Há muito, muito tempo, havia um rei que desconhecia que no seu reino existia povo. Ele estava convencido de que só ele e a sua corte existiam no reino. Decerto não passava de uma mera desinformação, alguém lhe escondia que de facto existiam uns bons milhões de almas que ele não conhecia, ou fingia que não sabia. Portanto vivia… considerava-se como o senhor, o deus absoluto de tudo e de todos, era uma família de número considerável. A produção interna do reino não existia claro, vinha tudo de fora, importado em grandes caravanas. O reino era muito rico em minerais, e para pagamento aos mercadores bastava escarafunchar o chão que logo apareciam uns diamantes e um líquido negro que era muito apreciado pelas curas milagrosas que lhe atribuíam. Para evitar assaltos de algumas hordas itinerantes de piratas somalis, o rei barricou-se no alto de uma montanha, que aos poucos se transformou num grandioso, altamente luxuoso e dispendioso castelo de muralhas inexpugnáveis. Até que um belo dia surgiu uma incontável multidão que no inicio se confundiu com uma vulgar peregrinação. Mas não, era reivindicação. O rei atónito trata de chamar a sua guarda, que era numerosa claro, não faz sentido um monarca não se rodear de um pequeno/grande exército para o que der e vier. O aspecto dos manifestantes/arruaceiros era de tal ordem que mais pareciam cadáveres, ou seriam-no de facto? Porque só se lhes viam as ossadas, desconhecendo-se quem lhes teria comido os ossos. E perguntaram aos arruaceiros, pois quem nesse reino se manifestasse assim era tratado, a que vinham: «Meu soberano, pela graça de Deus nos céus e nas terras (?), reivindicamos-lhe apenas um pedaço de terra para quando morrermos nele sermos devidamente enterrados». O rei não entendia nada, nem queria saber, aliás tinha mais que fazer, mas conseguiu badalar algo: «Não entendo, melhor, custa-me a entender… expliquem-me lá… COMO NÃO TÊM TERRAS!!!» «Grandioso soberano, não temos terras, não temos casas, não temos tendas, e as casas que nos deram já se foram, as fissuras levaram-nas. Não temos nada, nem direito a cemitérios, por isso queremos apenas um pedaço de terra para o repouso final das nossas carcaças. PORRA EXPOLIARAM-NOS TUDO!!!» «Muito bem, seus arruaceiros, podem ir, que já vou nomear uma comissão para lhes tratar do sebo… dos vossos problemas.» «Não, não bazamos, daqui pé não arredamos. Já não vamos mais nessa conversa, estamos saturados de quase há meio século ouvir sempre o mesmo quizomba». E sua majestade usou um gesto só conhecido pelo chefe da sua guarda. E de repente sobre os escanzelados manifestantes/arruaceiros caiu uma chuva de azeite a ferver. Depois uma matilha de cães de poderosas mandíbulas. Uma chuva de flechas seguida por outra de pedras e finalmente lançam-lhes um poderoso gás previamente ensaiado e portanto de resultados comprovados, para ter a certeza de que nenhum dos esqueléticos arruaceiros se movia. E no final, assomando da torre albarrã, sua alteza esfrega as mãos de contente pela vitória da peleja a seu favor, e dá o remate final: «Pronto, o vosso problema está resolvido, queriam um pedaço de terra para cada um, ofereço-lhes uma vala comum».
Eis um método curioso de resolver problemas de terras e de manifestações, não é?!
http://patriciaguinevere.blogspot.com/2011/09/jangada-petrolifera-enfrenta-forte.html
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