quinta-feira, 10 de março de 2011

Baixios de Dom Rodrigo, um passeio imperdível no Pontal de Coruripe




Formação de corais a 5Km da costa permite banho e mergulho

Baixios de D. Rodrigo
Toda boa viagem deixa saudades, e a nossa, ao litoral sul, infelizmente está chegando a fim. Mas deixamos para essa despedida um passeio encantador e inesquecível, a cinco quilômetros da costa do Pontal de Coruripe: os baixios de D. Rodrigo.

Marcus Toledo
http://tudonahora.uol.com.br/noticia/turismo/2010/04/23/93131/baixios-de-dom-rodrigo-um-passeio-imperdivel-no-pontal-de-coruripe/imprimir

Como falei na reportagem anterior, fizemos o trajeto aos baixios na canoa à motor do Deda, um pescador que reforça o orçamento familiar levando turistas para ver a formação de corais.

O trajeto demora cerca de 25 minutos, porque as ondas castigam o pequeno motor da embarcação. No caminho, não deixe de registrar a beleza do Pontal de Coruripe vista por um ângulo diferente. Acompanhe o farol, cada vez mais longe, e a impressionante com do mar.

É possível ainda ver os arrecifes que marcam a praia do Pontal, os pescadores trabalhando, o ir e vir de pequenas embarcações. O colete salva-vidas é um companheiro inseparável, porque o mar nesse trecho não é dos mais calmos. Mas nada que possa assustar. O Deda cobra 50 reais para fazer o passeio – o que dá apenas 10 reais por pessoa. Uma pechincha.

O passeio precisar ser feito na maré baixa, quando é possível curtir tudo o que os baixios tem a nos oferecer. E não se esqueça do protetor solar e de um bom chapéu.

Visconde espanhol
A origem do nome baixios de Dom Rodrigo é historicamente explicada pelo visconde de Porto Seguro. Era Dom Rodrigo de Acuanã, comandante da nau de São Gabriel, que largou de Corunha, Espanha, em junho de 1525 em direção às Molucas. Sua frota foi desbaratada e Dom Rodrigo, com apenas trinta homens, resolveu retornar à Espanha carregado de Pau-Brasil. Ele aportou ao norte da Bahia e ali, nove de seus homens foram devorados pelos índios Tupinambás.

Com a nau avariada, Dom Rodrigo tomou o rumo do norte e ao cruzar a foz do rio Coruripe, deu de cara com três naus francesas que carregavam Pau-Brasil. Os franceses intimaram Dom Rodrigo a se render. Ele meteu-se num bote e negociou com os franceses, em troca de vinho e óleo.

Enquanto isso, os marinheiros da Nau de São Gabriel que navegavam sem o seu comandante, tomaram o rumo da feitoria de Pernambuco

Um tesouro no meio do mar
Vinte e cinco minutos após a partida, eis que chegamos aos baixios. De início, é difícil acreditar que, depois de tanta água, é possível encontrar um banco de areia e corais daquele jeito.

Descemos do barco para explorar o lugar. A imagem é impressionante. O banco de areia permite a colocação de algumas cadeiras, mesa e guarda-sol. É como se estivéssemos em outra praia, a cinco quilômetros do Pontal.

Mas se o branco da areia em meio ao azul do mar chama a atenção, é impossível não se encantar com a formação de arrecifes. Os corais se espalham por uma grande extensão, formando pequenas piscinas. Os peixinhos coloridos estão por toda a parte. As aves também. A sensação de paz é indescritível.

O Deda sempre carrega no barco óculos e snorkel para quem gosta de mergulhar. Aliás, o lugar é muito procurado pelos amantes do mergulho profissional. Não é permitido alimentar os peixes com pães ou outros tipos de comida. A região é selvagem, pouco explorada, e precisa de preservada a todo custo. "Os peixinhos são lindos. Ver essa região assim, por baixo d'água, é incrivel", comemorava Suzana Maia, de Aracaju (SE).

Mas os baixios ainda guardam outras surpresas para o visitante. Guardam, a bem da verdade, só quando a maré sobe. Quando ela está baixinha, os arrecifes deixam à mostra parte da proa e da âncora de um dos navios que afundaram na região. Os moradores contam que, no passado, várias embarcações já sucumbiram ao se chocar com as pedras. Tirar fotos é quase que uma obrigação.

Como dependemos da maré, só podemos ficar nos baixios por volta de duas horas. Deda dá o sinal e, infelizmente, temos que voltar ao barco. O retorno até a praia é igualmente belo, mas deixa na boca um gosto de saudade.

Tem nada não. O Pontal de Coruripe é bem ali. Quando apertar o desejo, é só pegar a estrada.

Só que, antes de ir embora, não deixe de passar na Associação das Artesãs. Os trabalhos, feitos de palha de ouricuri, são belíssimos. As peças tem design inovador, graças a assessoria prestada por instituições como o Sebrae, e já correram o mundo.

A história
O rio Coruripe, conhecido como Cururugi pelos índios Caetés, deu nome ao município. A região ficou conhecida na história do Brasil por ter sido palco do naufrágio da nau Nossa Senhora da Ajuda, que conduzia o bispo Dom Pero Fernandes Sardinha a Portugal. De uma capela nasceu o povoado, onde já se comercializava ativamente o pau-brasil e outras madeiras.

Na segunda metade do século XIX, a prosperidade de Coruripe fez o lugarejo superar a vila de Poxim, à qual estava subordinado. Foi elevado à vila em 1866. Com a mudança da sede, a freguesia sob invocação de Nossa Senhora da Conceição também foi transferida.

Em 1882 foi instalada a comarca de Coruripe, que foi extinta em 1932 e restaurada em 1935. Embora tenha seu desenvolvimento ligado à agroindústria açucareira, o município tornou-se conhecido pela beleza de suas praias e lagoas que atraem milhares de turistas.

A morte de Sardinha
Naufrágio, morte e canibalismo se misturam na trágica história que envolveu d. Pero Fernandes Sardinha (1495-1556), o primeiro bispo do Brasil. Sardinha exerceu o episcopado desde a criação da diocese da Bahia pelo Papa Julio III, em 1551. Cinco anos mais tarde, por ordem de d. João III, Sardinha embarcou em direção a Portugal na nau Nossa Senhora da Ajuda com uma centena de pessoas, entre as quais fidalgos com as famílias e dois cônegos, além de índios escravos.

O barco naufragaria próximo da foz do rio Coruripe, a cerca de seis léguas (24 quilômetros) do rio São Francisco. No entanto, a maior parte da tripulação e dos passageiros sobreviveu, mas foram aprisionados mortos e devorados por índios caetés. Segundo frei Vicente de Salvador, em sua História do Brasil, além do bispo Sardinha, outras noventas pessoas foram devoradas, salvando-se apenas um português que conhecia a língua nativa e dois escravos índios.

Fato incomum: não pouparam nem as mulheres que estavam na nau. Anos depois, em represália, o governador geral Mem de Sá ordenou o massacre dos caetés.

Nosso passeio a Coruripe teve o apoio fundamental do prefeito Marx Beltrão, da secretaria de Turismo e Pesca, da turismóloga Maria Angélica e da jornalista Marcela Martine, da Assessoria de Comunicação.

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