sexta-feira, 24 de abril de 2009

BOUDICCA a nobreza celta


Boudicca é conhecida nos anais de Roma como Boadicea. Era uma nobre que nasceu por volta do ano 30. Pouco se sabe de onde veio, mas alguns estudiosos acreditam que seu nome é uma homenagem à deusa da Vitória Boudiga, do panteão celta, dado por seus seguidores.

Ela se casou dentro da nobreza do povo Iceni, do sudoeste da Bretanha, por volta de 48, dando à luz a duas filhas que alcançaram a adolescência antes do falecimento de seu pai, por volta do ano 60. A partir de sua morte, ocorreram uma série de ataques de surpresa dos romanos a ela e à suas filhas, ultrajando a tripo dos Iceni. Boudicca finalmente liderou uma força composta por mais de cem mil guerreiros, numa rebelião maciça que deixou uma ferida à integridade do Império Romano.

História

Boadicea fazia parte da nobreza céltica. Os Celtas eram um povo guerreiro que habitava as Ilhas Britânicas e a Europa Ocidental desde o século V AC aproximadamente. Os romanos fizeram várias incursões infrutíferas à Gália ao longo dos séculos e os celtas eram admirados por seu destemor e coragem.

Um ajuntamento de forças célticas saqueou Roma em 410, causando o colapso do Império que, de fato, já se encontrava dividido.

O que mais aterrorizava os combatentes romanos diante das forças célticas era que homens e mulheres combatiam lado a lado, sem distinção de honra ou valor e muitos menos, quanto ao vigor na batalha.

Mesmo assim, Roma sentiu-se extremamente ultrajada pelo fato da rebelião dos Celtas ser liderada por uma mulher.

César

Julio César invadiu a Bretanha duas vezes, primeiro em 55 AC e depois novamente no ano seguinte, obtendo então a submissão de seis poderosas tribos do leste, entre os quais, as tribos dos Iceni. Em virtude de outras questões relativas à ocupação das Ilhas do Canal e dos combates existentes contra os gauleses, deixou aquelas tribos governando-se a si mesmas, embora passassem a manter relações comerciais inclusive com a Gália Romana, pacífica e latinizada. César jamais retornou para a região e a vida retornou à normalidade pelos próximos cem anos.

O Retorno de Roma

Prasutagus, marido de Boudicca, era o provável rei dos Iceni quando Roma retornou em 43, com Claudius. Claudius enviou cerca de 60 mil homens não apenas para invadir a Bretanha, mas também para colonizá-la, depois de investigar e pesquisar sobre as vitórias e fracassos das incursões anteriores.

Os Iceni foram assim novamente subjugados e Prasatugus foi mantido no trono como rei-vassalo de Roma. Desta forma, havia um governante local dirigindo-se diretamente ao seu povo e suas terras, subordinado aos interesses de Roma. Dessa maneira, contavam com apoio militar, um estrutura de taxas e coletas de impostos e educação nos moldes da existente no Império. No fundo, tratava-se de uma escravidão branda.

Como disse Calgacus, líder dos caledônios, que liderou a rebelião 20 anos depois de Boudicca:

“Eles devastam tudo e criam a desolação, chamando a isso de paz”.

Haviam vários regentes submetidos à Roma a leste e ao sul da Bretanha. O País de Gales se submeteu apenas depois de 30 anos de violentos combates. E quanto mais ao norte os romanos se dirigiam, mas difícil se tornava controlar o povo. No extremo norte da ilha, cerca de 60 anos após Boudicca, os romanos tentaram conter os caledônios construindo uma muralha (Vallum Hadrianus), mantendo-os distante dos territórios romanos. O que mais tarde se tornou a Escócia permaneceu livre, uma prova de que jamais estiveram na Irlanda. O mais próximo que chegaram foi até a Ilha Mona (Anglesey), que era um santuário druídico renomado, destruído pelos romanos sob o governo de Suetonius Paulinis, na mesma época em que Boudicca reunia as suas forças.

