" - O problema é que, mesmo os bons como o teu Diamantino, chegam ao poder e deixam-se levar. Era um miúdo tão promissor e agora também já está na boca do povo. O Paulo de Carvalho é outro: Tinha tudo para ser líder, mas como colocou a ambição acima de tudo, vai deitar tudo a perder. Continuaram entre cacussos, feijão de óleo de palma, vinho tinto e um rosário de críticas aos governantes.
http://www.ueangola.com/index.php/bio-quem/item/12-ismael-mateus.html
Estranha coincidência essa, a de Bartolas, que ouvia dos ministros uma petição de conversas com os seus amigos António Martins e Bernardo Xavier. As mesmas críticas aos governantes e a mesma esperança apostada em Adão Silvestre e em Luísa Vieira da Cruz, Ministra do Trabalho, os governantes mais "limpos". Por essa altura, já Ana Joaquina e Maria António Filipe, mulher do ministro dos Veterenos de Guerra, se haviam juntado ao debate político, cansadas da conversa sobre filhos, jóias e viagens.
Qualquer delas aguardava por uma parceria para, juntas, rebaterem a tradição de excluir as mulheres das discussões sobre temas políticos. Foi, no entanto, Maria Antónia, médica de profissão quem subiu o tom das críticas ao discorrer violentramente sobre a inépcia do ministro da Saúde. O primeiro ministro e a comissão política, a que pertenciam os quatro ministros, foram acusados de cumplicidade. "Se não fosse assim, havia ministros que já tinham ido para o olho da rua".Adão Silvestre Pôs-se do lado dela, ao criticar a falta de firmeza da comissão política. - Eu penso que está na hora de tomarmos decisões.
O país está a afirmar-se e ninguém faz nada. Se o problema é um homem, então mude-se o homem, nem que seja ele primeiro ministro. Estar como está, é que não nos leva a lado nenhum. Hoje não são só uma ou duas pessoas que pensam como a comadre Maria Antónia. Se ainda não é a maioria, estamos perto de que a maior parte das pessoas pense que a comissão política também não faz nada. E é verdade”.
Excerto do livro "Tempos do Ya Kala Ya. Ascensão e queda de Bartolas Matias"
Ismael Mateus, nasceu em Luanda aos 06 de julho de 1963. É membro fundador do Sindicato de Jornalistas (UJA), de que é Secretário Geral. "A intenção cultural é um impulso que se caracteriza por um apelo à curiosidade intelectual, á crítica e à integração do sujeito, á objectividade . Nestes 25 anos há registo de contributos marcantes para uma literatura angolana, reflexões sobre a nossa cultura e trabalhos académicos de grande valia sobre determinados povos e regiões. Competirá ao Estado promover novas instituições, proteger novas iniciativas e, uma vez mais, fazer circular por todos nós, incultos, o conhecimento e a cultura, a começar pela nossa história geral cheia de omissões e proscritos, até aos particularismos regionais e valores étnicos...", In "Angola: a Festa e o Luto", Novembro de 2000.
Ismael Mateus, é autor de "Bué de Bocas", "Tempos de Ya Kala Ya", "Ascenção e Queda de Bartolas Matias", e foi coordenador da obra "Angola a Festa e o Luto", uma colectânea de textos sobre os 25 anos da independência de Angola.
"A minha geração não vive a nostalgia do passado colonial. Não direi que valorizamos mais a independência, mas quero obviamente afirmar que o actual estado, esteja ele em que condições estiver, é absolutamente o único de que temos memória enquanto adultos. Não há, enquanto isso, voltas a dar. Este é o único nosso estado e quanto a isso não existem elementos comprovativos".
In "Angola: a Festa e o Luto", Novembro de 2000.
IM, fez o curso médio de jornalismo no IMIL e o superior de jornalismo na Universidade de Coimbra. Jornalista desde 1982, foi chefe da redacção económica da Rádio Nacional de Angola, chefe de departamento de Informação, chefe de redacção na Rádio Televisão Portuguesa - África (RDP - África), chefe de redacção da LAC, Editor Chefe da Revista Angolé, em Lisboa, colunista de Bué de Bocas na Rádio Nacional de Angola e Recados para o meu chefe, Rádio Luanda Antena Comercial, e Voto na Matéria, semanário Angolense.
