domingo, 16 de novembro de 2014

As 19 jóias da natureza mundial estão em perigo crítico


Imagem: Um okapi na República Democrática do Congo. / UNESCO

Cerca de 8% do Patrimônio Natural da Humanidade se encontra em estado grave

MANUEL ANSEDE Sidney

Cerca de 8% dos paraísos naturais considerados ícones do planeta estão em perigo “crítico” e outros 29% encontra-se em um estado de “preocupação significativa”, entre eles os parques nacionais espanhóis de Doñana e Garajonay e o conjunto declarado Patrimônio Mundial da Humanidade em Ibiza, segundo um informe publicado hoje pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN).
A organização destaca a “perspectiva positiva” para os outros 2/3 dos lugares considerados Patrimônio Natural da Humanidade pela Unesco, mas oferece um panorama negativo sobre os esforços para preservar a biodiversidade do planeta. Em todo o mundo existem ao redor de 200.000 áreas protegidas e apenas 228 são consideradas Patrimônio Natural.
“Se fracassarmos na conservação dos lugares mais famosos do planeta, fracassaremos com os outros”, declarou Cyril Kormos, da UICN, na apresentação do relatório no Congresso Mundial de Parques, em Sidney (Austrália).
O cultivo de morango e os planos de armazenamento de gás, em Doñana; as agressões às pradarias submarinas da planta aquática Posidonia oceânica, em Ibiza; e os incêndios e o turismo que castigam o Parque Nacional de Garajonay colocam estas três reservas naturais em estado de “preocupação significativa” para a UICN. O Parque Nacional do Teide, no entanto, é um dos exemplos de boa gestão.
Nenhuma das joias naturais da Europa tocou os alarmes da organização internacional, que localizou em outros continentes 19 lugares “com uma perspectiva crítica que precisam de intervenções urgentes e em grande escala para proteger seus valores”. A ecologista russa Elena Osipova destacou hoje que as principais ameaças que estes lugares enfrentam são as espécies invasoras, o turismo, a caça comercial, a pesca, as presas e o corte de árvores, com a mudança climática como ameaça potencial em todas elas. Estes são os 19 santuários naturais em perigo extremo:
A reserva de caça de Selous (Tanzânia)
Com 50.000 quilômetros quadrados, é uma das maiores áreas protegidas da África. Em junho, a Unesco inscreveu o lugar na lista do Patrimônio Mundial em Perigo “porque a caça furtiva em grande escala está dizimando a população de animais selvagens”. O número de elefantes e rinocerontes diminuiu quase 90% desde 1982.
A Reserva da Biosfera do Río Plátano (Honduras)
O próprio governo de Honduras solicitou em 2011 a inclusão desta reserva na lista do Patrimônio Mundial em Perigo, por sua incapacidade para manter a lei na zona pela presença de narcotraficantes. O lugar, um dos poucos bosques tropicais chuvosos da América Central, “encontra-se ameaçado pela ocupação ilícita de terras, a pesca e a caça furtiva”, segundo a Unesco.
A Reserva da Biosfera Mariposa Monarca (México)
A mariposa monarca, que vive até nove meses, viaja milhares de quilômetros, dos bosques do Canadá e EUA até o estado de Michoacán, no México. Ali, milhões se agrupam nos bosques de oyamel, um abesto nativo das montanhas do país. A UICN adverte que “o excepcional papel desta reserva na proteção das mariposas monarca durante o inverno está ameaçado pelo desflorestamento e a agricultura”.
Parque Nacional dos Everglades (EUA)
13 dos 19 lugares em perigo crítico estão na África, mas os países ricos não se salvam. O Parque Nacional dos Everglades, no sul da península da Flórida, é o maior ecossistema de manguezais do hemisfério ocidental e o principal lugar de nidificação de aves aquáticas da América do Norte, mas está afetado pelo crescimento urbano e pela agricultura. O caudal de água que entra no parque foi reduzido em 60% e a contaminação deteriorou suas águas.
Bosques chuvosos tropicais de Sumatra (Indonésia)
São 2,5 milhões de hectares de bosques com 10.000 espécies vegetais, 580 de aves e 200 de mamíferos, incluindo o orangotango de Sumatra. A UICN, e a própria Unesco, o consideram em perigo pela caça furtiva, os planos para construir estradas, o corte ilegal de árvores e a expansão da agricultura.
Reservas naturais do Air e de Teneré (Níger)
Seus 7,7 milhões de hectares que abarcam o maciço vulcânico do Air, encravado no deserto saariano de Teneré. O clima singular desta região permite a existência de uma flora e uma fauna excepcionais, agora ameaçadas pela caça furtiva e o pastoreio ilegal.
Parque Nacional de Comoé (Costa do Marfim)
