Muita coisa pode dar errado em uma missão
espacial, e alguns erros podem acabar transformando uma fortuna em prejuízo. Há
alguns anos, um foguete da NASA passou por um probleminha aparentemente tolo,
mas que poderia custar 100 milhões de dólares (174 milhões de reais) aos cofres
da agência. Uma solução criativa, no entanto, acabou resolvendo o caso pelo
preço de um almoço popular.
Tudo começou em meados de 2009, na fase final
de construção do foguete Ares I. Concebido pela NASA como parte do projeto
Constellation (cancelado pelo governo dos EUA no ano passado como corte no
orçamento), cuja função era criar uma nova geração de naves espaciais, o
foguete estava passando por ajustes nos controles internos.
Quando boa parte do projeto do Ares I já
estava em desenvolvimento, os cientistas descobriram uma falha que poderia
colocar tudo por água abaixo. Eles notaram que, devido ao desenho do foguete e
às alterações físicas na máquina durante um lançamento, a vibração da cabine
dos astronautas seria tão grande que eles não poderiam ler o que estivesse
escrito em qualquer tela digital da cápsula.
Obviamente, não poderia haver missão se eles
não pudessem ler nada.
A solução pensada, então, foi dar um jeito de
fazer os astronautas vibrarem na mesma frequência da cabine. Algo como tornar
os astronautas uma parte colada à cabine, vibrando com ela, de modo que os
olhos poderiam acompanhar a vibração da tela. O problema é que, com a
tecnologia disponível, mesmo a mais precisa das aproximações de vibração entre
foguete e tripulação ainda seria imperfeita. O conteúdo da tela continuaria tão
ilegível quanto antes.
Quando o desespero já tomava conta dos
engenheiros e demais cientistas, surgiu uma ideia: ao invés de tentar ajustar a
vibração no ambiente (no caso, a cabine), por que não ajustar a vibração na
própria tela? Para isso, bastou um projetor de luz estroboscópica, aquela luz
piscante que se usa em boates. Como a luz pisca em determinada frequência,
acendendo e apagando, permite ver em poses estáticas e contínuas um objeto que
na verdade está em movimento.
Esse foi o segredo: isolar cada momento de
leitura da tela como um flash visual. Um projetor como esse é escandalosamente
mais barato do que um novo sistema anti vibração de foguetes: de fato, custa
não mais do que cinco dólares (o equivalente atual a R$ 8,70). Depois disso, bastou
usar um acelerômetro (equipamento que faz exatamente o que diz o nome) para
regular a vibração da luz estroboscópica com a do foguete, e, pronto, caso
resolvido.
A tecnologia já foi aprimorada depois disso,
e atualmente os problemas quanto à vibração em foguetes foram praticamente
extintos. É uma pena que o projeto Constellation e o lançamento do Ares I
tenham sido temporariamente suspensos devido ao corte de verba do governo dos
EUA, mas a lição fica para todas as iniciativas espaciais que ainda virão. [Gizmodo]
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