Luanda - Paulo Flores, autor, compositor e intérprete, é uma
das principais referências na música de Angola e um defensor incansável do
semba. Aos 40 anos celebra 25 de anos de carreira, pontuados por uma quinzena
de discos.
Fonte: pauloflores.com
Club-k.net
A voz de Paulo Flores, doce e quente, vibrante e grave, inspira-se na tradição urbana de Luanda e conta-nos histórias de ontem, de hoje e de amanhã.
A voz de Paulo Flores, doce e quente, vibrante e grave, inspira-se na tradição urbana de Luanda e conta-nos histórias de ontem, de hoje e de amanhã.
Aos 16 anos grava na Rádio de Luanda “Kapuete
Kamundanda” (1988), onde o tema “Cherry” protagoniza um novo género musical, a
kizomba (que significa Festa em kimbundu), fusão de ritmos do zouk das Antilhas
com elementos do Congo e de Angola, com grande predominância de teclados
electrónicos. Paulo Flores aparece assim, juntamente com Eduardo Paim, na
primeira linha deste movimento crucial da música de dança africana (lusófona)
de cariz urbano, popularizada em Portugal nos anos 80, a kizomba. Paulo Flores
explora o olhar crítico da geração que cresceu depois da independência e
reflecte o sentimento de revolta face à destruição que assiste no seu país.
Encontra as palavras certas para falar da extraordinária capacidade de
resistência do povo angolano, da sua energia e da sua vitalidade, expressos na
sua música e na sua dança. A kizomba dominou a produção musical do espaço
lusófono até metade dos anos 90, e domina ainda, até hoje, o imaginário dos
amantes das “Áfricas”! Em Lisboa, o género impõe-se rapidamente no mercado
africano (discos e discotecas). Os álbuns “Sassasa” (1990), “Coração Farrapo”
(1991) e “Thunda Mu N’jilla” (1992) são os principais sucessos que fazem de
Paulo Flores um ícone da música de Angola em Portugal.
Nascido em Luanda, Paulo Flores passa a sua infância
em Lisboa, com viagens regulares a Angola. Através da sua Tia-Avó e de seu pai,
Cabé, discotequeiro (dj/disc jockey) e amante de música, Paulo Flores descobre
elos fortes com a cultura do seu país, mas também com o blues, a soul e outros
géneros da cultura afro-americana. É com Carlitos Vieira Dias, célebre
guitarrista dos palcos angolanos nos anos 70 que Paulo Flores faz as suas
primeiras incursões no semba tradicional, autêntico, original, ritmos marcados
por guitarras e melodias em tons menores. A partir de “Thunda Mu N’jilla” (no
qual participa Carlitos) e de “Brincadeira Tem Hora” (1993) Paulo Flores
procura novos sons e introduz alguns sembas e kazukutas no seu repertório,
confirmando essa nova tendência em “Inocenti” (1995) e depois em “Canta Meu
Semba” (1996). Cantos dolorosos (na tradição dos lamentos angolanos) alternam
com ritmos de dança que associam instrumentos acústicos e eléctricos, na
vontade de criar um semba que correspondesse aos seus sentimentos, um semba de
fusão entre a tradição e o moderno. Desta forma Paulo Flores afasta-se
voluntariamente do mundo das discotecas e vive intensamente as suas emoções e
sentimentos na música. Sem slogans nem demagogias, a dor é íntima e imensa.
Paulo Flores assume serenamente a sua responsabilidade
de artista. As suas composições seduzem e emocionam e falam também de
esperança. Canta histórias pessoais e colectivas que exprimem desejos do
quotidiano. Usa palavras e frases do português, até mesmo do inglês, do
kimbundu e do calão de Luanda na sua língua portuguesa, justapondo subtilmente
os seus contrastes.
Um dos seus grandes talentos é o de conseguir reunir
excelentes instrumentistas, sensíveis à sua criatividade musical. Em “Perto do
Fim” (1998) encontram-se grandes músicos de Angola (Simmons Massini, Moreira
Filho, Marito Furtado, Rufino Cipriano e Joãozinho Morgado, entre outros).
“Mana Chiquita”, “Fim de Semana”, “Dinheiro Não Chega”, “Serenata a Angola” são
alguns dos sucessos deste álbum. Paulo Flores consagra-se como a principal
referência da música de Angola da sua geração.
