Lisboa - Fontes próximas da DPIC‐Luanda que
pediram anonimato, disseram ao Club‐K que a versão dos factos, segundo a
qual Bárbara de Sá Nogueira e Judith da Silva eram lésbicas e amantes não passa
de uma invenção da própria Policia para facilmente mostrar a sociedade a sua
eficácia e eficiência no esclarecimento de mais um caso mediático. Por outro
lado, dizem as mesmas fontes que a versão criada visou também proteger alguma
figura considerada de grande influência neste país envolvida no caso e que não
podia aparecer.
Fonte: Club-K
Segundo as mesmas fontes, foi o actual
Director Provincial da Investigação Criminal de Luanda, Amaro Neto, quem criou
e procurou sustentar esta versão. Assim é que as imagens gravadas no circuito
interno do restaurante junto aos prédios da Filda, local onde as duas amigas
almoçaram no dia anterior ao sucedido, que apontam para a existência de outras
pessoas, bem como de contactos da falecida com determinadas pessoas que
indiciavam a sua envolvência em algum negócio, sem a participação da Judith
Silva, ja que esta, no momento em que Bárbara de Sá Nogueira saiu do
restaurante para contactar certas pessoas, deixa a Judith sozinha no
restaurante e só volvido um longo periodo de tempo é que volta ao restaurante.
Estas imagens foram completamente “ignoradas” na investigação do caso. Porque
razão a polícia não juntou tais imagens, só mesmo o receio da verdade dos
factos pode justificar tal atitude de um órgão com grandes responsabilidades na
definição da vida futura das pessoas que muitas das vezes inocentemente se vêm envolvidas
em situações de ilícito‐criminal.
A Polícia de Investigação Criminal teve
acesso a estas imagens através do seu oficial, de nome Jorge Cerqueira, filho
do Comandante Cerqueira e primo da vítima, que inicialmente esteve ligado as
investigações, mas tão logo se soube da morte de Bárbara de Sá Nogueira, foi
afastado das mesmas (investigações) pelo Director Amaro Neto.
Segundo ainda as mesmas fontes, tão logo
o cadáver de Bárbara foi encontrado, Amaro Neto chamou ao seu gabinete dois
amigos do casal Sá Nogueira que participaram nas buscas, ‘Tony Comando” ou
Diakuzuca como também é conhecido e Maninho da auto Pechincha, este último,
antigo sócio de Atos de Sá Nogueira, esposo da vítima, dizendo lhes claramente
que: “O Atos não devia entrar no seu gabinete para participar da conversa e
pediu a estes para não mais pressionarem as investigações porque existe uma
pessoa muito influente no país que não poderia aparecer neste caso.
Esta versão só não veio ao de cima no
julgamento, porque o Maninho não foi arrolado como declarante e o Tony Diakuzuca
foi pressionado pelos familiares a não dizer isto para não pôr em risco a vida
dos seus familiares, devido ao medo de represálias, de tal sorte que o mesmo
desapareceu nas ultimas sessões e só mesmo depois de ouvir o seu nome num
pedido de comparência difundido na Rádio Nacional de Angola é que compareceu na
ultima sessão, porque receava ser responsabilizado judicialmente.
Só assim também se entende que os vários
exames mandados realizar no Laboratório Central de Criminalistica, desde as
impressões digitais encontradas e retiradas da faca provavelmente utilizada
para matar Bárbara e na viatura da vítima e os presumíveis vestígios do crime
encontrados no apartamento de Judith da Silva, não constam nos resultados do
processo, nem sequer foram cobrados pelos órgãos de Investigação
Criminal, assim como pela Procuradoria
da República junto da DPIC e do Tribunal Provincial de Luanda, que constituem
diligencias essenciais de prova para se saber a quem pertencem as impressões
digitais aí encontradas, já que os peritos nas suas conclusões dizem que “para
os devidos exames, foram ocupados e remetidos aos laboratórios correspondentes,
os seguintes vestígios e evidencias:
- Dois formulários com impressões
digitais colectadas a cidadão Judith Maria Graça da Silva, (Laboratório
Identificação de Pessoas).
- Três transplantes com vestígios
lofoscópicos (Laboratório de Lofoscopia).
- Cinco zaragatas com presumíveis
vestígios biológicos, tal como suor (Laboratório de Biologia).
- Seis zaragatas com manchas semelhantes
a sangue (Laboratório de Biologia). - Quatro sacos plásticos de cor preto
(Laboratório de Lofoscopia).
- Cabelos (Laboratório de Biologia).
- Uma faca de cozinha (Laboratório de
Sinais e Marcas).”
No outro relatório os peritos que
realizaram o exame no local onde o cadáver foi encontrado, concluíram que
realmente a versão tornada pública e que Judith disse em Tribunal ter sido
criada pela polícia e sob ameaças e coação física foi obrigada a assumir no
processo, segundo a qual Judith depois de matar a amiga por ciúmes porque
namoravam (lésbicas), colocou o cadáver numa mala para no dia seguinte se
desfazer do mesmo (cadáver) não corresponde com à constatação feita no terreno,
dizendo que, “de acordo com as declarações de Judith Maria Graça da Silva,
reportadas nas fotos 83, 84 e 85, o momento em que ela, colocou o cadáver na
mala, posteriormente em sacos, no dia 31 de Maio de 2013, não coincide com a
realidade dos factos porquanto que o processo de rigidez cadavérica vai de 4 à
8 horas. O que impossibilitaria colocar os restos mortais de Barbara Marise
Meneses de Sá Nogueira, na mala, ...”.
