1. Os
preços internacionais do petróleo prosseguem em trajectória descendente. Vão
mesmo já acumulando cerca de 30% de subida face, por exemplo, aos preços
registados em Julho deste ano. Tal percentagem constitui uma muito
significativa perda de valor naquela que é ainda a mais importante fonte de
energia da sociedade moderna.
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2. Os
impactos da descida do preço estão a provocar distintos reflexos sobre os
diversos países, no caso de uns serem importadores e outros serem exportadores
de petróleo.
3. Como é
evidente, aos países importadores de petróleo interessa um preço do petróleo
mais baixo, resultando daí alívio nas suas contas. Aos países exportadores, sem
sombra de dúvidas que interessará preços mais elevados, melhorando as suas
receitas.
4.
Todavia, essa é uma perspectiva de certo modo redutora, uma vez que existem
outros actores em cena, as empresas, com o seu interesse particular que nem
sempre é completamente coincidente com o dos estados. Vale, pois, a pena dar
uma ligeira olhadela para a posição das multinacionais ligadas à extracção e
comercialização do petróleo, colocadas agora no âmago destes interesses
contraditórios.
5. Na
maior parte das vezes, as multinacionais são originárias de países importadores
de petróleo. O que não implica que não haja nesse negócio empresas de grande
porte sedeadas em países exportadores. Mesmo assim, a todas elas interessará,
seguramente, preços mais elevados, independentemente do interesse geral dos
seus países.
6. Com os
actuais preços do crude, as principais multinacionais ocidentais, Exxon,
Chevron, Shell e BP PLC vão vendo reduzidos os seus lucros a níveis inferiores
aos de dez anos antes, quando até estavam a vender o petróleo e o gás natural a
preços iguais a metade dos actuais. Esta diferença de resultados deriva,
sobretudo, do aumento dos custos de produção, pois as novas explorações são
feitas em condições cada vez menos favoráveis. Segundo dados recentes, as
margens de lucro das multinacionais do petróleo baixaram dos 35% obtidos na
última década, para 26% registados nos últimos 12 meses.
7. Os níveis de produção da Shell já são
idênticos aos que tinha dez anos antes. Perspectiva-se que continuem a descer.
O mesmo sucederá com a Chevron. A Exxon está com níveis de produção aproximados
dos de há cinco anos.
8. Fruto
desse estado de coisas, não são poucas as multinacionais que decidiram não só
adiar investimentos que tinham em carteira, como, inclusive, realizar desinvestimentos
nos campos petrolíferos menos lucrativos.
9. Se é
verdade que o adiamento dos investimentos em carteira e os desinvestimentos
terão implicações sobre a actividade económica dos respectivos países, não
deixa de ser verdade que eles também se reflectirão na responsabilidade social
dessas mesmas empresas, alguns dos quais serão demasiado importantes para o
bem-estar das suas populações.
10.
A queda dos preços do petróleo está a afectar muito negativamente países como a
Venezuela, Irão, Rússia, Iraque, Nigéria, e até mesmo Angola, podendo, porém,
ter impactos positivos sobre os maiores importadores de petróleo, nomeadamente,
países europeus e a China.
11.
A situação da Venezuela é das mais sensíveis. Está mesmo a forçar o Presidente
Nicolas Maduro a alterar a política de hostilização das multinacionais, que foi
o cavalo de batalha de Hugo Chavez. Caso Nicolas Maduro adopte uma política de
maior cooperação para com as multinacionais, terá, então, que enfrentar a
animosidade dos “bolivarianistas” mais radicais.
12.
A Rússia não vive momentos muito melhores, engajada que está num conflito que
pode, inclusive, descarrilar, obrigando-a a grandes encargos.
13.
Temos também que ficar atentos aos maus momentos que se avizinham para nós,
pois o sector não mineral da nossa economia está ainda muito dependente dos
resultados obtidos no sector petrolífero. E esta dependência manter-se-á por
muito tempo, até que ele se realimente, criando a sua própria dinâmica.
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