"O meu raciocínio assenta na ideia de que o Estado, ao não ver aumentado o conhecimento sobre dois dos seus elementos constitutivos, a população e o território, não se tornou mais fortalecido. Temos um estado fragilizado, não só porque em função das sucessivas guerras a soberania esteve sempre ameaçada, mas, também porque no país nem o sistema de ensino, nem a divulgação cultural e muito menos a comunicação social privilegiam o intercâmbio cultural, o conhecimento dos vários povos e o estudo antropológico e sociológico das gentes do nosso estado. Ao invés, preferiu - se o folclore e a caricatura nos carnavais e cerimónias políticas, conduzindo - nos todos á cultura da incultura.
Qualquer mascarado semi - nu, munido de uma zagaia, dançando não importa o quê, tem bastado para ter a cultura nacional representada. Para a sua identidade como uma unidade, o Estado angolano necessita de promover a diversidade e o conhecimento dos vários povos. A edificação da nação passa por construir também a Angola unitária através da circulação do conhecimento, dos hábitos e costumes, dos heróis, das lendas, do misticismo, da formação dos reinos, da origem de algumas das nossas regiões, das ligações seculares que as unem para interpretação de realidade que hoje nos são familiares. Nem que seja apenas pelo facto da próprio história ser um dos melhores instrumentos para a recuperação da identidade comum, lá onde existe".
Texto incerto de Ismael Martins.
Sobre o seu romance, o professor Pires Laranjeira escreveu que "Ismael Mateus entra nas lides literárias, com o romance "Tempos do ya kala ya. Ascenção e queda de Bartolomeu Matias". A expressão em quimbundu significa precisamente deixa andar. O protagonista, que vai do mato para a capital Luanda, que possui a sagacidade e a determinação comparáveis às de Jaime Bunda, após sete anos de vivência urbana (qual Labão bíblico pleno de paciência e aprendizado), no musseque (bairro pobre), empreende uma ascenção social notável".
"Ismael Mateus - refere Pires Laranjeira- , neste seu primeiro romance não se desprende da tarimba do jornalista e enceta uma prosa ágil, descritiva quanto baste, em que predomina a acção sobre a digressão, e sobretudo fácil de compreender, didáctica mesmo, pondo em ficção o que, no ensino ou na crónica, seria possível de testemunhar o leviano, pois não podia deixar de ser especulativo. É que o seu romance, pela primeira vez na história das literaturas africanas de língua portuguesa, apresenta situações no seio dos governantes e da actuação do governo - das decisões governativas e da sucessão.
Matéria melindrosa de eu Mateus se sai bem, ao nos dar um final imprevisto que nos deixa um travo de desconsolo por o protagonista não poder ir mais longe, mas, que, por outro lado, mostra como quanto ao poder, por muito que esteja nas mãos de semelhantes a Bartolas, o protagonista apenas podia ser um sósia daqueles, e não o contrário, porque eles detinham legitimidades várias e ele era somente um intruso esperto".
O professor Pires Laranjeira refere ainda que "O protagonista, figura simples e fiel às origens, percorre um caminho do nada à glória, experimentando esta com um discurso, em condições inusitadas, que o transforma num herói popular, perto dos deuses terrenos, que é uma alegoria sobre a tomada do poder político e a sua perda, sobre esse instante em que o brilho ofusca e, logo de seguida, se pode desvanecer. Nas teias do poder político, o episódio do "Sítio do Picapau Amarelo" é um dos elementos picantes que satisfaz a imaginação e natural curiosidade do leitor, ávido de construções audaciosas (penetrar, através da ficção, nos meandros do lado proibido): não se trata propriamente de ma homenagem ao escritor brasileiro Lobato, às suas criações dança com madame ao som de Lindomar Castilho e Nelson Ned ( o narrador parece insinuar que cada um tem o que merece).
Este e outros elementos não menos prosaicos, melosos e, outras vezes, críticos constituem a sua força e, simultaneamente, fraqueza: são atractivos para quem gosta se deliciar imaginando a banalidade das personagens que detêm poderes vários e todavia arrastam consigo a marca de um texto que se procura impor como "realista-político".
Mais informações
Nascido em:1963-07-06
Naturalidade:Luanda
Gênero literário:N/A
Imagem: http://www.opais.net/pt/opais/?id=1647&det=3103&mid=
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