quinta-feira, 20 de agosto de 2009

ÓSCAR RIBAS (1909 – 2004)



Filho de pai português da Guarda e de mãe angolana pertencente à aristocracia luandense, nasceu em Luanda este socio-etnólogo autodidacta. Iniciou os estudos em Angola mas foi em Portugal que os terminou. Regressado ao país natal empregou-se na Fazenda Nacional tendo vivido em diversas localidades angolanas: Novo Redondo (Sumbe), Ndalatando, Benguela e Bié, para além de Luanda, naturalmente.

Da observação dos usos e costumes do povo angolano foi coligindo todos os factos e pormenores que viriam a ser ricamente descritos nas suas obras. O livro que vos trago é disso exemplo: “UANGA” (feitiço em kimbundu), é um romance que relata os amores de Joaquim e Catarina, habitantes de musseque na Luanda de 1882. Entre eles se intromete o ambaquista António Sebastião que, despeitado, recorre ao feitiço, ao uanga, para terminar com o amor partilhado pelos dois jovens.

A obra é um repositório riquíssimo do quotidiano luandense do século dezanove. Como exemplo extraí os seguintes parágrafos deste notável trabalho:

“(…) A massemba(…), este bailado, rico de fogosidade e elegância, proveio do caduque, dança de Ambaca. Como afinidade persistiu a característica fundamental – a semba ou umbigada. O caduque executava-se ao ar livre, sob a toada de ngoma, dicanza e uma lata, vibrada com duas baquetas grosseiras. Com o aparecimento da harmónica, nasceu então a massemba: substituiu-se o tambor e a lata por aquele instrumento, pela sala se trocou o ambiente campestre.”

“(…) O ambaquista (…), pela superioridade intelectual, que o impõe à consideração de seus irmãos de raça, é preferido pelos sobas para o cargo de conselheiro. E então ele, sempre munido de papel, caneta e tinta (antigamente supridos com folha seca de bananeiras, pedaço aguçado de madeira e infusão de folhas de tomateiro), redige as petições às autoridades superiores, no que é useiro e vezeiro. Para melhor se definir a astúcia de que é dotado, basta dizer-se que, certa vez, desejando um grupo de ambaquistas endereçar uma representação ao chefe da Colónia contra determinada autoridade, assinaram-na em círculo, isto para evitar que a responsabilidade recaísse no primeiro!!!”

Óscar Ribas cegou por completo aos 36 anos de idade. Contudo, nunca deixou de “escrever” os seus livros, fazendo-o através do punho de um irmão a quem ditava o que o conhecimento e a inspiração lhe sugeriam.

É detentor dos seguintes títulos honoríficos:

Membro Titular da Sociedade Brasileira de Folk-Lore (Natal, Rio Grande do Norte, Brasil – 1954)
Oficial da Ordem do Infante (1962)
Medalha Gonçalves Dias da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro (1968)
Diploma de Mérito da Secretaria de Estado da Cultura de Angola (1989)
Medalha de Mérito Municipal da C. M. Cascais (1995)
Diploma de Investigador Convidado da Universidade Moderna – Lisboa (1996)

BIBLIOGRAFIA
“Nuvens Que Passam” (1927) – novela

“O Resgate Duma Falta” (1929) – novela

“Flores e Espinhos” (1948) – lirismo, ensaios e contos

“Uanga” (1951) – romance – Menção Honrosa da Agência-Geral do Ultramar

“Ecos da Minha Terra” (1952) – dramas angolanos– Prémio Margaret Wrong do International Committee of Christian Literature for Africa

“Ilundu” (1959) – espíritos e ritos angolanos– Prémio de Etnografia do Instituto de Angola

“Misoso - I, II e III” (1961, 1962 e 1964) – literatura tradicional angolana – Prémio Monsenhor Alves da Cunha da Associação dos Antigos Estudantes de Coimbra em Angola

“Alimentação Regional Angolana” – 6ª edição (1990)

“Izomba” (1965) – associativismo e recreio

“Sunguilando” (1967) – contos tradicionais angolanos

“Kilandukilu” (1973) – contos e instantâneos

“Cultuando as Musas” (1993) – poesias

“Dicionário de Regionalismos Angolanos” (1997)

“Temas da Vida Angolana e Suas Incidências” (2002) – ensaios

http://www.minhasimagens.org/convidados/tomas/oscarribas.htm

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