quarta-feira, 6 de abril de 2011

A voz de Ângela Ferrão cantora do Waco Kungo


A trajectória de vida de Ângela Ferrão começa no nome de registo. Está registada como Ângela da Conceição Paulino. Um equívoco durante o registo fez com que fosse somente registada com o nome Paulino e não com o sobrenome paterno, Ferrão. Hoje, é vulgarmente conhecida como Ângela Ferrão.
Nasceu na fazenda “CADA” Companhia Angolana de Agricultura, grande produtora de café, nos arredores de Amboim, município da Gabela, a 7 de Maio de 1976. Mas aos dez anos foi viver com o pai para o município do Wako Kungo.

http://jornaldeangola.sapo.ao/17/35/a_voz_de_angela_ferrao_cantora_do_waco_kungo

Filha de Amélia da Conceição Domingos Ferrão e de Manuel Paulino Ferrão, ambos professores, desde cedo aprendeu a ler e a escrever. “O meu pai estava a trabalhar no Wako Kungo como professor. Tivemos que ir para lá”.
Primogénita no meio de cinco irmãos, foi em Wako Kungo que Ângela Ferrão aprendeu a ser uma verdadeira dona de casa e a cuidar dos seus quatro irmãos menores. Além de professor, o pai Manuel Paulino Ferrão era um exímio tocador de guitarra e compositor musical. Deu cartas na década de 80, no Festival Nacional da Canção Política. Hoje é uma das referências no contexto musical da província do Kwanza-Sul.
Foi nesta atmosfera que descobriu as notas musicais. Desde menina que evidenciou dotes para uma carreira artística de destaque. Com apenas cinco anos já cantava. Enquanto escutava as conversas do dia-a-dia em casa aproveitava para compor cânticos que retratavam as discussões.
À medida que o tempo foi passando, Ângela foi aperfeiçoando os dotes musicais. Aprendeu a tocar guitarra e a cantar. Passou a interessar-se por todos os concursos musicais no Wako Kungo.
Em menina, viajou inúmeras vezes em companhia do pai com o conjunto Sagrada Esperança para a cidade do Sumbe. Em alguns círculos era conhecida como a moça da viola. No início dos anos 90, foi para Luanda a fim de frequentar o ensino médio. Foi de motorizada de Wako Kungo até ao Sumbe. “Tinha muita vontade de estudar. O meu pai estava com receio que eu perdesse aquele querer. Talvez seja por isso, que ele não tenha esperado por um carro para me levar”.

Destino Luanda
Não parou pelo Sumbe. A intenção do pai era de ver a filha formada em contabilidade e gestão. Decidiu avançar para Luanda, onde acabava de abrir o Instituto Médio de Economia de Luanda (IMEL). Foi lá que estudou depois de se submeter ao teste de aptidão.
Passou a fazer parte das actividades recreativas e culturais organizados pela Associação dos Estudantes do IMEL e pela direcção da escola.
Ângela já tinha sido a vencedora do programa infantil de rádio Pió-Pió, da Rádio Nacional de Angola, aos cinco anos. E era filha de um grande músico, Lito Ferrão.
Os estudantes de Luanda da década de 90 conhecem-na. Muitas vezes era vista a circular na escola com a sua viola às costas. Nas festas culturais interpretava músicas de Roberta Miranda, dos N’gola Ritmos e algumas de sua autoria.
As pessoas que a escutavam reconheciam-lhe grandes qualidades musicais, mas os patrocinadores demoravam a aparecer. Foi nesta altura que conheceu o jornalista da Rádio Luanda, Paulo Feidão que depois a apresentou ao também jornalista Joaquim Freitas. A voz de Ângela Ferrão passou a ser ouvida no programa “Kaluanda Pió” da Rádio Luanda. Passou a gozar de grande prestígio.
Mais tarde participou no “Festival da Luanda Antena Comercial” (LAC), “Prémio Cidade de Luanda” e na primeira edição do “Gala à Sexta-feira” da Televisão Pública de Angola (TPA).
Foi no programa “Gala à Sexta-feira” da TPA que conseguiu um terceiro lugar. Estava alcançado o sucesso. Passou a ser conhecida a nível nacional e internacional em “shows” como Festival Internacional do Sumbe e do Calulu.
Nesta caminhada conheceu músicos de renome e pessoas que a auxiliaram para que o seu primeiro trabalho discográfico fosse um êxito. Em 14 de Outubro de 2007, conseguiu concretizar o seu maior sonho: o lançamento do disco denominado “Wanga” (Feitiço).
A música que dá título ao disco, “Wanga wa Mussulo”, tem letra e música do seu pai, Lito Ferrão. Ângela trabalhou no disco com Nanuto, Ruca Fançony, Pedrito, Sandro Ferrão, Dalú Rogeé, Beth, Gigi e Cidy, Caló Pascoal, Joãozinho Morgado e Quinito.
A abertura do disco é feita com uma homenagem a Teta Lando, com quem Ângela Ferrão interpretou a música Lua Una, um grande sucesso dos anos 70.

Aconteceu comigo Gala à Sexta-Feira
Ângela da Conceição Paulino ou Ângela Ferrão. Desde a infância no Wako Kungo até Luanda, guarda inúmeros momentos marcantes. Altos e baixos. Destaca o concurso Gala à Sexta-Feira realizado de 1999. “ Foi ali que tive um trabalho muito abrangente no campo musical que me levou a conhecer muita gente. Foi algo muito exigente que tive a certeza do que iria fazer bem. Cresci muito com isso”.

Ângela Ferrão Responde
Para quando o seu novo CD?
Estou dependente da questão financeira. Como sabe o meu primeiro disco foi maioritariamente acústico. Essas coisas carecem de muitos gastos, logo que consiga maior segurança já poderei falar do meu segundo disco. O Wanga está tão bom que acho que me devo esforçar muito para fazer uma coisa melhor.

O que faz além da música?
Sou funcionária da Nova Sotecma, responsável pela área dos recursos humanos.
Tem defeitos?
Sim. Sou muito teimosa. Justamente pelo facto do ser humano não ser perfeito, tendo fazer as coisas com alguma perfeição. Quando queremos fazer as coisas com perfeccionismo nem sempre somos aceites. Os outros pensam que estamos a ser muito exigentes.

Qual é a sua fonte de inspiração?
Inspiro-me na vivência pessoal, no dia-a-dia. Acho muito bonito o amanhecer, o pôr-do-sol. Inspira-me também o olhar maravilhoso das crianças, são coisas que me tocam na alma. A relação da mãe com os filhos faz de mim uma pessoa muito sensível. Tanto é que por vezes chego a chorar por ver esta ou aquela pessoa sofrer. É uma coisa que já sei, que não vai passar. Tenho também contado com o apoio do meu pai. Nem todas as músicas que fazem parte do meu disco foram feitas por mim, tive o apoio do meu pai que é um grande compositor.

É casada?
Não me casei ainda. Sou mãe de dois filhos. O primeiro é rapaz e tem hoje 12 anos e a menina tem um ano e meio.

Para quando o casamento?
Ainda não acertamos datas. Espero que seja antes da gravação do meu segundo disco.

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