sábado, 3 de dezembro de 2011
Por Aquele Caminho. Adriano Correia de Oliveira (1942-1982). Letra de José Afonso
Por aquele caminho
De alegria escrava
Vai um caminheiro
Com sol nas espáduas.
Ganha o seu sustento
De plantar o milho.
Aquece-o a chama
Dum poder antigo.
Leva o solitário
Sob os pés marcado
Um rasto de sangue
De sangue lavado.
Levanta-se o vento
Levanta-se a mágoa
Soltam-se as esporas
Duma antiga chaga.
Mas tudo no rosto
De negro nascido
Indica que o negro
É um espectro vivo.
Quem lhe dá guarida
Mostra-lhe a pintura
Duma cor que valha
Para a sepultura.
Não de mão beijada
Para que não viva
Nele toda a raiva
Dessa dor antiga.
Falta ao caminheiro
Dentro da algibeira
Um grão de semente
Doutra sementeira.
O sol vem primeiro
Grande como um sino.
Pensa o caminheiro
Que já foi menino.
Ganha o seu sustento
De plantar o milho.
Aquece-o a chama
Dum poder antigo.
Falta ao caminheiro
Dentro da algibeira
Um grão de semente
Doutra sementeira.
Imagem: do Ventre Livre-1871). Quem faz a oferta é um tal de Manoel Dias Pereira ...
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