9. Somos, também, contraditórios quando nos referimos ao peso do petróleo na formação do nosso Produto Interno Bruto. Por exemplo, em finais do mês de Novembro de 2009, o então Ministro da Economia, Manuel Nunes Júnior, afirmou, no Parlamento, que o sector não petrolífero da nossa economia contribuía já com apreciáveis 58% para a formação do PIB, pelo que restariam tão-somente 42% para o sector petrolífero.
JUSTINO PINTO DE ANDRADE jpandrade.blogspot.com/
Na voz do Ministro, isso significava uma clara inversão da importância da posição desses sectores. Estávamos perante uma mudança estrutural importantíssima para a nossa economia, com consequências positivas na criação de muito mais empregos e uma significativa melhoria no bem-estar das populações.
10. Na sua intervenção no Parlamento, o Ministro Manuel Nunes Júnior ilustrou resumidamente o percurso do PIB a partir do ano de 2006. Nesse ano, o crescimento do sector não petrolífero teria sido superior ao do sector petrolífero. Em 2007, o crescimento do sector petrolífero fora de 20,4%, e o do sector não petrolífero de 25,7%. Em 2008, o crescimento do sector petrolífero atingira 12,3%, contra os 15% do sector não petrolífero. Em 2009, o sector petrolífero teve um crescimento negativo de 3,6%, e o sector não petrolífero um crescimento positivo de 5,2%. Para 2010, o Ministro previu um crescimento de 3,4% para o sector petrolífero e um crescimento de 10,5% para o sector não petrolífero.
11. Há, pois, aqui, uma clara inconstância nas taxas de crescimento do PIB. E é bem perceptível o facto de o sector não petrolífero da nossa economia andar muito a reboque da evolução do sector petrolífero que o arrasta, ou, pelo menos, que o acelera ou desacelera.
12. Se é indubitável a relativa aleatoriedade das taxas de crescimento da nossa economia, fruto das circunstâncias e incidências do petróleo, tornou-se para mim mais inquietante a falta de sintonia entre os dados avançados em finais de 2009 pelo então Ministro da Economia, e os dados agora avançados pelo Governador do Banco Central, Abraão Gourgel. No encerramento do “V Encontro de Juristas Bancários de Angola”, Abraão Gourgel disse que o sector petrolífero contribui com 55% para a formação do nosso PIB. O Governador do BNA falou ainda sobre a importância de alguns sectores económicos para a economia e, sobretudo, para a geração de emprego, tendo destacado o papel da agricultura, agro-indústria e construção civil.
13. Estou de acordo com os postulados do Governador do BNA sobre a importância a dar aos sectores não petrolíferos, mas fiquei muito preocupado com a falta de concordância entre os números que foram avançados publicamente por aquelas duas individualidades, no curto espaço de 6 meses. Por exemplo, como foi possível, em apenas 6 meses, o sector petrolífero da nossa economia ter passado de uns estimulantes 42% na formação do PIB (como referiu o então Ministro da Economia), para os novamente preocupantes 55% exibidos pelo Governador do BNA? Alguma coisa não está a bater certo… Será que a estrutura do PIB pode variar tão rapidamente? Tendo havido uma evolução muito positiva no sector não petrolífero da nossa economia, como afirmou o Ministro, ainda assim o sector petrolífero recuperou o seu vigor e o seu protagonismo? Será também que a dinâmica dos números varia em função do auditório a quem nos dirigimos?
14. Para os parlamentares, talvez com o intuito de facilitar a aprovação do Orçamento, o Ministro da Economia disse que o peso específico do sector petrolífero estava a diminuir. Para os juristas bancários (para quem os números poderão querer dizer muito pouco), o Governador do BNA avançou uma percentagem que coloca a nossa e economia, em termos estruturais, praticamente no mesmo patamar em que estávamos antes. Ou será que já estamos diante do velho ditado, que diz: “Mais depressa se apanha um mentiroso do que um coxo…”?
Imagem: club-k-angola.com
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