organizar movimentos terroristas de outro cariz. Fiz mal em ter aberto em Lisboa a Casa dos Estudantes do Império. Apesar de assimilados, e até licenciados, portugueses de segunda, de segunda serão sempre.

A 21 de Abril há uma resolução da ONU a condenar a política africana de Portugal. Ninguém entende a nossa forma de estar no mundo, à qual um brasileiro chamou, e muito bem, de luso-tropicalismo. Não percebem que a nossa Nação é pluricontinental e plurirracial, é Una, vai do Minho a Timor e a Pátria não se discute.

A 19 de Dezembro tropas indianas invadem Goa, Damão e Diu. Eu tinha ordenado que resistíssemos até ao último homem. O nosso martírio (e eu só estava à espera dele...) levaria ao ridículo internacional o incensado pacifismo de Nehru. Mas Vassalo e Silva, o comandante da nossa tropa, acovardou-se, rendeu-se, traiu-me. Fico muito abalado com a traição.

Na noite de 31 de Dezembro para 1 de Janeiro há uma tentativa de sublevação no quartel de Beja, e nela está envolvido o próprio Humberto Delgado. A PIDE está a par das movimentações. Abafa a revolta mas o susto é grande.

Este foi o pior ano da minha vida.

http://www.vidaslusofonas.pt/salazar.htm
Imagem: http://sol.sapo.pt/photos/olindagil1/images/635738/original.aspx

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