É uma das zonas protegidas de maior tamanho da África ocidental e em seu leque diversificado de tipos de vegetação destacam-se pequenas ilhas de selva densa úmida graças à presença do rio Comoé. Em sua superfície vivem elefantes, chimpanzés e o cão-selvagem-africano. A caça furtiva, os assentamentos humanos, a pressão agrícola e a falta de planos de gestão adequados são suas principais ameaças.
Reserva de fauna de Dja (Camarões)
Considerada pela Unesco como um dos bosques úmidos mais vastos e mais bem conservados da África, a reserva é o lar de 107 espécies de mamíferos, incluindo gorilas, chimpanzés e o ameaçado elefante de bosque africano. Quando foi declarada Patrimônio Natural da Humanidade em 1987, 90% da região estava intacta. Hoje o parque sofre ameaças como a da mineração.
Complexo florestal de Dong Phayayen-Khao Yai (Tailândia)
Este bosque tropical estende-se praticamente da fronteira com o Camboja até o Parque Nacional de Khao Yai. Abriga 800 espécies animais, incluindo 200 de répteis e anfíbios, algumas delas em perigo de extinção. Recebe 700.000 visitantes por ano, que querem ver espécies como o elefante asiático, o urso negro da Ásia e o crocodilo siamês. A região encontra-se em perigo pela falta de administração e o desenvolvimento urbano.
Rennell Leste (Ilhas Salomão)
O maior atol de coral elevado do mundo está ameaçado pela exploração florestal, permitida pelas autoridades das Ilhas Salomão. Situado na ponta sul de Rennell, uma ilha do arquipélago, está coberto por bosques com árvores de 20 metros de altura.
Parque Nacional de Virunga (República Democrática do Congo)
Com quase 800.000 hectares, inclui todo tipo de habitat, dos cumes nevados de 5.000 metros no maciço Rwenzori até vulcões e rios nos quais vivem milhares de hipopótamos. Também serve como refúgio de inverno para milhares de aves procedentes da Sibéria. O Parque Nacional de Virunga é um dos cinco lugares da República Democrática do Congo incluídos na lista do Patrimônio Natural em Perigo da UICN, por causa da caça furtiva multiplicada depois de duas décadas de instabilidade política devido à presença de grupos armados.
Parque Nacional de Kahuzi-Biega (República Democrática do Congo)
Debaixo de dois vulcões extintos, o Kahuzi e o Biega, cresce um bosque tropical habitado por gorilas das planícies orientais, em perigo de extinção.
Reserva de fauna de Ocapis (República Democrática do Congo)
A bacia do rio Congo antes abrigava 5.000 dos 30.000 ocapis que vivem no mundo. O ocapi é um parente da girafa que só é encontrado na República Democrática do Congo e seu número diminuiu drasticamente por causa da caça furtiva.
Parque Nacional Salonga (República Democrática do Congo)
Também na bacia do rio Congo, é a maior reserva de bosque chuvoso tropical da África e acolhe espécies únicas em perigo de extinção, como o chimpanzé anão, o gavial africano ou falso crocodilo e o pavão real do Congo.
Parque Nacional de Garamba (República Democrática do Congo)
É o lar dos últimos rinocerontes brancos do norte que existem no planeta, se é que já não estão extintos por causa dos caçadores furtivos procedentes do Sudão e dos grupos rebeldes armados que patrulham a zona. Os animais, sobretudo os elefantes, são metralhados para a obtenção de seu marfim, segundo denuncia há anos o biólogo espanhol Luiz Arranz, diretor do parque.
Parques Nacionais do Lago Turkana (Quênia)
Por causa de sua salinidade, o Lago Turkana constitui um ecossistema singular que serve de parada para aves migratórias e se reproduzem espécies como o hipopótamo e o crocodilo do Nilo. O lugar está ameaçado pela construção de uma gigantesca represa na Etiópia.
Parque Nacional do Manovo-Gounda St. Floris (República Centro-Africana)
Em seus 1,7 milhão de hectares dominados pela savana encontram-se leopardos, elefantes, gazelas-vermelha e, antigamente, uma abundante população de rinocerontes negros. A paragem está em perigo pela caça furtiva e o pastoreio ilegal.
Parque Nacional de Niokolo-Koba (Senegal)
A que foi uma das reservas naturais mais importantes da África ocidental é hoje um bosque praticamente vazio por causa da caça furtiva. Em 1990 viviam no lugar cerca de 25.000 inhacosos, uma espécie de antílope da savana africana, e ficaram reduzidos a tiros a apenas uma centena, como também ocorreu com o gnu vermelho. Só sobreviveram os javalis-africanos, parentes dos porcos e evitados pelos caçadores, muçulmanos em sua maioria.
Reserva Natural Integral do Monte Nimba (Costa do Marfim e Guiné)

Rodeado de savanas, o Monte Nimba se eleva coberto por um bosque denso no qual vivem chimpanzés e espécies endêmicas como o sapo vivíparo. A mineração, o desflorestamento, a caça furtiva e a falta de recursos econômicos afogam a reserva.





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