Carmen Jiménez. Redação Central, 27 abr (EFE).-
Sete anos depois do naufrágio do Titanic, o barco a vapor Valbanera afundou em
uma região de Florida Keys, nos Estados Unidos, com quase 500 emigrantes
espanhóis a bordo, em uma das maiores catástrofes da marinha mercante espanhola
que permanece no esquecimento. O naufrágio do Valbanera, denominado o
"Titanic dos pobres", que durante anos cobriu a linha regular
Espanha-Cuba, é um dos capítulos mais negros da história da emigração
espanhola. A histórica embarcação, da companhia Pinillos, Izquierdo y Compañía,
que no início do século 20 transportava milhares de emigrantes espanhóis para a
América, afundou sem deixar sobreviventes, em circunstâncias ainda não
esclarecidas, entre os dias 9 e 12 de setembro de 1919. O navio permanece no
fundo do mar nas areias movediças de Bajo de la Media Luna, 40 milhas ao oeste
de Key West. Como tantos outros, o vapor tinha o nome de uma virgem, neste caso
Nossa Senhora de Valvanera, venerada em La Rioja, embora a embarcação tenha
sido batizada como Valbanera (com b) por algum erro. Com a perda da âncora no
porto de Santa Cruz de La Palma (Canárias) - um mau presságio para os marinheiros
- o Valbanera, sob o comando do capitão Ramón Martín Cordero, zarpou no dia 21
de agosto de 1919 rumo à América com 1.142 passageiros e 88 tripulantes. Após
ter feito escala em San Juan de Porto Rico, chegou no dia 5 de setembro a
Santiago de Cuba e, a partir desse momento, começa o mistério que envolve este
naufrágio. Embora a maior parte dos passageiros tivesse bilhete para Havana, a
maioria deles (742 pessoas) decidiu desembarcar em Santiago, o que salvou suas
vidas. Quando o navio chegou a Havana não pôde entrar no porto, que estava
fechado devido a um potente furacão e por isso o capitão do Valbanera voltou a
alto-mar para tentar enfrentar as dificuldades. Mas infelizmente não conseguiu.
E não houve um único sobrevivente para contar exatamente o que aconteceu. Os
restos do navio não foram localizados até o dia 19 de setembro por um submarino
da Marinha dos EUA. À Espanha, as notícias chegaram desde Havana com
conta-gotas e muitas vezes de forma contraditória. A maioria das vítimas era
das Canárias. O especialista espanhol em acidentes marítimos Fernando José
García Echegoyen está há mais de 25 anos investigando este naufrágio, trabalho
que deu origem a seu livro "El Misterio del Valbanera" e um site na
internet dedicado ao tema. Desde 1992 Echegoyen dirige o Projeto Valbanera, uma
iniciativa cultural com a qual pretende resgatar do esquecimento este naufrágio
e recuperar parte dos restos do transatlântico espanhol. Echegoyen comandou
três expedições e, na primeira delas em 1992, conseguiu filmar e fotografar os
destroços do Valbanera pela primeira vez desde seu afundamento em 1919. A
última expedição, em 1996, foi financiada pela fundação Archivo de Indianos e
alguns dos restos recuperados são exibidos nas instalações da entidade em
Colombres (Astúrias). Sobre as circunstâncias do naufrágio, a hipótese de
Echegoyen é que ao não poder entrar no porto de Havana , o Valbanera partiu
rumo ao Golfo do México, mas foi atingido por um forte temporal. Em declarações
à Agência Efe, Echegoyen destacou que "90% dos destroços está enterrado na
areia" e por isso as três expedições viram apenas "peças estruturais
do navio". No entanto, Echegoyen ressaltou que conseguiram resgatar
"dois postigos e a letra B da palavra Valbanera". O especialista
também explicou que em 2005 pagou a uma mergulhadora para que voltasse a dar
uma olhada no navio e que, ao bater os pés de pato na área da proa, levantou
areia e descobriu um prato da baixela do barco que é "um autêntico
tesouro". Por causa da crise econômica e da falta de patrocinadores,
Echegoyen tem o projeto "limitado a dar conferências e a fazer exposições
ocasionalmente", e atualmente trabalha em seu novo livro "Regreso al
Valbanera". Enquanto na Espanha permanece no esquecimento, em Key West segue
viva a lenda do Valbanera, que inspirou Ernest Hemingway a escrever o conto
"Depois da Tempestade". Ali, os velhos marinheiros o chamam de
"The Ghostship of the Quicksands" ("O Navio Fantasma das Areias
Movediças"). EFE cjn/rsd
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Imagem: La historia del naufragio del Valbanera está
rodeada de bastante misterio.
historiaaportodas.blogspot.com
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