HISTÓRIA DA VIDA
“A vida só é possível reinventada”
“- Houve um tempo em que a minha janela se abria para um chalé. Na ponta do chalé brilhava um grande ovo de louça azul. Nesse ovo costumava pousar um pombo branco. Ora, nos dias límpidos, quando o céu ficava da mesma cor do ovo de louça, o pombo parecia pousado no ar. Eu era criança, achava essa ilusão maravilhosa, e sentia-me completamente feliz. (...)”
Lúcia Helena Vianna
http://www.vidaslusofonas.pt/cecilia_meireles.htm
(Arte de ser feliz, Escolha seu sonho)
Lá está ela. Janela aberta ao sol. Observo seu vulto à distância . Percebo a respiração profunda que sorve lentamente o ar fresco e puro da manhã. Debruça-se sobre o parapeito e fica a contemplar o jardim. Parece estar completamente feliz. Respeito este momento de sua intimidade, espero um tanto para me aproximar e provocar esta conversa imaginária, mas perfeitamente possível. Ouço o chamado em voz quase imperceptível: Vinde ouvir a história da vida ...
INFÂNCIA
A avó açoriana marca a sensibilidade de Cecília. Entretanto, o que está a acontecer no resto do mundo? Consulta a Tábua Cronológica.
Dia 7 de novembro de 1901. Cecília Meireles nasce na Rua da Colina, Tijuca, Rio de Janeiro. Signo: Escorpião. Signo de Água, regido por Marte e Plutão. Marte impulsiona a luta, as ações e realizações; Plutão traz perdas, transformações profundas e capacidade de se reerguer frente às intempéries.
Fica órfã muito cedo. Não chega a conhecer o pai - Carlos Alberto de Carvalho Meireles - falecido aos 26 anos, três meses antes de ela nascer. Não conheceu os irmãozinhos, Vítor, Carlos e Carmem:
“- Todos morreram antes de meu nascimento. E minha mãe (Matilde Benevides Meirelles) se foi quando eu tinha apenas três anos. Fui criada por minha avó materna, Jacinta Garcia Benevides, nascida nos Açores, Ilha de São Miguel”.
Essas e outras perdas ocorridas na família dão à pequena Cecília intimidade com a morte e a certeza de que nada é para sempre. Atributos para sua reserva lírica:
“- Minha infância de menina sozinha deu-me duas coisas que parecem negativas, e foram sempre positivas para mim: silêncio e solidão. Preciso deles para escrever.”
Enquanto borda, D. Jacinta canta cantigas antigas da Ilha de São Miguel. No imaginário infantil começa a tecer-se o tapete feito de lirismo popular: a voz da avó vai lhe ensinando os enigmas da vida cifrados nos ditos populares:
- Nem por muito madrugar amanhece mais cedo,
- Duro com duro não faz bom muro,
- Uma andorinha só não faz verão.
“- Tudo quanto recebi, naquele tempo, vi, ouvi, toquei, senti, - perdura em mim com uma intensidade poética inextinguível ...”.
À memória desta avó mítica, falecida em 1932, Cecília dedica uma “Elegia”:
“Minha primeira lágrima caiu dentro de teus olhos”.
Tive medo de a enxugar: para não saberes que havia caído.
No dia seguinte, estavas imóvel, na tua forma definitiva,
Modelada pela noite, pelas estrelas, pelas minhas mãos.
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