sábado, 1 de agosto de 2009

Óscar Ribas conversou com Luís Kandjimbo em LEITURAS,Programa da TPA


Luís Kandjimbo – Boa noite, amigos telespectadores. Leituras volta a estar em sua companhia. Passados que foram os 15 dias do último programa, aqui estamos mais uma vez para abordarmos os temas relevantes sobre a literatura angolana, em que entrevistamos autores, falamos das suas obras e de outros projectos criativos relacionados com a literatura. O nosso convidado esta noite é um dos fundadores da ficção moderna angolana, um ficcionista, um ensaísta, um poeta que foi consagrando toda uma vida à literatura e que temos o prazer de tê-lo aqui à conversa e para tal vou convidar-vos para que conheçam um pouco mais de sua biografia. O nosso convidado esta noite é o escritor Óscar Ribas. Temo-lo aqui connosco, vamos agradecer a sua presença e esperar que tenhamos uma conversa proveitosa e que os telespectadores tirem o máximo rendimento do que for aqui abordado, quer a títulos de informações sobre as suas obras, quer em relação a outros aspectos que podem servir de exemplo aos jovens criadores. Muito obrigado Sr. Óscar Ribas. Agradecemos a sua presença. Oxalá que se sinta como se estivesse em sua própria casa. De sua extensa obra, vou destacar as três primeiras obras que publicou, entre os anos 27 à primeira metade dos anos 50, e gostaria que manifestasse o seu ponto de vista em relação, dessas três obras que publica nesse período, qual delas é que merece a sua maior atenção? Qual delas prefere?

Óscar Ribas – De todos os livros que eu escrevi, para mim o melhor, que eu aprecio mais, o que eu gosto mais é do Uanga.

Luís Kandjimbo – Ao ter destacado o Uanga, que é um romance folclórico como o próprio autor Óscar Ribas subintitulou este livro, é um romance que acaba por inserir uma série de episódios que abordam temas da tradição, temas do folclore , mas dentro dessa história, há um episódio bastante interessante que envolve Joaquim e Catarina, que é de resto uma história romântica, é uma história de afectos, em que aparece uma interferência perturbadora que é D. António Sebastião. Pode falar-nos um pouco desse episódio de D. Sebastião, ao interferir negativamente nessa relação da Catarina?

Óscar Ribas – A Catarina que é uma das principais protagonistas, eu fui mais ou menos pela minha mãe, tem as características da minha mãe, a Catarina. E fui obrigado, vá permita-se esta expressão, a matá-la, enfim, quando leio isso vêm-me as lágrimas aos olhos, só para poder depois descrever as práticas resultantes de um falecimento. Eu quando chego ao fim, quando leio essa parte vem as lágrimas aos olhos, sensibilizo-me com isso. A Catarina, portanto, uma mulher boa, de boa índole, como aliás uma característica da nossa gente.

Luís Kandjimbo – Mas neste episódio de afectos, de Joaquim e Catarina, da interferência negativa e perturbadora de António Sebastião, acontece um caso de vingança. António Sebastião que é humilhado, acabou por se transformar num motivo de chacota e de zombaria, vem depois pretender fazer vingança desse facto. Como é que isso se explica? Quando se trata de um indivíduo com algum prestígio, no meio tradicional, mas quando posto no meio suburbano da capital, ele é confrontado com a perda de prestígio, porque não sabe ler nem escrever.

Óscar Ribas – São coisas que acontecem não é? Como aconteceu mesmo.

Luís Kandjimbo – A história do Sebastião…

Óscar Ribas – … do António Sebastião sim. Bem, a explicação que deu … chorem, ele quando disse “chorem” foi, como mais tarde ele depois explicou, ele sendo um homem de prestígio lá na sua terra, no seu meio, homem com dinheiro, com propriedades e não saber ler. “Chorem, chorem por eu não saber ler”. E claro isso foi interpretado de maneira diferente. A Catarina, quando ouviu “chorem”, supôs que o homem, o Joaquim tivesse morrido.

Luís Kandjimbo – Sim, sim, então o Sebastião pretendia dizer “Chorem, porque eu infelizmente não poderei ler”…

Óscar Ribas – …”pois não posso ler não é? Um homem tão poderoso como sou, enfim, com muitas propriedades, muitas mulheres, e não saber ler? Chorem …”

(...)

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