A Rebelião

Depois de casar com Prasutagus, por volta do ano 48, Boudicca se tornou a rainha dos Iceni. Deu à luz a duas filhas, de nomes desconhecidos. Acredita-se que estavam na adolescência por ocasião da morte de seu pai entre os anos de 60 e 61. Boudicca então se tornou a regente dos Iceni e guardiã da herança de suas filhas.Prasutagus deixou um desejo ao morrer. Deixava terras e possessões pessoais, bem como quantias em dinheiro para o Imperador (na época, Nero), como era requerido dele como vassalo de Roma. Mas também deixou dinheiro e algumas propriedades para sua esposa e filhas. Ao sacrificar-se agindo assim, pensava assegurar a continuidade o pagamento de taxas e tributos à Roma durante um bom tempo. Acreditando que havia salvaguardado os interesses de seus descendentes, Prasutagus morreu despreocupado.

Porém, após a morte de Prasutagus, representantes da administração tributária de Roma foram enviados à Bretanha, acompanhados de guardas para contestar seu testamento. Segundo as leis romanas, não poderia deixar bens, propriedades e recursos à família sem o direto consentimento do imperador.

Boudicca foi tornada inteiramente responsável por todos os débitos junto a Roma. Por não ter como honrá-los, Roma não poupou esforços para utilizá-la como exemplo. Foi feita prisioneira e açoitada em público, enquanto que suas filhas foram levadas para longe e violentadas pelos soldados romanos. A isso chamavam de “a Lei Romana”. Nenhum crime havia sido cometido pelos Iceni aos romanos além do fato de Prasutagus ter distribuído alguns de seus recursos às suas filhas...

Ela recuperou suas filhas e trazendo-as novamente para o seu povo. Então, várias pequenas insurreições e rebeliões começaram a acontecer primeiramente ao sul, particularmente pelos Trinovantes, libertando seus parentes e familiares que passaram a engrossar as suas fileiras. Eles faziam parte de uma tribo que não havia se submetido aos romanos e que se colocou à disposição dos Iceni para responder ao ultraje recebido. E foi dessa maneira que as duas tribos que eram inimigas entre si por séculos estabeleceram uma aliança para se juntarem a Boudicca quando ela conclamou à guerra.

O Governador da Bretanha, Suetonius Paulinus estava justamente acabando com uma rebelião que seguia uma profecia dos druidas que falava de paz na ilha, quando uma nova rebelião se instalava cerca de 300 milhas adiante. Assim que terminou de aniquilar todos os seus habitantes e destruir os seus santuários, levantou acampamento e dirigiu as suas tropas em seguida.

Acredita-se que Boudicca reuniu cerca de cem mil pessoas quando liderou o primeiro ataque a Camulodunum Colônia (Colchester), uma colônia distante da administração romana e de suas famílias. No interior da cidade, uma quinta coluna de rebeldes assegurou que o ataque ocorreria sem aviso ou problema. Os combates duraram alguns dias, tempo suficiente para que mensageiros corressem a Londinium (Londres) e informassem o Procurador, uma vez que o Governador estava fora de alcance. Este respondeu enviando apenas 200 homens, que foram rapidamente abatidos na batalha.

Tácito cita a religiosidade romana e britânica que previu a desgraça futura de Roma:

“Apesar de tudo, sem nenhuma causa evidente, a estátua da Vitória em Camulodunum permanecia prostrada e de costas para o inimigo, como um presságio a ser refletido. Mulheres profetizavam a destruição em línguas estranhas e diz-se que foram ouvidas inclusive no Senado. Os combates foram tão fortes que a cidade parecia um cemitério e o Tamisa, um rio de sangue. E quando a maré baixava, corpos surgiam fantasmagóricos de suas águas. Para os bretões, esse sinal eram um alento; para os romanos, apavorante. Os soldados veteranos de Roma mantiveram-se fechados por mais dois dias, trancados no templo de seus deuses. Desempenhando a função de agricultores, estavam pouco equipados para lutas tão ferozes quanto aquela.”

