terça-feira, 25 de setembro de 2012

Antigo papiro pode ser indicação de que Jesus era casado


Em um anúncio que tem tudo para ser controverso, a respeitada historiadora da Universidade Harvard (EUA) Karen King revelou um antigo papiro que parece referir-se a esposa de Jesus.
O documento, apelidado de “Evangelho da Esposa de Jesus”, apresenta um diálogo entre Jesus e os seus discípulos. Porém, ele só possui 33 palavras e frases incompletas. Entre elas, os fragmentos “Jesus disse-lhes: ‘Minha esposa…’”, e “…ela será capaz de ser minha discípula”.
Legítimo?
O fragmento é do século IV. Mas a origem do papiro ainda é desconhecida. “Nada se sabe sobre as circunstâncias de sua descoberta”, disse King. Isso com certeza levantou bandeiras vermelhas para outros estudiosos, que duvidam de sua legitimidade.
King especula que o fragmento pode ter sido jogado no lixo por alguém que se opõe à ideia de Jesus ser casado. O papiro agora pertence a um colecionador anônimo que pediu a King para analisá-lo. Três estudiosos determinaram que o fragmento não é uma falsificação, no entanto, mais testes serão realizados sobre a tinta.
Verdadeiro ou não, não prova nada
Mesmo que o papiro seja antigo e verdadeiro, isso não prova que Jesus foi casado, segundo King.
A especialista explica que, nos primeiros séculos após a morte de Cristo, os cristãos debateram ferozmente o celibato e o casamento.
O fragmento é uma tradução do século IV de um texto grego do século II. Isso não é velho o suficiente para provar que Jesus era casado, apenas que os primeiros cristãos discutiram isso.
“A evidência mais antiga e mais historicamente confiável é totalmente silenciosa sobre o estado civil de Jesus”, diz King.
Ela se refere à Bíblia, que claramente não diz nada a respeito de Jesus se casar, embora escritores do Novo Testamento, ocasionalmente, usem a metáfora da igreja e do povo de Deus como a “noiva de Cristo”.
Até por isso King reconhece que Jesus poderia ter falado figurativamente quando se referiu a “minha esposa”. Afinal, o fragmento não está completo, e está fora de contexto.
Alguns dos evangelhos gnósticos – textos antigos descobertos no século 20 que não estão incluídos no cânone cristão – sugerem que Jesus tinha uma relação íntima com Maria Madalena. O Evangelho apócrifo de Filipe, por exemplo, diz que Jesus beijou Maria, e amava-a mais do que os apóstolos.
King argumenta que os gnósticos eram frequentemente íntimos de formas não sexuais. No Evangelho de Filipe, por exemplo, os cristãos se cumprimentam com beijos para transmitir a sensação de que eles são uma família espiritual.
De resto, as únicas discussões sobre uma “esposa” de Jesus só existem em livros e fantasias, como as de Dan Brown.
Jesus casou. O que muda para a Igreja Católica?
Como é improvável que a descoberta venha a afirmar que Jesus era, de fato, casado, King acredita que a Igreja Católica vai permanecer em silêncio sobre o assunto.
Apesar disso, ela acredita que o papiro pode fazer com que os crentes repensem as suas suposições sobre os primeiros debates cristãos sobre o celibato, casamento e família.
Estes debates iniciais, explica ela, levaram a práticas contemporâneas, como os homens da Igreja Católica Romana do sacerdócio serem solteiros. Muita coisa hoje em dia está aberta para debate no cristianismo, como a homossexualidade, o papel das mulheres no ministério e se os padres devem casar.
Mas isso tem mais a ver com mudanças de pensamento no mundo influenciadas pelo conhecimento humano, e não descobertas arqueológicas, que muitas vezes acabam se revelando falsas (como os milhões de pregos que alegadamente eram os que Jesus usou em seus momentos finais, o que certamente é impossível).
Sendo assim, mesmo que esse papiro se provar verdadeiro, isso só “significaria que há um novo texto apócrifo” que não deve “reabrir o debate” sobre o casamento de Jesus, disse a historiadora.
Segundo King, o Vaticano insiste que não há nada novo para debater sobre o sexo e os requisitos de celibato para o seu sacerdócio, e é improvável que um papiro de origem duvidosa mude isso.[HuffingtonPost]

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