segunda-feira, 28 de junho de 2010

A débil segurança laboral nas obras chinesas


João Cipalavela é natural do Kuito. Forçado pela pobreza e pela guerra viu-se longe da escola e dos centros de formação profissional. Agora adulto, e com a formação da família em perspectiva, Chipalavela decidiu fugir da ociosidade e dos maus vícios (drogas, alcoolismo), empregando-se, em Luanda, numa empresa de fabricação de blocos de cimento utilizados na construção civil.

http://mesumajikuka.blogspot.com/

- "Aqui, óh mano, a vida é dura. O tal dinheiro mesmo que nos pagam é só vindi-e-um mili kuanza. Nó chega mesmo e ainda nos descontam lá a comida que comemos"._- Disse-me quando o abordei sobre a sua proveniência rápidamente denunciada pelo sotaque no falar.

Chuipalavela e amigos, todos de províncias do interior, labutam mais de 18 horas ao dia, com apenas 24 horas de descanço ao longo da semana. É um trabalho árduo. Carregar as betoneiras, controlar as máquinas, carregar os blocos húmidos para o sol, arrumá-los depois de secos, carregá-los nas camionetas que atendem os clientes e descarregá-los nas obras destes e outros afazeres domésticos no estaleiro.

- "Óh mano, ainda se você não tem força te mandam 'mbora sem te pagar. Só nós mesmo é que aceitamos. Os daqui (luandenses) num aceitam esse trabalho. Lhes mandam só um dia, já num vorta mais"- Contou-me.

Mas a vida dura de Chipalavela e companheiros tem outros capítulos. Um deles tem a ver com a insegurança no trabalho. Chipindi é de Boas Águas, no Catchiungo - Huambo. Trabalha na empresa de confecção de blocos, detida por chineses, há nove meses. O jovem reclama de maus tratos, da jornada contínua sem descanço e da falta de equipamentos adequados de protecção individual (EPI's), bem como da ausência de cuidados médicos em caso de sinistros. Chipindi conta que ao arrumar os blocos houve a queda de um monte,provocando-lhe escoriações no rosto e nos dois braços e antebraços. O patrão apenas deu-lhe duas coritas (adesivo) e nada mais.

_ "Nem só mesmo álcool ou tintura me deram, para não falar já de me levar no hospital". A mulher do patrão que senta aqui (indicava ele à cadeira ocupada habitualmente por uma senhora também chinesa) me disse vai se lavar com a água do tanque e depois põe essas duas coritas que me deu. Assim estou ainda a pensar se este mesmo é tratamento que se dá numa pessoa" - desabafou.

Notei ainda que mesmo com o sol ardente do meio-dia os motoristas chineses nunca permitem que os seus ajudantes angolanos (carregadores de blocos) usem a cabina da viatura, tendo de fazer-se transportar por cima da carga,recordando-nos cenas antigas de "mona ngambé" (filho de escravo).
Por tudo o que vivenciei nos três estaleiros que percorri na última quinta-feira 06.05.2010) em busca de matéria-prima para a minha obra, uma chamada de atenção aos fiscais do Ministério do Trabalho não seria pedir em demasia. Seria bom também que os SME passassem por essas empreiteiras e verificassem se todos têm autorização legal de permanência. É que se chega rápidamente à conclusão que para além da falta de respeito às normas elementares de saúde e tratamento humanos, há também muitos chineses e chinesas dispensáveis para o tipo de trabalho que se pratica.

Passem por lá, Srs do MAPESS e SME, e apliquem a tolerância ZERO.

Nota: O autor viveu os factos ao dirigir-se aos estaleiros paralelos à obra da SONANGOL DISTRIBUIDORA e cooperativa cajueiro, na estrada da Camama, bairro Viana II. A reprodução textual respeita o "linguajar" dos declarantes.
Publicada por Soberano Canhanga em Sábado, Maio 08, 2010

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