Foi quando Boudicca se moveu. Camulodunum era uma cidade destruída e seus habitantes estavam totalmente fora de combate.

A IXª Legião Hispana, guiada por Petilius Cerialis, foi enviada para Camulodunum. Rapidamente se equipou e deslocou para a região do conflito trazendo cerca de cinco mil homens, mas foi emboscado por um destacamento que os esperava a norte de Camulodunum. A infantaria foi totalmente dizimada; Petilius e sua cavalaria se retiraram mais para norte e a rebelião rapidamente se espalhou.

Após as notícias da revolta, o Procurador Decianus partiu imediatamente de seu gabinete em Londres, levando tudo o que podia, inclusive os seus próprios funcinários, deixando a cidade sem administração.

Suetonius, enquanto isso, marchou rapidamente para Londres, inspecionando a cidade com um destacamento. De alguma maneira, evitara a chegada de Boudicca de Camulodunum, conduzindo uma legião inteira por cerca de 400 km, esperando encontrar apenas ruínas pelo caminho. Nessa época, Londres era uma cidade burguesa, com seus negócios e feiras espalhadas por toda a sua extensão. Não era uma cidade particularmente fortificada, uma vez que sua principal atividade era realmente os negócios e seus cerca de 30 mil habitantes, romanos ou não, sentiam-se em casa. Apesar de Suetonius ter chegado a tempo, abandonou prontamente a cidade, pois sabia que não poderia ser defendida.

Tácito descreve a cena em seus anais:

”Ele decidiu sacrificar a cidade para salvaguardar a situação geral. Sem se deixar levar pelos pedidos e lágrimas daqueles que imploravam por sua ajuda, ele deu o sinal para partir, levando a sua coluna e todos aqueles que quisessem acompanhá-lo. Aqueles que não estavam preparados para a guerra, seja por seu sexo, idade ou porque eram muito presos aos seus negócios para os abandonarem, acabaram sendo mortos pelo inimigo.

Boudicca e suas forças chegaram a Londinium pouco depois da partida de Suetonius e arrasaram inteiramente a cidade, não deixando pedra sobre pedra.”

Depois de deixar Londres, Boudicca se voltou para noroeste para Verulamium (Santo Albano), uma cidade pouco menos populosa que Camulodunum, mas composta inteiramente de bretões simpatizantes ao regime romano. Suetonius convocava agora a IIª Legião Agusta do sudoeste para reunir-se às suas próprias legiões. Mas parece que não compareceram a tempo, contidas por seu comandante Poenius Postumus. Sem eles, Suetonius reuniu rapidamente cerca de dez mil homens compostos dos destacamentos da XXª Legião que o acompanharam à Ilha Mona, da XIVª Legião e dos auxiliares disponíveis na área que poderiam ser reunidos o mais rapidamente possível. Supõe-se que assim tenha reunido cerca de 200 mil homens.

Os habitantes de Verulamium receberam orientações de Boudicca assim que ela partiu de Londres. Antes que ela chegasse, a população evacuou a cidade levando consigo todos os seus pertences. Ainda assim, assim que o exército atravessou a cidade, ateou fogo em tudo e em todos aqueles que se recusaram a seguir as suas ordens. Mas ainda não foi dessa vez que Boudicca conseguiu atacar os exércitos de Suetonius.

A Batalha Final

Suetonius buscava uma região com um terreno particularmente favorável para a batalha, que pudesse favorecer o trabalho de seus soldados, tendo que lutar com o seu inimigo vindo exclusivamente de uma frente. A localização precisa deste local nunca foi determinada, porém, acredita-se que tenha sido a oeste de Middlands. Tácito observa que os bretões vinham para a batalha com todo a sua família e pertences, acreditando realmente que poderiam conquistar a vitória e restaurar a paz. Pergunta-se porque traziam toda a família para as frentes de batalha. Talvez fosse para mantê-los seguros de ataques furtivos dos romanos contra eles, evitando ainda que fossem feitos cativos ou que os romanos lhes tomassem suas posses.

