segunda-feira, 31 de maio de 2010

A Máfia da Especulação Imobiliária mostra suas garras sujas



Matéria em: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/imo...0402200701.htm

Prédio expulsa morador de casa
Incorporadoras forçam venda de casas localizadas em terrenos atrativos para o mercado


DÉBORA FANTINI
DA REPORTAGEM LOCAL

http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=447599


Quando as campainhas tocam em bairros paulistanos que são a bola da vez da especulação imobiliária, quem mora em casa já coloca a vassoura atrás da porta para receber os compradores de terrenos, mais conhecidos como captadores.
De acordo com moradores ouvidos pela Folha, na abordagem dos captadores, a ameaça real de que o imóvel se desvalorize com a potencial construção de um espigão ao lado é acompanhada por mentiras.
Além disso, eles costumam oferecer pelo bem um valor abaixo do de mercado.
"Ligam de três a cinco vezes por dia e falam, citando nomes, que vizinhos já venderam, mas é mentira, querem discórdia. Já dissemos que não está à venda", relata o comerciante Paschoal Dallanesi Júnior, 37.
O alvo dos captadores é a casa de sua avó, Maria Dallanesi, 84, na Lapa (zona oeste). No mesmo bairro, incorporadoras já transformaram quarteirões da rua Fábia em "paliteiro" -como os moradores referem-se aos edifícios que atrapalham a vista da serra da Cantareira.

Outros bairros sob pressão imobiliária são Ipiranga e Vila Mariana, na zona sul, e Tatuapé e Mooca, na zona leste (veja mapa na pág. 2).
Segundo o advogado especializado em direito imobiliário Luis Paulo Serpa, 38, o proprietário pode pedir na Justiça indenização por dano moral.
"A pressão fere o direito de propriedade, mas não é comum as pessoas entrarem com um processo porque é difícil comprovar o assédio", pondera.
O advogado da ONG Movimento Defenda São Paulo, Marcus Vinicius Gramegna, 34, recomenda exigir dos captadores que se comuniquem sempre por escrito -a papelada pode ser prova de abordagem que extrapole o limite.

União de vizinhosfaz a força
DA REPORTAGEM LOCAL

Muitas associações e movimentos de bairro surgem contra a especulação imobiliária. A associação de moradores do Jardim da Saúde, por exemplo, conseguiu que a região fosse tombada, barrando a verticalização.
"O tombamento valorizou os imóveis porque há quem queira morar em casas sem ter de se mudar para fora da cidade", diz a veterinária Paula Nogueira, 43.
Para tombar uma região, há regras específicas. Em São Paulo, elas são definidas pelo Conpresp (conselho municipal do patrimônio histórico).
Como não há dispositivo na legislação que proteja quem quer morar em casa, a Lei de Zoneamento, cuja revisão está prevista para este ano, regula a especulação.
"As associações devem exigir um zoneamento mais criterioso", sugere a urbanista Regina Monteiro, 50, do conselho do Defenda São Paulo.

ASSÉDIO IMOBILIÁRIO

Venda deve ter preço de mercado
Para especialistas, melhor opção é trocar terreno por apartamento que será construído

DA REPORTAGEM LOCAL

Mesmo quem concorda em vender o terreno tem dificuldades para negociar com captadores. A causa da insatisfação, nesse caso, é o preço.
Ao receber uma proposta, deve-se buscar o parecer de um corretor ou de um engenheiro.
Na definição do valor, o que conta mais é o terreno e o seu potencial construtivo: qual a metragem que poderá ser edificada -e vendida- pelo incorporador, segundo leis de uso e ocupação do solo.
"É diferente da avaliação do imóvel, que pode valer pouco, por exemplo, por causa da idade da construção", orienta o advogado Daphnis Citti, 59.
Tente obter o valor de mercado do terreno, mas não espere por superofertas. "As construtoras trabalham com margens de lucros mais apertadas que nas décadas de 70 e 80, quando as vendas eram garantidas", diz o corretor Maled Fakhouri.

Atualmente as construtoras buscam terrenos com metragem a partir de 5.000 m2, resultantes da reunião de lotes, para erguer condomínios-clubes, com grande área de lazer.
Obter o preço solicitado não basta. Antes de fechar o negócio, investigue a idoneidade do comprador para afastar a possibilidade de sofrer um golpe.
As formas de pagamento também merecem atenção. A mais comum é a permuta do lote por uma unidade no prédio que será construído.
Ainda que o risco de ficar a ver navios seja maior -caso o empreendimento não saia do papel-, essa opção é considerada a mais recompensadora pelo presidente do Cofeci (conselho federal de corretores) João Teodoro da Silva, 55.

"A remuneração por metro quadrado é melhor, pois o negócio é fechado pelo preço de custo [do apartamento]", diz.
A secretária aposentada Cristina Grecco, 52, e o pai dela, o porteiro aposentado Rubens Grecco, 80, concordam em vender a casa em que moram, no Cambuci (centro), mas acham baixa a proposta que receberam -R$ 90 mil.
"Passamos 30 anos juntando dinheiro para comprar essa casa e precisaríamos de pelo menos R$ 120 mil para pagar por outra similar", argumenta a filha. Segundo ela, a construtora pressiona-os, ameaçando demolir a casa geminada à deles.
A assistente comercial Mônica Albano, 27, virou o jogo. Ela soube que um empreendimento só seria viável caso seu lote fosse incorporado: "Minha casa foi a última a ser comprada. Se não pagassem o que eu pedisse, perderiam o investimento. Não pedi nada exorbitante, só não aceitei permuta".

Casa nas costas
A memória de casas que serão demolidas vai virar um documentário com lançamento previsto para julho deste ano. "Os moradores escolhem imagens e sons que desejam guardar", conta o cineasta Andre Costa, 34, da Caracol Filmes (0/xx/11/3483-9663).
O projeto surgiu quando um conhecido pediu-lhe para fazer um vídeo da casa que daria espaço a um espigão e não se encerra no documentário. "Captaremos histórias por cinco anos e divulgaremos em sites e para associações de bairros."

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Imagem: http://somosandando.files.wordpress.com/2010/04/fase.jpg

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