Sei
que pareço um ladrão...
mas há muitos que eu conheço
que, sem parecer o que são,
são aquilo que eu pareço.
mas há muitos que eu conheço
que, sem parecer o que são,
são aquilo que eu pareço.
António
Aleixo
As últimas notícias vindas de dentro do
Millennium estão a dar uma imagem do Millennium que nada corresponde aos bons
princípios tão propalados pela Obra de Deus. Onde se esperava o desprendimento
encontramos a ganância, onde se deveria dar exemplo de humildade encontramos
uma feira de vaidades, onde seria de exigir a honestidade assistimos à
vigarice. O Millennium nem cumpre as leis da República nem os Dez Mandamentos,
mais de uma "Obra de Deus" começa a parecer obra do diabo.
É evidente que o assunto vai ser abafado em
nome da estabilidade do sistema financeiro, "A Bem da Nação" a
primeira instituição financeira privada não pode tremer. Terá sido "A Bem
da Nação" que o Procurador-Geral recebeu o então presidente do Millennium
que lhe foi dar as boas-vindas do banco suspeito de envolvimento na Operação
Furacão, será "A Bem da Nação" que o ministro das Finanças recebe
discretamente Jardim Gonçalves no seu gabinete, é também "A Bem da
Nação" que o Banco de Portugal e a CNVM tratam o assunto com pinças de
veludo.
O que se passou no BCP é grave a todos os
títulos. É grave porque a maioria dos accionistas é prejudicada para se fazerem
favores a amigos, familiares, afilhados e accionistas apoiantes de Jardim
Gonçalves. É grave porque põe em causa a confiança dos investidores da Bolsa. É
grave porque as trafulhices acabam por ser pagas parcialmente pelo Estado já
que os prejuízos são deduzidos da matéria colectável, isto é, os pobres vão ter
que pagar mais impostos para compensar as artimanhas de Jardim Gonçalves. Seria
interessante saber se a DGCI já desencadeou algum inspecção às empresas de
Francisco Gonçalves já que o perdão da dívida é um benefício que deve ser
tributado.
Mas perante comportamentos tão duvidosos as
dúvidas quanto à actuação do Millennium noutros domínios são legítimas. Que
leis desrespeita o Millennium? Que valores democráticos viola? A que práticas
menos legais recorre? Este não é um caso isolado, basta recordar que o
Millennium é suspeito de envolvimento na Operação Furacão.
Quais as relações do banco com o fisco? Quais
as relações do banco com os políticos? Sabemos que o Millennium tem uma grande
influência sobre o fisco, o responsável pelo seu contencioso fiscal tem mais
poder no fisco do que uma boa parte dos directores-gerais que por lá passaram.
Não são poucos os políticos que gostariam de terminar a sua carreira no banco e
alguns deles conseguiram-no.
Ainda há algum tempo o Correio da Manhã dava
conta de altos funcionários da DGCI que recebiam elevados montantes de algumas
instituições financeiras. Será que estava em causa o Millennium? E quem serão
os funcionários, serão altos quadros da Rua da Prata ou funcionários honestos
que dão aulas numa universidade do Porto como alguém imaginou e mandou
averiguar? Terá o Millennium beneficiado de favores fiscais para além do que
está na lei? As provas dissos estão nos jornais, há o famoso caso do carroucel
do IVA, para não referir outras operações em que o nome do banco foi poupado
pelos jornais.
O caso Millennium é demasiado grave para ser
abado em nome do interesse da Nação, não é aceitável que a liderança de um
grande banco se comporte desta forma pois quem viola um princípio viola todos
os outros. Se assim for não é só o interesse dos accionistas que está em causa,
é a própria democracia pois o dinheiro do banco pode servir para comprar
políticos, jornais, opinion makers.
Quem não respeita os seus próprios
accionistas não respeita ninguém, quem não respeita as regras do sistema
financeiro não respeita nenhumas outras regras.
No fim deste processo, Portugal tem que ficar
a saber se o Millennium é um banco ou se é um gang financeiro. Tem de se
assegurar que o seu poder financeiro não é usado para fins ilegítimos ou com
objectivos que ultrapassem os admissíveis a uma instituição financeira.
Imagem: altohama.blogspot.com
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