O que significa que a posição de braços
abertos como o cadáver foi encontrado, segundo o retratado na fototábua,
sustenta as conclusões, uma vez que um corpo levado num mala 24 horas depois
não podia ser encontrado naquela posição, isto é, com os braços abertos, mas
sim encolhidos. Além de que, pelo tamanho da Bárbara o seu corpo não caberia
numa mala a não ser que fosse descortejada, o que também não ocorreu neste
caso.
A ocultação destas diligências
essenciais, incluindo o facto de ignorarem as conclusões da peritagem indiciam
claramente que “há gato escondido com rabo de fora” pois, se as impressões
digitais fossem da Judith os resultados estariam no processo.
Por esta razão é que desde a primeira
hora, a mãe de Bárbara de Sá Nogueira vem manifestando o seu desagrado pela
forma como as investigações e o julgamento foram conduzidos, alegando mesmo
publicamente, quer em plena sala de audiências, quer através dos órgãos de comunicação
social, de que faltavam pessoas naquele banco dos réus, numa alusão de que se
fosse Judith a matar a sua filha não poderia fazer isto sozinha.
Outra pessoa que também não deveria
ficar fora dos suspeitos é o próprio marido da vítima, que tem antecedentes,
como desconfiança de que a mulher lhe estava a trair com outra pessoa, a ponto
de surgirem rumores de que a falecida estava grávida com outra pessoa, e que em
consequência, colocou um GPS no telefone da mulher para seguir os seus passos.
Tudo isto aponta para ele, como pessoa com eventual interesse na morte de
Bárbara de Sá Nogueira. Primeiro porque segundo a mãe da vítima a relação entre
o casal já não era boa, embora ocultara antes nas suas primeiras declarações,
como lhe confidenciou a sua filha em vida. Reforça esta versão o facto de Atos
de Sá Nogueira se apresentar muito frio durante o óbito e logo nos dias que se
seguiram, festejou o seu aniversário como se nada tivesse acontecido, conforme
declarou a mãe da vítima. Fontes proximas da familia de Bárbara de Sá Nogueira,
durante o julgamento tomaram conhecimento que Atos faltou em algumas sessões,
justificando perante o Tribunal que
seria operado, mas encontrava‐se em Cabo Verde
numa festa onde tem uma outra relação. Segundo a mesma fonte, Atos há muito
tentou persuadir a Bárbara a vender todo o patrimonio que o casal tinha em
Angola para deixarem o país e irem viver em Cabo Verde, país para onde tem
transferido alguns dos seus investimentos.
Por essa razão é que se pergunta quem
tiraria vantagens patrimoniais com a morte de Bárbara? A resposta a esta
pergunta poderia talvez esclarecer outras questões.
Que Bárbara de Sá Nogueira estava
envolvida em negócios que não se sabe com quem, estava. Alias, o seu colega,
sub‐gerente do Banco
confirmou na fase de investigação do processo que a falecida comunicou‐lhe naquele
fatídico dia que chegaria mais tarde ao serviço porque teria contacto com uns
clientes na zona da Filda, o que também foi confirmado pela amiga da falecida
Ana Cláudia. Esta versão não podia ser ignorada pela investigação, até porque
era necessário saber que tipo de negócio e quem eram as pessoas que estavam a
fazer o mesmo (negócio) com a vítima. Mas como não havia interesse em se chegar
a verdade, os órgãos de investigação resolveram trilhar o caminho mais fácil, o
de encontrar alguém a quem pudessem imputar facilmente as responsabilidades.
Rumores correm, segundo as mesmas
fontes, de que isto tem muito de verdade, uma vez que só assim se entende que
Amaro Neto, estando ligado ao caso Kamulingue, como a pessoa que ordenou ao
Miranda a contactar o então Director do SINSE ‐ Luanda, Viera Lopes para o cumprimento
de uma missão, estando os outros afastados dos seus cargos e presos, este
continua solto e a exercer o mesmo cargo normalmente, quando no mínimo enquanto
durassem as investigações e o julgamento, deveria estar suspenso para não dizer
mesmo preso, o que leva as fontes a concluirem que há aqui uma troca de favores
entre o actual Director da Investigação Criminal de Luanda e a dita
personalidade influente no pais, já que se Amaro Neto cair na desgraça a
verdade poderá vir ao de cima e provocar outros estragos.
Para melhor compreensão vejam algumas
fotografias do caso e as imagens que foram ocultadas pela polícia.
Enfim, varias são as contradições neste
processo e varias são as situações por esclarecer ou mal esclarecidas.
Nas próximas edições falaremos sobre outros
detalhes deste caso ainda nao encerrado na justiça angolana.
Paulo das Neves
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