Embora a procissão ainda vá no adro, se o governo anterior era ladrão, o que dizer do actual? Passos Coelho está a conseguir transformar José Sócrates num ingénuo pilha-galinhas.
Quanto a mim, se quem roubasse o governo anterior deveria ter 100 anos de perdão (ladrão que rouba ladrão…), todos os que roubarem o actual devem ter pelo menos mil anos, tal é a lata e o descaramento dos seus super-ministros e similares.
Como se já não bastasse entrarem nos nossos bolsos, resolvem todos os dias pôr-nos de pernas para o ar, numa voraz sofreguidão para ver se não há nenhum cêntimo escondido nas dobras das calças rotas.
Num cenário de 800 mil desempregados, 20% da população já a viver sem comer e outros 20% a viver com o espectro da fome a bater à porta, creio que a solução é mesmo (seguindo, aliás, a metodologia do governo) não olhar a meios para atingir o objectivo de não ter os pratos vazios.
Se eles, Passos Coelho e companhia, entendem que devem roubar os milhões que têm pouco, ou nada, para dar aos poucos que têm milhões, é mais do que altura de responder na mesma moeda, eventualmente ao estilo de olho por olho, dente por dente.
É claro que poderemos ficar cegos e desdentados. Mas para quem só vê os outros a comer tudo e a não deixar nada, pouco diferença fará ter olhos e dentes…
Para além de tudo (impostos e mais impostos, desemprego e mais desemprego, miséria e mais miséria) o governo de Passos Coelho está a tratar os cidadãos como uma casta menor, intelectualmente estúpida.
O líder do governo disse na campanha eleitoral que não aumentaria a carga fiscal. Mudam-se os tempos, mudam-se as exigências, mantêm-se os burros de carga. Tão burros, segundo o governo, que vão agora pagar tudo o que os super-cérebros do PSD entendam como necessário para que os amigos, os assessores, os amigos dos amigos, continuem a chular o país à grande.
Ao passar, entre outros exemplos, o IVA da electricidade dos 6% para os 23%, mantendo os bilhetes de futebol nos 6%, o que estará a pedir esta corja de oportunistas?
Justificar, como o fez na sua habitual “câmara lenta” o ministro das Finanças, que "a esmagadora maioria dos países da União Europeia paga a electricidade à taxa máxima de IVA", é também uma forma de dizer aos consumidores que são uma cambada de burros.
Tão burros que, pensará o super-ministro, nem sabem que o seu nível de vida é dos mais fracos dessa mesma Europa.
Será que os portugueses aceitam continuar a ser “um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice”?
Será que os portugueses “já nem com as orelhas são capazes de sacudir as moscas” porque são “um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta”?
Será que os portugueses vão continuar a aceitar “uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula, não discriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima, descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira à falsificação, da violência ao roubo, donde provém que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro”?
Será que os portugueses vão continuar a aceitar “um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do País”?
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Orlando Castro
Jornalista (CP 925)
A força da razão acima da razão da força
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