sexta-feira, 8 de junho de 2012

Morreu o escritor Ray Bradbury, o mestre da ficção científica


O mestre da ficção científica, o escritor norte-americano Ray Bradbury, autor de Fahrenheit 451 (1953), adaptado ao cinema pelo francês François Truffaut, e de Crónicas Marcianas (1950) morreu terça-feira, aos 91 anos, em Los Angeles.

Por Luís Miguel Queirós PUBLICO

“Mr. Bradbury morreu serenamente, a noite passada, em Los Angeles, depois de uma longa doença”, disse à Reuters um porta-voz da editora norte-americana HarperCollins. O seu neto Danny Karapetian e o biógrafo, Sam Weller, confirmaram a notícia ao blogue dedicado à ficção científica io9. “O mundo perdeu um dos seus maiores escritores e uma das pessoas que me eram mais queridas”, twittou Karapetian. “[Foi] a maior criança que conheci”, disse ainda ao blogue especializado.

Nascido em Agosto de 1920 no estado do Illinois, Ray Bradbury, um dos fundadores da literatura fantástica contemporânea, deixou-se fascinar pelos livros aos sete anos, com Edgar Allan Poe, e aos 17 estreava-se nas páginas de uma revista de ficção científica, com a primeira novela das quase 500 que assinou, “Script”.

Aos 14, quando os pais se mudaram para Los Angeles, transformara-se num rato de biblioteca e dizia muitas vezes que era um escritor autodidacta, que aprendera simplesmente a ler os grandes autores: “Ensinaram-me Shakespeare e Júlio Verne. Foi Edgar Allan Poe que me disse para escrever. […] Os grandes nomes foram a minha influência e com eles nunca precisei de mais conselhos”, contou numa entrevista agora citada pelo diário espanhol El País.

Tendo começado pelas novelas de terror, foi com Crónicas Marcianas e Fahrenheit 451 que atingiu o sucesso. A primeira é uma obra sobre os riscos da desumanização perante o avanço científico, a segunda, feita numa máquina de escrever que precisava de uma moeda para funcionar, na biblioteca da Universidade da Califórnia, evoca os perigos do totalitarismo através da criação de uma era de guerra em ignorância, em que os bombeiros se ocupavam da queima de livros e não da extinção de incêndios, explicava ontem o diário britânico The Guardian.

Autor prolífico – para além de centenas de novelas escreveu mais de 30 romances, contos e poemas, além de guiões para cinema e televisão –, Ray Bradbury fazia dos seus livros em que criava mundos fantásticos espaços de crítica aos excessos da sociedade contemporânea. Em 2010, por exemplo, chegou mesmo a defender numa entrevista ao jornal Los Angeles Times que os Estados Unidos precisavam de uma “revolução” para travar o poder desmesurado do Governo. “Na vida, como na escrita, devemos agir com paixão: [assim] as pessoas vêem que somos honestos e perdoam-nos muita coisa”, disse Bradbury noutra conversa citada esta quarta-feira pela AFP.

Um dos autores mais lidos da sua geração, Ray Bradbury manteve até ao fim o mesmo entusiasmo, dizem familiares e amigos. “A coisa mais divertida da minha vida é levantar-me cada manhã e correr para a máquina de escrever porque tenho uma ideia nova”, confessou em 2000 este homem da ficção científica que sempre se recusou a publicar seus livros em formato electrónico e dizia com frequência que as pessoas tinham gadgets a mais.
Imagem: sfsite.com

Sem comentários:

Enviar um comentário