sábado, 14 de fevereiro de 2009

Subsídios para a história política de Portugal V


Que partidos e associações políticas existiam a 25 de Abril de 1974

CDE – A Comissão Democrática Eleitoral foi fundada como coligação eleitoral da oposição democrática destinada a concorrer às legislativas de 26 Outubro de 1969, com vista à eleição da Assembleia Nacional.

O seu programa político proponha a abertura de negociações com os «movimentos insurreccionais» das colónias, tendo em vista a «conquista em paz da autodeterminação para os seus povos».

A CDE obteve 34,7% dos votos em Setúbal, 18,5% em Lisboa, e 5,1% no Porto, num processo eleitoral condicionado, sendo vítimas da censura prévia, agressões físicas aos seus candidatos, com presença constante e intimidadora de agentes da PIDE e da Legião Portuguesa nos seus comícios.

Participou, também, no III Congresso da Oposição Democrática, realizado em Aveiro, de 4 a 8 de Abril de 1973, onde teve um papel activo e importante. Por sua vez, a escassos dias das eleições de Outubro de 1973, «os democratas de Lisboa anunciavam a decisão da CDE de desistir à boca das urnas, para não participarem nessa farsa».

A 28 de Abril de 1974 transformou-se no Movimento Democrático Português – Comissão Democrática Eleitoral (MDP/CDE), como «movimento unitário que agrupa cidadãos de diversas correntes de opinião», por deliberação tomada em Lisboa pelos delegados nacionais.

Sobre o movimento recaiu sempre a acusação e suspeita de ser uma filial enfeudada e subalterna ao PCP, desde a data da sua fundação. A ideia peregrina de transformar o MDP/CDE numa «frente democrática supra partidária» para «a dinamização do processo democrático», caiu por terra a 28 de Agosto de 1974, quando o Secretariado Nacional do PS decidiu abandonar a estrutura.

Disputou em lista própria as eleições de Abril de 1975 (Assembleia Constituinte), obtendo 4,1% dos votos e elegendo 5 deputados. Passou a integrar a FEPU em 1976 e a APU em 1979 (3 deputados), 1980 (2 deputados), 1983 (3 deputados) e 1985 (3 deputados).

Desfeita a coligação com o PCP, o MDP/CDE concorreu novamente sozinho nas eleições de 1987 e 1989 alcançando franquíssimos resultados.

Foram seus principais dirigentes: presidente Francisco José da Cruz Pereira de Moura (1925+1998) e José Manuel Marques do Carmo Mendes Tengarrinha, secretário-geral.

Conheceu ao longo da sua existência inúmeras cisões, ou do seu seio saíram grupos de militantes que deram origem a vários partidos e organismos políticos: Esquerda Democrática Estudantil (1969), que estará na génese do MRPP; CDE de Esquerda (1973), donde surgirá o MES em 1974; Comissões de Base Socialistas (Junho de 1973), logo associadas ao PRP-BR; Associação de Intervenção Democrática (1987), que passou a integrar a coligação CDU, com a eleição de 2 deputados; Política XXI (1994), actualmente parte constituinte do Bloco de Esquerda. Enquanto partido político foi formalmente extinto em 1994.

15 comentários:
De TiBéu a 28 de Junho de 2008 às 12:29
Jofre
Mais um pouco de cultura o amigo, que não se cansa, de nos ofertartão belos textos. e os vastos conhecimentos. Muito obrigada, eu já costumo dizer: apendi com o Jofre. bj e bom fim de semana

De Menina do Rio a 28 de Junho de 2008 às 12:42
Jofre, querido.
Como sempre grandes textos! Pelo carinho de tua visita, deixo aqui o meu deixo e que tenhas um ótimo final de semana

De José Narciso a 28 de Junho de 2008 às 13:16
Esta série de pequenos textos são um instrumento marcante para nos mostrar o passado, a luta das pessoas e das organizações que resistiram nos tempos negros da ditadura, pese embora hoje até parece que é politicamente incorrecto falar disso, pois anda por aí um vento a reescrever a História e até apresenta Salazar com um homem bom! Daí ser da maior importância e interesse estes artigos históricos, resumidos, mas essenciais. Bem haja, meu caro Jofre

De José Narciso a 28 de Junho de 2008 às 13:17
Esta série de pequenos textos são um instrumento marcante para nos mostrar o passado, a luta das pessoas e das organizações que resistiram nos tempos negros da ditadura, pese embora hoje até parece que é politicamente incorrecto falar disso, pois anda por aí um vento a reescrever a História e até apresenta Salazar com um homem bom! Daí ser da maior importância e interesse estes artigos históricos, resumidos, mas essenciais. Bem haja, meu caro Jofre

De POESIA-NO-POPULAR a 28 de Junho de 2008 às 15:07
Amigo Jofre Alves
Ainda assisti a algumas sessões de esclarecimento,da CDE, em que para entrar-mos para a sala, tinhamos, que passar por alas de polícias, os oradores estavam no palco com a polícia por detraz, e assim, que se referião a Salazar, acadava a sessão com a polícia a evacuar a sala ´bastonada, a juventude de hoje não faz a mínima ideia, do que foi aquela ditadura terrorista, alguns nem acreditam.
É interessante verificar que, tanto no antes, como no após 25 de Abril, os maus da fita eram sempre os comunistas, quando afinal o que constactamos, é que nem todos eram comunistas, mas sim democratas, republicanos, e outros que nada tinham a ver com o PCP, assim como os (EX)comunistas, assim denominados pela comunicação social, não sei qual será o tempo necessário, para que deixem de ser (EX).
Amigo muito obrigado pela sua valiosa contribuição, para o avivar a memória de uns e o conhecimento de outros. Bem haja. Abraço

De padeiradealjubarrota a 28 de Junho de 2008 às 15:20
O Sócrates que se cuide!

De Andesman a 28 de Junho de 2008 às 16:00
Faz parte da nossa história recente, e contudo já não são muitos que se lembram. Bom fim de semana

De cindamoledo a 28 de Junho de 2008 às 17:26
Adorei este blogue, só do tempo destes partidos, e fui a alguns comícios naquela época, até tinha um emblema na lapela de um casaco do CDE , não sei porquê mas simpatizava com Tengarrinha , belos tempos aqueles. Adorei a música do Fausto. Parabéns. cinda

De Fernando a 28 de Junho de 2008 às 20:01
Obrigado caro Jofre por me ter dado a oportunidade de conhecer este espaço de memórias. Este escavar de ruínas que nos recorda ou dá a conhecer tempos e história e estórias que marca(ra)m os nossos percursos de vida. Gostei particularmente da evocação dos partidos e movimentos políticos que combaterem à sua maneira a ditadura fascista (parece que não é proibido dizer fascismo) de Salazar. Ao trazer a história de cada um deles trouxe-me à memória coisas que já não tinha presente. No meu caso andei pela OCMLP e considero que apesar de tudo foi uma boa escola de vida no que teve de bom e também no que teve de mal. Um abraço.

In http://escavar-em-ruinas.blogs.sapo.pt/26567.html

Foto:http://www2.doc.ua.pt/bibdigi/cartazes/cartazes_ver_um.asp?ID=5
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