quinta-feira, 18 de março de 2010

CECÍLIA MEIRELES. Poeta: 1901 – 1964. A educação (...) é uma causa que abraço com paixão assim como a poesia.



Exalava-se de ti o mesmo frio do orvalho; a mesma claridade da lua.
Vi aquele dia levantar-se inutilmente para as tuas pálpebras,
E a voz dos pássaros e a das águas correr,
- sem que a recolhessem teus ouvidos inertes.

Lúcia Helena Vianna
http://www.vidaslusofonas.pt/cecilia_meireles.htm

Onde ficou teu outro corpo? Na parede? Nos móveis? No teto?
Inclinei-me sobre o teu rosto, absoluta, como um espelho,
E tristemente te procurava.
Mas também isso foi inútil, como tudo mais.

(OC,465)

Das perdas tão precoces fica-lhe a consciência do efêmero...:

Sei que canto. E a canção é tudo,
Tem sangue eterno e asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
mais nada.

(Motivo ,Viagem)

... e o desejo de buscar algo irrevelado e distante: o sonho.
Pus o meu sonho num navio
E o navio em cima do mar;
- depois, abri o mar com as mãos
Para o meu sonho naufragar.

(Canção, Viagem)

Em 1910 conclui o curso primário na Escola Estácio de Sá com distinção e louvor. Recebe das mãos do poeta Olavo Bilac medalha de ouro, com o nome gravado. Sete anos depois termina a Escola Normal, no Instituto de Educação do Rio de Janeiro. Segue estudando sempre: música, no Conservatório Nacional, canto, violino, estuda línguas e pesquisa sobre o Oriente – história, línguas, filosofia.

É PROFESSORA COMO A MÃE
“(...) Houve um tempo em que minha janela se abria para um terreiro, onde uma vasta mangueira alargava sua copa redonda. À sombra da árvore, numa esteira, passava quase todo o dia sentada uma mulher, cercada de crianças. E contava histórias. Eu não a podia ouvir (...) foi muito longe, num idioma difícil. Mas as crianças tinham tal expressão no rosto, e às vezes faziam com as mãos arabescos tão compreensíveis, que eu participava do auditório, (...) - e me sentia completamente feliz.(...)”

- Minha mãe tinha sido professora primária (a primeira professora a formar-se no Brasil) e eu gostava de estudar nos seus livros. Velhos livros de família que me seduziam muito. Assim como as partituras e livros de música.

A educação (...) é uma causa que abraço com paixão assim como a poesia.

A criança é eterno motivo de ternura e para ela escreve Criança, meu amor (1927) e Ou isto ou aquilo (1964, post mortem):

Ou se tem chuva e não se tem sol,
Ou se tem sol e não se tem chuva!
Ou se calça a luva e não se põe o anel;
Ou se põe o anel e não se calça a luva!

Quem sobe nos ares não fica no chão,
Quem fica no chão não sobe nos ares.

É uma grande pena que não se possa
Estar ao mesmo tempo nos dois lugares!

A Educação é uma causa e um compromisso. É a sua militância. Exerce o magistério até 1951 (aposenta-se como Diretora de Escola). Defende os ideais da Nova Escola, propostos por Fernando Azevedo e Anísio Teixeira: desejam uma escola que proporcione o desenvolvimento integral da criança. De 1930 a 1934 dirige seção diária sobre Educação no jornal Diário de Notícias, do Rio de Janeiro .O seu entusiasmo leva-a a criar uma Biblioteca Infantil, no Pavilhão Mourisco, em Botafogo. É a primeira no gênero, germe para inúmeras outras que se espalham pelo Brasil.

MAS COMO DESCREVER CECÍLIA?
Eis como ela nos responde:
- Acho que não saberia fazer isso fora da poesia. Mais me agrada e diverte um flash que o João Condé, publicou nos Arquivos Implacáveis, na revista O Cruzeiro, Rio de Janeiro, em 31 de dezembro de 1955:

“Não tem medo de viajar de avião em viagens longas.
Gostaria de tornar a visitar o oriente e chegar até a China.(...).

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