Em 1999 Paulo Flores instala-se em Luanda e colabora
com grandes músicos angolanos, um período que representa uma viragem na sua
criação musical. “Recompasso” (1999) e “Xé Povo” (2003) trazem melodias,
sonoridades e palavras que reflectem a grande diversidade do seu universo
poético e musical. Excelentes músicos participam nestes álbuns: Ciro Bertini,
com quem colabora desde os anos 90, Betinho Feijó, Carlos Burity, Tito Paris,
Lura e Sara Tavares, entre outros. “Quintal do Semba” (2003) e “Vivo” (2005)
sublinham e reforçam essa sua visão da história de Angola.
Em 2008 Paulo Flores celebrou 20 anos de carreira num
fabuloso espectáculo que reuniu mais de 20.000 pessoas de diferentes gerações
nos Coqueiros, em Luanda.
Paulo Flores inscreve hoje o seu trabalho numa
linguagem que assenta na procura e na valorização do património musical
angolano, mas com espaço para a influência de outros géneros musicais, outras
influências, com grande enfoque nos textos e subtileza na instrumentação.
A trilogia ExCombatentes (2009, “Viagens”, “Sembas” e
“ Ilhas”), 27 temas, foi apresentada em Portugal no Cinema São Jorge e na Casa
da Música, num espectáculo que contou com a participação especial de Jaques
Morelenbaum. Um trabalho extenso, condensado, elegante e sincero, da vida e da
arte de Paulo Flores. Uma arte de encontros (Manecas Costa, “Samba em Prelúdio”
com Mayra Andrade, entre outros..), de descobertas e de grande maturidade
artística. ExCombatentes é uma homenagem ao povo angolano, a todos aqueles que
viveram o período de guerra, à coragem e à dignidade de um povo que não ganhou a
guerra mas sim a paz. Paulo Flores exprime dúvidas e interrogações sobre uma
existência angolana que vê projectada no mundo. Angola de hoje não é mais a da
sua infância.
O que pode (e deve) um criador fazer? Que palavras?
Que harmonias? Que voz?
Em 2010 Paulo Flores apresenta o espectáculo Raiz da
Alma no grande auditório do Centro Cultural de Belém e na Casa da Música. O
semba de Angola revisitado nas suas matrizes tradicionais, onde se reencontram
(Mias Galheta) no baixo, um poderoso dueto de violões (Tony Sá e Pirika Duia),
o carisma das frequências eléctricas de (Teddy Nsingi) e as percussões
tradicionais como a puita, a dikanza, o mukindo, o hungo e os batuques, com
composições de Paulo Flores e também de clássicos da música de angola dos anos
60/70, de compositores como David Zé, Sabu Guimarães, Rosita Palma ou Ana Maria
de Mascarenhas.
Paulo Flores vai ao encontro do público francês em
Junho de 2012, com o lançamento de ExCombatentes Redux (2012) e dois
espectáculos: no Théâtre de la Ville em Paris, com a participação de Mayra
Andrade e no Festival Rio Loco em Toulouse, com a participação de Yuri da
Cunha. Em instantes mágicos de harmonia e alegria Paulo Flores ofereceu as suas
melodias, a sua poesia e a sua pessoa, para fazer partilhar as suas emoções de
angolano neste início do século XXI.
O País Que Nasceu Meu Pai (2013) é o seu último
trabalho de originais. Neste disco Paulo Flores procura reavivar a memória do
tempo da geraçao de seus pais, os seus sonhos, os seus ideais, a sua forma de
estar, de ser, de pensar, e até de vestir…a sua abertura para o mundo e para a
modernidade; os novos sons e as novas formas numa espécie de harmonia com o seu
quotidiano, os seus modelos, os seus hábitos e as suas tradições. Neste disco
Paulo Flores homenageia esta geração que plantou nos seus quintais a nova
africanidade angolana.
Era pra ser nós todos!
Era pra ser nós todos!
Para além do seu papel na música, Paulo Flores
desempenha ainda um papel social importante no apoio à modernização da música
de Angola através da colaboração com jovens músicos angolanos e também no
desenvolvimento de acções de solidariedade social enquanto Embaixador da Boa
Vontade da ONU em Angola (desde 2007).
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