As duas forças se encontraram e se prepararam para a batalha. Para essa batalha, Boudicca é descrita com uma mulher cansada e com alguns ferimentos, conduzindo um clã de tártaros armados até os dentes e com uma aparência terrível (Tácito). Os celtas costumavam ir para a batalha com seus tambores, vestidos com roupas próprias para a guerra, brandindo lanças, espadas e armas roubadas. A pele era pintada de azul para intimidar o inimigo. Pode-se imagina a reação provocada nos soldados romanos bem treinados, mas não acostumados a enfrentar inimigos com esse aspecto. Diz-se ainda que os comandantes falavam das possibilidades da vitória, convencendo que poderiam vencer, antes que Boudicca fizesse o mesmo e liderasse finalmente suas tropas para a batalha.

Os romanos, em contrapartida, permaneciam naquela clássica formação de falange, seus escudos acima das cabeças servindo-lhes de proteção contra as lanças dos bretões. Assim que o inimigo estava ao alcance, Suetonius deu a ordem de formarem uma cunha, quando arremessaram as suas lanças e dardos. Em seguida, avança a infantaria auxiliar, sempre em ondas. Com esse ataque, o coração da tropa dos bretões que havia avançado primeiramente jazia morto e o caos se instalava na retaguarda bretã. Porém, os romanos avançaram ainda a sua cavalaria pelos flancos, buscando alcançar justamente a retaguarda bretã, onde estavam suas famílias e era considerado o ponto mais vulnerável de suas defesas.

Por fim a infantaria cercou as forças de Boudicca, deixando-a sem alternativa a não ser o combate. E muitos realmente acabaram morrendo. A partir dessa batalha, muitas outras rebeliões se sucederam.

Tácito diz que “para este combate havia cerca de 80 mil bretões e que apenas cerca de 400 soldados romanos foram mortos. A tradição diz que Boudicca sobreviveu à Batalha Final apenas para retornar ao lar e envenenar-se. É pouco provável que Nero tivesse clemência em seu caso ou de suas filhas. Se Boudicca tivesse sobrevivido e sido capturada, seria exibida como um troféu por Suetonius, em Roma, submetida então a horrores indescritíveis e por fim, levada a ser executada pelos gladiadores na arena”.

Cássio Dio sugere que tenha sido queimada como heroína, como é do costume dos celtas.

Conseqüências

Aqueles que foram capturados pelos romanos foram “vingados pelo fogo e pela espada”, de acordo com Tácito. O historiador diz ainda que muitos bretões deixaram de semear as suas plantações antes de deixarem as suas terras e assim, quando retornaram, muitos morreram de fome. Isso nos sugere que a rebelião tenha durado cerca de um ano.

Em várias localidades, muitos ainda permaneceram lutando, porque nada mais tinham a perder.

Fala atribuída a Boadicea (Tácito)

Agora, não sou apenas uma mulher de ascendência nobre, mas principalmente uma pessoa que se vinga pela perda da liberdade, pelo meu corpo açoitado, pela castidade ultrajada de minhas filhas. O desejo romano foi tão longe que nenhuma pessoa, independente de sua idade ou virgindade, permanece despoluída. Mas os céus estão do lado da vingança justa. Uma legião que se atreveu a lutar já pereceu; o restante está se escondendo nos campos ou tentando escapar ansiosamente. Sua força de vontade não sustenta o clamor de tantos milhares, muito menos de nossos ataques. Se você ponderar as forças de nossos exércitos, você verá que num combate você deve conquistar ou morrer. Esta é a responsabilidade das mulheres, pois para os homens, resta permanecerem vivos e se tornarem escravos.

Henrique Guilherme Wiederspahn, ESQUILO FALANTE
http://www.arteantiga.org/henrique/artigo02.php
boudi

foto
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Boudiccastatue.jpg

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