A Igreja Católica Apostólica Romana não
permite que homens casados se tornem sacerdotes, mas essa regra poderia, em
teoria, ser alterada. O celibato sacerdotal tem suas raízes na tradição da
igreja – e não em uma dogma católico –, o que significa que o papa poderia
alterar esta regra da noite para o dia.
Até agora, o Papa Francisco deu pouca
indicação de que o celibato dos padres esteja no fim. No entanto, o arcebispo
Pietro Parolin, novo secretário de Estado do Vaticano e homem número 2 do papa,
já afirmou publicamente que o assunto está aberto para discussão, embora ainda
seja uma tradição católica firmemente enraizada.
Aqueles que estão satisfeitos com as regras atuais
da igreja argumentam que o celibato sacerdotal permite que os padres dediquem
seu tempo e sua energia completamente em seu rebanho e em seguir mais fielmente
os passos de Jesus, que também nunca casou.
Entretanto, há quem gostaria de que os sacerdotes
pudessem ter a escolha de se casarem. De acordo com eles, o celibato é tão
difícil para muitos homens que consegue, sozinho, dissuadir muito deles de
seguirem a vida na igreja. Outro argumento comum é o de que essa proibição faz
com que pessoas sexualmente imaturas guiem sua comunidade.
As raízes da exigência do celibato remontam à época
de Jesus Cristo: segundo a Bíblia, ele era virgem e solteiro. No livro sagrado,
Jesus é muitas vezes comparado a um noivo cuja noiva é a Igreja. Muitos dos
mártires e primeiros seguidores da religião também viviam em castidade.
O primeiro chefe da Igreja Católica (efetivamente,
o primeiro papa), Pedro, era casado, assim como muitos dos outros apóstolos
durante o tempo de Jesus. Mas no Novo Testamento, o casamento era visto como
uma opção santa para aqueles que, de outra forma, teriam dificuldade para
controlar seus impulsos sexuais.
“O que você encontra logo no início da Igreja é
que, por um lado, o casamento era visto como um bem enquanto a virgindade era
considerada um bem ainda maior”, conta Mark Shea, blogueiro e católico, autor
do livro “Fazendo Sentido a Partir das Escrituras: Lendo a Bíblia como os
Primeiros Cristãos”, de 1999.
Na Idade Média, entretanto, muitos sacerdotes
passaram a tratar sua vocação como um “negócio de família”, e começaram a dar
preferência a seus filhos para cargos importantes e tentar sabotar a competição
entre os sacerdotes para proteger o seu próprio legado. “Devido à prática que
havia se tornado relativamente comum na época, a Igreja proibiu formalmente o
casamento para os padres cerca de mil anos atrás”, explica Shea.
Do ponto de vista espiritual, os sacerdotes são
chamados a agir como Cristo, o que inclui seu estilo de vida celibatário. Mesmo
assim, ainda há alguns casos em que padres católicos podem ser casados: os
sacerdotes de Igrejas Episcopal ou Luterana que se casaram e, em seguida, se
converteram ao catolicismo romano podem ser ordenados. Os padres nos ritos
orientais, como a Igreja Ucraniana, podem se casar antes de serem ordenados.
Alguns críticos dizem que o celibato sacerdotal
obrigatório deve ser banido. “Na Igreja Católica, temos uma história de 2 mil
anos que atesta sua impossibilidade para muitas pessoas”, afirma A.W. Richard
Sipe, sociólogo e ex-monge beneditino que está casado há 43 anos. “Muita gente
simplesmente não consegue fazer isso”.
Em um estudo de 2012, publicado na revista Journal of
Prevention & Intervention in the Community, os pesquisadores descobriram
que uma quantidade considerável de sacerdotes – mesmo que ainda representassem
a minoria dos padres consultados – mantinha relações sexuais. Alguns o faziam
com homens, outros com mulheres. Cerca de 30% deles admitiu praticar a
masturbação.
Segundo Sipe, há outros problemas em proibir o
matrimônio para os padres. “O sacerdócio católico, em certo sentido, promove
uma imaturidade psicossexual ao impor o celibato”, opina. “Isso poderia tornar
mais difícil para os sacerdotes oferecerem conselhos sábios e maduros sobre
essas questões aos seus paroquianos”.
Outras pesquisas sugerem que mais homens estariam
interessados no sacerdócio caso o celibato se tornasse opcional. Com a escassez
de padres que vive a Igreja neste momento, muitos enxergam na eliminação da
exigência do celibato uma possível solução.
No entanto, Shea é cético. Os protestantes, cujos
pastores e ministros estão autorizados a se casar, também observam a quantidade
de clérigos caírem assustadoramente. “As pessoas que se sentem atraídas para as
vocações sacerdotais normalmente estão interessadas em servir a Jesus e à
comunidade. Não imagino como a eliminação da exigência do celibato no rito
latino vá mudar muita coisa”.
Ao contrário da regra que impede as mulheres de
seguirem o sacerdócio, o celibato sacerdotal é considerada uma tradição, e não
um dogma oficial da Igreja. Por isso, pelo menos na teoria, o papa poderia
mudar esta regra a qualquer momento. No entanto, esta decisão teria
consequências práticas. Atualmente, os sacerdotes se mantêm por meio das
doações que as pessoas oferecem à paróquia que frequentam.
“Se os padres puderem casar, logo haverá filhos,
mais despesas de saúde, haverá gastos extra com o jardim de infância, escola,
faculdade…”, ressalta Shea. Ele considera que devemos ter isso em mente também.
Shead também considera que os padres muitas vezes
servem a milhares de fiéis, e são os únicos que podem oferecer o sacramento na
missa, onde os cristãos acreditam que a hóstia e o vinho se tornam o corpo e o
sangue de Cristo. “Ter uma família poderia realmente tirar o tempo e a energia
dos sacerdotes que agora se concentram exclusivamente nas necessidades
espirituais de seu rebanho”, comenta.
Shea finaliza dizendo que outras denominações
cristãs tiveram 500 anos para descobrir como apoiar o casamento em união com o
trabalho espiritual para a comunidade, mas a Igreja Católica precisaria fazer
todo esse trabalho a partir do zero. [Live Science]
http://hypescience.com
Sem comentários:
Enviar um comentário