Matéria em: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/imo...0402200701.htm
Prédio expulsa morador de casa
Incorporadoras forçam venda de casas localizadas em terrenos atrativos para o mercado
DÉBORA FANTINI
DA REPORTAGEM LOCAL
http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=447599
Quando as campainhas tocam em bairros paulistanos que são a bola da vez da especulação imobiliária, quem mora em casa já coloca a vassoura atrás da porta para receber os compradores de terrenos, mais conhecidos como captadores.
De acordo com moradores ouvidos pela Folha, na abordagem dos captadores, a ameaça real de que o imóvel se desvalorize com a potencial construção de um espigão ao lado é acompanhada por mentiras.
Além disso, eles costumam oferecer pelo bem um valor abaixo do de mercado.
"Ligam de três a cinco vezes por dia e falam, citando nomes, que vizinhos já venderam, mas é mentira, querem discórdia. Já dissemos que não está à venda", relata o comerciante Paschoal Dallanesi Júnior, 37.
O alvo dos captadores é a casa de sua avó, Maria Dallanesi, 84, na Lapa (zona oeste). No mesmo bairro, incorporadoras já transformaram quarteirões da rua Fábia em "paliteiro" -como os moradores referem-se aos edifícios que atrapalham a vista da serra da Cantareira.
Outros bairros sob pressão imobiliária são Ipiranga e Vila Mariana, na zona sul, e Tatuapé e Mooca, na zona leste (veja mapa na pág. 2).
Segundo o advogado especializado em direito imobiliário Luis Paulo Serpa, 38, o proprietário pode pedir na Justiça indenização por dano moral.
"A pressão fere o direito de propriedade, mas não é comum as pessoas entrarem com um processo porque é difícil comprovar o assédio", pondera.
O advogado da ONG Movimento Defenda São Paulo, Marcus Vinicius Gramegna, 34, recomenda exigir dos captadores que se comuniquem sempre por escrito -a papelada pode ser prova de abordagem que extrapole o limite.
União de vizinhosfaz a força
DA REPORTAGEM LOCAL
Muitas associações e movimentos de bairro surgem contra a especulação imobiliária. A associação de moradores do Jardim da Saúde, por exemplo, conseguiu que a região fosse tombada, barrando a verticalização.
"O tombamento valorizou os imóveis porque há quem queira morar em casas sem ter de se mudar para fora da cidade", diz a veterinária Paula Nogueira, 43.
Para tombar uma região, há regras específicas.
Como não há dispositivo na legislação que proteja quem quer morar em casa, a Lei de Zoneamento, cuja revisão está prevista para este ano, regula a especulação.
"As associações devem exigir um zoneamento mais criterioso", sugere a urbanista Regina Monteiro, 50, do conselho do Defenda São Paulo.
ASSÉDIO IMOBILIÁRIO
Venda deve ter preço de mercado
Para especialistas, melhor opção é trocar terreno por apartamento que será construído
DA REPORTAGEM LOCAL
Mesmo quem concorda em vender o terreno tem dificuldades para negociar com captadores. A causa da insatisfação, nesse caso, é o preço.
Ao receber uma proposta, deve-se buscar o parecer de um corretor ou de um engenheiro.
Na definição do valor, o que conta mais é o terreno e o seu potencial construtivo: qual a metragem que poderá ser edificada -e vendida- pelo incorporador, segundo leis de uso e ocupação do solo.
"É diferente da avaliação do imóvel, que pode valer pouco, por exemplo, por causa da idade da construção", orienta o advogado Daphnis Citti, 59.
Tente obter o valor de mercado do terreno, mas não espere por superofertas. "As construtoras trabalham com margens de lucros mais apertadas que nas décadas de 70 e 80, quando as vendas eram garantidas", diz o corretor Maled Fakhouri.
Atualmente as construtoras buscam terrenos com metragem a partir de
Obter o preço solicitado não basta. Antes de fechar o negócio, investigue a idoneidade do comprador para afastar a possibilidade de sofrer um golpe.
As formas de pagamento também merecem atenção. A mais comum é a permuta do lote por uma unidade no prédio que será construído.
Ainda que o risco de ficar a ver navios seja maior -caso o empreendimento não saia do papel-, essa opção é considerada a mais recompensadora pelo presidente do Cofeci (conselho federal de corretores) João Teodoro da Silva, 55.
"A remuneração por metro quadrado é melhor, pois o negócio é fechado pelo preço de custo [do apartamento]", diz.
A secretária aposentada Cristina Grecco, 52, e o pai dela, o porteiro aposentado Rubens Grecco, 80, concordam em vender a casa em que moram, no Cambuci (centro), mas acham baixa a proposta que receberam -R$ 90 mil.
"Passamos 30 anos juntando dinheiro para comprar essa casa e precisaríamos de pelo menos R$ 120 mil para pagar por outra similar", argumenta a filha. Segundo ela, a construtora pressiona-os, ameaçando demolir a casa geminada à deles.
A assistente comercial Mônica Albano, 27, virou o jogo. Ela soube que um empreendimento só seria viável caso seu lote fosse incorporado: "Minha casa foi a última a ser comprada. Se não pagassem o que eu pedisse, perderiam o investimento. Não pedi nada exorbitante, só não aceitei permuta".
Casa nas costas
A memória de casas que serão demolidas vai virar um documentário com lançamento previsto para julho deste ano. "Os moradores escolhem imagens e sons que desejam guardar", conta o cineasta Andre Costa, 34, da Caracol Filmes (0/xx/11/3483-9663).
O projeto surgiu quando um conhecido pediu-lhe para fazer um vídeo da casa que daria espaço a um espigão e não se encerra no documentário. "Captaremos histórias por cinco anos e divulgaremos em sites e para associações de bairros."
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Imagem: http://somosandando.files.wordpress.com/2010/04/fase.jpg
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