segunda-feira, 29 de março de 2010

Cecília Meireles. Poeta: 1901 – 1964. livros, considerados perigosos à educação infantil, entre eles, (pasmem!) As aventuras de Tom Sawyer, de Mark Tw


E A VIDA PESSOAL, COMO VAI?
Jovem, elegante e muito bonita, causa frisson quando entra na Livraria São José, no Centro do Rio, à procura de algum livro. Na roda de escritores que freqüentam a tradicional casa de livros, olhos compridos seguem-na. Perguntam entre si o que faz a linda mulher com um livro tão pesado - o Corão.

Lúcia Helena Vianna
http://www.vidaslusofonas.pt/cecilia_meireles.htm

Entre 1919 e 1920 Cecília conhece na redação da Revista da Semana um jovem artista plástico português – Fernando Correia Dias – capista de primeira, ceramista, ilustrador e artista gráfico, reconhecido em Portugal e já amigo de personalidades literárias e artísticas no Brasil, como Álvaro Moreyra, Olegário Mariano, Menoti Del Picchia e Guilherme de Almeida..

Uma poeta, jovem e bela; um artista culto, viajado e sedutor. Bons personagens para uma história de amor.

Casam-se em 24 de outubro de 1922. Ela, com 20 anos, ele com 29. De novo a presença lusa na vida de Cecília. Ele faz belas ilustrações para os livros dela. Ela o presenteia com três filhas: Maria Elvira, Maria Matilde e Maria Fernanda (esta virá a ser uma famosa atriz do teatro brasileiro).

Em casa Cecília é uma mãe como as outras. Ralha, disciplina, e faz bolo coberto com calda de laranja. À noite, depois do jantar, reunidas na sala de visitas, lê histórias para as meninas (ah, ainda não havia a televisão nas nossas vidas!), pega do violão e dedilha cantigas, canta algumas, ou descreve os detalhes deste ou daquele objeto que ornamenta a casa.

O SONHO VIOLENTADO
Em 1934 a mulher brasileira conquista o direito ao voto. Cecília não se encontra entre aquelas que lutaram nas praças públicas por esse direito. Por quê? Porque é outro o seu campo de ação social. Ela está nos jornais e nas escolas. Nesse mesmo ano é chamada para dirigir o Centro Infantil, a ser instalado no Pavilhão Mourisco, em Botafogo. Vê no convite a possibilidade de pôr em prática as idéias sobre o novo modelo de educação que tanto tem defendido na imprensa. Constrói aí a primeira Biblioteca Infantil da cidade do Rio de Janeiro. Correia Dias transforma o porão numa cidade encantada. Ali as crianças podem afinal exercer livremente a sua imaginação em atividades criativas várias: pintura, leitura, música, desenho.

O sonho, porém, como todo sonho, não dura muito. Intrigas políticas levam ao fechamento da biblioteca. Violenta devassa, promovida pela Polícia Política do governo de Getúlio Vargas, destrói inclusive cerâmicas de inspiração marajoara criadas por Correia Dias. A explicação para tal vandalismo: livros, considerados perigosos à educação infantil, entre eles, (pasmem!) As aventuras de Tom Sawyer, de Mark Twain.

Uma ironia, um contra-senso, acontecer isso logo com ela. Apesar de progressista, sempre fora cética demais para aderir a qualquer partido político e bastante espiritualista para deixar-se seduzir pelo marxismo. Coisas da ditadura.

NAVEGAR É PRECISO...
“- Houve um tempo em que a minha janela dava para um canal. No canal oscilava um barco. Um barco carregado de flores. Para onde iam aquelas flores? Quem as comprava? Em que jarra, em que sala, diante de quem brilhariam, na sua breve existência? E que mãos as tinham criado? E que pessoas iam sorrir de alegria ao recebê-las? Eu não era mais criança, porém minha alma ficava completamente feliz.”

De 1934 até sua morte, Cecília Meireles faz inúmeras viagens. Nesse ano visita Portugal pela primeira vez, a convite da Secretaria de Propaganda desse país. Em 1940, conhece os Estados Unidos: dá curso de Literatura Brasileira na Universidade do Texas. Fala sobre folclore e educação no México. Em 1944 visita Uruguai e Argentina. Em 1951 volta à Europa: França, Bélgica, Holanda, Portugal.1952: Chile. 1953: Índia, Goa, Itália. 1954: Europa e, afinal, conhece os Açores. 1957: Porto Rico. 1958: Conferência em Israel.

Na Índia, recebe o título Doutor Honoris Causa da Universidade de Deli. Sua “Elegia a Gandhi” é traduzida para várias línguas:

(...)
Tua fogueira está ardendo. O Ganges te levará para longe,
Punhado de cinza que as águas beijarão infinitamente.
Que o sol levantará das águas até as infinitas mãos de Deus.
(...)

O vento está dispersando as falas de Deus entre as mil línguas de fogo.
Entre as mil rosas de cinza dos teus velhos ossos, Mahatma.


Volta das viagens com a mala repleta de versos: Poemas escritos na Índia, Poemas italianos, Oratórios de Santa Clara...

MAR PORTUGUÊS
Na agenda de viagens Portugal ocupa um lugar de relevo.

12 de outubro de 1934. O Diário de Lisboa estampa foto de Cecília e Fernando ainda a bordo do Cuyabá. Cais de Alcântara.

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