16 de maio de 2010 | 0h 00. O boom induzido por um aumento nos empréstimos e a especulação podem levar o país ao desastre econômico
As conversas sobre a China estão confusas. O mercado acionário de Xangai está no seu nível mais baixo em oito meses, com o setor imobiliário especialmente atingido. No entanto, a mídia está concentrada numa bolha imobiliária que provocou outro passo mínimo para conter o crédito bancário e evitar a especulação.
Philip Bowring, The New York Times - O Estado de S.Paulo
http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100516/not_imp552468,0.php
Enquanto isso, outros temem que um grande colapso está prestes a explodir, após o boom induzido por um aumento de 32% dos empréstimos, no ano passado, o que empurrou o crescimento do Produto Interno Bruto, no primeiro trimestre, para temerários 11,9%. Mesmo o consenso geralmente otimista sobre a China parece estar pendendo para os pessimistas, que preveem desastres à frente. Eles observam, em particular, o aumento silencioso, mas espetacular, da captação de empréstimos por companhias controladas por governos locais e usados em projetos de duvidoso valor comercial.
Haverá um meio termo plausível entre essas posições? Sim, há numa visão de curto prazo, mas o longo prazo é mais problemático. Existe inquestionavelmente uma bolha imobiliária, em particular nas principais cidades, onde os preços foram pressionados pelos investimentos especulativos, já que os poucos que têm dinheiro - obtido, em geral, por meios desonestos - compram mais propriedade. Os preços subiram 40% em 18 meses, segundo analistas independentes.
Eles são hoje quase 20 vezes a renda média nas maiores cidades do país e pelo menos 10 vezes em muitas menores - muito além do alcance da maioria dos assalariados, mesmo numa sociedade em que as taxas de juros estão abaixo da taxa da inflação, os mercados acionários são erráticos e, com isso, o imóvel é visto como o único patrimônio confiável.
Oferta. Há uma perspectiva razoável de que essa bolha esvazie gradualmente com uma oferta adicional de habitação e medidas administrativas do governo para restringir o crédito. Uma queda de 20% nos preços de pico pode ocorrer, mas isso não deve prejudicar os bancos porque poucas compras são feitas com menos de 20% de entrada.
Numa visão de médio prazo, os preços também devem ser reduzidos pelo governo, que está voltando ao negócio da habitação para pessoas de baixa renda com a reserva de terras urbanas. No futuro, de 25% a 30% das novas construções urbanas poderão ser para esse setor e, provavelmente, terão um efeito indireto, melhorando a acessibilidade para pessoas de renda média. Uma desaceleração da urbanização também pode reduzir a pressão sobre os preços dos imóveis. Um mercado imobiliário mais equilibrado pode revelar, contudo, um problema maior: o verdadeiro estado das finanças dos governos locais.
Os governos municipais e provinciais ficaram extremamente dependentes da receita da venda de terras. Administrações locais têm interesses estabelecidos na especulação e nos altos preços da terra para financiar infraestruturas grandiosas e exibir projetos que engrandeçam suas reputações e promovam o crescimento local.
O rápido aumento do preço das terras fez crescer as receitas de governos locais de modo que as autoridades têm um interesse estabelecido em manter os preços inflados. Mas, mesmo sem esforços do governo central para frear os preços, as receitas vindas da terra devem estagnar em breve.
O segredo sujo da China são as quantias emprestadas por corporações criadas por administrações locais como fachadas para projetos grandiosos. Enquanto as finanças do governo central continuam muito conservadoras, a situação é mais opaca fora delas.
A separação dos setores estatal e corporativo ainda é confusa. Empresas ligadas ao governo têm recebido a maior parte do crédito novo, geralmente para gastá-lo sem se preocupar muito com o retorno do investimento. Um setor genuinamente privado tem menos influência política para obter empréstimos e é corretamente visto como mais arriscado do que um setor estatal que pode conseguir salvamentos e possui terra para vender e pagar dívidas.
Dados os níveis mínimos de endividamento familiar e da baixa exposição bancária direta em imóveis, a China pode suportar algumas bolhas e estouros imobiliários, como puderam outros países do Leste Asiático em décadas passadas. Mas o que ela não pode suportar, particularmente agora que sua força de trabalho não está mais crescendo e a urbanização está desacelerando, é o uso ineficiente do capital. Esse perigo está sendo exacerbado pelas baixas taxas de juros e um viés bancário para empréstimos ao setor estatal.
A taxa de poupança muito alta da China é um amortecedor, mas ela reduz o consumo e, se for pouco investida, acabará resultando em salvamentos e buracos negros para bancos. Perguntem à Tailândia e à Coreia do Sul sobre a origem de suas crises em 1997. / TRADUÇÃO DE CELSO M. PACIORNIK
É COLUNISTA DO "INTERNATIONAL HERALD TRIBUNE" E EX-EDITOR DA "FAR EASTERN ECONOMIC REVIEW"
Imagem: http://jornale.com.br/mirian/wp-content/uploads/2009/06/loteamento.jpg
Sem comentários:
Enviar um comentário